Domingo 5 de Maio de 2024

Movimento Operário

Carta aberta de Brandão ao coletivo “Sempre na luta piqueteiros e lutadores”

02 Oct 2007   |   comentários

Camaradas,

Há dez meses, eu e a Liga Estratégia revolucionária (Ler-qi), organização política da qual fui fundador e hoje sou colaborador, vínhamos propondo a vocês a composição de uma chapa da Conlutas, que na próxima eleição do sindicato expressasse a unidade de todos os setores mais combativos da USP para impor uma derrota política aos governistas do PT e da CUT e aos pelegos do PSOL e principalmente para fortalecer nosso sindicato, para as próximas e inevitáveis lutas que seremos obrigados a travar contra os governos Lula e Serra, a Reitoria da USP,o CRUESP e toda a burocracia acadêmica. Sua primeira resposta ao chamado meu e da Ler-qi, pela unidade dos lutadores, por um Sintusp cada vez mais forte e mais combativo foi: não!

Essa resolução nos dividiria e facilitaria o trabalho dos inimigos que estão se preparando para tentar nos aniquilar. Então buscamos o apoio de vários companheiros e companheiras lutadores(as), piqueteiros(as) e combativos(as), que não fazem parte nem do seu “coletivo” e nem da nossa “organização” , mas que assim como nós, desejam a unidade de todos os setores combativos da Usp em uma chapa para a próxima diretoria do sindicato e juntos através de cartas, declarações e abaixo assinado com mais de 300 assinaturas, propusemos a vocês que rediscutissem sua posição e sentássemos juntos para discutirmos bases principistas e programáticas que nos permitissem forjar uma chapa unitária.

Vocês publicaram em um boletim no dia 17/09, duas notas: Na primeira vocês dizem SIM ao Brandão, ..."teremos a satisfação de contar com o companheiro Brandão na chapa...” Na segunda nota, vocês dizem NÃO à Ler-qi e tentaram justificar seu veto aos combativos militantes de uma organização revolucionária, apresentando argumentos que expressam concepções político-ideológicas e sindicais com as quais eu e a Ler-qi não temos acordo e que a nosso ver precisam ser banidas do movimento operário.E além disso rasgaram o estatuto do Sindicato e as resoluções do IV congresso dos trabalhadores da USP.

Para ser honesto com o seu “coletivo” e com os trabalhadores, antes de discutir o mérito de entrar ou não na chapa com vocês, vejo-me na obrigação de travar um debate aberto previamente contra as posições políticas e as práticas sindicais reveladas nos argumentos que vocês utilizam em sua tentativa de justificar o veto político aos militantes da Ler-qi para a composição da chapa.

Sindicato Classista ou Sindicato Corporativista

Quando construíram os primeiros Sindicatos, os trabalhadores não cometeram a estupidez de dividirem-se em diferentes categorias, eles sabiam que metalúrgicos ou têxteis, marceneiros ou alfaiates, sapateiros, pedreiros ou serventes, todos eles faziam parte de uma mesma classe explorada e oprimida.Com essa consciência de classe, os trabalhadores construíram poderosos sindicatos independentes do estado nos quais todos os operários(as) de todas as profissões ou ramos de produção eram livres para se organizar.

Aqueles eram sindicatos classistas. Neles os trabalhadores podiam se organizar e lutar como uma só classe, e assim unidos eles eram mais fortes e puderam impor pesadas derrotas à classe dos patrões que explorava e oprimia. E assim conquistaram todos os direitos políticos, trabalhistas e sociais que temos hoje, os quais os governos burgueses como o de Serra e de Lula estão tentando tirar de nós.

Porém a burguesia percebia que trabalhadores organizados e lutando unidos como uma só classe eram muito difíceis de derrotar. Como Maquiavel havia ensinado, dividindo era mais fácil de dominar e dominando era mais fácil explorar; a burguesia precisava encontrar uma forma de dividir os trabalhadores, de matar em suas mentes a sua consciência de classe; a burguesia necessitava encontrar formas de liquidar a consciência de classe que os trabalhadores haviam desenvolvido e de impedir que eles continuassem se organizando política e sindicalmente como uma classe.

