Sábado 27 de Abril de 2024

Internacional

Realizou-se a II Conferência da FT-EI

12 May 2004 | Na semana passada aconteceu em Buenos Aires a II Conferência Internacional da Fração Trotskista-Estratégia Internacional, rebatizada na reunião como Fração Trotskista-Quarta Internacional (FT-QI), junto ao lema “Pela Reconstrução do Partido Mundial da Revolução Social”. Participaram delegados dos grupos da FT da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, México e Europa, junto com um delegado observador da JIR da Venezuela. Durante cinco sessões se realizou um intenso debate sobre as mudanças existentes na situação internacional, uma política ofensiva para a reconstrução da Quarta Internacional e as tarefas definidas para os distintos grupos no próximo período, partindo de uma definição da FT como um “pólo de propaganda teórico-político e crescentemente prático na luta pela reconstrução da Quarta Internacional”. Em relação à I Conferência, realizada em 2002, a reunião constatou não só uma consolidação e o avanço de nossa corrente, como também os laços com setores avançados da vanguarda do movimento operário que os distintos grupos começam a criar, produto do que definimos como um incipiente giro na situação da classe operária mundial. No sábado, 24 de abril, se realizou a sessão aberta da conferência na sede Ramos Mejía da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, com a participação de cerca de 800 companheiros. Respondendo ao convite para a participação na sessão aberta, estiveram presentes companheiros de outras organizações que se reivindicam defensoras do marxismo revolucionário: Ernesto González, dirigente histórico da corrente morenista, atualmente integrante da direção do MAS; Gustavo Lerer, dirigente do PRS-La Causa Obrera, que leu uma carta de seu Comitê Executivo e interveio no debate e, a título individual, três delegados do Congresso do MRCI, um dos quais, membro do Progetto Comunista da Itália, dirigiu a palavra aos presentes. Expressamos nessas páginas o informe de abertura e extratos de algumas das intervenções mais destacadas desta sessão aberta.   |   comentários

Extrato do informe de abertura

Emilio Albamonte, dirigente do PTS

Abre-se uma nova etapa

(...) O movimento operário que surgiu do pós-guerra, a partir das derrotas e desvios dos processos revolucionários da década de 70, entrou em decadência e começou a perder conquista atrás de conquista, no que se chamou desde os anos 80 etapa “neoliberal” , quase sem lutas, porque as velhas direções da classe operária construídas no período anterior não estiveram à altura das circunstâncias.(...)

O processo do neoliberalismo é a maior contra-revolução, sem necessidade de bonapartismo e fascismo, que vimos anteriormente neste século de extremos, como o historiador Hobsbawn denominou o século XX. (...) Em verdade, nos últimos vinte anos se produziu um grande retrocesso do proletariado, e em especial na década de 90, quando ao colapso dos estados operários dirigidos pelo stalinismo se seguiu uma época de reação, de guerras localizadas, como a dos Bálcãs, do Cáucaso, a primeira guerra do Golfo, etc.; essas guerras que nos 90 junto à crises económicas e com democracia burguesa, permitiram seguir aplicando os planos neoliberais. Em nosso continente estes planos neoliberais terminaram de completar a obra que haviam iniciado as ditaduras militares, liquidando a toda uma geração de operários, tanto fisicamente como moralmente. (...)

Se é assim, companheiros, nós tivemos que desenvolver nossa organização em nível nacional e internacional em uma época de furiosa reação anti-marxista. Tivemos que desenvolvê-la contra a corrente. Tivemos que tratar de nos voltar ao pensamento e à guia revolucionária de León Trotsky quase que em solidão política, enquanto víamos estalar uma atrás se outra todas as organizações que se reclamavam como parte do trotskismo e do marxismo revolucionário.

Felizmente, companheiros, esta etapa de retrocesso já passou. E nessa mudança de etapa houve dois momentos. O primeiro momento é o ano de 95, com a grande greve dos servidores públicos franceses, que mar-cou um primeiro ponto de inflexão e começou a mudar a ideologia derrotista imposta ao movimento operário e às massas exploradas do mundo. Foram acompanhadas pelo que se chamou como “as guerras operárias das Coréias” , além da tendência à greve geral que houve em numerosos países da Europa nesse período 95-96. Entretanto, essas gre-ves gerais e esses processos não se transformaram em um ascenso de conjunto, porque ainda estavam muito fechadas as brechas nas alturas e parecia que os E.U.A se transformavam em uma potência sem igual (e em certo sentido se transformou em uma “hiper-potência” ). (...)

