Terça 7 de Maio de 2024

Internacional

ANÁLISE

As perspectivas após o triunfo de Obama

15 Nov 2008   |   comentários

(...) O grande desafio do governo de Obama pode vir do plano interno, frente à magnitude da crise económica. Mais cedo que tarde, as ilusões e expectativas dos trabalhadores, minorias de negros e latinos e os milhões que vêem sua subsistência ameaçada pela recessão, se chocariam com a realidade de que o governo de Obama não defenderá seus interesses, mas os das grandes corporações capitalistas.

A maioria dos setores “progressistas” que chamou a votar em Obama justificou sua posição argumentando que seu governo será mais pressioável pelas lutas dos trabalhadores. Roosevelt nos anos 30, Kennedy nos 60 ou Obama em 2009 confirmaram mais de uma vez que para além da retórica “esquerdista” ou das políticas “populistas” , como o New Deal, o Partido Democrata junto com o Partido Republicano defende os interesses da burguesia imperialista. Basta recordar que na presidência de Kennedy os EUA invadiram Cuba, que o democrata Johnson incitou a guerra do Vietnã e que o próprio Roosevelt quando sua política de New Deal se demonstrou incapaz de revitalizar a economia norte-americana e se deu a crise de 1937, transformou o New Deal em “War Deal” , isto é, mudou o rumo económico para os preparativos bélicos em 1938 para disputar a hegemonia mundial contra a Alemanha nazista e a Grã-Bretanha. Foi esta “indústria de guerra” que efetivamente permitiu a recuperação da economia.

Ainda está por ver se Obama aplicará um giro significativo na política económica nos marcos da defesa do regime burguês imperialista. Tampouco podemos descartar um giro claramente protecionista, como pode supor sua retórica eleitoreira e a composição majoritária democrata nas duas câmaras do Congresso. Historicamente a estratégia do “mal menor” jogou a favor de que o Partido Democrata atue como contenção dos setores médios “progressistas” e das tendências à radicalização da vanguarda operária, como ocorreu nos anos 30 com a cooptação por parte de Roosevelt do sindicalismo combativo da CIO ou a fins dos 60 com o movimento contra a guerra do Vietnã. Este tem sido um grande obstáculo para a independência política dos trabalhadores, que majoritariamente votam no Partido Democrata.

A profundidade da crise económica e o novo período histórico que se abre provavelmente irão acelerar a experiência com o governo de Obama. As ilusões ou as expectativas frustradas podem se traduzir em luta de classes e na emergência de novos fenómenos políticos, como ocorreu nos anos 30 com o surgimento da CIO (primeiro Committee for Industrial Organization e a partir de 1937 Congress of Industrial Organization) que em poucos meses atraiu para suas fileiras milhares de trabalhadores empregados e desempregados, como os operários das automotrizes de Toledo em 1934 ou Teamster de Minneapolis. É certo que a história não se repete, mas também é certo que estamos numa crise de magnitude histórica similar à que deu lugar aos processos mais agudos de radicalização da classe operária norte-americana. No próximo período está aberta a possibilidade de que a classe operária, que foi duramente golpeada desde a presidência Reagan, e que sofreu duras derrotas nos últimos 30 anos de ofensiva neoliberal, na qual sua representação sindical se reduziu a apenas 12% da força de trabalho, recupere sua organização e que se abra a oportunidade para que os trabalhadores norte-americanos e as minorias oprimidas rompam com os partidos exploradores.

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