Quem ofereceu a solução que a burguesia procurava foi o fascista Mussolini que editou na Itália uma lei chamada “Carta Del lavoro” (carta do trabalho). Essa lei fascista dividiu a classe trabalhadora em categorias diferentes por estados e municípios como, por exemplo: Metalúrgicos de São Paulo, Osasco e Campinas, ou químicos de Osasco, sapateiros de Franca, trabalhadores da USP, metroviários de São Paulo, metroviários do Rio etc...E proibiu a organização dos sindicatos livres e classistas, impondo a construção de Sindicatos diferentes para cada categoria em cada município; todos controlados pelo Estado e também impós datas base diferentes divididas entre os doze meses do ano para impedir que os trabalhadores pudessem entrar em luta todos ao mesmo tempo. As categorias só podiam organizar campanhas salariais em suas datas base apenas para discutir salário.

A organização de partidos operários independentes foi proibida e os existentes foram postos na ilegalidade.

Getúlio Vargas traduziu a “carta Del lavoro” para a língua portuguesa, publicou a com o nome de CLT e fez com os trabalhadores brasileiros o mesmo que o fascista Mussolini havia feito com os trabalhadores italianos, e que nazista Hitler fez com os trabalhadores alemães. Dessa forma a classe trabalhadora brasileira também foi dividida em categorias e sindicatos diferentes controlados pelo Estado, podendo organizar campanhas salariais para reivindicar salários apenas uma vez por ano, na data base.

Os partidos operários foram postos na ilegalidade, seus militantes foram presos, mortos ou exilados e os trabalhadores foram proibidos de se organizar politicamente, tinham direito de reivindicar salários uma vez por ano, mas não podiam construir seus próprios partidos para travar a luta política que lhes permitisse acabar definitivamente com a exploração e a opressão capitalista.

Divididas em categorias distintas, as novas gerações de trabalhadores foram perdendo sua consciência e seu sentimento de classe, acabaram adaptando-se à estrutura sindical corporativista imposta pelo fascismo, esquecendo-se do conteúdo, significado e conseqüências da palavra "classismo" que assim com as palavras "revolução" e "socialismo" , passou a ser usado apenas para colorir de vermelho panfletos e discursos para os dias de festa.

Mais tarde, para enfraquecer e explorar ainda mais, a burguesia aprofundou a divisão da classe trabalhadora separando as próprias categorias corporativas entre efetivos precários e terceirizados.

Por isso hoje, quando os previdenciários entram em greve, a imprensa burguesa consegue jogar toda a população contra eles, pois a ideologia corporativista impede o restante da classe trabalhadora de perceber que os previdenciários em greve estão lutando contra o mesmo governo que está tentando acabar com a previdência social pública, com os direitos previdenciários, incluindo a aposentadoria de toda a classe trabalhadora e, ao invés de juntarem-se à luta dos previdenciários para derrotar o governo, salvando os direitos previdenciários de toda a classe, acaba apoiando o governo quando este reprime os grevistas.
Esse lixo ideológico que a estrutura sindical corporativista criada e imposta pelo fascismo, incutiu na consciência da classe trabalhadora, impede que os trabalhadores da USP percebam que, permitindo que o Serra demita 61 metroviários que fizeram greve, estamos permitindo que o mesmo Serra e a Reitora ganhem força e ousadia para tentarem demitir 100 ou mais funcionários da USP pela ocupação da Reitoria.

Se até aqui vocês estão de acordo comigo, eu lhes pergunto camaradas: Combater na prática, na ação concreta, não apenas em discursos e panfletos, a estrutura sindical e a ideologia corporativista que o fascismo impós à nossa classe, não seria a primeira tarefa de qualquer militante, coletivo ou corrente política que reivindique o direito de escrever em suas bandeiras, panfletos e programas as palavras: "Classista" ou "Classismo"?

Denunciar permanentemente de forma a esclarecer aos trabalhadores, o conteúdo, o significado, o objetivo e as conseqüências divisionistas da estrutura sindical e da ideologia corporativista, que o fascismo nos impós, não seria uma forma efetiva de ajudar os trabalhadores a removerem a venda que tapa seus olhos impedindo-os de verem-se e sentirem-se como uma única classe explorada e oprimida?

