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A roda histórica e o II Congresso do NPA francês – por um partido operário revolucionário e internacionalista

05 Feb 2011   |   comentários

Apresentamos a Plataforma 4 para o II Congresso do NPA. Por uma ferramenta revolucionária dos trabalhadores

Pouco precisa-se olhar para perceber que a crise capitalista internacional não chegou a seu fim: ainda que vez ou outra nos façam querer crer que tudo vai muito bem nas prateleiras do mercado mundial. Os países europeus são a própria insolvência, e a crise da dívida por um momento aparentemente Grega, agora atinge a todos. O megainvestidor norte-americano George Soros declarou que não mais se pode esperar para reestruturar a dívida européia (dar o calote, em termos menos diplomáticos), sob duros riscos de quebradeira geral num futuro próximo. Se bem podemos perceber que a crise se desenvolve de maneira desigual pelo mundo, segue, entretanto, sem cessar seu aprofundamento.

Não descolada deste cenário surge a onda revolucionária no Oriente Médio e Norte da África e abrem passos à primavera árabe. As condições de miséria a que foram levadas esta gente pelas mãos imperialistas de EUA, França e outros países europeus, fez estourar o mais importante conflito entre as classes desde o início da crise capitalista. Imperialismo de um lado, representados pelas mãos duras das ditaduras locais, e trabalhadores e jovens do outro. Já se foram ou estão por ir Ben Ali (Tunísia) e Mubarack (Egito). E as revoltas populares disseminam-se como um vírus e dá um salto à doença capitalista. O barril de pólvora resolveu acender-se .

Sob força histórica de uma realidade que insiste em caminhar a passos largos, e sob a pujança da própria realidade nacional, é que se realizará o II Congresso do Novo Partido Anticapitalista (NPA) francês. Desde a FT na França, junto a importantes setores operários, como Manu Georget delegado da fábrica Philips Dreux, que passou por uma importante experiência de controle operário no ano passado e que recentemente fechou as portas, e Vincent Duse, operário da fábrica Peugeot de Mulhause (com mais de 10 mil operários), construímos o Coletivo por uma Tendência Revolucionária no NPA (CTR), desde a qual apresentou-se a Plataforma 4 para o congresso. “Era necessário levar adiante um combate no plano ideológico e político, para que o NPA se torne um partido revolucionário, um partido que assimile a tradição dos grandes pensadores marxistas revolucionários, de Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Lênin e Trotsky, e que seja uma ferramenta real nas mãos dos trabalhadores conscientes para derrocar o capitalismo e destruir seu Estado e para construir o seu próprio governo” , desde este ponto de partida, formou-se a plataforma 4, cujas experiências e algumas lutas políticas e estratégicas apresentamos neste artigo.

O outono francês e o debate estratégico no NPA

A crise capitalista tem reavivado a premissa de nossa época histórica: a de crises, guerras e revoluções. Se sem dúvida a época da “restauração burguesa” – as três décadas sem processos revolucionários, a restauração capitalistas nos antigos estados operários, de derrota histórica da classe operária etc. – não é ainda corroída de maneira homogenia em todo o mundo, sem dúvida a França é o país imperialista onde esta época mais pode se aproximar de seu fim. A importante luta do último outono na França, recolocou em cena acalorados debates estratégicos dentro da esquerda. A disposição de setores de vanguarda mais combativos da classe operária de ir até o final para derrotar o governo direitista de Sarkozy; a aparição de assembléias interprofessionais; a disposição de amplos setores à greve geral por tempo indeterminado; a entrada da juventude em cena em apoio aos trabalhadores, entre outros elementos, elevou esta jornada a um patamar superior da luta de classes na França em relação às últimas décadas.

Verdade é que a extrema esquerda chegou má preparada (inclusive estrategicamente) a este conflito. O próprio NPA teve uma política pouco além do seguidismo às direções sindicais burocráticas (principalmente CGT e CFDT), que em nenhum momento se colocaram pela retirada da reforma previdenciária de Sarkozy, senão que a queriam retocar - até que o próprio aburguesado Partido Socialista se colocou contra a reforma de conjunto, arrastando consigo as direções sindicais -, e cumpriram o papel de frear os ânimos dos trabalhadores e ao final terminaram traindo a luta. O ceticismo diante da classe operária, a deriva estratégica do trotskismo liquidacionista que deu origem ao NPA (ex-LCR), sem delimitação de classe clara e sem princípios fundadores, foram as bases que preparam o partido para este conflito.

