Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

FRANCA

Contra o ataque dos patrões, uma alternativa dos trabalhadores para a crise do calçado

16 Feb 2008   |   comentários

Uma crise vem assolando a indústria calçadista nos últimos tempos, principalmente no Rio Grande do Sul e em Franca (SP), que são os dois pólos do país. No discurso dos empresários, economistas e da mídia, essa crise resulta das dificuldades de concorrência das indústrias nacionais com a China, que vem abocanhando os mercados norte americano e europeu do setor e tirando espaço do Brasil. Com uma grande exploração dos trabalhadores chineses em grandes jornadas e salários de fome, o calçado chinês sai por um baixo valor. Esse repetido discurso não está incorreto, porém esconde os verdadeiros culpados da crise: os empresários e patrões; e quem está pagando por ela: os trabalhadores.

Com a ameaça de queda da produção e de seus lucros, os patrões e empresários acabam adotando medidas para salvaguardá-los de prejuízos, e isso significa na linguagem concreta, atacar os trabalhadores. Seja fechando fábricas e se transferindo para regiões que ofereçam maiores benefícios (baixo valor de mão-de-obra e isenção de impostos), atacando os salários e os direitos trabalhistas dos trabalhadores da própria empresa, como também aumentando os turnos e as horas extras sem nenhuma remuneração.

Na cidade Franca, interior de São Paulo, 70% da economia gira em torno da indústria calçadista. A crise já se expressou no fechamento da Samello, umas das mais tradicionais que demitiu mais de 700 trabalhadores que até hoje, depois de quinze meses esperam o acerto da rescisão.

Dia 1 de fevereiro foi a vez da empresa Agabê, que fechou suas portas e demitiu sem aviso prévio mais de 600 trabalhadores. Como afirma a própria assessoria de imprensa da Agabê, o fechamento tem por objetivo a transferência do contingente produtivo de Franca para a unidade de Aracati (CE). Em Franca, a Agabê diz que trabalhará com um contingente menor de trabalhadores e investirá em terceirização, uma medida que vem sendo tomada por várias empresas para livrar-se da obrigatoriedade dos já baixos salários e direitos trabalhistas mínimos. Não é a toa que vem crescendo o numero de bancas de pesponto, trabalho de alta exploração e baixíssimos salários.

Se não bastasse, além das demissões, a empresa entrou na justiça com um pedido de recuperação judicial que permite a Agabê pagar as dividas trabalhistas em grandes prazos. Isso apesar do fato da empresa ter um ativo de 24 milhões em caixa [1], sem contar os bens e propriedades. Mas uma vez quem vai pagar são os trabalhadores. Mesmo sabendo desses dados e dos precedentes como o da Samello, o presidente do sindicato dos sapateiros, filiado à CUT, já disse que a entidade deverá agir da mesma maneira que agiu no caso da Samello. “Vamos trabalhar no sentido de garantir os diretos dos trabalhadores. Sendo aprovado o processo de recuperação, vamos fazer a discussão no mesmo formato da Samello” [2].

Os trabalhadores são os únicos que podem responder a crise que afeta o setor calçadista. Contra as alternativas dos patrões e empresários que resultam sempre atacar os trabalhadores para garantir sua margem de lucro, os trabalhadores devem se unir de forma independente, e reconquistar seu sindicato para defender seus direitos de forma combativa. Brigar não só pelos seus direitos, mas também garantir seus empregos. Exigir que a Agabê abra publicamente suas contas para ficar provado que o fechamento é unicamente resultado dos patrões e empresários e que a solução deve atacar seus exorbitantes lucros.
Se a empresa falir, que os trabalhadores assumam a fábrica com controle operário, sem assumir nenhuma dívida anterior, seguindo o exemplo da fabrica Zanon na Argentina, que tem mostrado que os trabalhadores não precisam de patrão e que a fábrica e suas condições de vida podem prosperar quando não se tem que garantir os lucros exorbitantes dos patrões. Esta é a única via para que os trabalhadores garantam seu direito a trabalhar, e lutem contra a miséria e humilhação a qual todos os dias são lançados contingentes cada vez maiores pelos patrões.

Chamamos uma ampla frente única de todos aqueles setores que se dispõe a lutar em defesa dos trabalhadores, construindo um forte comitê contra as demissões que lute lado a lado com os trabalhadores defendendo seu direito a manter seus empregos.

Mais nenhuma demissão aos trabalhadores do calçado!
Pela imediata abertura do caixa da empresa!
Pelo controle operário da empresa como alternativa à crise calçadista!

Vinicius é estudante de História da UNESP de Franca

[1Informação extraída do jornal Diário da Franca - Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2008

[2Extraído do jornal Comercio da Franca - Segunda-feira, 11 de Fevereiro de 2008

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