Quinta 16 de Maio de 2024

Nacional

A crise no PT e a esquerda em uma encruzilhada

Entre testemunhar a ofensiva burguesa e construir uma alternativa operária classista de massas

15 Jun 2005   |   comentários

Estamos vivendo um momento histórico. Os escândalos de corrupção debilitam estrategicamente a relação do PT com o movimento de massas. Infelizmente, pela impotência estratégica da esquerda, quem passou à ofensiva primeiro não foi o movimento de massas organizado em perspectiva classista contra a estratégia de conciliação de classes de Lula e seus amigos, mas sim a oposição burguesa, com o PSDB sendo o principal beneficiado como se mostra nas novas pesquisas para as eleições de 2006. Esse debilitamento estratégico do PT abre uma lacuna que será preenchida, pois não existe vazio em política. É nessa encruzilhada que está a vanguarda: entre testemunhar a ofensiva burguesa e o fortalecimento do PSDB nos espaços entre as massas que hoje o PT ocupa, ou passar à ofensiva e construir urgentemente uma alternativa operária classista de massas que seja capaz de reorganizar a nossa classe e abrir espaço para o fortalecimento de uma vanguarda comunista.

Desde outubro do ano passado, como alternativa classista e de massas ao PT, temos defendido a necessidade de construir um grande Partido Operário Independente dirigido pelos trabalhadores a partir de seus sindicatos. Nós, da Liga Estratégia Revolucionária, opinamos que no atual cenário político nacional, essa política se transforma em uma necessidade vital e urgente para que o espaço que se abre com o baque que sofreu o PT não seja aproveitado pela burguesia.

Sem sectarismo, temos chamado todos os trabalhadores, sindicatos e correntes de esquerda a impulsionar conjuntamente esse partido, onde todas as correntes, que sabemos, têm profundas diferenças, possam defender democraticamente as suas posições, constituindo-se como tendência nesse grande partido, desde que os trabalhadores a partir da base possam definir a política correta. Isso porque sem que todos os setores, começando pelos antigovernistas não impulsionam esse partido vemos que quem perde é o conjunto da classe operária e o povo pobre, e nesse sentido todos aqueles que lutam pela perspectiva da transformação social e da revolução socialista.

Infelizmente, as diversas correntes às quais nos dirigimos com esse chamado, têm mantido suas políticas corriqueiras que não dão resposta às necessidades de a nossa classe avançar na independência de classe e no sentido revolucionário e, em maior ou menor grau as correntes seguem não acreditando na força da classe operária e em relativo estancamento na sua construção. É isso que chamamos de impotência estratégica. Por isso, queremos debater nesse artigo com a política que levanta cada setor da esquerda, que de alguma forma concorda que o PT faliu enquanto alternativa para as massas, que se vista conjuntamente é uma enorme força social com peso superestrutural e estrutural, político e sindical capaz de fazer frente ao PT. Queremos avançar a acordos com trabalhadores, sindicalistas e correntes com relação à necessidade de ter uma política operária independente para o conjunto da classe. Insistimos que esse é um debate vital e urgente.

O PSDB vem capitalizando o descontentamento com o PT

Depois de mais de 20 anos de crescente fortalecimento do PT como alternativa eleitoral, Lula vence fazendo para isso todos os tipos de aliança possíveis com a burguesia. Como aplicador dos planos neoliberais, o PT se transforma no partido mais votado do país e a principal força político-partidária nacional. Apesar de não ser uma ameaça real à “democracia dos ricos” a burguesia sabe que o PT carrega enormes contradições por ser ligado organicamente ao movimento de massas. Por isso, esperou o momento certo para passar à ofensiva contra o PT e “sai na frente” da esquerda.

O PSDB, desde as eleições de 2004, pela impotência estratégica da esquerda, vem mostrando que é o principal beneficiado com o atrelamento do PT ao neoliberalismo, e agora com os escândalos de corrupção quer mudar a correlação de forças entre os dois partidos. O PSDB tem uma estratégia clara de ser ele o principal sustentáculo do regime, com os outros partidos burgueses como satélites e com o braço sindical da burguesia, a Força Sindical.

Os militantes honestos do PT não podem seguir capitulando à Articulação e às cúpulas da esquerda do PT

A Articulação (corrente majoritária do PT) em pouco tempo passou de uma força política que ditava tranqüilamente as “regras do jogo” no governo e no congresso para, com os escândalos de corrupção, se localizar na defensiva. Se ainda pairavam dúvidas para importantes setores da esquerda se o governo estava “em disputa” e que era possível pressioná-lo à esquerda a Articulação deixa claro mais uma vez que seu projeto é decididamente de ser o “melhor” administrador dos negócios capitalistas controlando o movimento de massas para isso.