Desde a CTR se propõe um giro radical no partido, que se distancie da estratégia eleitoralista , hoje majoritária, e se torne de fato um partido operário revolucionário, integrado pelos elementos mais avançados da nova vanguarda operária que vem surgindo. Da “revolução nas urnas” propõe orientar o partido para construir o governo dos trabalhadores, embasado nos métodos de sua luta revolucionária, que exproprie os capitalistas e faça tombar o seu Estado . Ao contrário do discurso da maioria da direção do NPA de que a época da Revolução de Outubro está encerrada, a CTR encontra em suas lições a construção do futuro comunista.

Para enfrentar a crise capitalista desde uma resposta de classe, só uma análise marxista da realidade, que apreenda as reais contradições engendradas pela sociedade capitalista pode apontar corretamente o programa a ser levantado. A indefinição do NPA entre marxismo e keynesianismo; reforma ou revolução, o leva a defender um programa claro de conciliação de classe e de melhoras das condições de vida em marcos capitalistas. Negociam as penúrias dos trabalhadores, se limitando a lutar por melhores salários e pela expansão das cooperativas, numa forma de “economia social”. Contrariamente, a Plataforma 4 defende que o NPA seja a ferramenta dos trabalhadores que os ajude em sua tarefa histórica, levantando um programa que transite das necessidades mais básicas dos trabalhadores à construção de seu próprio governo em chave revolucionária. Lutar pela redução da jornada de trabalho, sem redução dos salários, que avance para a expropriação dos capitalistas e coloque os meios de produção sob o controle dos trabalhadores, só a partir destas perspectivas a classe operária pode se tornar a força da emancipação humana frente à crise capitalista.

Frente à primavera árabe: por um internacionalismo revolucionário

Criminosamente o NPA vem tendo a política de pressão a Sarkozy diante das jornadas no Magreb. Esquece-se que a França é a principal força imperialista na região e tem nas ditaduras seus aliados para a estabilidade política e social no mundo árabe; além de ser a força motriz da espoliação imperialista destas semi-colônias. Contrariamente, a Plataforma 4 enxerga em seus irmãos de classe, os operariados tunisiano e egípcio, e não em seu “irmão” de nação e inimigo de classe/morte Sarkozy, a resolução das etapas abertas no mundo árabe.
“Não haverá uma verdadeira solução sem a auto-organização dos trabalhadores, seu armamento contra as milícias do regime, o combate para terminar com a tutela do imperialismo francês, a expropriação dos grandes grupos capitalistas, a reconstrução da economia a serviço das necessidades do povo” . Assim, desde a CTR, colocam-se contra toda a política imperialista do governo francês e da UE e a mais audaz solidariedade internacionalista à classe operária árabe é posta no marco da luta pelo fim da UE, este conjurado reacionário de imperialismos, e na luta para por de pé, desde a classe operária, os Estados Unidos Socialistas da Europa, a partir de uma revolução operária que se estenda de país em país. Cenário somente possível frente à reconstrução do partido da revolução internacional, a IV Internacional, fundada por Léon Trotsky que diante da débâcle capitalista apresente o programa do marxismo revolucionário e organize o proletariado internacional para sua emancipação.

As lutas no Magreb e a situação ainda mais profunda no Egito, principal chave para o controle político da região, colocam sem dúvida a situação mundial em outro patamar. A crise mundial que até então vinha se desenvolvendo de maneira desigual em relação à luta de classes e às relações entre as potências, agora traz consigo a contradição de ter que enfrentar um acirramento da luta de classes numa das regiões mais instáveis politicamente, e economicamente importante para a economia mundial (com as ricas reservas de petróleo do Oriente Médio). O efeito de contágio coloca não só em risco a região, mas também a Europa e pode reacender o fogo na França. As lições da revolução de Outubro que a maioria do NPA quer apagar e a Plataforma 4 resgata são o nosso marco para nos orientar nesta situação!

1- Ver artigos sobre o mundo árabe neste jornal.

2- Entrevista a Manu Georget e Vincent Duse em http://www.ft-ci.org/article.php3?id_article=3204?lang=es

3- Querem a carne de Shylock, mas sem uma gota de sangue (Shakespeare, O Mercador de Veneza). Não a terão nunca.

4- Veja as declarações da CTR no site da FT-CI www.ft-ci.org

5- Declaração da CTR, “Por un internacionalismo revolucionário” em http://www.ft-ci.org/article.php3?id_article=3341?lang=es

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