Sábado 20 de Abril de 2024

Movimento Operário

SAPATEIROS DE FRANCA

Da Universidade à fábrica

22 Mar 2008   |   comentários

Os sapateiros de Franca, grande força motora da economia da cidade do interior de São Paulo, vêm sofrendo um processo agudo de demissões, precarizações e de redução do nível de vida. Isso deve a reestruturação produtiva que a patronal vem aplicando para manter seus altos lucros [1]. Mais uma vez a burguesia descarrega suas crises nas costas dos trabalhadores, somando mais de 5 mil demissões. Frente a impotência do sindicato, majoritariamente da CUT, de dar uma resposta à essa situação, estudantes da UNESP-Franca, do Movimento A Plenos Pulmões e independentes de diferentes cursos resolveram intervir nesse processo.

Impulsionamos a aliança operária estudantil porque vemos que o movimento estudantil se ergueu em 2007 como há tempos não fazia, mas teve como uma das grandes debilidades seu distanciamento com as lutas dos trabalhadores e o povo. Os resultados das lutas estudantis têm demonstrado que nossas demandas, por mais mínimas que sejam, não podem ser alcançadas sem essa aliança. Nos casos onde os estudantes se aliaram aos trabalhadores, como na França, as mobilizações multiplicaram suas forças e foram vitoriosas.

Além de ajudar a formar a Frente Permanente em Defesa dos Trabalhadores, uma frente única com diversas organizações, passamos a questionar de fato a quem serve o conhecimento produzido na universidade e resolvemos subverter a ordem e colocar nosso conhecimento a serviço dos sapateiros.

Os estudantes de Direito iniciaram uma pesquisa em relação às questões jurídicas que envolviam os processos de demissões, de fechamento das empresas e também desmascarar os mecanismos que permitem as empresas não pagar nem garantir os direitos mínimos dos trabalhadores, como explicamos na nota abaixo. Sem ter esperanças de que a justiça burguesa pode resolver os problemas da classe trabalhadora, buscamos as brechas da lei para voltá-la contra a burguesia e seus ataques, denunciando as falcatruas legais e lutando, colaborando para ganhar tempo e margem de manobra para a luta dos trabalhadores nas fábricas.

Os estudantes de Serviço Social passaram a questionar a estrutura do seu curso e não mais querem que seu conhecimento sirva, assim como o sindicato da CUT faz, para amenizar o conflito entre patrões e empregados. Propõem-se a dar novas instruções sindicais e a dar um auxílio social, negado pela prática do sindicato que não sirva para conter os processos de luta e consciência, pelo contrário, que sirva para despertá-los.

Os estudantes de História notaram que os sapateiros, apesar de terem uma grande história de lutas e experiências, não tem acesso a essas. Não podem tirar lições de seus próprios processos. Resolveram então estudar os processos de luta dos sapateiros e de reestruturação produtiva e produzir um vídeo para os trabalhadores.

Por menor e débil que seja essa atuação de alguns estudantes da Unesp de Franca, é uma mostra concreta de uma aliança operário-estudantil e de como os estudantes podem cumprir um papel importante na luta dos trabalhadores. Esse é o aprofundamento do que fizemos no ano passado, quando estávamos lutando contra os decretos de Serra, e fomos panfletar nas fábricas chamando o apoio dos operários. Que o movimento estudantil siga de forma criativa esse pequeno, mas importante exemplo.

Vinicius Nemo é estudante de história da UNESP - Franca

[1Para maiores informações ver o JPO N° 35

Artigos relacionados: Movimento Operário , Juventude









  • Não há comentários para este artigo