As cúpulas das principais correntes da esquerda do PT (Articulação de Esquerda, Democracia Socialista e Ação Popular Socialista) e outras menores (como “O Trabalho” ) mostram o seu grau de atrelamento ao Estado, ao regime de domínio e ao governo, seus acordos estratégicos com a Articulação, a sua covardia política e o seu atraso com relação à consciência dos setores de vanguarda, ao insistir em ser a “pata esquerda” da Articulação, convocando inclusive atos “em defesa do governo, do PT e da democracia” e reduzindo o problema do PT às “alianças” e a críticas parciais da política económica. As “alianças” com qualquer burguês que se dispusesse não são novas, são as marcas do PT em toda a década de 90, nos municípios e estados que governou, inclusive em governos da própria esquerda petista. Já está demonstrado o caráter utópico e reacionário do projeto de se aliar com ditas “alas progressistas” da burguesia por um projeto reformista e esses setores se negam a abandonar essa linha.

Os militantes honestos da esquerda petista, que em boa parte estão organizados na “Dissidência do PT” , não podem mais aceitar essa política. Em meio a toda essa crise, esses setores não têm se apresentado com nenhuma posição independente, justamente quando há mais espaço. Se não adotam uma posição independente, denunciando a política de “defesa do PT” e rompem imediatamente com o PT, esses setores estarão abrindo espaço para a ofensiva burguesa. Não é se saindo melhor na PED (Processo de Eleições Diretas do PT) que esse problema estrutural da política da Articulação e das direções das principais correntes da esquerda do PT vai se resolver. Nem tampouco pode-se esperar até a PED em setembro para romper, pois o ritmo dos que se dizem de esquerda devem ser os ritmos da luta de classes e não dos aparatos e até setembro são quatro meses a mais em que contribuem para as massas as massas mantenham suas ilusões no PT ou se voltem para o PSDB e não em uma alternativa independente. Já passou da hora de romper com o PT e o governo. O PT está se desgastando com o conjunto do movimento de massas e é urgente e vital romper com o PT e impulsionar a construção de uma alternativa operária classista de massas para que a burguesia não seja a maior beneficiada dessa crise.

Os Núcleos de Ação e Reflexão Socialista seguem no meio do caminho

Alguns setores do PT romperam, com Jorginho da executiva nacional da CUT e o intelectual Plínio de Arruda Sampaio Jr à cabeça, e impulsionaram a formação dos NARS (Núcleos de Ação e Reflexão Socialista) com o objetivo de organizar “ex-petistas, petistas e não-petistas” . Ainda ficam no meio do caminho porque não se definem por lutar ativamente e de forma ofensiva pela construção de uma alternativa real e classista para as massas. Seguem em compasso de espera segundo os ritmos da esquerda petista, ou seja, dos aparatos.

Além disso, infelizmente esses companheiros que recentemente romperam com o PT se recusam a tirar as conclusões necessárias de toda a sua história nesse partido. Continuam defendendo a aliança com setores “progressistas” da burguesia, o “Estado de direito” e não a independência completa da classe trabalhadora e do conjunto do povo explorado e oprimido em relação a qualquer setor das classes dominantes.

Os setores que já romperam com o PT têm uma responsabilidade ainda maior em ser ativos no atual cenário político, senão, com a sua indefinição e conseqüente estagnação, não cumprirão mais do que um papel de “amortecedor” para os setores que vierem a romper com o PT pela esquerda e que estão dando um primeiro passo progressivo no sentido da independência de classe.

PSOL: debilidade estratégica e paralisia com a “crise da legalização”

O Partido Socialismo e Liberdade, da senadora Heloísa Helena, tenta se apresentar como uma alternativa de massas ao PT. Entretanto, apesar de já existir a mais de um ano, o PSOL não tem conseguido canalizar o crescente descontentamento com o PT. Existe um fosso que separa a influência eleitoral de Heloisa Helena e o que o PSOL tem conseguido organizar de militância, sendo que a pouca que tem ficou totalmente voltada para a legalização e sem política e táticas capazes de responder à necessidade de unir e coordenar as lutas, os sindicatos e as organizações operárias que rompem com o PT e a burocracia da CUT. Até mesmo nas intenções de voto para as eleições presidenciais de 2006, Heloisa Helena caiu de 6% em dezembro de 2004 para 5% nas últimas pesquisas, e isso num período em que a popularidade de Lula teve sua maior queda.

Essa dificuldade de atrair o descontentamento com o PT se dá principalmente pelo fato de que os setores que dirigem o PSOL não tiraram as lições necessárias de sua experiência com o petismo. Não é correto colocar o PT neoliberal do governo Lula como algo completamente independente do chamado “PT das origens” . Aquilo em que o PT se transformou está completamente ligado ao fato de que desde sua origem este partido defende uma estratégia de conciliação entre trabalhadores e patrões. Para superar de fato o que foi a experiência com o PT, o novo partido que devemos construir tem que se pautar na completa independência de classe. Entretanto, o projeto de programa e as táticas que o PSOL tem implementado vão no sentido de alimentar a confiança em setores “antineoliberais” da burguesia nacional, como temos criticado em jornais anteriores.