Em 1999, foi a juventude que a partir de Seattle começou a gritar Basta!, com o movimento conhecido mundialmente como antiglobalização ou no-global, cuja uma das alas era anticapitalista. Uma ala minoritária de um movimento mais amplo, inclusive formado em Seattle pela própria burocracia sindical norte-americana, com um programa confuso. Nós dizíamos e acreditamos que se sustentam ainda hoje - os marxistas nos equivocamos muitas vezes mais do que acertamos nas caracterizações e nas análises -, que no ano de 99 se iniciou uma etapa preparatória. Preparatória não somente de um ressurgir do movimento operário e de massas, ou das lutas antiimperialistas, senão que de uma mudança transitória na subjetividade das massas, no qual o movimento no global com sua ala anticapitalista dá lugar a grandiosas manifestações de milhões na Europa contra a guerra do Iraque, que para nós são parte da resposta das massas al intento dos Estados Unidos de reorganizar o mundo a seu favor (...).

Um incipiente giro na situação do movimento operário

De acordo com a nossa visão, as crises capitalistas e a mudança na subjetividade que significaram o movimento anticapitalista, o movimento no global, o movimento antiguerra, abriram condições para o começo de um novo giro mundial do proletariado. Giro, ainda incipiente; o qual ainda é difícil definir sua magnitude. Na Conferência tivemos que discutir país por país, para ver todos os elementos, não exagerar, para sermos sérios teórica e politicamente. Há alguns fenómenos que são visíveis, como os grandes processos dirigidos pelos sindicatos na Europa contra os cortes da Seguridade Social na França e na Alemanha. E há fenómenos novos, que são as greves “selvagens” que são as greves feitas contra as direções oficiais. Há dois processos de greves “selvagens” que para nós iniciam um processo de recuperação do movimento operário. A greve dos “postal workers” da Inglaterra que reuniu até 20.000 trabalhadores contra a direção oficial do sindicato. E a greve dos trabalhadores dos transportes de Milão, feita por trabalhadores da velha geração operária que conservam todas as suas tradições, inclusive “operaístas” , do proletariado italiano, e que transmitiram essa tradição às novas gerações (”¦)

Na América Latina, apesar de não termos visto ainda revoluções no sentido clássico, presenciamos levantamentos e rebeliões. Ainda que não tenhamos vivido revoluções no sentido clássico, é porque as revoluciones no sentido clássico do termo necessitam, para desenvolver-se, da subjetividade do proletariado. E se a classe operária recém começa a desenvolver a sua subjetividade, é lógico que não tenha havido revoluções clássicas. Mas temos que dizer que os processos na América Latina começam a incorporar por exemplo, no Outubro boliviano, elementos típicos de revoluções clássicas. Na Bolívia isto se expressou simbolicamente no levantamento de El Alto, no qual confluíram indígenas aymaras, muitos deles camponeses, com os mineiros de Huanuni, que ao declarar a greve geral, demonstraram a potencialidade da classe trabalhadora para dirigir ou co-dirigir uma grande parte do movimento de massas, que os excedia em amplitude. Partindo deste ponto de vista, quando afirmamos que a etapa que se abriu no ano de 99 é preparatória, queremos dizer que não a definimos somente pelas crises capitalistas recorrentes ou pelas guerras unilaterais feitas pelo imperialismo norte-americano, senão também porque está se recuperando o ator com a capacidade de dar resposta a estes acontecimentos. Porque nem é preciso dizer a um auditório como este, que nós não somos islamitas, não somos zapatistas, não somos MST, ainda que respeitamos a muitos de estes movimentos como lutadores. Não somos tampouco anti-capitalistas em geral, mas sim comunistas revolucionários proletários e internacionalistas, e desde este ângulo de classe queremos participar, sem nenhum sectarismo, nos fenómenos tal e qual se dêem (...).

