Terça 30 de Abril de 2024

Direitos Humanos

VATICANO

Rogando a Deus e abusando das crianças

23 Apr 2010   |   comentários

Quando os bispos alemães habilitaram uma linha telefônica para denunciar abusos sexuais, não pensaram que essa ficaria congestionada com mais de 13 mil chamadas. Desde o começo do ano, houve mais de 300 denúncias de abusos físicos e sexuais cometidos pelos padres no país do Papa , Joseph Ratzinger, onde seu irmão – que também é padre – foi diretor de um coro infantil no qual se deram alguns desses episódios.

Salvem o chefe!

As denúncias de menores abusados por padres da Alemanha somam-se a outras milhares em outros países.
Mas, pela primeira vez, o Papa aparece como possível encobridor desses crimes. Ninguém acredita que não soubesse das denúncias, considerando que foi arcebispo de Munique e, depois, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé (a antiga Inquisição) entre 1981 e 2005.
Por isso, imediatamente, começou-se um “operativo de limpeza”: o Vaticano publicou um manual que diz que, frente a casos de abuso, “tem-se que seguir sempre a lei civil no que concerne às denúncias dos delitos às autoridades competentes”. Algo novo para a Igreja, onde a doutrina dizia que os padres acusados de exigir ou solicitar relações sexuais deviam ser castigados com a suspensão ou, em casos mais graves, ser retirados de suas funções clericais. Em outras palavras, “a roupa suja se lavava em casa”, enquanto a Igreja acobertava os criminosos com um manto de... impunidade.

Com amigos assim...

Frente a tamanha crise, bispos e padres de todo o mundo falam e afundam cada vez mais. Quando, no Chile, perguntaram a Bertone – secretário do Vaticano – se a eliminação do celibato podia ser uma solução para o problema, o cardeal contestou que os abusos não estão relacionados com a castidade, mas sim com a homossexualidade. O que lhe valeu o repúdio de gays, lésbicas e transexuais do país que denunciaram essa nova tentativa da Igreja de criminalizar, com uma mentira absurda, as pessoas que não são heterossexuais.

Enquanto isso, um assessor de Ratzinger, disse aos jornalistas que “existe uma conspiração contra a Igreja”. O bispo de Tenerife foi muito mais além. Sobre os abusos a menores perpetrados por seus colegas, declarou: “Pode haver menores que consintam e, de fato, há. Existem adolescentes de 13 anos que estão perfeitamente de acordo e além disso, desejando isso. Inclusive, se te descuidas, te provocam”.

E por aqui?

Na Argentina, ocorreram inúmeras denúncias de padres que ficaram impunes. O mais ressoante foi, quiçá, o do padre Grassi, condenado a 15 anos de prisão por abuso sexual e corrupção de menores, mas que a justiça deixou em liberdade até que a sentença esteja firmada. Não apenas isso, mas que além disso, tem permissão para entrar na fundação que presidia, que abriga crianças pobres, onde os delitos foram cometidos.
Quem vai se atrever a denunciar outros casos, então, sabendo que os abusadores gozam dos maiores privilégios e até de financiamento do Estado para manter suas escolas, lares e seminários onde são cometidos e silenciados tantos desses crimes?

Artigo publicado no jornal "La Verdad Obrera" de nossa organização irmã PTS na Argentina.

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