A contradição do PSTU: discurso “radical” e falta de política para as massas

Durante todos seus anos de existência, a direção nacional do PSTU capitulou permanentemente à esquerda petista devido ao seu projeto estratégico de formação de um partido comum. Com o golpe dos “radicais” que fundaram o PSOL, o PSTU ficou sem alternativa e é obrigado a desistir desse projeto. Com o surgimento de outras mediações entre o PT e o PSTU, como os NARS e a “Dissidência do PT” , o PSTU fica em uma localização extremamente ruim para capitalizar esse processo politicamente, a não ser minoritariamente pela via sindical com a Conlutas.

Acuado, o PSTU passa então a combinar a tática sindical da Conlutas, sua grande aposta, com um completo giro na política partidária. De um partido que historicamente faz alianças com a Articulação em diversas chapas sindicais, que se adaptava às pressões da esquerda petista deixando a defesa da construção de um partido revolucionário e da necessidade da revolução socialista (basta ler os jornais antigos do PSTU) para dias de festa, o PSTU passa a adotar uma política contraditória: discurso “radical” sem apresentar nenhuma alternativa político-partidária para as massas.

Atualmente, os companheiros do PSTU, como nunca, passaram a fazer propaganda da necessidade de um partido revolucionário e da revolução socialista. Nesse ponto temos completo acordo e achamos importante que um partido de peso relativo na vanguarda como o PSTU se coloque essa tarefa, que é o que fazemos desde que fomos expulsos desse partido em 1999.

O problema é que essa propaganda “revolucionária” , expressa no editorial do Opinião Socialista nº 221, intitulado “Por que somos diferentes?” , carrega consigo uma enorme contradição do ponto de vista marxista. O PSTU se contenta em “ser diferente” e, para isso, iguala todos os partidos desde o PFL ao PSOL (!!!). Aonde vai o PSTU? A política marxista genuinamente revolucionária, base de um verdadeiro partido revolucionário, não é “ser diferente” em si mesmo, num pensamento de seita que encara a construção deste partido de maneira evolutiva, ganhando um aqui, outro ali, sem táticas audazes para influenciar a vanguarda e amplos setores das massas que ainda confiam no PT e nas direções burocráticas.

Para a direção nacional do PSTU que se nega a ter política para as massas, basta romper organizativamente com a CUT, construir a Conlutas e entrar para o PSTU e tudo está resolvido. Nada mais simplista e desproporcional com a realidade. Com essa política sectária na forma e oportunista no conteúdo, a direção do PSTU demonstra que não tem vocação para construir um verdadeiro partido revolucionário, pois partido é para lutar pela tomada do poder, e para isso antes tem que ganhar a confiança das massas, consolidar sua influência nos principais sindicatos e organizações operárias, minando a influência nefasta (e enorme) das direções burocráticas e a estratégia reformista de conciliação de classes. Não é possível falar sério sobre revolução sem uma política justa que resolva o problema central da classe trabalhadora brasileira: a sua confiança nas direções burocráticas e na conciliação de classes.

A LER-QI e o Partido Operário Independente

Como dizemos no editorial, para nós da Liga Estratégia Revolucionária, que defendemos a construção de um partido revolucionário e a reconstrução da IV Internacional, a tarefa estratégica do atual período é ter uma política para o conjunto da nossa classe avançar em sua independência política, em ruptura com a conciliação de classes e com o PT. Achamos que sem uma política nesse sentido os setores da esquerda organizada e da vanguarda ficarão como testemunhas da ofensiva burguesa e do fortalecimento do PSDB. O baque que sofreu o governo Lula e o PT abre um enorme espaço, e torna urgente a necessidade de uma ruptura com a “velha política” de construção partidária de todas as organizações de esquerda, deixando de ser pequenas correntes incapazes de se fundir com os trabalhadores mais avançados na perspectiva de construir um novo movimento operário revolucionário, sem o qual não pode haver partido revolucionário. Na atual situação, a principal questão é ter táticas ofensivas para ganhar a confiança da maioria dos trabalhadores, para que completem a sua experiência histórica com a independência de classe que foi interrompida com o PT e a estratégia de conciliação da direção burocrática e pequeno-burguesa desse partido. Para que os trabalhadores não sofram novas traições é imprescindível construir um verdadeiro Partido Operário Independente dirigido pelos trabalhadores a partir dos seus sindicatos, sem burocratas e pequeno-burgueses.

Chamamos a todos aqueles que têm acordo com essa necessidade vital e urgente, a conhecer o conjunto das nossas elaborações sobre o POI e a estratégia revolucionária nacional e internacional em nosso site, e através de intensas discussões, se incorporar a LER-QI dando passos concretos na luta pela construção de um verdadeiro parido revolucionário.

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