Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

Patrões iniciam plano de demissões para que trabalhadores paguem a crise

04 Aug 2003   |   comentários

Em junho passado, dirigentes empresariais ameaçavam com milhares de demissões com o argumento de que a crise económica se aprofundava e a recessão e os juros altos impediam a reativação da produção. Nesse momento essas ameaças apareciam como uma chantagem patronal para exigir que o governo diminuísse as taxas de juros e apresentasse medidas que favorecessem a reativação económica.

Juntamente com os patrões diversos dirigentes sindicais, como Luiz Marinho, da CUT, e Paulinho Pereira, da Força Sindical, faziam coro com a patronal com o discurso de que a crise recessiva vem afetando tanto os trabalhadores quanto os patrões. Mais uma vez vimos esses burocratas sindicais unidos com os empresários na defesa dos interesses patronais - custos menores na produção, incentivos governamentais para os empresários, garantia dos lucros. Assim é que procuram enganar os trabalhadores com a mentira de que a crise económica, criada pelos próprios capitalistas e seus diversos governos de turno, afeta igualmente patrões e trabalhadores.

Esses burocratas sindicais querem acobertar a verdade crua: as crises económicas capitalistas vão e vêm, mas empresários se utilizam de todos os meios para manter suas margens de lucro, ganhando sempre.

Hoje, com os milhares de trabalhadores em férias coletivas obrigatórias e com contratos suspensos, e a efetivação de milhares de demissões, já não podemos mais falar que as ameaças patronais eram apenas uma chantagem para obter vantagens do governo. De fato, há um plano patronal para safar-se da crise recessiva aprofundada pelas medidas do governo Lula em defesa do acordo com o FMI. Os empresários lançam uma ofensiva com demissões, suspensões de contrato (lay off), redução de salários etc. como um plano definido para preservar seus lucros e arrancar vantagens durante a crise económica.

A Volkswagen e a General Motors, nas ultimas semanas lançaram um plano de demissões de 4.500 trabalhadores. Na Volkswagen pretende-se realo-car 3.933 trabalhadores considerados excedentes para uma nova empresa chamada Autovisão, que requalificaria esses trabalhadores para abrir novos negócios, perdendo, efetivamente, os postos de trabalho na montadora.

Depois de anos de demissões homologadas em acordos com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC dirigido pela Articulação Sindical que mentia que esses acordos garantiriam o emprego e ajudariam a empresa nas crises, a Volks-wagen, agora, decide demitir milhares de trabalhadores mesmo existindo um acordo assinado que lhes garante a estabilidade no emprego ate 2004 (Tau-baté) e 2006 (ABC). Os operários da Volkswagen aprovaram em assembléias que não estão dispostos a aceitar mais demissões.

Como se vê, os pactos entre os burocratas sindicais e os empresários só resultam em mais demissões e lucros patronais.

Lutar contra o plano patronal e barra as demissões

Durante a década de 90 fomos bombardeados com o discurso dos burocratas sindicais de que não havia possibilidade de combater as demissões, as flexibilizações e as perdas salariais, pois os trabalhadores estavam na defensiva e os diversos ciclos de crise económica estreitavam as margens de resistência e conquista para os trabalhadores. Foi assim que os burocratas sindicais da CUT, da Força Sindical e demais centrais e sindicatos conseguiram impedir que os trabalhadores lutassem contra os ataques patronais e, com isso, impuseram os acordos e pactos que homologavam os planos patronais, mentindo que assim se poderia garantir o emprego. O elevado nível de desemprego no pais desmente cabalmente essa farsa dos burocratas que tudo fizeram para se tornarem parceiros dos empresários num plano capitalista negociado com o imperialismo.

No próprio ABC os acordos entre sindicato e patrões demonstram que milhares de empregos se perderam junto com o rebaixamento salarial e a flexibilização da jornada de trabalho e dos direitos trabalhistas. E as crises económicas, que eram a desculpa para esses acordos, seguiram seu curso cada vez mais degradante para a existência dos operários e do povo pobre, enquanto os empresários elevaram seus lucros e fomentaram seus negócios.

Os burocratas sindicais mentem aos trabalhadores para defender os interesses dos patrões.

Os trabalhadores brasileiros já deram várias demonstrações de que têm forças para lutar contra o plano patronal, bar-rando as demissões e avançando num plano que garanta emprego e salário para todos. O empecilho, aqui, são as direções burocráticas que devem ser superadas com uma política classista e combativa.

