Domingo 5 de Maio de 2024

Debates

Polêmica com a direção nacional do PSTU

É necessário um balanço da política de ruptura com a CUT

20 Mar 2005 | Na última semana, diversos setores da esquerda da CUT, a Corrente Sindical Classista, ligada ao PC do B e a CGT se colocaram publicamente “contra essa reforma sindical”. A CUT mostrou que não está nada morta e rachou. A Conlutas tem uma oportunidade única de ser um eixo organizador do setor anti-governista, que impulsione a construção de uma grande frente única operária contra a reforma sindical, sendo o setor que quer levar até o final a luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e contra a burocracia que quer impedir que a luta contra a reforma se transforme em uma luta contra o governo Lula. Para que isso se dê, achamos necessário fazer um balanço com os milhares de trabalhadores que estão nas bases dos sindicatos da Conlutas, para impulsionar uma política correta e nos fortalecer como alternativa real de luta dos trabalhadores. Por isso, discutiremos aqui com a política que vem levando à frente a direção nacional do PSTU, que é a corrente com mais peso dentro da Conlutas.   |   comentários

A política da direção nacional do PSTU na última semana

Poucos dias antes de 02 de março (data da entrega oficial da reforma ao congresso), o PSTU lança a “Carta aberta à esquerda cutista” , assinada pela direção nacional. A carta começa dizendo num pequeno tópico “Unidade com os lutadores para derrotar o governo” que: “É mais do que necessário e urgente impulsionar uma luta concreta e unificada contra a reforma (...) A CUT hoje é uma central a serviço do governo, chapa branca e pelega. No entanto, em seu interior existem ainda setores de esquerda, combativos, que não chegaram à conclusão de que é preciso romper com esta central.” Depois de expressar que romper com a CUT deveria ser a conclusão mais importante e que esse seria o “dilema” da esquerda cutista, segue dizendo no tópico seguinte “Uma luta conseqüente contra a reforma” , o que para eles é a “verdadeira questão” : “alertamos aos companheiros que não é possível uma luta coerente contra as reformas por dentro da CUT. A central coloca todo seu aparato a favor das reformas do governo (...) Impulsionar uma luta concreta contra a reforma, portanto, pressupõe romper com a CUT” , de forma categórica e pretensiosa, a direção nacional do PSTU afirma que “A polêmica sobre se a CUT tem volta ou não está ultrapassada, os fatos já comprovaram que a central hoje é um apêndice sindical do Estado” . Falseando os fatos, “ignora” os 12 votos “contra essa reforma” de 25 membros e diz que “A Executiva Nacional da CUT, realizada no dia 16 de fevereiro, reafirmou o apoio da central ao projeto” . Sintetizando dizem que “Portanto, junto com o chamado à unidade, conclamamos os companheiros a romper com a CUT e a integrarem conosco a Coordenação Nacional de Lutas” .

No jornal que lança depois do dia 02 de março, após o ato “contra essa reforma” na Assembléia Legislativa com quase a metade da “morta” CUT, o PSTU mostra “surpresa” dizendo “Nem mesmo dentro da CUT há acordo” , e abandonando o “pré-suposto” de ruptura com a CUT para tentar se relocalizar diz que “Somar forças na luta para impedir a aprovação da reforma é a única forma de se posicionar, de fato, contra ela (...) Nesse sentido, já iniciamos contatos com a esquerda da CUT e com o fórum das confederações” .

Como Conlutas, estivemos presentes no ato, onde infelizmente o PSTU apareceu com apenas 4 militantes e perdeu uma ótima oportunidade de mostrar a Conlutas como alternativa real. Em sua intervenção, o companheiro Dirceu Travesso da Oposição Bancária colocou a mesma linha de todos os presentes, centrando a denúncia apenas às cúpulas da Articulação Sindical e da Força Sindical, os “super-pelegos” , deixando isentos os governistas ali presentes (PC do B e CGT), que recém incorporam as fileiras da luta contra “essa” reforma. Na entrevista de Zé Maria no último jornal do PSTU: “acho que devemos ter uma atitude positiva frente a isso e chamar o PCdoB, a Corrente Sindical Classista, à unidade na luta contra a reforma Sindical/Trabalhista” , correto, mas não podemos deixar de denunciar o papel dos governistas e combatê-los. Nesse mesmo jornal, o abandono do “pré-suposto” da ruptura com a CUT se expressa em que não aparece em nenhum lugar esse chamado, exceto em uma pequena nota da aprovação da ruptura em uma plenária da Oposição Alternativa.

Qual é a política para fortalecer a Conlutas e a luta contra o governo Lula?

Como estamos defendendo desde os primeiros passos da Conlutas, a política da direção nacional do PSTU, que baseada em que a “CUT está morta” , chamou um setor da vanguarda anti-governista a desertar da central, é uma política oportunista, porque dá as costas para milhões de trabalhadores e tenta resolver com uma medida organizativa um problema que é político, que é a brutal influência da burocracia sobre o movimento operário e abre mão da política revolucionária de expulsar a burocracia dos sindicatos para recuperá-los como ferramenta de luta dos trabalhadores. É ao mesmo tempo sectária, porque ignora a consciência das massas que mantém uma enorme ilusão no governo e na burocracia, e baseada em um falseamento da realidade, porque transforma o desejo da direção nacional do PSTU de uma “ruptura de massas com a CUT” em realidade. Em suma, é uma política que só desvia o debate real que deve ser feito entre os trabalhadores de como derrotar as medidas do governo Lula e do PT, e como desmascará-los frente às massas, para uma “luta de aparatos” que resume tudo a discussão de se rompe ou não com a CUT e deixa a bandeira da unidade na mão da burocracia cutista.