Receber na direção do nosso sindicato, de braços abertos e com muito orgulho, companheiros precarizados ou terceirizados para que eles possam de fato organizarem-se em torno do Sintusp, para juntos com os companheiros efetivos, combaterem a precarização e a terceirização: não seria uma forma de demonstrar à reitoria, à burguesia, aos pelegos do PSOL e aos burocratas governistas do PT e da CUT que no Brasil já existe um primeiro sindicato a dar um primeiro passo concreto em direção ao classismo e à superação da estrutura sindical e da ideologia corporativista que a burguesia e o fascismo usaram para dividir e enfraquecer nossa classe?

Camaradas, se vocês tivessem assumido publicamente e esclarecido aos trabalhadores os motivos do seu sectarismo para com os militantes da Liga Estratégia Revolucionaria (Ler-qi) teriam cumprido um papel muito mais progressivo, mas não, vocês optaram por apoiarem-se precisamente na estrutura sindical e na ideologia corporativista da qual deveria ajudar os trabalhadores a se libertarem, para tentar justificar o veto a dois companheiros combativos, sócios desse sindicato que além de terem contribuído política e financeiramente para o seu fortalecimento nos últimos dezoito meses, estiveram à frente de todas as lutas dos trabalhadores neste mesmo período, alegando que seria “errado incorpora-los à chapa, pois após o termino do seu contrato não teriam mais vínculo com a USP, ou seja, não fariam mais parte da categoria." Se vocês tivessem assumido que se trata de um veto político e esclarecido os motivos, vocês não teriam incorrido no método burocrático de rasgar as resoluções do quarto congresso e o próprio estatuto do Sindicato, nem teriam ajudado a disseminar e fortalecer a ideologia corporativista que deveríamos juntos denunciar, combater e subverter.

Respondam-me, Camaradas: na hipótese mais provável da nossa chapa ganhar a eleição, que argumentos teremos para exigir da reitoria a efetivação dos trabalhadores precários e terceirizados, depois do vosso coletivo haver distribuído milhares de panfletos afirmando que uma lei burguesa “não permite a renovação desse tipo de contrato por mais de uma vez.” ...? Como vocês esperam que os trabalhadores precarizados continuem filiando-se ao Sintusp, confiando que o sindicato seja de fato um instrumento no qual eles possam se organizar para lutarem por sua efetivação, depois do vosso coletivo haver distribuído milhares de panfletos negando a dois trabalhadores precarizados o seu direito assegurado pelo estatuto do sindicato e pelas resoluções do quarto congresso ,de votarem e serem votados para diretoria do Sindicato, usando argumentos que se apóiam na estrutura sindical e na ideologia corporativista imposta pelo fascismo e reivindica uma lei burguesa que, supostamente, não permitiria a efetivação dos precarizados, que foi uma reivindicação aprovada por unanimidade em nosso IV Congresso?

De fato já existem na USP vários funcionários que tinham contratos precários e foram efetivados.

Antes de escrever e tornar público milhares de panfletos, afirmando que isso é proibido por lei, vocês não pararam para pensar que fazendo isso estariam dizendo aos diretores de unidades, que efetivaram funcionários precarizados, que eles cometeram um ato ilegal, fazendo que daqui para frente eles se recusem a efetivar outros trabalhadores precarizados?

Vocês não acham que ao invés de legitimar uma lei anti-operária aprovada a partir de um projeto do arqui-pelego Luiz António Medeiros, a tarefa de qualquer militante, coletivo ou corrente política comprometidos com os interesses e as necessidades da classe trabalhadora, seria denunciar essa lei, exigindo sua revogação?

Ao invés de responsabilizar dois camaradas que necessitavam trabalhar para sobreviver, por eles haverem “assinado um contrato precário” ; não seria tarefa de vocês, denunciar a Reitoria que impõe aos trabalhadores esse tipo de contrato, chamando os trabalhadores efetivos a lutarem e exigirem a efetivação de todos os precarizados e terceirizados, para não continuarem correndo o risco de perderem seu emprego ao serem substituídos por trabalhadores terceirizados ou precarizados?

