GREVE DE PROFESSORES
Defender o direito de greve dos professores da rede estadual de São Paulo
18 Mar 2015
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Por: Maíra Viscaya
Desde o dia 13 de março os professores da rede estadual de ensino de São Paulo decretaram sua greve. Os motivos são vários. O ano de 2015 iniciou-se com o fechamento de cerca de 3 mil salas de aulas em todo o estado. Isso piorou o problema já existente da superlotação de salas de aulas. Também foram demitidos cerca de 21 mil professores de contrato precário.
E o salário médio do professor é o menor dentre todas as categorias do funcionalismo público. Além disso, algo que a maioria da população desconhece, os professores são obrigados a comprar seus materiais de trabalho, já que o governo do estado cortou a verba de manutenção das escolas. São os próprios professores os responsáveis por pagar por seus exames de admissão. Além disso os atrasos salariais são frequentes.
Essa é a política do governo tucano de Geraldo Alckmin. A mesma que foi rechaçada e combatida pelos professores do Paraná, que derrotaram o também governador do PSDB, Beto Richa. Entretanto, os ataques à Educação não são privilégios do PSDB. Há uma unidade entre os tucanos e o governo de Dilma nessa questão. Prova disso são os cortes de 7 bilhões na Educação, atrasos no FIES, e repasse das verbas às universidades federais.
É nesse contexto que os professores da rede estadual de São Paulo decretaram sua greve. As demandas são absolutamente justas, e devem ser apoiadas por todo o povo. Os professores e os trabalhadores da Educação são os únicos interessados em garantir uma Educação pública, gratuita e de qualidade para toda a população. São os únicos que dizem a verdade sobre o que ocorre nas escolas, a realidade da Educação no país, e as formas como devem ser solucionados os problemas desse setor tão importante, responsável por formar os filhos dos trabalhadores.
O governo do estado tucano mente
O governador do estado de São Paulo mentiu à população sobre a água. Dizia que não haveria crise hídrica, ou racionamento, e há. Agora mente sobre a Educação, e ataca o direito de greve dos professores da rede estadual. Em entrevista dada ao programa Jô Soares, Geraldo Alckmin afirmou que em São Paulo não há greve, porque o professor está mais satisfeito.
Qualquer pessoa que conheça um professor sabe que isso não é verdade. Que a insatisfação, humilhação, e péssimas condições de trabalho são generalizadas. Tanto é que a greve foi instaurada. Alckmin diz que o piso salarial dos professores aumentou 26% em relação a média nacional, mas não esclarece que sofreu mais desvalorização que aumentou, pois antes esse índice era de 59%. E, ademais, já baixou decreto no qual reafirma que não haverá nenhum reajuste.
Para distorcer essa realidade, uma vez mais, Alckmin agora afirma que a greve não existe, e não contente com isso chama a mobilização dos professores de “novela”. Ferindo claramente o direito constitucional de greve dos professores chamou todos os alunos a comparecerem às escolas. Com isso, alenta a repressão das direções nas escolas contra os professores que decidem fazer a greve.
O governo do estado afirma que a Apeoesp não tem legitimidade. Se por um lado é um fato que há muita insatisfação dos professores com a direção majoritária petista do sindicato, por outro é ainda mais verdade que a raiva gerada pela situação inadmissível dos professores contra o governo do estado não é menor. Agora, portanto, a tarefa é transformar essa raiva em organização e mobilização, contra a política dos governos de ataque à Educação.
Que Alckmin e todos os políticos ganhem um salário igual ao do professor
Enquanto os professores ganham salários de fome, e se submetem a jornadas de trabalho exaustivas que podem chegar a 65 horas semanais, os políticos burgueses e funcionários de alto escalão votam aumentos para si mesmos. Alckmin ganha 21.631 reais. Seus secretários e funcionários também foram agraciados com aumentos esse ano. Enquanto isso há cortes generalizados na rede estadual de ensino, e o salário dos professores tem uma média que parte de 1.200 reais a muito raramente, quando se exerce uma jornada absolutamente exaustiva, pouco mais de 3000 reais. O salário mínimo estimado pelo DIEESE é de 3.118,62.
Isso sem mencionar os desvios e favorecimentos acumulados com a corrupção, que como vem à tona no cenário nacional, não poupam o governo do PSDB e do PT, bem como grandes os partidos burgueses que dominam a cena política do país. De maneira muito distorcida isso foi uma das motivações mais importantes das manifestações de 15 de março, que a direita instrumentalizou, e que se dirigiu contra o PT, mas que expressam uma crise de representatividade muito importante pelo qual o país passa.
Portanto, para responder a essa situação, uma demanda justa é a de que os políticos e todos os funcionários de alto escalão ganhem o mesmo que um professor da rede estadual. E que o salário do professor tenha o piso mínimo do estipulado pelo DIEESE. A economia aos cofres públicos seria imensa, e a qualidade da Educação sem dúvida melhoraria, com os professores não sendo obrigados a trabalhar em condições sub-humanas e mal pagas.
A Apeoesp deve construir seriamente essa greve
A Apeoesp marcou a assembleia para o mesmo dia do ato da CUT. Todos sabiam que isso era uma tentativa de manobrar os professores. Por conta disso, muitos não compareceram, pois apesar de concordarem de que é necessário lutar imediatamente, não queriam ser usados para interesses alheios. Nada mais justo. Tampouco preparou os professores e a luta em todo o período anterior. Agora cabe à Apeoesp se responsabilizar e construir essa greve, colocando toda a sua enorme estrutura para mobilizar os professores.
É preciso que se organizem passagens nas escolas, diálogo com a comunidade. É chave que se combata a ameaça de corte de ponto, que hoje é tão naturalizada. Também é muito importante que se construam comandos de greves, organizados pela base, com representantes das escolas eleitos e revogáveis. E que os representantes do comando de greve tenham direito à voz nas assembleias dos professores, que não podem mais ser controlados burocraticamente por Bebel, e apenas aqueles que ela permite que falem. Na próxima sexta-feira, 20 de março, a assembleia de professores deve abrir espaço para que os professores se expressem.
Somente assim, construindo uma prática política absolutamente distinta da realizada pela burocracia petista de Bebel, é que se poderá avançar para que a Apeoesp seja novamente um grande instrumento organizador da luta dos professores. A partir do Professores Pela Base estamos nos colocando com todas as forças nessa perspectiva.
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