Domingo 28 de Abril de 2024

Cultura

OPINIÃO

O ataque do PSDB a TV Cultura: Mais um ataque da burguesia para a brutalização da vida

29 Aug 2010   |   comentários

“Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre” (Plínio Marcos)

Programas como SrºBrasil, Viola minha Viola, Castelo Rá-tim- Bum, Roda Viva, Manos e Minas, Ensaio e as exibições dos documentários musicais da TV Cultura podem estar com os dias contados. Graças a um homem chamado João Sayad, ex-secretário de cultura do governo Serra e atual presidente da Fundação Padre Anchieta que dirige a emissora. Os planos são de redução drástica de 80% dos funcionários o que significa o sepultamento da emissora e cerca de 800 funcionários na rua. Segundo o blog R7, “A TV Cultura tem hoje um orçamento de cerca R$ 230 milhões. Desse total, R$ 50 milhões vêm da venda de espaço nos intervalos dos programas para anunciantes privados. Outros R$ 60 milhões são oriundos da prestação de serviços, como é chamada na emissora a produção de programas e vídeos para instituições como o Tribunal Superior Eleitoral, a Procuradoria da República, a TV Assembléia (do Estado de S.Paulo) e a TV Justiça.” [1]

Ou seja, o governo desembolsa com a TV míseros 110 milhões de reais, o que nada significa para um estado com o maior PIB do Brasil, apenas isso já mostra a falta de interesse do Governo em manter de fato uma emissora estatal que possa se diferenciar das privadas, deixando ela a mercê dos comercias que tem um efeito pernicioso na programação. Não à toa o jornalismo da Cultura segue a mesma linha das grandes emissoras, quando as lutas dos trabalhadores ganham algum destaque nunca abre seus telejornais para expressar a voz dessa classe. Não é uma emissora que está a serviço da cultura e dos trabalhadores, não é a voz dos que não possuem voz para que possam se expressar livremente, ao contrário, sabemos que esse jornalismo burguês, mesmo na emissora estatal, é o que não dá voz nem se responsabiliza pelos inúmeros funcionários da própria emissora. O que sim tem espaço são os mesmos que hoje querem fechá-la.

Mesmo apesar disto esta emissora se destacou há anos em programas musicais. Tanto é assim que os excelentes programas como Viola Minha Viola, Ensaio, E Srº Brasil são feitos muito mais graças aos funcionários e os apresentadores, pessoas intimamente ligadas a divulgação e a preservação da música brasileira, tornando-se um respiro em meio as programações da TV aberta, resistindo a pressão do esquecimento de músicos como Geraldo Filme, Germano Mathias, Pena Branca e Xavantinho e tantos outros mestres que propositalmente são relegados ao ostracismo cultural.

João Sayad, que segundo a reportagem de Luis Nassif [2], quando contestado por funcionários(em reunião que ele encerraria o programa Ensaio argumentava que o mesmo estava ultrapassado) disse que nada sabia sobre cultura e música, que era apenas um economista acostumado a planilhas e calculadoras, ao que respondeu um funcionário: nós aqui dos programas musicais estamos acostumados com sonhos, música e sentimentos. E a gente se espelha não em números, mas nesse senhor aqui do lado, que se chama Fernando Faro. Sayad pergunta: Quem? O responsável pela TV Cultura desconhece Fernando Faro, o diretor e idealizador do Programa Ensaio, o mais importante já feito na história da TV sobre música brasileira encerrado por Sayad.

O programa símbolo da TV brasileira, que documentou a música brasileira ao longo de tantas décadas foi julgado e condenado... pelo Sayad. Que nem sabia quem era Faro e o que representa o Ensaio.” [3]

Em um país onde mal conhecemos os nomes importantes de nossa música, onde os documentários mal tem espaço nas TV seja aberta ou fechada, a TV Cultura mesmo com todas as suas limitações cumpria um papel importante, porém o governo e a burguesia quando quer justificar a baixa audiência dos programas da TV Cultura culpa o povo, alguns de maneira mais fascista defendem que não adianta jogar pérolas aos porcos. Isso não passa de um cinismo conveniente que busca esconder a verdadeira face da burguesia, a que brutaliza milhares e milhares de trabalhadores os colocando em jornadas de trabalho enormes, os terceirizando, colocando em banco de horas e lhes dando apenas um salário que sirva para pagar as contas e continuar a reprodução da sua vida como tal, não rouba apenas o fruto de trabalho, lhes roubam também o seu tempo social os impedindo de se auto-construir e para seus filhos manda cartilhas para escola pública que visa nada mais nada menos que um proletariado disciplinado.

Esses cínicos estendem a brutalização da fábrica para o lar, os enchendo com milhares de realities shows, novelas e programas para jovens com o objetivo de formar novos consumidores, e muitas vezes rir da miséria como o “Pânico”, pois é o objetivo da TV atender os patrocinadores, afinal, são eles que pagam as contas, e enquanto fazem tudo isso olham na cara do povo e dizem: É vocês que não querem cultura!

E mesmo enfrentando toda esses dificuldades, há muitos setores populares que viam esses programas e a TV Cultura como única alternativa na programação. A burguesia não tem interesse nenhum em preservar a cultura e a arte, quando muito a encara como artigo de luxo para consumo próprio, mas tem consciência do potencial humanizador podendo fazer com que aqueles que essa cínica burguesia relega a brutalização e a alienação da fábrica, passem a se incomodar com a mediocridade da vida, e comecem a procurar os verdadeiros culpados por esse estado em que não somente a classe operária se encontra, mas toda a sociedade.

Por isso a tarefa de manter vivo o nome de pessoas como Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro, Plínio Marcos, Germano Mathias, Ranchinho e Alvarenga, Itamar Assumpção, Luis Gonzaga, Patativa do Assaré, e Aniceto do Império e de tantos outros que se configuram como a expressão mais legitima de um povo não pode estar nas mãos da burguesia, sequer a cultura burguesa da época revolucionaria, mas sim dos trabalhadores, dos artistas e dos estudantes, e hoje tem de estar na mão dos funcionários e apresentadores da TV Cultura. Pois como disse sabiamente e corajosamente um dos trabalhadores da cultura “O senhor é um economista, acostumado com calculadoras e planilhas. Nós aqui dos musicais estamos acostumados com sonhos, música e sentimentos. E a gente se espelha não em números, mas nesse senhor aqui do lado, que se chama Fernando Faro.” São esses que hoje podem melhor contribuir para elevar o nível cultural do povo.

E como diria Maiakovski, um operário da cultura:

’’Chega

de chuchotar

versos para os pobres.

A classe condutora,

também ela pode

compreender a arte.

Logo:

que se eleve

a cultura do povo!

Uma só,

para

todos.

O livro bom

é claro

e necessário

a vós,

a mim,

ao camponêse ao operário.’’

(Tradução de Haroldo de Campos)

[3Idem

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