A generalização da resistência iraquiana abre uma situação transitória

(”¦) Dentro da etapa preparatória assinalada ’ e quando falo de etapa me refiro mais a longo prazo ’ se abriu após os atentados de 11 de setembro uma situação reacionária. A queda das Torres Gêmeas foi utilizada pela burguesia norte-americana para estender os seus planos de domínio das rotas do petróleo e de reestruturação da política no Oriente Médio. Como têm afirmado os neoconservadores, trata-se do intento de manter um “novo século” de hegemonia americana. Abriu-se então uma situação reacionária dentro da etapa preparatória, que tem como pontos culminantes as derrotas das massas nas guerras do Afeganistão e do Iraque. Cremos que nos últimos seis ou sete meses, com o desenvolvimento da resistência iraquiana; sobretudo nestas últimas semanas, esta situação se alterou. Amplificaram-se as diferenças que já existiam antes da guerra entre as grandes potências do mundo. E quando estavam buscando uma solução para Iraque, a resistência se generalizou, encerrando a situação reacionária e abrindo em médio prazo uma nova situação que por hora definimos como transitória.

E aqui temos uma certa diferença com os companheiros do MRCI que defendem que a situação já é pré-revolucionaria em nível mundial. Para nós é uma situação transitória porque, ainda que seja certo que os acontecimentos avançam enormemente, que o imperialismo pela primeira vez se veja desafiado politicamente no Iraque, mesmo que militarmente nem tanto, ainda não é a luta de classes o que prima na situação mundial. Mas os acontecimentos da magnitude como os que vimos nestes dias, com o levantamento não coordenado, mas conjunto, de xiitas e sunitas, justificam que definamos a situação como transitória. Se falarmos sobre o curtíssimo prazo, do que os marxistas chamamos de conjuntura, poderíamos dizer que hoje toda a situação do mundo gira ao redor dos acontecimentos no Iraque. E também do plano que têm Sharon e Bush para o Oriente Médio (...)

Mao Tse Tung disse, em um momento de exaltação, que o imperialismo era um tigre de papel. É verdade que o imperialismo é uma formação social passageira que se pode derrotar. Mas os marxistas sustentamos sobre os nossos ossos uma visão contrária a de que se trata de um tigre de papel. E hoje o imperialismo não tem apenas o exército. Tem um plano político que dia a dia trata de aperfeiçoar, e agora dia a dia vem fracassando. O último plano de Bush consiste em fazer um acordo entre os xiitas e os rema-nescentes do partido Baath (...). Estão tratando de que antigos membros do partido de Hussein reorganizem o exército e a policia iraquiana para continuar seu plano original de estabelecer um governo títere e manter a presença militar com onze bases para ter uma força de expansão rápida no Oriente Médio. Um dado mais, os Estados Unidos estão utilizando um senhor das Nações Unidas, um argelino que se chama Brahimi, para concretizar um novo governo com xiitas e sunitas que possa ter credibilidade frente às massas.(...)

Mas este plano é ’ desde o ponto de vista político ’ a quadratura do círculo, já que a ele se opõem os pró-americanos como Chalabi, que disse que dar a ele o controle do exército e da polícia aos ex-membros do Baath é como dar aos nazistas o controle do exército alemão após 1945... Estados Unidos está tratando, entretanto, com seu enorme poder económico, político e militar, de traçar esse círculo. Mas é extremamente difícil que estes planes triunfem, por isso a situação é transitória. (...)

Tomado de conjunto, torna-se muito provável então que esta situação que chamamos transitória por prudência, desemboque em uma situação pré-revolucionaria a nível internacional. Porque são contradições enormes que se mostram no coração da política americana. Todavia o povo americano segundo as últimas pesquisas eleitorais não está definido porque Kerry, o candidato democrata, é uma má cópia, e às vezes à direita, do próprio Bush.

Bush tem uma base social na coalizão cristã e nas grandes corporações. Mas a população está dividida pela metade, e se por acaso se desenvolve o levantamento iraquiano, esta base de apoio pode ser liquidada. Inclusive ainda que Bush triunfe no último momento das eleições este processo continuará, assim o mais previsível no próximo período é que a situação se transforme em pré-revolucionária.

