Segunda 29 de Abril de 2024

Internacional

ELEIÇÕES NA ARGENTINA

A Frente de Esquerda e dos Trabalhadores derrota a proibição da burguesia argentina: um grande exemplo de classismo para nosso país!

21 Aug 2011   |   comentários

Nós da Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional recebemos com grande entusiasmo a notícia que a burguesia argentina não conseguiu impor sua cláusula barreira contra a esquerda e saudamos a FIT pela exemplar campanha militante. A grande votação obtida pela Frente de Izquierda y de los Trabajadores (FIT - integrada por nossa organização irmã, o PTS, o PO e a IS) com seus 512 mil votos, ou 2,48% foi uma clara resposta dos trabalhadores e da juventude argentina que não permitirão proibir a esquerda como queria o governo. A campanha por uma demanda democrática contra a lei proscritiva votada por Cristina Kirchner e pela oposição foi impulsionada apenas pela FIT dentre as frente eleitorais apresentadas. Os trabalhadores em luta, o sindicalismo de base, a juventude, todos aqueles que lutam contra os genocidas e a polícia assassina de ontem e hoje, os lutadores por direitos democráticos como os setores LGBTT terão suas vozes representadas em outubro, nas eleições presidenciais.

As eleições argentinas ocorridas na primária nacional mostraram tendências conservadoras no eleitorado, primando um voto em Cristina Kirchner nacionalmente. Mesmo neste marco a FIT soube fazer uma intensa e criativa campanha militante, começando pelas grandes concentrações operárias, um programa classista e de nenhuma confiança na burguesia e em seu regime. Foi com esta clareza de programa e princípio, e audácia para levar adiante esta campanha não como fim em si mesmo mas como meio para nosso fins, formar um partido revolucionário para derrotar a burguesia, que a FIT já conquistou uma bancada parlamentar em Neuquén onde os ceramistas Alejandro Lopez (independente, da corrente sindical que dirige o Sindicato e a fábrica sob controle dos trabalhadores Zanon) e Raúl Godoy (dirigente do PTS e também de Zanon) ocuparam o posto parlamentar para fazer avançar as lutas dos trabalhadores fora do parlamento, sendo o cargo rotativo entre as três principais forças da frente e também o local onde o PTS implementou como perfil da frente a luta para que o salário de um deputado seja igual ao de um professor, marcando em votos o caráter de classe da Frente.

A FIT também conseguiu manter o posto parlamentar em Córdoba. O rigor em manter um programa classista apesar da situação conservadora é um exemplo a ser seguido em nosso país que já viu surgir diversas frentes mas não uma que denunciasse o regime e levantasse um programa que se levantado nas fábricas daria passos na organização dos trabalhadores e na luta contra a patronal. A vitória nas primárias do companheiro metalúrgico demitido político, “Bocha” sobre o candidato número 1 do peronismo em Córdoba o presidente e burocrata do sindicato dos metalúrgico – SMATA –, Dragún, nos enche de mais orgulho por fortalecer a luta contra a burocracia sindical. Para nós no Brasil que lutamos pela unidade das fileiras dos trabalhadores, lutando contra a divisão de nossa classe que a burguesia conseguiu impor com a divisão em efetivos e terceirizados, a FIT e seu claro programa pela incorporação dos terceirizados com iguais salários e direitos constitui um passo à frente em nossa luta. Essa luta passa pela luta contra a burocracia sindical que é não só avalizadora desta divisão como também lucra com a mesma ao ser dona de empresas terceirizadas. Isto ocorre no Brasil e também na Argentina, onde a burocracia assassinou o jovem militante trotskista Mariano Ferreyra por lutar pela incorporação dos terceirizados.

A luta contra a medida proscritiva contra a esquerda foi acompanhada por uma denúncia sistemática do caráter de classe do regime, a extinção dos processos judiciais, contra as perseguições policiais e o gatilho fácil contra a juventude trabalhadora e pobre, a punição dos torturadores e genocidas da ditadura militar, a solidariedade às lutas em curso, a luta pela incorporação dos trabalhadores terceirizados como efetivos com igual trabalho, igual salário; a luta por um salário mínimo que atenda às necessidades de uma família, com reajuste automático de acordo com o aumento do custo de vida; a redução da jornada de trabalho para acabar com as horas extra e desemprego; a luta pela não pagamento da dívida pública, destinando este dinheiro a um plano de moradias e obras públicas controlado pelos trabalhadores, à saúde e à educação; a luta para que toda a empresa que feche ou demita em massa seja expropriada e colocada a produzir sob controle dos trabalhadores assim como que a crise capitalista seja paga pelo imperialismo, as multinacionais, banqueiros e capitalistas. Esse programa, articulado com a demanda democrática contra a proscrição, não foi reservado a uma propaganda para pequenos círculos e sim foi difundido como agitação de massas, como se pode ver nos “spots” televisivos gratuitos .

A atuação da FIT na Argentina deve ser um exemplo à esquerda brasileira

A demonstração de força da FIT bem como sua continuada luta contra as leis que prescrevem a esquerda é um exemplo a ser seguido em nosso país onde nenhuma das forças da esquerda anti-governista (PCB, PSOL, PCO e PSTU) questiona a reacionária lei eleitoral brasileira. A lei vigente no Brasil impede que outras organizações da esquerda, sindicatos, movimentos sociais, grupos locais, a formarem suas legendas quando assim desejarem, tendo que coletar 500 mil assinaturas em ao menos 9 estados da federação. O próprio PSOL com todo seu peso midiático e parlamentar penou meses para cumprir esta obrigação burguesa que só ataca aos trabalhadores, pois os burgueses conseguem com seu dinheiro e uso da máquina do Estado realizar o mesmo facilmente (por exemplo, comparar com a facilidade com que Kassab montou seu PSD).

