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Internacional

I Congresso da LER-QI

Teses sobre a situação internacional

09 Nov 2007   |   comentários

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O fenómeno mais importante da situação internacional é o processo de decadência histórica do imperialismo norte-americano, que debatemos extensamente na Revista Estratégia Internacional ’ Brasil 2. Iniciado na década de 70 com o fim do boom económico do pós-guerra e a derrota no Vietnã, este processo deu um salto a partir da invasão do Iraque, erro estratégico que custa aos cofres norte-americanos U$800 milhões por dia. Porém, caracterizamos que a guerra do Iraque não se transformou ainda em um “novo Vietnã” por conta da ausência de uma autêntica guerra de libertação nacional do povo iraquiano, que segue dividido. Que se estivéssemos frente a um “novo Vietnã” , entendido como a expulsão das tropas norte-americanas pelas massas iraquianas, o salto nas contradições abriria uma nova etapa internacional. Porém, isso não anula as crescentes contradições abertas para os EUA, como agora com a crise com a até então aliada Turquia por conta da ação de rebeldes curdos do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) na fronteira com o Iraque, e as dificuldades para que siga exercendo seu domínio mundial. Neste marco, faz-se necessário que nos delimitemos tanto das correntes e visões mecânicas e catastrofistas que opinam que a decadência do imperialismo leva toda a situação objetivamente à esquerda, bem como das que seguem afirmando que tal declínio não se daria. Ou ainda das vertentes hoje em moda de que estaríamos diante de uma situação de maior equilíbrio de poder, em que determinados países como China, Rússia, e outros, assumiriam novo papel no cenário internacional, questão que não negamos, mas que para nós acirra as contradições abertas, não apontando para mais estabilidade como opinam tais visões.

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A recente crise financeira internacional demonstrou as contradições do processo de financeirização da economia como via posta pela burguesia imperialista para tentar amortizar a tendência à queda da taxa de lucro. Hoje vemos tendências a uma desaceleração da economia norte-americana. Essa situação pode afetar outras regiões do globo ao pór em xeque o equilíbrio sobre o qual se sustentou a economia no último período, tendo os EUA como compradores em última instância e a China como produtora de manufaturas. Uma possível decorrência seria a queda no preço das commodities mediante a desaceleração da demanda chinesa, o que afetaria diretamente os países da América Latina, que vinham de um período de crescimento impulsionado pela alta destes produtos. Há que ressaltar ainda que apesar de não existir uma relação mecânica entre a crise económica e a luta de classes, se a presente crise se aprofundar no próximo período estaríamos, sobretudo na América Latina, mediante uma situação qualitativamente distinta da existente no último ciclo de crescimento no qual a economia vem sendo um elemento de estabilidade. Por ora a situação segue indefinida, e há que acompanhar detidamente seus desdobramentos e efeitos.

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Este aprofundamento da decadência dos EUA levou a um enfraquecimento de sua autoridade sobre a América Latina, o que abriu brechas que são aproveitadas por governos nacionalistas burgueses ou populistas como os de Chávez e Evo Morales. Estes governos buscam desviar o descontentamento das massas em relação ao neoliberalismo, baseando-se no último ciclo de crescimento que percorreu as economias latino-americanas, sobretudo no caso de Chávez que tem se beneficiado dos altos preços do petróleo, para dar pequenas concessões às massas sem responder às suas demandas de fundo. São defensores de projetos de tipo nacionalista-burguês inferior ao de outros períodos, como o de Cárdenas no México. Assim, é chave para os marxistas revolucionários travar o combate para desmascarar as novas mediações que se colocam como um obstáculo para a independência de classe, e propagar e apoiar ativamente a experiência contra seus governos que setores de vanguarda da classe trabalhadora destes países vêm desenvolvendo, como a importante ’ ainda que desviada ’ luta dos operários venezuelanos da Sanitários Maracay por reais expropriações sem pagamento de indenizações; e dos mineiros de Huanuni na Bolívia. Este combate deve ser parte fundamental de nosso internacionalismo militante, para o qual temos não só que acompanhar a política destes países e as ações de nossa classe, mas também dos debates dos intelectuais, entre os quais a imensa maioria tem capitulado.

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Vemos elementos que reafirmam o processo lento ’ mas sustentado ’ de recomposição da subjetividade do movimento operário, que se expressa em setores de vanguarda e segue tendo como eixo a América Latina. Este processo, por mais que não ainda não altere a relação de forças entre as classes em nenhum país, é o mais importante para nós, e devemos acompanhar todas as suas expressões. Neste sentido, tem para nós centralidade a luta dos mineiros chilenos, dos mineiros de Huanuni e todos os setores que buscam se organizar sindicalmente na Bolívia, tendo que se enfrentar com o governo de Evo Morales para garantir este direito elementar. Assim, também a luta dos precarizados e setores do novo movimento operário na Argentina, que têm dado mostras de um novo sindicalismo classista e combativo. Mesmo nos países centrais vemos elementos iniciais de recomposição do proletariado, como nas recentes greves de ferroviários na França e maquinistas na Alemanha.

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No movimento trotskista está se desenvolvendo um novo giro liquidacionista impulsionado por correntes como a LCR (Liga Comunista Revolucionária) que buscam se diluir em partidos amplos sem corte de classe. Hoje todas as alas da LCR, com variações de graus e discursos, apresentam acordo em enterrar sua tradição trotskista em nome de construir um partido “anti-capitalista” , se apoiando na falsa sentença de que “toda luta consequentemente antiliberal é diretamente anti-capitalista” . A prática do PSOL no Brasil demonstra a falsidade de tal afirmação, explicitando que ficar no marco do anti-liberalismo leva a posições alheias aos interesses da classe trabalhadora (como se expressa na votação deste partido em favor do Super-Simples, ou na própria campanha impulsionada por Heloísa Helena contra o aborto). No afã de ocupar os espaços deixados dentro do regime democrático burguês pelos Partidos Comunistas e pelos Partidos Socialistas, que passaram de pata esquerda dos regimes a implementadores dos ataques neoliberais, a LCR se lança a impulsionar um partido alheio ao marxismo revolucionário, projeto já antes anunciado com o abandono da luta pela ditadura do proletariado em seus estatutos. Este giro é o ponto culminante de um processo que o mandelismo [1] como corrente internacional já vinha dando com, por exemplo, a participação da DS em um ministério do governo Lula. Assim, a luta teórico-política contra o giro liquidacionista do mandelismo deve ser encarada como um dos nossos principais desafios no próximo período, partindo da necessidade imperiosa de defender os fundamentos do trotskismo como a principal base para uma teoria-programa capaz de responder aos desafios de nosso tempo, e da necessidade de lutar pela a reconstrução da IV Internacional como Estado Maior da revolução proletária em nível mundial.

[1Corrente política fundada por Ernest Mandel, e hoje representada pela LCR na França e por setores do PSOL no Brasil.

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