Para sintetizar, acreditamos que a situação é transitória ’ ainda que contenha elementos de situação pré-revolucionária ’, que há brechas nas alturas, que o terrorismo islâmico é, para nós que somos marxistas revolucionários, uma expressão marginal extremamente distorcida e monstruosa em seus métodos, de uma burguesia que os EUA querem dominar. Mas também que este terrorismo pode ser um elemento antecipador de fenómenos de classe, e temos que recordar que na historia o terrorismo, inclusive na Rússia, sempre esteve mesclado com os fenómenos de luta de classes.

Neste marco, damos-lhe uma importância muito grande aos processos que se dão entre o proletariado. Na Argentina, as ocupações de fábricas, as experiências de Zanon e de Brukman, recorreram a vanguarda não apenas nacional, mas de setores da vanguarda européia e norte-americana. Durante a visita que fizeram à Itália os operários de Zanon, centenas de pessoas se inteiraram destes acontecimentos. Mas estes eram fatos relativamente isolados e pequenos. O que estamos discutindo é que começa a se desenvolver processos operários mais importantes. Se for assim, será a hora de que nossos grupos e partidos avancem qualitativamente na reconstrução de um partido mundial da revolução social, que para nós é a Quarta Internacional.

A luta pela reconstrução da Quarta Internacional

Toda a discussão da conferência esteve centrada em que temos que preparar essa organização revolucionaria internacional. Quero referir-me brevemente a uma polêmica histórica ao redor da construção da Quarta Internacional. Na discussão de Trotsky com Pivert, que era um dirigente da ala esquerda do Partido Socialista Francês ’ que liderava uma fração de operários revolucionários que Trotsky denominava de “centro” ou centrista ’, Pivert disse a Trotsky que em nível nacional se podia construir um partido pero que a Quarta Internacional era prematura porque não estavam dadas as condições para a sua fundação (...) Trotsky lhe responde que para um centrista como Pivert é totalmente natural construir um partido nacional como o que ele que acabava de fundar; mas que para construir um internacional põe milhares de condições.

Quem teve razão, Trotsky ou Pivert? Um pragmático diria que Pivert. Mas para nós, que não somos pragmáticos, mas sim marxistas, Pivert e todos os outros que diziam ser prematura a fundação da IV Interna-cional se equivocaram. (...)

Trotsky contra todos os que lhe diziam que “não estavam dadas as condições” , funda em 1938 a Quarta Internacional. Se hoje podemos seguir falando de trotskismo é devido a esse acerto histórico que, se medido pragmaticamente foi um fracasso retumbante, mas que historicamente permitiu a única continuidade, relativa e débil, mas continuidade ao fim, para que o proletariado não tenha que começar do zero.(...)

Há muitas organizações que se reclamam como parte do movimento trotskista e que não falam da Quarta Internacional. Cremos que isso é um grave erro (...) que não há tarefa imediata mais importante que por de pé a Quarta Internacional. Quer dizer, começar a construir essa organização que não seja a somatória de partidos nacionais nem de nenhuma tendência. Nós somos uma tendência, mas lhes adianto algo que vamos discutir nas resoluções. Discutimos na Conferência mudarmos nosso nome, para passar a nos chamar como Fração Trotskista-Quarta Internacional, FT-QI, para indicar a relação que há entre o nosso caráter de tendência atual e nosso objetivo de trabalhar dia a dia, através de Comitês de Enlace, através de fusões, através das quais avancemos na reconstrução da Quarta Internacional e de fortes partidos marxistas revolucionários, quer dizer, trotskistas, em nível de cada um dos países. Nesse sentido temos nos dirigido e solicitado fraternalmente aos companheiros do MRCI que venham a esta reunião, e que tomem a palavra, se os companheiros que vieram como observadores quiserem falar. Lamentavelmente nós não fomos convidados para a reunião do MRCI, mas acreditamos que devemos discutir com todo aquele que lute por reconstruir a Quarta Internacional como damos passos em comum.

