Domingo 28 de Abril de 2024

Internacional

ESTADO DE EXCEÇÃO NO EGITO

A repressão brutal deixa centenas de mortos no Cairo

17 Aug 2013   |   comentários

No último sábado o Cairo vivia uma nova jornada de mobilizações exigindo a liberdade do presidente deposto, Mursi, e contra o novo governo, rejeitando o ultimato do Ministro da Defesa e General do Exército, Al Sisi, para que os partidários da Irmandade Muçulmana se somem ao governo de transição e abandonem as ruas.

No último sábado o Cairo vivia uma nova jornada de mobilizações exigindo a liberdade do presidente deposto, Mursi, e contra o novo governo, rejeitando o ultimato do Ministro da Defesa e General do Exército, Al Sisi, para que os partidários da Irmandade Muçulmana se somem ao governo de transição e abandonem as ruas. A resposta do exército e das forças de segurança a este desafio foi uma brutal repressão que culminou com um massacre quando os uniformizados dispararam contra os manifestantes. A Avenida Nasser se transformou em um campo de batalha por horas, com barricadas e fogueiras, com dezenas de mortos e centenas de feridos no lado dos manifestantes.

Após a repressão houve novas provocações por parte de Al Sisi como porta-voz do governo, chamando os manifestantes de terroristas e denunciando um suposto ataque contra as forças militares. Nesta quarta-feira o governo autorizou o exército, mediante um decreto, a reprimir os acampamentos de manifestantes que apóiam a Mursi por considerá-los uma ameaça à “segurança nacional”, isto se soma aos decretos de exceção que autorizam as forças armadas a deter civis. Estes anúncios preparam novos dias convulsivos.

O governo fantoche de um exército a serviço dos interesses imperialistas

O novo governo civil de transição surge como expressão da usurpação por parte do exército das massas que se mobilizaram contra o exército de Mursi. O golpe de 3 de julho que punha fim ao governo da Irmandade Muçulmana teve como fim evitar que a mobilização de milhões, cansados das políticas de cortes neo-liberais e pró-imperialistas a serviço dos empresários, derrubassem Mursi.

O governo de transição presidido por Mansour (presidente da Corte Suprema) conta com o apoio das principais figuras opositoras como El Baradei, e é uma coalizão de militares, políticos burgueses, organizações oportunistas surgidas das mobilizações, entre elas o movimento Tamarod (“Rebelde”) e dirigentes de novos sindicatos (como o novo Ministro do Trabalho Abu Eita, presidente da Federação Egípcia de Sindicatos Independentes). É um governo a serviço do exército que busca manter intacto o aparato estatal da ditadura de Mubarak, conservar o papel de árbitro da economia e o controle de cerca de 40% dela; manter o país subordinado aos Estados Unidos e os compromissos com o Estado de Israel.

A repressão é uma tentativa reacionária de tirar as massas das ruas

O golpe contra Mursi foi visto por milhões que se mobilizavam como a realização de suas demandas e um passo para resolver suas reivindicações, e é por isto que amplos setores depositam no exército a expectativa de que melhorará a situação que foi se degradando nos últimos anos em conseqüência da crise econômica e das políticas governamentais. Os militares buscam se apoiar nestas expectativas para golpear os setores opositores por meio da repressão.

A repressão contra os manifestantes no sábado não é apenas um ataque aos militantes da IM (Irmandade Muçulmana), mas começa a demonstrar a tentativa do exército de resolver um importante problema: o de tirar as massas mobilizadas das ruas por meio da força. A coalizão formada pelo novo governo civil vem sendo cúmplice desta medida através de decretos como os que autorizam ao exército prender civis e coibir as liberdades democráticas em nome da “segurança nacional”.

O avanço reacionário do exército contra os manifestantes da Irmandade Muçulmana, as acusações contra Mursi de “traição” à segurança nacional por ter escapado das prisões do ditador Mubarak com a ajuda do Hamas, são a mostra da tentativa por parte da forças armadas de criminalizar seus opositores. Hoje é a IM, amanhã outras organizações, os sindicatos e os trabalhadores mobilizados.

A ofensiva do exército abre as portas de uma nova crise

Os chamados de Al Sisi aos setores que apóiam o novo governo a se mobilizarem e a repressão contra as mobilizações opositoras são uma tentativa de consolidar o governo atual, mas começam a deixar a estabilidade no país pendurada por um fio. A IM que até menos de um mês era a principal sócia das forças armadas agora se lanças às ruas ao se ver afastada do governo. A passagem desta força para a oposição é uma mudança importante, ainda que se encontre em crise após ter aplicado os planos neo-liberais durante o governo de Mursi, é o principal movimento político do islamismo egípcio.

A tentativa do exército de aproveitar o momentâneo apoio popular para avançar na repressão aos opositores pode abrir uma nova crise se ultrapassa a correlação de forças. Não é coincidência que setores do novo governo como o vice-presidente El Baradei ou o movimento salafista Nur (islamitas ultra ortodoxos) tenham repudiado a “violência desmedida” e conclamem o exército a garantir o diálogo. No mesmo tom se manifestaram os principais governos europeus e o próprio presidente Obama clamou a que se apresse a transição e a convocação de novas eleições. O mandatário norte-americano também realizou o pedido a dois velhos “falcões” republicanos (entre eles John McCain) para que viajem para “colaborar” com as forças armadas e o novo governo para avançar no “diálogo e na estabilidade”, uma mostra a mais da preocupação imperialista pela situação e a possibilidade de que os enfrentamentos aprofundem a crise em um dos principais aliados da região.

Os limites do ataque do novo governo

Esta nova tentativa de desvio por parte do governo civil e dos militares conta com muito menos legitimidade do que a que se deu após a queda de Mubarak.

A crise econômica continua golpeando o Egito e, no marco da crise capitalista, a decadência da economia dependente das importações piorou a condição de vida das amplas massas; o desemprego passou de 9% em 2010 a 13%. Pelo menos 25% da população vive na pobreza. A retirada de subsídios aos combustíveis e bens básicos, como pedia o FMI, foram motores da raiva contra Mursi e o projeto do atual governo é manter estes planos.

As expectativas geradas nas massas de que as forças armadas podem ser uma saída para a crise começam a se chocar com a situação atual na qual o exército começa a reprimir duramente. Setores como o Movimento 6 de Abril (uma das principais organizações durante as mobilizações contra Mubarak) ou uma minoria importante de dirigentes sindicais começam a se pronunciar contra os novos decretos repressivos. Isto é fruto da experiência extraordinária de dois anos que foi feita pelos trabalhadores, os jovens e as massas egípcias em meio a lutas e no marco dos processos da primavera árabe.

Esta situação demonstra que, até o momento, a classe dominante, o exército e o imperialismo não puderam encerrar o processo revolucionário aberto com a queda de Mubarak. É necessário levantar uma política independente, chamando a não confiar nas distintas variantes burguesas que hoje são parte do governo que dá aval à repressão, partindo do rechaço às perseguições e assassinatos à Irmandade Muçulmana e outras organizações. Neste caminho, para que a classe operária e a juventude explorada e oprimida imponham suas reivindicações, tem que desenvolver seus próprios organismos de auto-determinação e levantar um programa transitório que una as reivindicações democráticas, sociais e anti-imperialistas e abra o caminho à luta pelo poder operário e popular.

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