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Bolívia

A armadilha do Cabildo em La Paz

08 Aug 2007   |   comentários

Não ao “grande acordo nacional” com a reação. Plano de luta para derrotar a direita e impór as demandas dos trabalhadores e do povo.

O cabildo (reunião aberta dos movimentos populares bolivianos) de 20 de julho em La Paz , apesar de sua massividade, não foi uma ação contra a oligarquia. Foi uma jornada “pela unidade nacional” e “em apoio ao processo constituinte” . Convocado pelo prefeito de La Paz , Juan Del Granado (ex-sócio de Goni, “mimado” pelo Banco Mundial e aliado de Evo Morales), Favor Nava, prefeito de El Alto (que defende o manejo privado de serviços como reciclagem), o prefeito neoliberal de La Paz, José Luis Paredes (do PODEMOS), as câmaras de empresários do departamento e outras “forças vivas” , e figuras da direita como Doria Medina (líder da Unidade Nacional e grande empresário na Bolívia, o “rei do cimento” ).

O Cabildo terminou com a ameaça de paralisação caso não se retire antes de 6/8 o tema da sede dos poderes dos debates da Constituinte, para “dividir o campo” frente às reivindicações de Sucre, que quer recuperar a “capitalidade plena” perdida na guerra civil de 1899. No dia seguinte, o presidente Evo Morales voltou a chamar a conciliar com a direita pedindo que “a Constituinte não toque no tema da sede, nem na criação de novos departamentos” . O cabildo do dia 20 se insere nos regateios em torno do “grande acordo nacional” ou “pacto social e político” a que chamam o governo tanto como destacados porta-vozes da oposição burguesa, assim como uma forma de recompor o regime e estabilizar o país. Com este objetivo acordaram prolongar até o fim do ano as leis trabalhistas da Constituinte onde os “consensos” tem avançado muito, apesar das importantes diferenças sobre a reorganização do Estado e o do novo regime político. Os socialistas revolucionários da LOR-CI denunciamos o caráter do cabildo e seu engano contra as massas, e chamamos a não partcipar.

Disputas em busca de um “grande acordo nacional” na Assembléia Constituinte

O cabildo do dia 20 é uma forma do go verno de recompor o regime e estabilizar o país. A direita conservadora, encorajada pelas enormes concessões do governo e porque este se ocupa de manter as massas fora de cena, não quer ceder em nada e sobe suas exigências na Assembléia de Sucre. O MAS, defende suas tímidas colocações reformistas a serviço da colaboração de classes, e aposta todas as fichas num compromisso com os empresários, as transnacionais e latifundiários. Se negocia “golpeando a mesa com um punho” , mas para terminar no fim das contas em um pacto.

A disputa entre Santa Cruz e La Paz

O MAS busca manter as massas fora de cena. Assim, passam para primeiro plano as divisões na classe dominante e as disputas pela divisão do poder estatal e do controle da renda do gás. A ascendente burguesia de Santa Cruz reivindica autonomia de sua província para garantir seus interesses, além de aumentar sua participação no poder e nos recursos do Estado. A decadente burguesia de La Paz quer reter seu tradicional controle do Estado e mantém uma “aliança estratégica” com o governo em defesa dos interesses do ocidente andino. Santa Cruz e seus aliados fracassaram em girar ao campo autonomista a Cochabamba devido ao levantamento de janeiro. Mas satisfazendo às elites de Sucre com a possibilidade de recuperar a sede de todos os poderes, esperam melhorar sua relação de forças, impor uma maior descentralização dos recursos e do aparato estatal. O Cabildo de La Paz é um episódio nesta disputa, na qual cada um busca impor melhores maneiras para negociar, abrindo “brechas” nas alturas do regime.

O movimento de massas

Entretanto, o estado de ânimo combativo de amplos setores de trabalhadores, camponeses, indígenas e do povo pobre em geral se expressa numa tensa polarização. A demanda camponesa e indígena de terra e território é explosiva e ainda que o MAS a contenha com a promessa de que “a Constituinte o resolverá” , emerge em lutas como as dos guaranis em El Chaco e bloqueios em San Julián.

No dia 21 de julho um policial morreu em Sorata (La Paz) em um choque com camponeses. Em Tarija, um forte bloqueio camponês já completa uma semana. Há poucos dias os 5 mil mineiros de Huanuni saíram em greve e demandam a “autogestão da empresa” estatal sob o “controle operário social” , o monopólio estatal da comercialização de minerais e outros, chocando com uma brutal repressão policial enviada pelo governo. Dia 23, milhares de estudantes marcharam em La Paz pelas conquistas do magistério.

Plano de luta e mobilização

Isso mostra que seria possível desenvolver a mobilização generalizada de todo o povo trabalhador para impor as reivindicações operárias e populares. Mas para isso, é necessário combater a subordinação da COB, os sindicatos e organizações de massas ao governo de Evo Morales. Há que impor um plano de luta por salário e emprego para todos, verdadeira nacionalização, sem indenização sob controle operário do gás, as empresas públicas “capitalizadas” , o minério e os recursos naturais; terra e território e autodeterminação dos povos originários, a ruptura da submissão ao imperialismo.

A questão de fundo não é em qual cidade residirão os poderes do Estado semicolonial, mas nas mãos de quem estarão a terra, os recursos naturais, as fábricas e os bancos. Só um governo operário e camponês baseado nas organizações e no armamento das massas pode dar uma saída de fundo a estes problemas cruciais. É necessário que os sindicatos combativos e a vanguarda operária e popular tomem a iniciativa, colocando em marcha um movimento pelas demandas operárias que alente a coordenação das lutas, defenda a independência política dos sindicatos frente ao governo e os partidos empresariais e discuta uma alternativa política dos trabalhadores.

Traduzido por Clarissa Lemos

A Liga Obrera Revolucionaria por la Cuarta Internacional (LOR-CI), é a organização irmã da LER-QI na Bolívia, e também faz parte da Fração Trotskista - Quarta Internacional

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