Além de errados, sob todos os aspectos principistas, políticos, táticos , estratégicos e ideológicos, os seus argumentos corporativistas e legalistas revelam uma enorme incongruência.

Independente de vocês me aceitarem ou não na sua chapa, após a leitura dessa carta, eu terei um imenso orgulho de ter na direção do nosso sindicato, um ou mais companheiros da EEL (antiga FAENQUIL), os quais, por terem sido vítimas de discriminação no processo de incorporação daquela faculdade pela USP, encontram-se hoje vinculadas a um quadro de funcionários ,destinado à extinção ,na Secretaria do Ensino Superior e, portanto, da mesma forma que os precarizados ,estão lutando para serem efetivados pela USP e ainda não possuem vínculo empregatício formal com a universidade. Terei imenso orgulho e votarei para ter na direção do sindicato esses companheiros que, apesar de não pertencerem formalmente quadro de trabalhadores da USP, fazem parte de fato da nossa classe explorada e oprimida. E além disso já demonstraram seu valor político e sua combatividade quando se trata de lutar por seus direitos e pelos direitos da classe.

Teria também um imenso orgulho de ter na direção do nosso sindicato, trabalhadores precarizados e terceirizados, porque para mim, o conteúdo, o significado e a conseqüência da frase “sindicato classista” é: sindicato livre, independente do estado, aberto à todos os setores da classe trabalhadora que o reconheçam como seu instrumento de luta e se disponham portanto a construí-lo.

Agora, depois do que vocês disseram, escreveram e estão fazendo, respondam-me, Camaradas; quais são para vocês o conteúdo, o significado e as conseqüências concretas da última frase escrita no boletim do seu coletivo: “por um SINTUSP combativo e classista” ? Quais são para vocês o significado, o conteúdo e a consequencia do que diz o estatuto do sindicato sobre os direitos dos associados e das resoluções que vocês votaram no IV congresso, assegurando aos terceirizados e precarizados o direito de filiarem-se ao sindicato?

Sobre os partidos e os sindicatos

Vocês escreveram sem nenhuma ressalva: “entendemos que todo diretor ou militante do sindicato é livre para participar ou não de partidos ou correntes políticas” ... Depois “é errado que uma chapa ou uma diretoria de um sindicato se constitua a partir de composição com partidos” . E por ultimo: “... nenhum sindicato ou suas direções devem estar atreladas a partidos ou correntes políticas” .

Para um leitor, desatento, ingênuo ou de boa fé, tudo isso pode parecer correto e até muito bonito. Porém, vejamos quantas farsas e quanta hipocrisia estão contidas em apenas quatro linhas do seu boletim e quantos serviços elas prestam aos partidos burgueses e aos traidores do PT, PCdoB e PSOL, que desejam continuar enganando e alienando os trabalhadores para, dessa forma, continuarem ocultando os seus vínculos partidários enquanto dominam as organizações operárias, colocando-as a serviço dos patrões e dos governos patronais.

Primeiro a hipocrisia e as farsas!

Por definição, um partido, ou uma corrente política, é simplesmente um grupo fechado de pessoas organizadas em torno de um objetivo comum e que tenham acordo quanto aos meios e as táticas necessárias para alcançarem o seu objetivo. Auto denominando-se "coletivo" , ao invés de "corrente" ou "partido político", vocês não eliminam o fato de que são na prática um grupo fechado de pessoas organizadas em torno de um núcleo permanente com um objetivo comum e que convoca as reuniões do “coletivo” sempre que é necessário enfrentar algum problema ou resolver alguma tarefa como, por exemplo, montar uma chapa para disputar a eleição do sindicato, decidindo entre vocês quem pode e quem não pode entrar na chapa do seu “coletivo” . O fato de serem um tanto ecléticos e terem pouca organicidade não faz vocês deixarem de ser um grupo político fechado no qual só podem entrar pessoas que vocês aceitem ou convidem, conforme suas conveniências. Portanto, assumindo isso ou não independente de como se auto-denominarem, vocês são nada mais nada menos do que um grupo, ou corrente política que controla o sindicato há mais de duas décadas, do qual eu mesmo já fiz parte. Logo, a afirmação de que são contra a composição de chapas com correntes políticas, pois isso supostamente implicaria no atrelamento da diretoria e do sindicatos às correntes e aos partidos, é pura hipocrisia. Se assim não fosse vocês estariam abertos a discutir o programa e a composição da sua chapa com todos os trabalhadores da USP, que nos últimos anos têm dado mostra de sua combatividade e radicalidade, não só aprovando as greves, mas também defendendo, aprovando e participando dos piquetes, da ocupação da reitoria etc. No entanto, vocês preferem discutir fechados em seu próprio grupo, pois essa é a forma de vocês aceitarem ou vetarem quem o seu coletivo quiser.

