Sábado 11 de Maio de 2024

Internacional

II Conferência da FT-EI

Discussões com o MRCI

12 May 2004   |   comentários

Entre os dias 20 e 22 de abril, na mesma semana em que realizamos a II Conferência da FT, se realizou em Buenos Aires o Congresso convocado pelo Movimento pela Refundação da Quarta Internacional (MRCI), integrado pelo Partido Obrero da Argentina, Progetto Comunista da Itália, Partido Revolucionário dos Trabalhadores da Grécia e outras organizações.

No jornal La Verdad Obrera, do PTS da Argentina, publicamos uma carta da Fração Trotskista sobre o chamado do MRCI para um Congresso Aberto dirigido a “todos os lutadores de vanguarda e as organizações revolucionárias da esquerda classista para unir-se a nós na discussão e na elaboração do programa e das perspectivas para a refundação da IV Internacional” . Nesta carta (que foi entregue ”˜a direção do PO em 23/03 e cujo conteúdo foi adiantado ao dirigente de Progetto Comunista em dezembro de 2003) assinalávamos nossa intenção, diante da realização de duas conferências simultâneas em Buenos Aires dos que se propõem a lutar pela refuncação da IV Internacional, de “unificar estes esforços e realizar uma reunião comum dos que nos reivindicamos quarta-internacionalistas” .

Nas semanas seguintes não recebemos resposta, porém no dia anterior ao início da Conferência do MRCI fomos convidados para uma reunião. Uma delegação de oito companheiros das direções dos diversos grupos da FT se reuniu com uma importante delegação do MRCI, integrada, entre outros, por Jorge Altamira, Franco Grisolia e Michel Savas Matsas. Os companheiros, entre outros argumentos, manifestaram que não viam condições para realizar uma conferência conjunta devido às importantes diferenças e a que o Congresso que realizavam era resultado de um longo tempo de trabalho em comum.

A delegação da FT afirmou que nossa proposta não deixava de levar em conta as reais e importantes diferenças entre nossas correntes (que, aliás, são públicas), mas que o caráter aberto do chamado do MRCI e os quatro pontos programáticos propostos, ainda que sendo, do nosso ponto de vista, insuficiente para uma clara delimitação com o reformismo e o centrismo, criavam um marco para explorar a possibilidade de dar passos em comum. Sublinhando especialmente nosso acordo com o manifestado no chamado do MRCI sobre o que estã colocado não é construir uma tendência a mais, mas avançar na reconstrução/refundação da IV Internacional.

Por isso, na reunião, apesar da negativa dos companheiros para uma conferência comum, propusemos realizar duas campanhas conjuntas, uma pela vitória da resistência iraquiana e outra de denúncia da política “ministerialista” do Secretariado Unificado que se expressa na presença de Miguel Rosseto, membro da Democracia Socialista (DS), no ministério do governo capitalista de Lula, como ministro do Desenvolvimento Agrário. Ambas as propostas, lamentavelmente, tampouco foram aceitas pelos companheiros. Também os convidamos a participar como observadores na sessão aberta da II Conferência da FT (mesmo que não tenhamos sido convidados para algo similar pelos companheiros), convite que foi aceito, a título individual, por três membros das delegações da Itália, Dinamarca e Estados Unidos do Congresso do MRCI (ver ao lado).

Do nosso ponto de vista existe uma contradição entre o chamado aberto feito originalmente pelo MRCI e o caráter do Congresso realizado e da proposta finalmente votada. Muito além da forma como seja apresentado, o que se votou é a formação de uma nova tendência internacional entre os que vinham formando o MRCI, agora denominado Coordenação pela Refundação da IV Internacional (CRCI).

Esta contradição entre o caráter aberto do chamado e a negativa em iniciar um debate com aqueles que, como a FT, também manifestam sua luta pela refundação da Quarta, se combina, entretanto, com a abertura para correntes opostas a esta perspectiva, como é o caso de Raul Castells, um dos oradores do ato público de enceramento desse Congresso, que defende posições a favor de líderes populistas latino-americanos como Chavez e Quispe, isto é, opostas aos quatro pontos do cha-mado do MRCI.

