Domingo 12 de Maio de 2024

Unicamp é um inferno para quem não é filho do pai.

03 Sep 2010   |   comentários

A terceirização começou, na Unicamp, com uma fundação, a FUNCAMP, que nasceu para aplicar dinheiro na ciranda financeira. Era dentro da lei, parece. Mas profundamente imoral, com certeza. Era a terceirização via jeitinho brasileiro.

A terceirização, na Unicamp, burlou e desrespeitou a lei, fazendo contratos que foram considerados nulos pelo ministério do trabalho. Os diretores da FUNCAMP, o reitor da época, todos estão muito bem e não serão incomodados pela lei, o “crime” já prescreveu, não podem ser responsabilizados legalmente. Há crime, pelo menos crime contra a humanidade, mas não há criminoso.

A terceirização, na Unicamp, roubou 16 anos de vida de mais de 200 trabalhadores que foram mandados embora sem direito a nada, perdendo até a contagem do tempo de serviço. O que poderíamos caracterizar como um regime escravo, pois estes anos de serviço foram roubados. As vítimas aqui, parece óbvio, que são únicos a pagar com a própria vida pelos contratos declarados nulos. Os contratos são nulos, mas os trabalhadores foram fraudados. De Shiloc, do Mercador de Veneza de Shakespeare, só tiraram um pedaço do lombo para pagar as dívidas, mas dos trabalhadores terceirizados da FUNCAMP tiraram 16 anos da vida. Mas quem deve é a FUNCAMP e reitores “responsáveis”.

A terceirização, na Unicamp, serviu para burlar os concursos públicos. A nulidade dos contratos diz isso. Mas só os trabalhadores, as vítimas continuarão vitimados.

A terceirização, na Unicamp, gasta o dinheiro público em obras que não funcionam. No AEL, um ar-condicionado de quase 600 mil reais (que fábula!) não funciona, e até quase destruiu parte do arquivo, inundando-o. E tem amplas janelas que têm que ficar fechadas, obrigatoriamente, pois se abrirem, caem. São paredes de vidro com nome de janela. A CIPA já constatou isso.

As empresas terceirizadas também constroem jardins da babilônia. Na Matemática tem uma pracinha com banquinhos que custou 44 mil reais.
A terceirização, na Unicamp, constrói prédios que afundam. Aí gastam 144 mil reais só em pilastras de sustentação, para tentar corrigir o “erro”. Foi assim no laboratório da Física. O que, além de caro, fica muito ridículo.

A Unicamp já teve uma ampla e eficiente marcenaria que construía todos os móveis da Unicamp. Qualquer um que viveu aquele período sabe que os móveis eram fortes e bons. Agora compra todos por licitações (palavra que deve vir de lícito). E vivem renovando móveis. Ou porque o dinheiro é do público ou porque os móveis comprados não prestam mesmo. É outra faceta da terceirização: o desperdício, o dispêndio.
A Unicamp está há semanas sem vigilância. Será que os bandidos não sabem disso? Será que os poucos e antigos vigilantes contratados estão dando conta? O que será que está acontecendo? A reitoria não dirá como escondeu por muito tempo, nada sobre os assaltos que aconteciam no restaurante. Se os antigos e poucos vigilantes concursados estão dando conta, porque contratar uma empresa terceirizada? E será que estas empresas vigiam mesmo o patrimônio, já que são incapazes de até de cumprir o mínimo que é pagar os direitos dos trabalhadores. E o sindicato da categoria denuncia que estas empresas são todas, aqui em Campinas, ligadas ao deputado do Castelo, uma tal de Edmar, de Minas Gerais. Acho que estamos correndo riscos. Seria papel da reitoria alertar, cotidianamente, para os riscos que corremos. Ou dizer que não corremos e assumir as responsabilidades. E se um vigilante deste morrer em serviço quem é responsável é a reitoria.

A Unicamp já teve dois restaurantes universitários. Precisava de uns três. Hoje tem um. E quase todo trabalho é terceirizado. Mas há outra terceirização invisível. A maioria das pessoas é expulsa do atual RU, por conta das filas. E os funcionários que tinham refeições subvencionadas, hoje subvencionam o próprio preço, mais baixo, para os estudantes. Há a terceirização via cantinas. Cantinas que estão sendo fechadas. Aonde irão os milhares de pessoas que usam a Unicamp todos os dias? Será que não vem aí um grande restaurante? Na USP tem um grande restaurante, propriedade de um professor.

A terceirização, na Unicamp, está em mãos de empresas que falem e fogem; e deixam as obras sem terminar. Assim na biblioteca do IFCH, e outras como o prédio da Geociência, com gastos de 1 milhão e 700 mil e a obra está abandonada. Mas não podemos esquecer que uma empresa terceirizada inundou a biblioteca pondo em risco grande parte de seu acervo. Um detalhe. A que fugiu, fugiu sem pagar os trabalhadores.

Na Unicamp, os trabalhadores terceirizados, a maioria de trabalhadoras, tem péssimas condições de trabalho. São sobrecarregadas. São exploradas à exaustão. As firmas não cumprem os contratos, colocam sempre menos gente do que é exigido em contrato ou justificam que as trabalhadoras pedem demissão. As trabalhadoras pedem demissão a todo o momento. Outras estão com lesões grave de coluna, trabalham com dor extremas, esperando ser mandadas embora, para ter acesso a benefícios, como os 40%, salário desemprego. A firma quer mandar embora sem direitos. É uma guerra diária, surda, entre patrões e empregados. Um luta de classe onde os patrões estão massacrando os trabalhadores.

Um balanço rápido da terceirização na Unicamp é esse: ela começou muito antes que este nome terceirização existisse. E já nasceu, como prova os contratos anulados, para dar um “jeitinho” na lei dos concursos públicos e para lesar os trabalhadores. Mas o que fica patente é que a terceirização é uma espécie de escravização. E é uma forma irresponsável de usar o dinheiro público, lesando o patrimônio, pondo em risco as próprias pessoas que aqui estudam e trabalham.

Mário Bigode é funcionário do Arquivo Edgard Leuenroth/Unicamp

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