“É errado constituir uma chapa ou a direção de um sindicato a partir de composição com partidos ou correntes políticas” ; camaradas não façam confusões! Nós propusemos a vocês “a composição de uma chapa da CONLUTAS que expressasse a unidade de todos os setores mais combativos da USP” e nós acreditamos que eu, a LER-QI e muitos outros(as) camaradas que não fazem parte do seu coletivo e nem da nossa corrente, também nos incluímos entre os piqueteiros combativos da USP. Portanto, para nós, compor uma chapa que expressasse a unidade de todos os setores combativos da USP significa apenas incluir na chapa militantes da LER-QI e outros piqueteiros combativos.

Se para vocês isso seria uma heresia, pois supostamente implicaria em compor uma chapa ou diretoria com uma corrente política e, portanto, o atrelamento do sindicato à referida corrente, esclareçam-me por favor: de que forma diretores do sindicato poderiam ser “livres pra participar ou não de partidos” , como vocês afirmaram no seu boletim, sem que isso implique em incluir nas chapas militantes de partidos?

Se incluir na chapa militantes da LER-QI seria errado,pois implicaria em compor com uma corrente política, atrelando o sindicato e a diretoria à mesma. Respondam-me: de que forma vocês poderiam incluir na chapa e na diretoria militantes de qualquer outro partido, sem que isso implique em compor com o tal partido, atrelando a diretoria e o sindicato aos mesmos? Porque essa sua norma “sagrada” só se aplica à LER-QI e não aos demais partidos?
Isso é tudo que eu tinha a lhes dizer e perguntar a respeito de hipocrisia.

Então vejamos as farsas

“Os sindicatos não podem ser atrelados à partidos políticos” . Ao afirmar isso vocês iludem os trabalhadores invocando uma suposta independência dos sindicatos em relação aos partidos.

Ao invés de difundir essa farsa; vocês deveriam gastar seu tempo e seus panfletos para revelar a verdade aos trabalhadores, esclarecer à eles, que no Brasil, todos os sindicatos são atrelados e controlados não só por partidos mas pelo próprio estado burguês e suas instituições.

Vocês deveriam explicar aos trabalhadores que a estrutura sindical corporativa que vocês mesmos reivindicaram como argumento para negar aos trabalhadores precarizados o seu direito estatutário de entrar na diretoria do sindicato, só é mantida até hoje devido ao controle do estado sobre as organizações sindicais. Vocês deveriam informar os trabalhadores, que o próprio SINTUSP, para existir oficialmente foi obrigado a protocolar seu registro no ministério do trabalho e recentemente foi proibido pela justiça burguesa de atuar em defesa dos trabalhadores terceirizados, com base na mesma estrutura sindical corporativa imposta e controlada pelo estado.

Quanto à suposta independência dos sindicatos em relação aos partidos

Sobre esse aspecto vocês cometeram, ao meu ver, dois erros gravíssimos:

Primeiro, ao propagandearem essa farsa, vocês ajudam a iludir os trabalhadores ao invés de esclarecer a verdade a eles ,explicando que os mais de três mil sindicatos filiados a CUT estão, assim como a própria central, sob a direção e controle de militantes dos principais partidos da base de sustentação do governo Lula, PT e PCdoB, e por isso tanto a CUT quanto seus sindicatos se tornaram ferramentas a serviço do governo Lula e da burguesia , traindo as lutas dos trabalhadores, como pudemos ver nas recentes greves do metró e dos correios e, apoiando as reformas previdenciárias, universitária, sindical e trabalhista que esse governo está tentando aprovar para acabar de uma vez com todos os nossos direitos sociais e trabalhistas, inclusive o direito de greve.

