Sexta 3 de Maio de 2024

Economia

MEIRELLES OU BARBOSA

Um ministério da economia quão mais neoliberal?

18 Nov 2014   |   comentários

Nesta última semana, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, foi indicado por Lula como seu favorito para ser o novo ministro da Fazenda de Dilma. O outro candidato contado para ocupar o ministério da economia é Nelson Barbosa.

Nesta última semana, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, foi indicado por Lula como seu favorito para ser o novo ministro da Fazenda de Dilma. O outro candidato contado para ocupar o ministério da economia é Nelson Barbosa. Em entrevistas recentes, ambos declararam que só aceitariam chefiar a pasta se lhes fosse concedida maior autonomia em relação à que tem o atual ministro de saída, Guido Mantega.

A expectativa é que o novo ministro seja revelado após o dia 20 de novembro, já passada a reunião da OMC neste fim de semana.

A trajetória de Meirelles

Meirelles hoje é presidente do Conselho da J&F (holding brasileira que controla empresas como JBS, Flora e Eldorado) e chairman do Lazard Americas. Antes de exercer a presidência do Banco Central, foi presidente mundial do BankBoston. Meirelles foi também filiado ao PSDB. Depois, deixou o partido para se candidatar pelo PMDB, e hoje pertence ao PSD de Gilberto Kassab. Esteve na presidência do Banco Central entre 2003 e 2011, durante os dois mandatos do ex-presidente Lula e início do governo Dilma.

A indicação de Lula é um claro recado para acalmar o “mercado”, os capitalistas internacionais, como garantia de compromisso do governo de Dilma com os ajustes “antipopulares”. Não que Mantega já não tivesse que cumprir este papel como representante indireto dos bancos, porém, a exigência é de ajustes imediatos e mais duros cortes nos gastos, nos direitos dos trabalhadores, nos salários.

Como administrador da JBS Friboi, Meirelles garantiu um lucro líquido de US$ 423 milhões, cinco vezes maior do que no terceiro trimestre de 2013. Este lucro já é um primeiro recado para os demais empresários: em meio à crise global, o monopólio JBS reduziu as chamadas “despesas operacionais”, ou seja, aquelas que veem dos ajustes na cadeia produtiva do ramo de carnes, da exploração da mão-de-obra precarizada de seus milhares de funcionários no Brasil e no exterior. A JBS, que se transformou no maior monopólio de carnes do mundo com a ajuda dos empréstimos públicos a custo barato do BNDES, já foi condenada por servir carne com larva de mosca para seus funcionários. Esta é a receita de “sucesso” do administrador Meirelles, e amigo de Lula, para os empresários.

Meirelles atuou no governo Lula como um representante dos interesses dos bancos que na década petista tiveram lucros recordes com o boom do crédito proporcionado pela valorização das commodities agrícolas exportadas pelo Brasil. Fez o “dever de casa” e manteve o Brasil com uma das maiores taxas de juros do mundo e o real valorizado frente ao dólar para cumprir a agenda de “controle da inflação” para segurar a valorização dos papéis dos ativos financeiros dos grandes empresários.

Em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, Meirelles afirma que “A lição ao Brasil é que temos de ajustar nossa economia enquanto investimos em infraestrutura, produtividade e educação. Assim poderemos competir e crescer num mundo que sairá da crise mais forte e competitivo”.

O perfil de Barbosa

Nelson Barbosa é apontado como o ministro que não seria o nome favorito dos mercados, por estar mais alinhado com Dilma, mas não tanto como Mantega. Na percepção dos mercados, seria algo mais “neutro” que Meirelles.

Ph.D em Economia pela New School for Social Research (Nova Iorque, EUA), ele foi secretário executivo do Ministério da Fazenda, de 2011 a 2013, e exerceu diversos cargos na administração Federal no Ministério da Fazenda. Foi também presidente do Conselho do Banco do Brasil (2009-13) e membro do Conselho de Administração da Vale do Rio Doce (2011-13).

Mas tampouco é visto de forma negativa, tendo em vista que em entrevistas recentes evidenciou que não concorda com várias estratégias adotadas no último governo, como "maquiagem de contas públicas" e o controle dos preços administrados.

Aumento da “competitividade” e do comércio com o “norte”

A paralisia da economia global faz com que os empresários busquem recuperar suas taxas de lucro com os ajustes nas relações de trabalho que impõem maior precarização e cortes nos salários e no emprego. Estes são os ajustes que levariam à panaceia capitalista do aumento na produtividade e na “competividade” frente à concorrência internacional cada vez mais acirrada. A espera por Meirelles e pelos ajustes de Dilma tem este sentido que a mídia esconde dos trabalhadores. É o aprofundamento da reestruturação produtiva, para aumentar a competitividade, que deve vir junto aos ajustes na economia.

A Argentina, que está em crise, já não é mais a melhor opção de comércio e lucros depois da China. Assim, os EUA voltam à cena como um possível mercado mais promissor para alguns produtos primários do Brasil. Por isso, Dilma já sinaliza aumentar o comércio bilateral com o “norte”.

Brasil e Argentina

Os ajustes que o mercado e os empresários pressionam, aumentarão os impactos recessivos na economia do Brasil, o que certamente irá afetar ainda mais o comércio exterior do Brasil com a Argentina, seu segundo maior parceiro comercial.

O Brasil vem reduzindo suas importações de produtos argentinos, com a desaceleração do consumo interno e a retração no crédito, em especial de veículos automotores e autopeças, principais produtos importados pelo Brasil, seguido pelo trigo. O Brasil responde por cerca de 20% do comércio exterior argentino. No primeiro semestre, a desaceleração do Brasil, segundo Ministério da Indústria e Comércio Exterior, reduziu em 20% a compra brasileira de produtos argentinos e esta tendência deve continuar.

Brasil e Argentina só possuem uma alternativa para a manutenção dos direitos dos trabalhadores e para a garantia do direito ao trabalho e a uma vida digna frente aos efeitos da crise e dos ajustes dos governos, não será pelas mãos dos ministros da economia que o emprego e os salários serão garantidos, mas sim, pela luta organizada dos trabalhadores com a população. O emprego nas indústrias automobilísticas, nos dois países, cujos lucros pertencem aos mesmos monopólios internacionais, só será garantido em combate às burocracias sindicais com uma estratégia de luta independente dos governos e dos patrões.

Artigos relacionados: Economia









  • Não há comentários para este artigo