O programa apresentado pela FIT e a grande expressão de votos numa alternativa classista e socialista mostra como as frentes eleitorais da esquerda não tem que abrir mão de um programa de independência de classe para ter uma expressão em setores de massas, como conquistou a FIT. A consolidação da Frente de Esquerda no Brasil em 2006 com a figura de Heloísa Helena foi amplamente criticada por nós por ter sido hegemonizada por sua principal figura que defendeu na campanha um programa nacional desenvolvimentista burguês sempre se costas aos trabalhadores. Heloísa Helena também esteve junto à Igreja Católica na frente da campanha “pelo direito à vida” e contra o direito ao aborto tendo também defendido as leis da propriedade privada para justificar a repressão aos sem terra, atacando as ocupações do MST e ficou ao lado da patronal da Volkswagem frente à demissão de milhares de operários, em meio à campanha eleitoral!

Aqueles seis milhões de votos em Heloisa Helena em quatro anos rapidamente se esvaíram e nas últimas eleições a esquerda não apenas não saiu unificada como Plínio de Arruda Sampaio do PSOL representou apenas 0,87% do total de votos, Ivan Pinheiro do PCO 0,04%; e entre as organizações que se reivindicam trotskistas Zé Maria pelo PSTU com 0,08% e Rui Costa Pimenta pelo PCO com 0,04%. Esses números se chocam com os 2,48% conquistados pela FIT! Esta, com um programa de independência de classe e tendente ao governo dos trabalhadores e do socialismo derrotou a manobra proscritiva do regime contra a esquerda assim como mostrou que não é necessário rebaixar o programa para discutir e conquistar voto e apoio militante da juventude e dos trabalhadores.

Há que se discutir a relação entre tática e estratégia também quando se atua no âmbito parlamentar. Com a campanha militante a FIT se constituiu como uma alternativa a trabalhadores assim como para setores da juventude e da intelectualidade. A militância pelos votos na FIT organizada pelo PTS em Neuquén e em fábricas como Kraft e Pepsico, expressou uma militância de trabalhadores nas fábricas e em bairros operários. Nossos companheiros do PTS desde o início das eleições discutiram nas fábricas e com a juventude a atuação dos revolucionários nas eleições, como esta deve servir como tribuna da luta contra a burguesia e seu governo, em defesa das lutas operárias e estudantis assim como pela divulgação de um programa de independência de classe e buscando todas as vias para a organização política da vanguarda operária na Argentina. Neste sentido que a bancada de deputados de Neuquén com os operários de Zanon é vista como um posto de luta a serviço da luta irreconciliável com o governo o estado e seus agentes, pelos direitos dos trabalhadores e do povo pobre e de todos que lutam contra a opressão e a exploração; assim como a campanha para a conquista de um deputado nacional operário em Córdoba, como Bocha, aponta desde já para a luta contra a burocracia e seus aliados da patronal.

Se hoje a esquerda aplicou uma derrota tática ao regime ao superar a proscrição, estrategicamente há que se ver quais as pressões colocadas à esquerda revolucionária na Argentina. A pressão do governo e dos seus aliados da patronal será agora para tentar transformar a esquerda trotskista em “ala esquerda do regime” almejando minar todas as tendências revolucionárias dos setores que se organizaram ao redor da FIT. A militância para que a votação da FIT se mantenha ou aumente nas votações presidenciais é vista como uma batalha tática de importância pelo PTS buscando a emergência da esquerda trotskista como sujeito político nacional, fundamentalmente ligado à construção de uma força militante nos locais de trabalho e de estudo, junto com a corrente político sindical ligada ao “Nuestra Lucha” e à juventude revolucionária impulsionados pelo PTS e sua juventude.

Por último a FIT mostra um exemplo em relação a liberdade de crítica entre as organizações que conformam uma frente de esquerda em comum assim como a liberdade de cada partido defender seu próprio programa para além dos pontos em comum, prática não só inexistente como combatida pela esquerda no Brasil, inclusive as que se reivindicam trotskistas. Este é um exemplo oposto ao que o PSTU fez quando nos negou o direito democrático de apresentar nossos candidatos na legenda de seu partido nas últimas eleições, tendo sido neste caso correia de transmissão do caráter antidemocrático da legislação eleitoral no Brasil negando a tradição revolucionária do movimento operário internacional, que pressupõe a liberdade de crítica entre as distintas organizações do movimento operário nas frentes que conformamos.

Viva a FIT!
Viva a organização independente dos trabalhadores!

1-Esta medida excluirá de participar tanto nos pleitos executivos quanto legislativos todos que conseguissem menos de 1,5% e era uma medida claramente votada contra a esquerda.

1-http://www.youtube.com/watch?v=jxIX0C1Hu-Q&feature=player_embedded
http://www.youtube.com/watch?v=xSyYaT3iWMM&feature=player_embedded#!
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=OW7x3skV3Ag#!
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ZT4AXecCYyc

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