Vocês deixam de esclarecer aos trabalhadores que a maioria dos sindicatos da força sindical, CGT, etc... estão sob direção e controle dos partidos burgueses PDT, PSDB, e do MR8 ligado a ala quercista do PMDB. Vocês ocultam dos trabalhadores que a maioria dos sindicatos da INTERSINDICAL estão sob a direção do PSOL que traiu os trabalhadores votando junto com os partidos burgueses e governistas a aprovação do super simples que retirou muitos direitos de mais de 60% da classe trabalhadora.

Da mesma forma que tentam ocultar o fato de serem um grupo político fechado, que controla SINTUSP, vocês ocultam o fato de que a maioria dos sindicatos da CONLUTAS estão sob direção e controle do PSTU de alguns setores do PSOL e de outros pequenos grupos ,coletivos ou correntes menores e que, portanto no Brasil, a maioria dos sindicatos ou estão sob controle de algum partido, grupo, corrente ou “coletivo” políticos e que todos juntos estão atrelados e sob controle do estado burguês.

Dessa forma, vocês colaboram para que os agentes dos partidos burgueses e traidores infiltrados nos sindicatos e demais organizações operárias e populares, possam continuar no anonimato, enganando os trabalhadores e usando as ferramentas construídas pela nossa classe, para traí-la a todo momento, de acordo com os interesses dos governos burgueses e seus partidos e, além disso, deixam de cumprir a tarefa de alertar os trabalhadores para a necessidade imperiosa de varrerem das suas organizações todos os traidores e agentes do capitalismo e da burguesia e tomarem de volta o controle de suas ferramentas de luta para coloca-las a serviço de suas necessidades e seus interesses.

Acredito que vocês cometem esse erro gravíssimo devido a um outro erro não menos grave que o primeiro, que é o de não diferenciar os partidos burgueses, reformistas e traidores das correntes e dos partidos operários revolucionários ou centristas.

Por isso, quando vocês afirmam no seu boletim que “todo militante ou diretor do sindicato é livre para participar ou não de partidos” , vocês não fazem nenhuma ressalva com relação ao caráter de classe, o programa e a estratégia dos partidos. Uma vez que para vocês todos os partidos e correntes são iguais, quando vocês dizem que os “diretores são livres para participar ou não de partidos” , isso pode perfeitamente incluir também os partidos burgueses e, portanto qualquer um que leia o que vocês escreveram, poderá interpretar que vocês estariam dispostos a aceitar na sua chapa ou na direção do sindicato, militantes ou diretores ligados inclusive à partidos burgueses e aos partidos governistas como PT, e PCdoB ou de partidos traidores como o PSOL.

Essa é provavelmente uma das nossas divergências mais importantes. Eu e a LER-QI lutamos pelo fim da opressão e da exploração capitalista. E , acreditamos que a única forma de conquistar esse objetivo é destruindo o estado burguês e todas as suas instituições através de uma revolução socialista que coloque o poder político, as fábricas e as terras produtivas sobre o controle da própria classe trabalhadora. Acreditamos também que a revolução socialista só pode ser vitoriosa se estiverem dadas certas condições objetivas e subjetivas. Uma das mais importantes é que os trabalhadores recuperem sua consciência de classe e imponham a total independência de seus sindicatos e suas demais organizações de combate, em relação ao Estado burguês e todas as suas instituições onde se incluem os partidos burgueses e seus agentes infiltrados nas organizações operárias, estudantis e populares, por isso, somos intransigentemente contra e lutaremos à morte para não permitir que nenhum militante ou agente de qualquer partido burguês entre na direção de nosso sindicato.

