Domingo 5 de Maio de 2024

Movimento Operário

ELEIÇÕES SINDICAIS NA PETROBRÁS

Articulação vence, mas cresce o descontentamento

09 Dec 2014   |   comentários

Semana passada aconteceu a eleição do importante sindicato petroleiro de Duque de Caxias (RJ), um dos maiores desta categoria no país. A Chapa 1, vencedora, reelege-se novamente, mas desta vez mostrando um grande desgaste na categoria(...)

Semana passada aconteceu a eleição do importante sindicato petroleiro de Duque de Caxias (RJ), um dos maiores desta categoria no país. A Chapa 1, vencedora, reelege-se novamente, mas desta vez mostrando um grande desgaste na categoria, chegando a perder na principal unidade da categoria, a estratégica Refinaria Duque de Caxias (REDUC).

Nesta eleição concorriam duas chapas. Na vencedora chapa 1 dirigentes sindicais ligados à presidente Dilma, à diretores da empresa (possivelmente até com afastados por corrupção) e à assessores do presidente afastado da Transpetro. Esta chapa representava o alinhamento com a empresa e com o governo e continuidade de um sindicalismo “chapa-branca” conduzido por diretores sindicais encastelados e burocráticos que estão há mais de duas décadas “profissionalizados” (sem trabalhar). Na chapa 2, encabeçada por dissidentes da corrente hegemônica da chapa 1, a Articulação Sindical (PT, mesma corrente de Lula e Dilma), militantes do PSTU, PCB, independentes, e onde participávamos muito minoritariamente.

O resultado final, 54% para Chapa 1 e 46% para a Chapa 2, mostra o crescente desgaste da direção do sindicato e como, mesmo guardadas todas as particularidades da categoria petroleira, os “novos ventos” nacionais do movimento operário também se sentem em Caxias. A apertada vitória, em meio a uma altíssima participação dos petroleiros sindicalizados da ativa (não aposentados, na ativa a votação alcançou cerca de 75% dos sindicalizados) com cerca de cem votos de diferença ilustra este cenário de descontentamento. A chapa 1 obteve 670 votos, enquanto a chapa 2 obteve 569 votos, além disto ocorreram 16 votos nulos.

Do outubro petista em petroleiros a um dezembro de “renovação”

Em outubro os petroleiros, e particularmente em Caxias, em sua amplíssima maioria votaram em Dilma e mesmo uma parcela significativa fez campanha por ela, nas redes sociais, com amigos, usando adesivos, etc. As relações de trabalhadores com a direção sindical da articulação estava amigável e “fluída” como nunca. Porém, terminada as eleições, tanto a experiência com o “mal menor” e seus ajustes contra os trabalhadores e ministros neoliberais, com a direção petista da empresa e seus escândalos de corrupção, bem como o desgaste anterior da direção fizeram se sentir.

Não fosse as vitórias da chapa 1 no Terminal de Campos Elíseos, em aposentados, e em poucos votos na sede da Petrobrás, a direção do sindicato teria mudado. Com muitas contradições os petroleiros de Caxias expressam um desejo de mudança e alguma experiência com a empresa e sua direção sindical (que são, via de regra, a mesma corrente petista – a Articulação).

Os limites da chapa 2 e os limites da experiência com o PT e a direção sindical

A Chapa 2 centrou sua campanha na independência da empresa, do governo e sua diretoria, criticando a Articulação por colocar diretores sindicais em cargos de confiança na empresa e usando este elemento para criticar a falta de independência do sindicato nos atuais escândalos de corrupção. Esta questão elementar, independência da empresa e governo, não é algo claro ainda para os petroleiros que se acostumaram por tantos anos com ter isto “tudo junto e misturado”, e mesmo onde este elemento é mais presente, como no Terminal de Campos Elíseos onde um ex-diretor sindical é agora assessor do presidente afastado da Transpetro, esta questão ainda não é tratada pelos petroleiros como algo escandaloso. Fora estas questões, a Chapa 2 colocou uma série de reivindicações mínimas e econômicas dos petroleiros.

Uma grande parcela da categoria, 46%, e um pouco mais de metade da refinaria concordaram com estas críticas e deram mostras de alguns passos rumo a independência da empresa. Porém, este passo ainda é inicial e a falta de erguer esta crítica a um patamar mais político, do governo Dilma, da privatização do petróleo continuada por petistas, de como se usa a empresa no regime político brasileiro, o papel que os trabalhadores e sindicatos deveriam ter nesta situação, não contribuiu para que este avanço fosse maior.

Nossa atuação na Chapa 2

Atuamos na Chapa 2 sem considerar que os dissidentes da Articulação e a chapa 2 possam ser consequentes em realmente transformar o sindicato para torná-lo uma ferramenta de toda a classe trabalhadora. Buscamos atuar nesta chapa para que houvesse uma voz em defesa da unidade com os terceirizados, de dar uma resposta efetiva à crise da Petrobrás e aos escândalos de corrupção, e que fosse levantado um claro programa para ter um sindicato democrático, proporcional, que respeite as assembleias, e para acabar com os privilégios da burocracia sindical. Era possível e necessário apoiar-se no desejo de mudança e buscar politizá-lo, erguer um programa classista.

Nossa atuação nesta chapa foi possível graças a um acordo na chapa que permitia liberdade de crítica e atuação a todos grupos e indivíduos na mesma. Assim, discutimos com companheiros de base tanto o programa da chapa e seus materiais, com seus limites, mas também nosso programa e material próprio. Era necessário aproveitar a situação para que comece a surgir uma voz que lute para elevar a consciência de que tipo de sindicato é preciso erguer: um que seja democrático, proporcional, que respeite as assembleias, sem privilégios (somente 1 ano de profissionalização e não duas décadas como temos hoje) e que lute por toda a classe trabalhadora, atuando contra a homofobia, racismo, machismo, e que una petroleiros próprios e terceirizados. Programa este que obviamente não era compartilhado pelo conjunto da chapa 2. Fizemos vivas discussões deste programa justamente na mais complicada das bases, no Terminal de Campos Elíseos, onde a articulação tem uma boa parcela de seus diretores (quase 20% dos mesmos).

A vitória da Chapa 1 mostra a continuidade de uma consciência que será desafiada a mudar sob o impacto dos ataques que sofre a Petrobrás dos privatistas externos, mas também de seus diretores petistas igualmente privatistas irá levar os petroleiros, dia a dia, a compreender como precisam tomar em suas mãos os rumos desta empresa. Para isto será preciso que os petroleiros retomem tradições de nossa própria categoria e de nossa classe, como a independência frente aos governos e a empresa, e a retomada da democracia operária, como assembleias, comissões de base, e o sindicato para a luta da classe trabalhadora. Para isto as ideias e atuação do Movimento Nossa Classe busca contribuir.

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