Nós temos discutido um método, que é criar Comitês de Exploração com grupos com os quais tenhamos menos acordos, e Comitês de Enlace com pratica comum com os que tenhamos acordos mais importantes, com boletins de discussão em vários idiomas, onde haja não só uma teoria comum como também uma prática comum. Temos defendido isso há anos, não acabamos de inventar tal política nesta Conferência, para ver quais passos se podem dar para avançar na reconstrução da Quarta Internacional. (...) E para avançar nesse processo temos discutido como estabelecemos métodos e bases principistas para fazer política dirigida a todas as alas do movimento trotskista, e sobre tudo às que não tendam ao reformismo, como é o caso do Secretariado Unificado, que se denomina como Quarta Internacional, mas tem um ministro no governo burguês de Lula no Brasil. Trata-se do ex-camarada e atual Sr. Rossetto, que está nada mais nada menos que no Ministério de Desenvolvimento Agrário negociando, e reprimindo os companheiros do Movimento Sem Terra quando não vão bem as negociações.

Vamos propor a todas as correntes do movimento trotskista, a realização de uma grande campanha em defesa do princípio antiministerialista, que estabeleceu o velho Engels quando Millerand entrou em um governo burguês no momento de fundação da Segunda Internacional. E esse princípio, defendido pela Terceira Internacional e pela Quarta, demonstra que o SU está evoluindo lamentavelmente no terreno do reformismo. E também, os companheiros do Progetto Comunista o conhecem na Itália, onde a ala de Livio Maitán do SU é parte da direção do Rifondazione Comunista, um partido reformista que rompeu com a coalizão de Olivo, e que tem em sua direção um homem das altas finanças como Prodi, por diferenças sobre o orçamento, e agora está se preparando para um novo acordo de governo com Olivo. Por isso temos dito que os quatro pontos que levantados pelos companheiros do MRCI nos parece uma condição necessária, ainda que não suficiente, para refundar a Quarta Internacional. Porque não é só um problema de três ou quatro pontos, senão uma questão de prática em comum e de que estejamos dispostos a que outros revolucionários critiquem nossa própria prática. (...)

BRASIL
Val Lisboa ’ Dirigente de ER-QI

Temos tido uma intensa jornada de discussão durante a nossa Conferência... Estou orgulhoso de estar aqui junto a companheiros de outros países discutindo como reconstruir a Quarta Internacional... No Brasil, onde o governo de Lula aplica os planos contra os trabalhadores, começa a resistência. Isto começou a provocar uma queda na popularidade do governo. Setores de vanguarda começam a romper com o PT, o que abriu um importante debate sobre a construção de um novo partido. Estamos participando ativamente nesse debate. (...) Mas também no processo de resistência dos trabalhadores, pois começa a desenvolver-se um fenómeno incipiente, um novo tipo de lutas. Operários de diversas fábricas começam a retomar o método de ocupação de fábricas frente à ameaça de quebra das empresas e demissões.

Nosso grupo começou a voltar suas principais forças para este processo. Numa fábrica, Flakepet, que se situa nos arredores de São Paulo, 143 trabalhadores estão lutando há mais de três meses e colocam a questão da ocupação e do controle operário. Nós estabelecemos uma relação política mais direta com os operários avançados desta fábrica.

Isto mostra o caminho de como uma organização, por menor que seja, pode ligar-se aos trabalhadores buscando fundir o marxismo revolucionário com o mais avançado de nossa classe.

Estou contente porque os jovens de nosso grupo estão se formando como revolucionários, intervindo em processos da classe operária e assumindo a tarefa de lutar pela reconstrução do partido mundial da revolução socialista.

VENEZUELA
Mario Lopez ’ Dirigente da Juventud de Izquierda Revolucionaria

Após uma intervenção sobre o processo de luta de classe na Venezuela o camarada Mario concluiu que: “”¦nós nos originamos como parte de um grupo de companheiros que há um ano e três meses mantém relação e correspondência com os companheiros da FT. Vie-mos como observadores a esta conferência. As discussões que temos feito e as ferramentas políticas que utilizamos, as conseguimos nas elaborações da FT e na revista Estratégia Internacional, e nas discussões com a FT. O que está colocado para nós na Venezuela é dar um salto e tornar mais sérias as relações com a FT, que até agora eram de colaboração política. Isso já não é suficiente e temos colocado a tarefa de iniciar a construção de um grupo marxista revolucionário na Venezuela, que faz tanta falta.”

