Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Viagem exitosa de Raúl Godoy, de Zanon, ao Brasil

Um aporte para a perspectiva de enfrentar as demissões numa perspectiva classista

07 Mar 2009   |   comentários

Raul Godoy veio ao Brasil como delegado da gestão operária de Zanon e do Sindicato Ceramista de Neuquén, para apoiar a campanha contra a demissão de Claudionor Brandão (diretor do SINTUSP e dirigente da LER-QI) e difundir a experiência de Zanon, como exemplo de como os trabalhadores podem dar uma resposta de classe à crise. Chegou num momento em que a patronal está demitindo massivamente sem ter, ainda, uma resposta operária à altura. A experiência dos operários de Zanon começou também quando a patronal tentou demitir em massa e provocou a resposta operária que terminou, como diz Raúl, “demitindo o patrão” . Por isso, foi muito oportuna sua viagem já que a experiência de Zanon que se desenvolveu no meio da crise de 2001, é chave para tirar lições, inclusive sobre o papel dos trotskistas numa luta.

Na semana em que esteve no Brasil, Raúl Godoy participou de diversas atividades em universidades e estruturas de trabalhadores, que tiveram a participação ativa de centenas de trabalhadores e estudantes. Editamos um suplemento de JPO com uma extensa reportagem com Godoy que distribuímos massivamente para divulgar esse exemplo.

Na USP, em defesa de Brandão

Godoy percorreu várias unidades de trabalhadores da USP, que se juntavam para trocar opiniões e experiências. Na Prefeitura e no restaurante, conversou com os trabalhadores sobre a experiência de Zanon e sobre a necessidade de responder ofensivamente contra a demissão de Brandão, assim como eles fizeram em Zanon. Todos seguiram com muita atenção e distribuímos massivamente o suplemento. Realizou um debate junto com Brandão, onde estiveram presentes mais de 80 pessoas, sobre como enfrentar as demissões frente à crise capitalista, além de uma conversa convocada pelo Sintusp na sede do sindicato, com trabalhadores da categoria, junto a una delegação de Flaskó, uma fábrica que esta ocupada pelos trabalhadores. Também como parte da campanha em defesa de Brandão e de propagandear a luta de Zanon como resposta às demissões em massa que estão ocorrendo, Godoy esteve presente ao ato convocado pela Conlutas contra as demissões, onde fez uma fala que foi muito aplaudida pelos presentes que cantaram canções internacionalistas.

OS DEBATES NAS UNIVERSIDADES

PUC-SP

“Temos que levar com toda audácia o programa de transição e chamar os trabalhadores a luta e a confiar só em suas próprias forças” .

Mais de 150 pessoas estiveram presentes para ouvir Godoy, que foi convidado pela Associação dos Professores da PUC [APROPUC] para participar de um debate com professores marxistas, e o dirigente dos metalúrgicos de São José dos Campos e do PSTU, Luis Carlos Prates, o “Mancha” , do sindicato da GM e Embraer que estão sendo atacados pelas patronais e o governo Lula. Além da discussão sobre a análise da crise e das categorias marxistas, os debates com os companheiros do PSTU giraram ao redor das tarefas dos que nos reivindicamos trotskistas frente à crise. Raúl enfatizou a necessidade de ser ofensivos com o programa, tendo confiança que com o desenvolvimento da crise, ele poderá ser assumido por setores da classe operária, como aconteceu em Zanon. Destacou que não temos que ceder às pressões que vem da burocracia sindical de fazer política corporativa e de conciliação de classes. A notícia aparecida na Folha de São Paulo o domingo 1/3/09 “Centrais sindicais têm reação tímida frente à crise” , é muito esclarecedora nesse sentido já que inclui entre essas centrais os agrupamentos sindicais que dirige a esquerda.
Por outro lado, Godoy insistiu no debate sobre a necessidade de romper qualquer corporativismo enfrentando a política da burocracia que só reconhece os trabalhadores efetivos, sendo que o grande legado do neoliberalismo é uma profunda fragmentação de nossa classe. Todo sindicato combativo tem que levantar como uma bandeira central a unidade das fileiras operárias e as demandas dos setores mais explorados. Também remarcou a necessidade de buscar a aliança operária e popular, baseada na hegemonia proletária, assumindo as demandas dos outros setores oprimidos da sociedade como fizeram os operários de Zanon com os desempregados, os índios “mapuche” , os estudantes e o povo pobre.
Fechou sua fala chamando a explicar pacientemente aos trabalhadores que é necessário enfrentar a crise com uma grande luta e que a chave dos revolucionários é ajudar os trabalhadores a confiar em suas próprias forças.

Na Fundação Santo André junto a Valério Arcary (PSTU)

“Frente à crise temos que superar qualquer sectarismo e reforçar a unidade dos setores combativos e da esquerda, sob a base de um programa de saída operária” .

Mais de 100 pessoas, incluindo muitos jovens trabalhadores da região do ABC, participaram do debate com Valério Arcary. Godoy reivindicou a fala de Arcary que girou ao redor das internacionais, e vinculou suas reflexões às tarefas que se colocam hoje para avançar na reconstrução da IV Internacional. Reivindicou sua viagem em defesa de nosso companheiro Brandão e, nesse sentido, o internacionalismo militante do Sindicato Ceramista do qual ele é um dos principais dirigentes. Também colocou a necessidade de manter de forma intransigente a independência política da classe como estratégia. Por fim, Raúl fez um chamado os companheiros de PSTU a superar qualquer sectarismo e aprofundar a unidade na ação concreta sob a base de um programa de saída para a crise.

O debate convocado pela LER-QI na Casa Socialista Karl Marx

“Os trotskistas temos que fazer a diferença: programa, organização das massas para a luta política e partido”

Neste debate com mais de cem companheiros/as trabalhadores e estudantes, Godoy centrou em explicar os aportes dos trotskistas do PTS a Zanon, explicando o papel de um partido revolucionário e a diferença que faz para a luta dos trabalhadores.

Para mencionar os mais importantes, Raúl recordou que o fundamental foi aportar com o programa, que não foi inventado por nós, mas por Leon Trotsky que redigiu o Programa de Transição em 1938. Destacou a luta que demos pela unidade das fileiras operárias, a unidade de efetivos e contratados e com a população. Frente à tentativa da patronal de manter seus lucros ameaçando com o fechamento da empresa, colocamos a exigência da abertura dos livros de contabilidade para desmascará-los. Outro aspecto central de nossa luta política e programática foi a recuperação de organismos combativos de nossa classe: a comissão interna e depois o sindicato, recuperados das mãos da burocracia baseados em delegados eleitos por setor, com representantes de efetivos e contratados e democracia direta, com a assembléia como organismo soberano, foi permitindo moldar uma nova subjetividade para que os trabalhadores confiassem só em suas próprias forças. O sindicato reconhece a liberdade de se expressarem as distintas tendências sindicais e políticas que se dão em seu interior, e votou um novo estatuto que expressa todos estes elementos classistas.

Por fim, dedicou a última parte da fala a destacar a importância do partido operário. Os operários combativos de Zanon e seu sindicato se pronunciaram pela necessidade de construir uma ferramenta política para a classe operária. Raúl explicou que esse era um primeiro passo, mas que esse partido tem que ter um programa revolucionário e tem que ser preparado antes que aconteça o ascenso. E chamou os trabalhadores e estudantes a se somarem à LER-QI para darmos juntos essa batalha para sermos parte ativa na construção desse partido de trabalhadores revolucionário que necessita a classe operária nacional e internacionalmente.

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