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Reuni e Universidade Nova: um plano da burguesia para as universidades!

08 Nov 2007   |   comentários

As mobilizações estudantis nas Universidades Federais contra o REUNI são mais uma demonstração de que surge um novo movimento estudantil, que reage aos ataques de uma reforma universitária que visa readequar o sistema de ensino superior para melhor atender os projetos estratégicos da burguesia.

O ensino superior do Brasil hoje, público ou privado, é extremamente elitista, abrangendo 3,22% da população total brasileira [1]. Qualquer reflexão sobre a universidade não pode escapar destes dados, pois há uma pressão, ainda que passiva, por parte da população pelo acesso à educação. Por isso, para isolar os movimentos de resistência, os governos sempre implementam os ataques combinados com um discurso de “democratização” do ensino superior.

O Reuni é uma expressão desta combinação de ataques e retórica. Concebido a partir do projeto Universidade Nova, elaborado pelo Reitor Naomar da UFBA, via de Decreto de Lula, se estende para todo país. Inspirado nas universidades européias busca transformar as universidades em instituições formadoras de mão de obra de forma mais rápida e direcionada, criando grandes ciclos básicos de ensino.

Vejamos o que afirma Naomar: “A idéia de estudos superiores de graduação de maior amplitude e não comprometidos com uma profissionalização precoce e fechada, bem como maior integração entre esses estudos e os de pós-graduação, já é realidade em muitos países social e economicamente desenvolvidos. O processo europeu de Bolonha é um exemplo eloqüente dessa concepção acadêmica que, por força das demandas da Sociedade do Conhecimento e de um mundo do trabalho marcado pela desregulamentação, flexibilidade e imprevisibilidade, certamente se consolidará como um dos modelos de educação superior de referência para o futuro próximo” [2].

O cinismo não poderia ser maior. Trata a sociedade como mera abstração, como se as condições de trabalho precarizado existissem como mágica, e não como uma resposta da burguesia tem que recorrer à superexploração para manter sua taxa de lucro.

Para convencer, Lula combina isso à promessa de ampliação das vagas e verbas. Sabemos que estas ampliações estão combinadas com uma precarização ainda maior do ensino, basta olhar a verba que será destinada às universidades para esta ampliação. A minoria dos universitários estão nas universidades públicas ’ sendo estas responsáveis por 93% da pós-graduação e 97% das pesquisas científicas [3], enquanto as instituições privadas são responsáveis pela formação da maioria da força de trabalho semiqualificada do mercado.

Mas as particulares são empresas capitalistas. Se a euforia do ensino privado parecia ter diminuído com as recentes crises, principalmente na questão da inadimplência, o Prouni de Lula e as recentes fusões e a financeirização das privadas dá um novo gás em sua sede pelo lucro. É o que podemos ver agora na Universidade Estácio de Sá, que abriu seu capital na bolsa de valores e já conseguiu 447 milhões de reais, assim como a Anhanguera que em 6 meses na bolsa captou 512 milhões. Mas para se manterem valorizadas precisam de alunos pagantes, salas lotadas, professores mais baratos e todas as facilidades para que esses estudantes se formem o mais rápido possível, para se tornarem atrativas e mais competitivas, não importando a qualidade do ensino.Assim, há uma divisão de trabalho entre as universidades públicas e privadas: as primeiras, até hoje se concentraram na produção de conhecimento para o capital e mão de obra qualificada; as privadas, maior formadora de mão de obra semiqualificadas.

Para alguns setores da burguesia esta divisão está gerando crise, pois há insuficiência na mão de obra qualificada: “O Brasil está travado: falta emprego e sobram vagas. Muitas empresas enfrentam dificuldades para contratar eletricistas, soldadores, mecânicos e técnicos de outras áreas. A menos que tomem suas próprias providências, as poucas empresas ora em construção vão esbarrar com o problema da falta de mão-de-obra qualificada assim que ficarem prontas. E isso acontece em um país que cresce míseros 3%. Imaginem o desastre quando o Brasil crescer 5% ou 6%. Uma reforma do sistema educacional terá de contemplar quantidade e qualidade. Por isso, temos de melhorar a qualidade dentro desse quadro” [4].

É neste marco que entra a universidade nova, com discurso demagógico de que o ciclo básico é necessário pois os jovens entram cedo na universidade e não estão preparados para o que querem. Porém, é possível se ler também no projeto que apenas os melhores e mais conceituados estudantes poderão seguir para o ciclo de graduação, ou seja, o vestibular das públicas, funil eficaz da elitização, será agora realizado em 2 ou 3 anos. E no final das contas, este funil acaba se apertando ainda mais, pois as vagas das especializações diminuem. Alarga-se a base da pirâmide, para espremer ainda mais o seu topo.

Naomar e o governo Lula tentam colocar a crise da universidade e suas saídas como um problema pedagógico. Porém, a questão mais de fundo está em mudar a universidade para atender melhor a burguesia: tornar o conhecimento ainda mais voltado para o capital e dividir com as privadas a formação da mão-de-obra qualificada.

[1São 2.141 instituições de ensino superior privado, reunindo 4,4 milhões de estudantes; e 257 públicas com 1,4 milhões, menos de 1% da população.

[4António Ermínio de Moraes, Folha de São Paulo 27/11/2006

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