Com quase metade da CUT se colocando “contra essa reforma” , o PSTU que até agora vinha cantando aos quatro cantos a Conlutas como a única que luta contra a reforma, tenta adequar o discurso para tentar contemplar os que “ressuscitaram” mas novamente erra. Adotar a linha do PC do B de reduzir o problema da CUT aos “super-pelegos” , como vem fazendo o PSTU desde a última semana, é uma posição que encerra em si mesmo dois problemas para a direção do PSTU explicar aos vários trabalhadores honestos que influencia. Primeiro: se o problema da CUT (agora) é o Marinho, porque não expulsamos essa camarilha ao invés de desertar? Agora que um setor da “CUT morta” se coloca em luta “contra essa reforma” se mostra o oportunismo dessa política. Segundo: e os governistas que estão se colocando “contra essa reforma” , principalmente o PC do B que era um dos piores inimigos de ontem viraram os amigos de hoje e não merecem mais ser denunciados? É por isso que dizemos que o PSTU não combateu e segue sem combater a burocracia.

O que está por trás da política do PSTU de romper com a CUT é a falta de confiança de que os trabalhadores poderiam derrotar as reformas do governo, e por isso, quer criar uma central por fora da CUT para após a reforma sindical que vai concentrar todo o poder de negociação nas mãos das centrais sindicais, poder ser o negociador “legítimo” de alguns poucos sindicatos do país.

Durante um ano dissemos que era necessário exigir que a CUT e seus sindicatos rompessem com o governo Lula e o PT para adotar um programa em defesa dos interesses dos trabalhadores, começando pela luta contra as reformas. Se a Conlutas levantasse essa exigência desde o início como fração da CUT, ao invés de romper e isolar um setor avançado de trabalhadores desse processo, hoje a Conlutas estaria em uma excelente localização para organizar o setor anti-governista que está dentro da CUT e lutar por uma grande frente única operária para derrotar a reforma. O problema é que para isso seria necessário se enfrentar seriamente com a burocracia governista nos sindicatos (não só os “super-pelegos” , mas também o PC do B), coisa que o PSTU mostrou durante anos de acordões em eleições, greves, etc, e agora com a deserção, que é incapaz de fazer.

Para nós, lutar contra a burocracia significa organizar os trabalhadores a partir das bases para expulsar qualquer burocrata que se coloque à frente da luta contra o governo, recuperando esses sindicatos como instrumento de luta dos trabalhadores, democratizando-os para que os próprios trabalhadores determinem a sua luta política para minar a influência nefasta dos partidos burgueses, reformistas e da burocracia da CUT. É preciso lutar por sindicatos classistas, anti-burocráticos e militantes, onde não atue somente a diretoria, organizando um setor amplo de trabalhadores ao seu redor e dando à esses o poder de decidir sobre seus rumos.

Construir assembléias de base de balanço e orientação nos sindicatos da Conlutas

Como dizia Lênin, “...Reconhecer francamente os erros, por a nu as suas causas, analisar a situação que os originou e discutir cuidadosamente os meios de corrigi-los é o que caracteriza um partido sério” [1]. Por isso, chamamos os companheiros do PSTU a fazer um balanço da sua política e defendê-lo publicamente nos sindicatos da Conlutas. É necessário abandonar a política de romper com a CUT e não continuar capitulando aos setores governistas dentro da movimento contra a reforma. Se pelo contrário, essa política continuará sendo o eixo, isolando ainda mais os trabalhadores combativos que estão na Conlutas e isentando o PC do B e a CGT da denúncia necessária, e o aparente recuo no último jornal foi uma exceção ou coincidência, denunciaremos e continuaremos insistindo: essa política divide a classe e a vanguarda anti-governista, abrindo o caminho para o controle da burocracia governista e vai impor um isolamento à Conlutas, ao invés de potencializá-la nesse processo tão rico de oportunidades.

Nós, que estamos construindo ativamente a Conlutas e sempre estivemos contra a ruptura com a CUT, achamos que é urgente fazer esse balanço seriamente nas bases dos sindicatos da Conlutas, com milhares de trabalhadores, para mudar a política em tempo de fortalecer-nos como um pólo anti-governista e anti-burocrático nesse processo. Só a partir dessa mudança, a Conlutas poderá se apresentar como alternativa real aos anti-governistas que estão dentro da CUT, que como está claro não passa por nenhum processo de “ruptura de massas” . Insistimos, é necessário unificar os trabalhadores contra a reforma em uma grande frente única operária e organizar o setor anti-governista como um pólo anti-burocrático a partir da Conlutas. Para desmascarar os governistas que não querem levar a luta contra a reforma até o final, a partir desse pólo anti-burocrático, devemos levantar com tudo a exigência de que a CUT e seus sindicatos rompam com o governo Lula e o PT e adotem um programa operário de saída para a crise.

[1Lênin, Esquerdismo, doença infantil do comunismo, Brasil, Ed. Escriba, pg.60

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