Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

TELEOPERADORES

Super-exploração no Telemarketing

30 May 2008   |   comentários

Sistema Variável, assédio moral e péssimas condições de trabalho

Trabalhadores fazem a mesma função com salários diferenciados; funcionários novos chegam a receber metade do salário dos mais antigos. A empresa implantou uma das mais graves ações contra o nosso salário, o Sistema Variável, que significa reduzir o salário base e definir metas para alcançar o antigo salário integral. Essas metas são: preenchimento do histórico de atendimentos, a produção de ligações, e a mais absurda, o absenteísmo zero! Significa que é expressamente proibido a falta dos operadores, pois estas, com ou sem atestado médico, são descontadas em folha de pagamento. Se você fica doente eles te cortam o salário! São usados critérios de avaliação totalmente subjetivos e manipuláveis. Pra onde vai todo o dinheiro da variável?

Além disso encontramos cadeiras quebradas, sem regulagem ou sem braço; monitores com péssima resolução; mouses e head-sets quebrados; espaço do break permanentemente sujos e mal equipados; ar condicionado desregulado, causando doenças; goteiras; etc, etc, etc.

As empresas de telemarketing também exercem as mais perversas pressões, através de metas insanas, nos cobram pelo tempo de atendimento e vendas, utilizando as monitorias para rebaixar nossos salários e nos ameaçando com advertências e suspensões por motivos ínfimos. Horas extras forçadas e medo de advertências nos reprime a favor de abuso moral e sexual de supervisores e gestores. Nos cobram por segundos de atraso, mas nunca nos pagam por vários minutos a mais que trabalhamos todos os dias. A variável é uma prova definitiva de que os patrões não estão dispostos a reconhecer o nosso trabalho. Devemos exigir a abolição da variável! Salário igual para trabalho igual!

O capitalismo no call center

É um dinheiro fruto de extrema exploração, chantagem, coerção, assédio moral, fraudes trabalhistas e tudo que os patrões e a burocracia podem aproveitar do desemprego e da extrema precarização do nosso trabalho, que se expressam no nosso dia-a-dia. As terceirizadas lucram através de contratos que firmam com as empresas (clientes) para quem o serviço do teleoperador será prestado; ganha o contrato a terceirizada que oferecer o mesmo serviço por menor preço, é claro que à custa de todos os trabalhadores do telemarketing. As grandes empresas monopólicas ganham os contratos por conseguirem baratear o serviço ao nos impor um ritmo de trabalho alucinante, através de mecanismos psicológicos e tecnológicos no ambiente de trabalho voltado para o máximo desempenho no mínimo de tempo. Ou seja, nós suamos para que eles enriqueçam e ainda por cima querem que trabalhemos como máquinas!

Ditadura na empresa e democracia para os ricos

Os 10% mais ricos controlam 75% da riqueza nacional. Dos 8,4 milhões de empregos criados a partir de 2000, a maioria esmagadora são de empregos extremamente precários. Deste total, 90% pagam até dois salários mínimos, iguais ao nosso de teleoperadores. A podridão da democracia dos ricos no país não tem fim, o partido que se dizia dos trabalhadores, o PT e Lula, se aliou já faz tempo com a elite arcaica, exploradora e assassina do país, enquanto os escândalos de mensalão, cartões corporativos e dólares na cueca sempre irão continuar.

Além disso, hoje estamos sofrendo uma tremenda inflação dos alimentos por conta da sede de lucro dos grandes empresários do agro-negócio, que hoje, frente à crise do petróleo e à crise financeira internacional, preferem produzir mais álcool do que alimento, diminuindo assim a oferta de produtos como soja, milho e cana. E quem é que paga o preço? Nós trabalhadores, que vemos nossos salários sendo desvalorizados brutal-mente!

Enquanto isso, empresas monopólicas vinculadas até o osso com o governo Lula, como por exemplo, a Contax e a Atento (empresa da gigante espanhola Telefónica), dispõem de um total de 110.151 teleoperadores em distintas capitais do país, e faturaram em cima destes teleoperadores só em 2007, juntas, 2,5 bilhões de reais! O faturamento médio por operador da empresa que mais cresce hoje no Brasil, a Atento, é de 21 mil reais por ano (quanto é mesmo que recebemos?)!

E nós teleoperadores, por conta de nosso mísero salário, nos vemos obrigados a fazer milhares de horas extras, trabalhar aos domingos para conseguirmos cobrir nossas necessidades.
Enquanto o DIEESE* aponta qual o salário necessário para se sustentar uma família com dignidade, o piso salarial da categoria defendida pelos sindicatos pelegos da Força Sindical e CUT é de 450 reais por mês!

 Basta de horas extras forçadas por conta de nossos salários de fome!