Entre outras condições tão importantes quanto a anterior, para a vitória da revolução socialista, está a de que todas, ou no mínimo a maioria absoluta das organizações operárias,estudantis e populares estejam, sob a direção ou influência de um partido revolucionário;um partido leninista de combate.

Se vocês não concordam conosco quanto à esta questão reflitam: No próximo mês: além do décimo nono aniversário do Sintusp, comemoraremos também os 90 anos da Revolução Russa. Vocês acreditam mesmo que a vitória daquela revolução teria sido possível sem que a maioria dos sindicatos operários e os próprios soviets de operários, soldados e camponeses estivessem sob a direção do Partido Bolchevique? Eu e a Ler-qi não acreditamos!

Por isso lutamos pela construção de um partido revolucionário no Brasil, um partido que lute para libertar a classe operária da influência dos burocratas reformistas e traidores, bem como das ideologias burguesas como o corporativismo. Um partido que ajude os trabalhadores a recuperar sua consciência de classe e a voltarem a se organizar e a lutar política e sindicalmente como uma classe. Por isso eu, a LER-QI e a Fração Trotskista lutamos no Brasil e em vários outros países do mundo pela construção de partidos revolucionários e internacionalistas e pela reconstrução da IV internacional, estimulando não em palavras ou em panfletos, mas em ações concretas ,a solidariedade internacional entre os trabalhadores, como forma de ajuda-los a resgatar a consciência de que não importa o país onde vivam, eles são uma única classe explorada e oprimida. Lutamos com as forças que temos para que um dia os trabalhadores possam concretizar o que Marx e Engels lhes propuseram na última frase do Manifesto Comunista: “Proletários do mundo, uni-vos” .

Para que os trabalhadores se tornem cada vez mais independentes das burocracias traidoras, em cada luta eu e a LER-QI defendemos que os lutadores construam organismos do tipo soviético tais como comandos unificados com delegados eleitos nos locais de trabalho para que os trabalhadores assumam o controle e tomem eles próprios todas as decisões que digam respeito às suas lutas, pois essa é a única forma de impedir as traições dos pelegos, dos agentes da burguesia e dos burocratas traidores. Ao mesmo tempo, em cada momento propomos e combatemos pela unidade dos setores combativos ou dos setores em luta, como forma de superar o divisionismo imposto pela estrutura sindical, pela ideologia corporativista e pelas direções traidoras que dividem e isolam as lutas dos trabalhadores, tornando mais fácil a sua derrota pelos governos e pelos patrões.

Por isso, camaradas eu e a LER-QI propusemos ao vosso coletivo, que nestas próximas eleições do nosso sindicato, uníssemos numa mesma chapa, todos os setores mais combativos dos trabalhadores da USP para derrotarmos os traidores governistas do PT e da CUT e os pelegos do PSOL. Pois em que pese todas as diferenças que temos com vocês, nós sabemos fazer uma coisa que vocês se recusam: nós sabemos diferenciar os combativos dos pelegos e dos traidores, sabemos diferenciar os partidos burgueses e os partidos traidores dos partidos e das correntes operárias centristas e revolucionárias.

Por isso camaradas; apesar de combatermos abertamente através do debate, as políticas, as ideologias, as práticas ou as ilusões com as quais não temos acordo,o fazemos no sentido de tentar convencê-los a mudarem suas posições, pois não temos o menor sectarismo contra vocês ou contra qualquer setor combativo, anti-capitalista e anti-governista. Portanto, em que pese as diferenças expressas nesta minha carta e na resposta da LER-QI ao seu boletim, não temos o menor sectarismo contra vocês ou contra qualquer lutador honesto que ainda tenham ilusões no PT ou no PSOL, apenas lutamos para ajudar os últimos a perceberem que estão sendo enganados e iludidos e que portanto, precisam romper o mais rápido possível com os partidos traidores e colocarem sua combatividade, honestidade e energia a serviço da construção de um novo partido, uma nova ferramenta política para que os trabalhadores possam superar os limites da luta sindical economicista e avançarem para a luta política pela tomada revolucionária do poder.

