Sábado 27 de Abril de 2024

Cultura

A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima

Armas americanas, armas japonesas: ambas contra os trabalhadores

24 Mar 2007   |   comentários

Os dois filmes recentes de Clint Eastwood, A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima mostram duas caras de um mesmo conflito imperialista. Os dois se ambientam na pequena e sulfurosa ilha de Iwo Jima, palco de uma importante batalha na Segunda Guerra Mundial. Cada um dos filmes toma a tarefa de relatar a batalha e o drama pessoal de alguns soldados, A Conquista da Honra, o lado americano, e Cartas de Iwo Jima, o lado japonês.

À parte da bela fotografia (sobretudo no filme japonês) e da edição de som das cenas de batalha (premiada com o Oscar) o filme foi recebido pela crítica norte-americana como bom porém aquém de “O Resgate do Soldado Ryan” . Não é à toa. Aquele filme faz um esforço que beira o absurdo em pintar um rosto humano e caridoso do imperialismo norte-americano em meio ao banho de sangue vivamente representado; já os dois filmes de Eastwood não mostram tamanho banho de sangue, e o “lado humano” se mostra contraditório com a guerra e em certo sentido contra ela. Aí está o nó da questão e parte da riqueza destes filmes para nós que lutamos pela emancipação da humanidade.

A guerra era uma guerra imperialista e portanto contra os trabalhadores

Apesar do esforço sistemático da burguesia e de ideólogos que no fim da contas a ela servem, como o historiador Eric Hobsbawm, que escreveu A Era dos Extremos para demonstrar que a Segunda Guerra Mundial era um conflito entre democracia e fascismo, a verdade vem à tona. Os filmes de Eastwood, querendo ou não, mostram que se tratava de uma luta de interesses de burguesias imperialistas e que para conquistá-los mobilizavam tanto força quanto consenso afim impor sua hegemonia.

No filme do lado americano é desenvolvido o relato dos soldados que ergueram a bandeira americana na ilha, dando origem à famosa foto que se tornou um ícone do triunfo deste imperialismo. Estes soldados são retirados da batalha para fazer um tour pelos Estados Unidos. Ocorrem interessantes cenas onde estrategistas deste imperialismo vêem na foto uma oportunidade para reerguer a guerra, já desgastada, perante a opinião pública, e para arrecadar dinheiro para sustentar a guerra. Os soldados por sua vez oscilavam entre uma alegria com sua fama recém-conquistada e um desajuste em cumprir um papel com o qual discordavam, forçados a sorrir aos burgueses e mostrar heroísmo para coletar dólares para a guerra. A brutalidade do imperialismo “democrático” norte-americano fica ainda mais patente quando um dos soldados, um índio Pima, é ao mesmo tempo erguido como herói e sistematicamente oprimido por ser índio. Para completar, este soldado sofre por ter se tornado um falso herói e vai se tornando alcoólatra, os generais opinam que ele não é digno do uniforme e o retiram da campanha interna, para... reenviá-lo ao front. Ou seja, ele não era bom para o tour, mas servia para ser “bucha de canhão” !

Ao contrário do americano que mostra mais consenso, o filme japonês mostra com maior riqueza a força para impor a hegemonia. É rico em mostrar as duas caras que os soldados são forçados a ter, a mudança no tom de voz e nas opiniões na frente dos superiores e em suas conversas de canto. As constantes ameaças de punições físicas e de execuções. Uma das principais personagens deste filme chega perto de esboçar uma política para se retirar da guerra, argumenta que pouco importava a ilha e que o melhor seria entregá-la aos americanos e voltar para casa, esta personagem e outras chegam inclusive a dar algumas mostras de solidariedade com os soldados norte-americanos. Esta passagem do filme mostra como havia bases para a política dos revolucionários em um conflito como este, voltar as armas contra os generais e a burguesia se solidarizando com os soldados do outro lado para que fizessem o mesmo. Porém, não é isto que prima no filme, o que prima é a brutalidade. A brutalidade dos generais e suas punições, a brutalidade de uma polícia ideológica do imperialismo japonês e o ódio dos operários e dos pequenos-burgueses contra estes opressores, e ainda a arcaica opressão ao indivíduo e o suicídio forçado em nome da honra.

Estes filmes são mostra da crueza dos dramas pessoais que num tempo de guerras e revoluções são dramas sociais, na ausência de saídas revolucionárias. Os filmes são uma mostra das convulsões psicológicas e sociais na metade do caminho entre a defesa de seu próprio imperialismo e a situação retratada por uma safra de filmes onde o movimento de massas está numa ofensiva e a única alternativa é sair da guerra. Sintomáticos da atual situação do imperialismo norte-americano atolado no Iraque e no Afeganistão, mas ainda sem um movimento de massas que dê as cartas do jogo, ficam na terra de ninguém das trincheiras, que no fim das contas são de classe: ou se apóia a guerra imperialista e seu uso dos trabalhadores e da população como bucha de canhão, ou se defende que as armas devem se voltar contra os generais e os burgueses.

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