BOLÃ VIA
Javo Ferreira ’ Dirigente da Liga Obrera Revolucionaria ’ Cuarta Internacional

A grande discussão que estamos colocando se refere a Quarta Internacional, como por em pé o partido mundial da revolução socialista. A partir desse ponto de vista a discussão radica em nossa obrigação, que é construir uma Internacional Comunista. Para construí-la, o central é ver como aplicamos o marxismo revolucionário, as lições que deixaram os últimos 150 anos de luta de classes, com o movimento operário. Então é de vital importância avaliar como está a classe operária, para cumprir a tarefa de fusionar o marxismo, para soldá-lo com o movimento real. (...)

Durante os anos 90 vimos apenas processos de resistência, pelo menos em nosso continente, do movimento camponês, indígena e da classe operária. Era derrota atrás de derrota. Recordo-me quando nos demitiram da fábrica, naquele momento experiências como a da companheira reincorporada da Pepsico Snacks eram impensáveis. Processos como os de Zanon eram uma utopia. (...) Eu e muitos companheiros que estamos aqui despertamos para a vida política nesse cenário de retrocesso, no qual muitos predicavam a morte da classe operária (...).

Em outubro, todos vocês devem ter seguido as notícias, o levantamento foi superior aos três prévios que sacudiram a Bolívia, tirando Sánchez de Losada. Houve uma enorme participação do movimento camponês, dos Aymara, dos setores populares de El Alto, La Paz e todo o país.

Mas diferentemente dos outros três levantamentos houve um elemento novo, que como marxistas devemos levar muito em conta: a intervenção de 800 mineiros de Huanuni. Foi algo muito impactante, ver como esses operários, uma ínfima minoria do ponto de vista numérico, se convertiam em parte da vanguarda, ou começavam a cumprir um papel de guarda operária nos enfrentamentos com o governo.

O levantamento foi um processo de contragolpes sucessivos. Não se produziu, como dizem muitos superficiais, simplesmente porque a COB disse: “Vamos à greve geral” (...). A greve não estava funcionando, havia setores que se somavam, e outros que saíam. O que conseguiu articular o processo de resistência, todos os fenómenos de luta que estavam dispersos, foi o governo com una brutal repressão.

Em 20 de setembro o governo assassina a cinco camponeses em um brutal operativo, generalizando o ódio a todas as comunidades do Altiplano. A greve que não havia sido declarada começava a aparecer no horizonte, produto da repressão.

Declarada a greve geral, em 3 de outubro, a mesma era irregular. Na cidade de El Alto protagonista da insurreição, a greve era acatada até as três da tarde. Logo não havia mais bloqueios e se regularizava o transporte. Na quinta-feira, e isto é extremamente importante para dimensionar a situação, a meia hora da cidade de El Alto se realiza uma assembléia destes 800 mineiros, na qual se discute o que fazer para que a greve funcione, para que o bloqueio nacional de estradas se generalize. Os mineiros discutiram que deveria defender-se uma ofensiva contra as forças de repressão.

O governo havia feito um cerco para evitar que os mineiros chegassem em La Paz. Então estes decidem em assembléia que era necessário chegar a La Paz fosse como fosse. Quando se produz um primeiro enfrentamento caem dois companheiros e dezenas de feridos. Não se consegue romper o cerco. Realiza-se então uma nova assembléia, o velório dos companheiros mortos. Encaminham os feridos ao hospital e dizem, “rapazes...não vamos poder seguir adiante, não há forma de cruzar, a menos que deixemos mais mortos pelo caminho” . Dividiram-se em pequenos grupos, guardaram os capacetes e empreenderam pelos cerros em direção à cidade. Na cidade todos os mineiros se encontraram concentrados havendo burlado o exército. Quando a população de El Alto soube dos mortos de Huanuni, as barricadas se generalizaram (”¦).