 Contra o piso de R$ 450,00! Pelo salário mínimo do DIEESE: R$ 1.924,59!

Devido o grande número de desempregados no país, as empresas podem criar uma rotatividade freqüente dos trabalhadores, admitindo em sua maioria pessoas com grande necessidade e que a empresa julga como fáceis de serem coagidas com medo de demissão.
Além disso, nossa realidade é uma carga de trabalho estafante, com metas absurdas e uma pressão brutal dos chefes!

Precisamos de redução da jornada para 30 horas semanais (como já é em algumas operações), para que possamos nos dedicar aos nossos estudos e famílias! E também devemos ter os nossos sábados e domingos livres. Essa é uma reivindicação que os trabalhadores conquistaram já no início do século XX, e que hoje os empresários estão atacando, reto-mando o trabalho aos fins de sema-na. Não podemos aceitar um ataque a esse direito elementar! Precisamos de nossos sábados para estudarmos e ter-mos lazer!

 Trabalhar menos para que todos trabalhem! Redução da jornada de trabalho para 30 horas, sem redução de salário.

 Nenhum passo atrás! Sábado e domingo livres!

Os patrões nos roubam o nosso direito pelo descanso durante o trabalho, fazendo com que pague-mos os 20 ou 30 minutos que temos como direito previsto em lei. E isso significa roubo de salário, pois todo tempo trabalhado gera um lucro, e portanto temos que exigir a nossa parte.

 Descanso dentro da carga horária de trabalho! Chega de nos roubarem os nossos direitos!

Tanto o Sintetel da Força Sindical, quanto o Sintratel da CUT apenas aparecem onde trabalhamos uma vez por ano para o dissídio coletivo. O sindicato é corrupto, faz reuniões fechadas onde aceita propina e fecha acordos com a empresa pelas costas dos trabalhadores. Alguém conhece pessoalmente algum membro do sindicato? Quantas vezes os diretores do sindicato discutiram conosco como podemos lutar pelos nossos direitos, e nos ajudaram a impulsionar nossas lutas? A quanto tempo os diretores do sindicato não sentam em uma P.A? Os sindicatos são instrumentos dos trabalhadores, mas hoje estão dominados por burocratas que atrelam todas as suas decisões ao mando da empresa e dos políticos corruptos do Estado, que votam leis contra nós trabalhadores. Para retomarmos este instrumento nosso é necessário uma organização democrática e anti-burocrática que impulsione nossas lutas e demandas desde os locais de trabalho.

 Formar uma Oposição Sindical combativa e anti-burocrática!

A necessidade de lutar contra a empresa

A forma como muitos de nós encontram para se libertar dessas péssimas condições de trabalho é, em vários casos, trabalhar mais lentamente, errar, faltar, para que a empresa demita. Esse método pode aliviar no momento a nossa situação, mas logo em seguida entraremos num trabalho que igualmente irá nos explorar, e quem fica continuará sofrendo com os mesmos problemas. Ou seja, ele não ajuda para que imponhamos aos patrões o nosso direito por um trabalho e uma vida dignos.

 Devemos mudar as coisas a partir de onde estamos!

Além disso, dentro do ambiente de trabalho é impossibilitado qualquer espaço de relação social comum, os postos de atendimento são divididos por biombos que forçam o teleoperador a sempre olhar para a frente, sempre com muitos supervisores de plantão e pouquíssimo tempo de descanso.

Não podemos esperar nada do Estado e dos políticos burgueses que votam leis contra os trabalhadores e fazem de tudo para reduzir os nossos salários. Quem trabalha precisa se organizar de forma independente do governo e das empresas.

É essencial que nos organizemos por local de trabalho, formando comissões por sessão ou operação, com responsáveis democraticamente eleitos e revogáveis para organizar o movimento de nossas lutas, nos reunindo nos intervalos e fora do horário de trabalho, buscando ligar-nos a outros companheiros dos diversos sites que as empresas possuem separados na cidade propositalmente para nos dividir.

Pensando nisso é que vemos a necessidade de participarmos do I Congresso da Conlutas (que está mencionado acima), pois lá devemos colocar as nossas principais demandas e exigir que essa central, que hoje se coloca contra o governo e os patrões, que as tomem na organização das lutas, unificando a categoria de teleoperadores com as outras categorias nacionalmente, pois assim é que conseguiremos acabar com a precarização do trabalho que se expressa em nosso dia-a-dia de trabalhadores! Nos unamos pelos nossos direitos!

 Formar comissões internas por local de trabalho, com responsáveis eleitos democraticamente, e clandestinas para evitar perseguição dentro do trabalho!

 Exigir da Conlutas que assumam nossas demandas e lute conseqüentemente contra a precarização do trabalho! Ao I Congresso da Conlutas!

Material escrito pelos teleoperadores da LER-QI

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