Sábado 4 de Maio de 2024

Internacional

O GOVERNO DE OBAMA ANUNCIA O FIM DA MISSÃO DE COMBATE

Retirada do Iraque... para o Afeganistão

12 Aug 2010   |   comentários

Os Estados Unidos invadiram o Iraque em 2003 (sob o governo de G.W. Bush com o pretexto de encontrar armas de destruição em massa) e desde esse momento manteve ocupado o país. Estes 7 anos de ocupação imperialista custaram ao EUA mais de 700 bilhões de dólares e 4.400 baixas militares. Além do mais se estima que 1 milhão de iraquianos (não se conhece a cifra exata) foram assassinados, centenas de milhares de feridos e existem múltiplas denuncias contra os soldados ianques por violências e abusos.

Barack Obama anuncia o “fim da missão de combate” no Iraque em meio ao escândalo pelo vazamento de documentos sobre a guerra no Afeganistão, que expôs uma vez mais o pântano que é a ocupação militar ianque nesse país. A Casa Branca, atravessada também pela crise econômica que marca um nível de desemprego de 10% e também o polarizado debate sobre a reforma migratória, quer – por enquanto com duvidoso êxito – mostrar um triunfo na complexa frente militar exterior. Obama anunciou em um recente discurso que se preparava para cumprir sua promessa de campanha: “Como candidato a presidente prometi dar a guerra do Iraque um fim responsável”.

Apesar da Casa Branca informar que julho havia sido um dos meses com menor taxa de violência, o próprio governo iraquiano saiu para desmenti-lo publicando a cifra de 535 mortos (o mês mais sangrento dos últimos anos).

Dos 144.000 soldados norte-americanos, permanecerão no Iraque 50.000 até finais de 2011, quando se espera a suposta retirada total e a transição final, ainda que se manterão bases militares no país. “Diria que 50.000 soldados no terreno é uma quantidade significativa”, disse um porta-voz do exército norte-americano, e agregou: “Ainda podemos fazer muito com o que temos e teremos muita influencia aqui”. Essas declarações mostram a verdadeira cara da mudança de missão de combate à missão de “conselho e ajuda” no Iraque.

As eleições iraquianas deixaram um mapa político dividido sem ganhador claro, o que até agora tem bloqueado a formação do governo. Os partidos que obtiveram a maioria dos votos, a Liga Nacional Iraquiana do ex premie Ayad Allawia (o aparente favorito de Washington) conseguiu 91 assentos dos 325 em disputa, enquanto o partido de Nuri Al Maliki (o primeiro ministro) conseguiu 89. Já a Aliança Nacional Iraquiana (xiitas) que é apoiada pelo clérigo radical Al Sadr (com importantes relações com o regime iraniano de Ahmadinejad), ficou em terceiro lugar com 70 bancos. Este complexo cenário é o pano de fundo do fim da “missão de combate”. Junto a isso, a situação social marcada pelo desemprego, a enorme destruição de infra-estrutura, e as penúrias do povo iraquiano fazem crescer o descontento da população.

Continua a ocupação e a guerra

A retirada de tropas do Iraque é parte da estratégia negociada entre o governo do Iraque e o governo de G.W. Bush, uma estratégia hoje continuada pelo governo democrata que mantém a ocupação imperialista. Com a retirada, Barack Obama se prepara para reforçar e sustentar a missão no Afeganistão.

Por isso, enquanto os EUA retiram mais de dois terços de seus soldados do Iraque (no total desde o início do governo democrata), Obama triplicou as tropas no Afeganistão (de 30.000 a 90.000). A missão afegã, hoje dirigida pelo General Petraeus (ex chefe do Comando Central) que foi premiado com “sucesso” pela estratégia de aumento de tropas no Iraque (conhecido como “surge”), expressa a atual estratégia de Obama, que conta com o apoio dos setores mais beligerantes do establishment político e do exército.

Obama disse em seu discurso: “Porém não se equivoquem, nosso compromisso no Iraque está mudando de um esforço militar liderado por nossas tropas a um esforço civil liderado por nossos diplomatas”. Entretanto, longe de qualquer ilusão, como se demonstra na estratégia do Afeganistão e no aumento de tropas, Obama não se prepara para finalizar a guerra. A retirada do Iraque não é mais que uma tentativa de mostrar resultados no front externo marcado pela guerra, a ocupação e o endurecimento em de países como Coréia do Norte e Iran, enquanto se aproxima a corrida eleitoral para o legislativo em novembro (que funcionam como uma espécie de plebiscito geral do governo democrata).

A política da Casa Branca busca dar resposta, por um lado, aos democratas descontentes com a continuidade da política guerreirista, e por outro lado, a direita republicana que pressiona constantemente para tentar capitalizar os reveses do governo democrata. As guerras, junto com a crise econômica, são os temas que mais preocupam os deputados, senadores e governadores que deverão apresentar-se as eleições em novembro de 2010. E a sangria econômica que significa o gasto militar para o enorme déficit norte-americano não faz mais que diminuir os adeptos da guerra. Prova disso foi a votação do gasto militar para as guerras do Iraque e Afeganistão; a quantidade de democratas que votaram contra a lei (para outorgar quase 60 bilhões de dólares) triplicou em relação a quantidade de 2009.

Nesse marco, cresce o descontento entre a população estadunidense, especialmente entre os setores que votaram em Obama para por fim a política de guerra e ocupação. Ao contrario destas ilusões, Obama expressa uma clara continuidade no essencial da política exterior imperialista dos Estados Unidos.

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