A atitude dos mineiros dispostos a atuar como guarda operária, como brigada de choque conseguindo articular, provocando e acelerando o levantamento de El Alto, se localizando inclusive como vanguarda do movimento camponês e logrando revitalizar a COB, algo que não temos visto em duas décadas.

A classe operária começou a se mover, se antes corria para trás, agora começa a caminhar para a frente. Faltam os marxistas revolucionários e para nós, por exemplo, ser parte da FT é um orgulho enorme. Aprendemos muitas coisas, mas o que mais aprendemos nestes anos de delimitação estratégica, programática, e de resistência feroz, no qual o centrismo e toda a esquerda se transformavam em autonomistas, reformistas, antipartido e começavam a criticar o leninismo, foi a ter uma confiança estratégica no papel histórico da classe operária.

A partir desse ponto de vista uma das resoluções que estamos tomando nessa Conferência, é aprofundar, avançar sobre esse rumo, desenvolvendo um trabalho intensivo, a fundo, na classe operária. Creio que esse trabalho preparatório de inserção, e de formar quadros no seio do movimento operário industrial, mineiro no caso boliviano, é o que pode converter-se mais adiante em garantia de triunfo.

MÉXICO
Mario Caballero ’ Dirigente da Liga de Trabajadores por el Socialismo ’ Contra Corriente

No México, após a derrota da greve da UNAM, houve um retrocesso no movimento estudantil e continuou a situação de passividade na classe trabalhadora (”¦). A eleição de Fox significou um desvio das aspirações das massas e até meados de 2003 foram escassos os movimentos que questionaram os planos da burguesia. (”¦) Entretanto, a fins de 2003 se abre uma nova situação, com a multitudinária mobilização operária e popular que em 27 de setembro invadiu as ruas da capital em rechaço à reforma de cobrança fiscal e à privatização da indústria elétrica. Isto não se via há muitos anos. Começou a se generalizar entre os trabalhadores uma mudança, um novo estado de ânimo (”¦).

O governo de Fox teve um desgaste prematuro e recentemente sofreu um novo questionamento com a mobilização dos trabalhadores do Seguro Social, que aglutinou aos trabalhadores pensionistas e os ativos. Este processo não só enfrenta os planos como também a direção burocrática. No último congresso do sindicato, a proposta da burocracia (pactuada com o governo) de liquidar o regime de jubilações não póde ser imposta, graças ao descontento existente (”¦). Estas lutas se dão no marco de uma situação de crise nas alturas, com escândalos de corrupção, que golpearam muito o PRD de Cuahutémoc Cárdenas (”¦).

Se antes o México era um pólo de estabilidade reacionária na América Latina, hoje começa a estar mais “de acordo” com a situação do continente. Nossa organização, que nos anos 90 enfrentou a “maré” do cardenismo e que soube levantar uma política revolucionária na greve da UNAM, fusionando a LTS-CC com jovens revolucionários que abraçaram o programa trotskista, tem colocado como os outros grupos da FT, a necessidade de nos aproximar e tentar confluir com os trabalhadores, para que avancem em direção a posições classistas e revolucionárias.

CHILE
Alejandro ’ Dirigente de Clase contra Clase

A situação da luta de classes no Chile vem mudando nos últimos meses (...).

Até meados de 2002, existia uma situação totalmente reacionária (”¦) mas a partir de 2003 se deram experiências de irrupção da classe operária, como foi a paralisação nacional de 13 de agosto, a primeira em nível nacional há mais de 25 anos, protagonizada não só pelos trabalhadores de serviços, como também por um setor da classe operária industrial. Isso expressou, um início de recomposição da classe operária chilena, ainda que hoje seja ainda nos marcos da luta sindical contra o ataque do imperialismo e do governo.

A paralisação nacional foi convocada pelo PC, que está tratando de se relocalizar, pressionado pelo giro a esquerda de setores da classe operária. Nosso grupo participou ativamente na coordenadora operário-estudantil com trabalhadores classistas, dando uma luta para que a paralisação tivesse um caráter mais progressivo, votando um plano de reivindicações não somente econó-micas como também políticas (”¦)

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