De nossa parte, a II Conferência da FT reafirmou a necessidade de continuar fazendo os máximos esforços para avançar na refundação da IV Internacional, explorando a possibilidade de dar passos em comum com outras tendências que manifestem essa necessidade, a partir do debate franco das divergências e da realização de ações comuns.

Neste marco é que chamamos os companheiros do atual CRCI a reconsiderar a negativa às propostas feitas para impulsionar as campanhas mencionadas e organizar um debate comum sobre as vias que levem à reconstrução da IV Internacional.

Tiziano Bagarolo
do Progetto Comunista da Itália, organização integrante do MRCI

Falo a título pessoal e também em nome dos companheiros do Progetto Comunista da Itália. Progetto Comunista participou nestes dias em Buenos Aires de um importante evento político: o Congresso pela Refundação da Quarta Internacional (”¦). Creio que é justo trazer uma saudação a esta importante Conferência (”¦). Quero dizer-lhes que pessoalmente estou aqui porque os conheço através de seus materiais, do site da Internet e também por encontros pessoais com os companheiros de Zanon que estiveram na Itália, aos que quero dar uma saudação de reconhecimento pela importante batalha que deram no seu país, que é um exemplo para a classe operária de todo o mundo, e também da Itália.

Aceitei o convite para tomar a palavra porque nos une o compromisso, e o esforço enorme pela reconstrução da Quarta Internacional.

Há um aspecto importante, histórico, neste encontro (se refere à reunião do MRCI). Pela primeira vez, correntes trotskistas de tradição, história e experiências diferentes estão juntas para dar uma batalha comum não só conjuntural senão estratégica pela refundação da Quarta Internacional. Nesse sentido, esta organização internacional que temos fundado é uma organização da Quarta Internacional, pós da Quarta Internacional, mas somos conscientes que não é a Quarta Internacional. Nossa tarefa é refunda-la. Há forças revolucionárias marxistas que não estão hoje em nossa organização, que estão em outras organizações e somos conscientes de que devemos nos juntar no futuro, ainda que a unidade seja uma tarefa difícil, muito difícil. Nós recebemos uma carta de vocês que defendiam ter em comum este Congresso. Isto não era possível neste momento. Nosso Congresso estava se preparando há muitos meses e se tratava do ponto final de um processo que se iniciou há sete anos (...). Digo isto porque fiquei feliz com a sua carta ainda que não seja possível neste momento, e que nós tenhamos que iniciar com responsabilidade um caminho pela unidade, porque existem muitas diferenças que devemos respeitar, porque são fruto da historia, da tradição, de experiências de cada um de nós e não se pode em um momento pretender que essas estejam superadas. Por este motivo estou feliz de estar aqui neste momento, neste país, nesta cidade, na qual em um breve prazo de tempo acontecem estes importantes encontros de companheiros que se reclamam da refundação e reconstrução da Quarta Internacional, porque isto é um símbolo deste momento histórico.

O MRCI1 e a refundação da Quarta Internacional - O carro na frente dos bois

Como já informamos, na mesma semana que realizamos a II Conferência da Fração Trotskista, a qual pertence o ER-QI, ocorreu em Buenos Aires o Congresso convocado pelo Movimento pela Refundação da Quarta Internacional (MRCI), impulsionado pelo Partido Obrero, Progetto Comunista da Itália e o PRT da Grécia, como os mais importantes. Os integrantes da FT mandaram uma carta ao dito Congresso e uma delegação de nossos companheiros da Bolívia, Brasil, México, Chile, Argentina e Europa se reuniu um dia antes de sua realização com companheiros do MRCI, entre os quais se encontravam Jorge Altamira do PO, Franco Grissolía da Itália e Michel Savas Matsas da Grécia. Nosso objetivo, apesar das diferenças públicas que não escondemos, era o de “unificar estes esforços e realizar uma reunião em comum dos que nos reivindicamos quarta-internacionalistas” como colocamos em dita carta.