Unir e coordenador empregados e desempregados para garantir emprego e salário para todos

Está na ordem do dia a organização de um movimento nacional em defesa de um plano operário contra a crise capitalista que tende a se aprofundar, trazendo mais demissões e ataques aos direitos.

Nesses próximos dias inicia-se a Campanha Salarial Unificada dos Metalúrgicos de São Paulo filiados à CUT, reunindo mais de 300 mil operários de diversas cidades, como parte de uma Campanha Unificada de diversas categorias.

O PSTU e as correntes da esquerda da CUT dirigem e participam, nas principais cidades do país, de muitos e importantes sindicatos, como metalúrgicos de São José dos Campos, Campinas, Limeira, Apeoesp, associacões de docentes e sindicatos de funcionários das universidades.

Por isso, podem e devem tomar em suas mãos a tarefa de constituir um movimento combativo e democrático que reúna esses milhares de operários, das milhares de fábricas e das diversas categorias para convocar um Congresso Estadual, na perspectiva de um Congresso Nacional, com delegados eleitos nas fábricas e locais de trabalho para discutir e aprovar um plano operário contra a crise económica capitalista em defesa de Emprego e Salário para todos, contra as demissões, suspensões e férias coletivas, distribuição das horas de trabalho entre empregados e desempregados para que todos trabalhem, salário desemprego até que se conquiste essa demanda, aumento salarial de acordo com o aumento do custo de vida, defesa das revindicações dos sem terras, sem teto e servidores públicos, entre outras reivindicações que unifiquem empregados para lutar contra as crises económicas capitalistas, deixando de negociar o "possível", pois o possível nesse sistema capitalista é mais demissão, arrocho salarial e flexibilização.

Se é verdade que a direção burocrática da CUT, junto com a Força Sindical e demais centrais, defendem os planos do governo e da patronal e são, com isso, um obstáculo para a unidade dos trabalhadores, também é verdade que o PSTU e a esquerda da CUT têm uma enorme responsabilidade perante a classe trabalhadora.

Está na hora de a esquerda e o PSTU assumirem a responsabilidade de convocar os trabalhadores de suas bases sindicais, tomando a iniciativa para unir e coordenar empregados e desempregados, superando as divisões corporativas de sindicatos, organizando democrática e soberanamente os delegados representantes diretos das fábricas para dar consistência a um movimento que atraia milhões de trabalhadores e desempregados para lutar contra o plano patronal e governamental e obrigar que sejam os capitalistas os que devam pagar, com impostos, diminuição de lucros e garantia de emprego os efeitos das crises económicas criadas em nome do lucro e da especulação.

Contra as demissões e o plano patronal, greve e ocupação das fábricas para defender o emprego

Contra esse plano patronal os trabalhadores devem responder com um plano de ação combativo que proponha: contra as demissões, férias coletivas forçadas e suspensões impor a greve em todas as fábricas! Os únicos verdadeiramente interessados na produção das empresas são os trabalhadores e não os patrões que especulam com a produção ao bel prazer de seus lucros.

Os capitalistas mentem ao falar de crise, escondendo seus fabulosos lucros para que os trabalhadores paguem a crise. Abertura da contabilidade das empresas para desmascarar seus lucros e mostrar que a mínima parte da produção é suficiente para garantir emprego, salário e ainda ter rentabilidade!

Se os patrões resistem os trabalhadores devem atacar onde realmente dói - na propriedade capitalista: ocupar as fábricas e colocá-las para produzir sob controle operário, diminuindo as horas de trabalho para garantir emprego, lutando pela estatização da empresa!

Não se pode perder tempo! Deve-se aproveitar que as forças dos trabalhadores ainda estão preservadas para avançar na unidade e coordenação em torno de um plano real de defesa do emprego.

Os trabalhadores saberão responder com firmeza e decisão se os dirigentes sindicais de esquerda se elevarem ao posto de dirigentes combativos contra o plano patronal e governamental acordado com o imperialismo, apresentando uma alternativa, classista, combativa e democrática, à estratégia conciliadora e pró-patronal dos burocratas sindicais.

Ou, então, os trabalhadores caminharão de derrota em derrota à mercê da catástrofe social que mais cedo ou mais tarde virá como coroamento da crise económica que os capitalistas procurarão solucionar lançando milhões na miséria e no desemprego, como vimos na Argentina.

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