Por isso reitero o chamado à unidade de todos os setores combativos da USP, o que inclui também funcionários militantes da LER-QI, e declaro que as diferenças aqui expressas não me impedem de reconhecer os méritos de vocês, de entender que sob o controle do vosso coletivo, com a ajuda da nossa atuação, minha e da LER-QI, ao lado de vocês e dos trabalhadores mobilizados, temos juntos conseguido construir e manter a tradição do SINTUSP de ser um dos sindicatos mais combativos do país.

Reitero a vocês o chamado para que reconsiderem sua posição e tentem superar seu sectarismo, aceitando na chapa, além de mim, um outro funcionário da USP militante da LER-QI.

Quanto a minha posição a respeito de entrar ou não na chapa com vocês sem nenhum dos meus camaradas da LER-QI, declaro que: caso após a leitura dessa carta e das diferenças aqui expostas, vocês ainda concordarem em incluir meu nome na vossa chapa e continuarem vetando qualquer outro militante da LER-QI, ainda assim, em nome da unidade dos lutadores, integrarei a chapa com vocês. Porém esclareço que essa decisão foi tomada de comum acordo com a própria LER-QI, pois caso contrário, eu não viraria as costas aos meus companheiros. Caso vocês me aceitem na chapa, saibam que durante a campanha eleitoral e até o final do mandato, na hipótese de vencermos a eleição, estarei atuando sob a orientação política da LER-QI e da FT, com três objetivos: 1) ajudar a derrotar os pelegos do PSOL e os governistas do PT e da CUT; 2) lutar para ajudar a construir a unidade dos trabalhadores da USP e de toda a classe, para combater a reitoria e os governos de Lula e Serra; 3)travar um combate sem tréguas contra a ideologia corporativista expressa no conteúdo do boletim do vosso coletivo de forma a podermos juntos superar o corporativismo e começarmos a dar passos concretos no longo caminho da reconquista do classismo e da independência dos sindicatos em relação ao Estado, às ideologias , às leis e às demais instituições burguesas e avançarmos na construção das condições objetivas e subjetivas para a vitória da Revolução Socialista.

Caso vocês decidam vetar o meu ingresso na sua chapa devido ao conteúdo desta carta, lamentarei por vocês e pela classe, pois , vocês que já foram capazes de militar durante anos nas correntes sindicais CUT pela Base e Alternativa Sindical Socialista(ASS), constituídas por militantes de correntes políticas traidoras como DS( Democracia Socialista e VS(vertente Socialista) e Fórum Socialista que hoje integram Ministérios no governo Lula e diversas secretárias e assessorias de prefeituras do PT e do PCdoB. hoje se recusam à unidade com uma corrente Revolucionária, com essa política sectária, cedo ou tarde, acabaram por entregar mais um sindicato combativo nas mãos da direita, apenas para não ter que dividir o seu controle com nenhuma outra corrente de esquerda.

Da minha parte, sou um militante revolucionário trotskista e para ser digno da tradição do que significa ser trotskista, eu estarei sempre pela unidade de todos os lutadores da classe, porém não poderia calar-me diante do conteúdo, significado e conseqüências das posições políticas e ideológicas expressas no seu boletim, em troca de uma vaga na sua chapa, pois a honestidade para com vocês, para com os trabalhadores e para com os meus próprios princípios, é para mim, muito mais importante do que uma vaga na direção do sindicato ou de qualquer aparato.

Num momento em que a sobrevida do capitalismo putrefato, depois de mergulhar a humanidade na barbárie, põe em risco a própria capacidade do planeta de sustentar as formas de vida existentes, o que inclui a forma de vida humana, eu me permito ter preocupações e sonhos muito maiores do que o de estar fora da direção de qualquer sindicato ou aparato, pois acredito que o mais importante é estar sempre com os trabalhadores, do lado certo da trincheira, e isso não depende de cargos, Mas sim de vontade e da convicção ideológica de que as tarefas da revolução estão postas para hoje e agora e não para alguma época indefinida num futuro distante.

Por hora é só, fico no aguardo da vossa resposta.

Saudações trotskistas a todos(as) e desculpem-me não ter conseguido ser mais sintético

Brandão

Leia artigo "Por um sindicalismo classista"

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