A resposta dos companheiros foi de que não enxergavam condições para realizar uma conferência conjunta devido às importantes diferenças, que o Congresso que realizavam era resultado de um longo período de trabalho em comum e que, sobre essa base, este Congresso votaria funcionar com estatutos sob “centralismo democrático” , tal como aconteceu. Desde nosso ponto de vista existia uma flagrante contradição entre o chamado aberto realizado originalmente pelo MRCI e o caráter do Congresso realizado. Também no fato de que se chamava a avançar para a refundação da Quarta e na realidade se votar a formação de uma nova tendência internacional

O balanço de Jorge Altamira

Porém este método apresenta brechas por todos os lados, se levamos em conta o “Balanço do Congresso Internacional” feito pelo companheiro Altamira no jornal Prensa Obrera nº 849. Ali ele sustenta que “Nos marcos do Congresso, apesar deste avanço político (votar um estatuto de centralismo democrático) há limites muito fortes. Nem todos os delegados aprovaram os “rascunhos de teses” como base da discussão do programa. A maioria dos representantes da ex Oposição Trostskista Internacional se abstiveram em geral na discussão, o que coloca em evidência, nada menos, que não reconhecem um principio de base programática em comum. Os desenvolvimentos futuros dirão se estamos frente a uma divergência de princípio em torno do programa, ou se foi uma manifestação confusa de luta de frações” Quer dizer que votaram funcionar de acordo com um centralismo democrático, ou seja, com uma disciplina em comum, sem votar sequer um “rascunho” de programa comum, isto é, sem a compreensão comum das tarefas das distintas correntes e organizações? Isto sim é colocar o carro na frente dos bois.

Porém isso não é tudo. Entre os “representantes da ex-ITO” a quem faz referência Altamira, se encontra o Progetto Comunista, organização que há 12 (doze) anos se encontra no interior de Refundazione Comunista, o principal partido operário reformista da Itália. Diz o companheiro Altamira: “Para a grande maioria das organizações e delegados, a aprovação do “rascunho” significou um grande avanço na homogeneização política dos que lutam pela refundação da IV. A algumas organizações foi dado o prazo de seis meses para cumprir com os requisitos de ter uma imprensa regular e uma agitação sistemática. A dissolução em outras organizações, e muito pior quando isso ocorre durante anos, não permite julgar o caráter da intervenção política, nem permite construir um partido. Os delegados do Partido Obrero insistiram em apresentar o tema da construção de organizações independentes como um assunto de princípios.”

A confissão das partes dispensa as provas. Exatamente isso é o que vínhamos sustentando: o método de dar passos para a reconstrução da Quarta Internacional com base em quatro pontos gerais conduz a simular que existe uma disciplina em comum (estatutos de “centralismo democrático” ) sem haver acordo real.

Os quatros pontos que levanta o MRCI (como reivindicar a luta pela ditadura do proletariado ou contra a colaboração de classes) somente podem ser o ponto inicial para uma ampla discussão (mediante boletins abertos a toda militância e onde a política de cada corrente esteja submetida a critica mútua), combinada com uma experiência comum na luta de classes e a crítica ao posicionamento de cada organização nos testes da política internacional, entre eles “a construção de organizações independentes” dos partidos reformistas.

Insistimos aos companheiros do PO, Progetto Comunista, e demais organi-zações do MRCI que iniciem este caminho, começando por campanhas políticas internacionais conjuntas como lhes propusemos: uma pela vitória da resistência iraquiana e outra de denúncia da política “ministerialista” do Secretariado Unificado expressa na presença de Miguel Rosseto, membro da corrente Democracia Socialista, no gabinete do governo capitalista de Lula, como Ministro do Desenvolvimento Agrário do Brasil.

O Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) é a organização irmã da LER-QI na Argentina, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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