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Homossexualidade e Revolução Permanente

29 Aug 2010   |   comentários

Publicamos abaixo texto de Andrea D’Atri, dirigente nacional do PTS argentino e militante do grupo de Mulheres Pão e Rosas, em resposta a texto publicado no jornal Pagina 12, da Argentina.

No início de agosto, a jornal argentino Página/12 publicou um artigo de Gabriel Rot, intitulado “A revolução e a homossexualidade”. Rot, historiador da guerrilha argentina polemizava com o escritor Marcelo Birjamer, que na entrevista “Aqui está proibido falar bem da classe média”—publicada no mesmo jornal—, fazia referência à repressão da homossexualidade nos exércitos guerrilheiros. Andrea D’Atri retoma este debate, para expor as diferenças entre o socialismo revolucionário com o stalinismo e a ideologia preponderante nos movimentos guerrilheiros em relação à homossexualidade.Transcrevemos aqui a coluna que foi enviada ao jornal Página/12, com pedido de publicação

Em 1885, quando o escritor homossexual Oscar Wilde foi condenado a trabalhos forçados por indecência, a voz dos marxistas se alçou em sua defesa. Bernstein, do partido Social Democrta Alemão, escreveu que a homossexualidade não podia ser perseguida como algo anti-natural dado que, na atividade humana, nada é natural; que as opiniões sobre o que é ou deixa de ser natural são históricas, ou seja, refletem o nível de desenvolvimento da sociedade. Denunciava, também, que considerar a homossexualidade como uma doença era outra forma de moralismo.

Depois, foi o deputado operário Bebel quem propôs revogar a reacionária lei que perseguia os homossexuais na Alemanha.

Em 1921, o médico Magnur Hirschfeld organiza o Encontro Internacional para a Reforma Sexual, reunindo cientistas do mundo inteiro colocando como exemplo a legislação Russa- soviética. A Revolução proletária havia eliminado as leis repressoras czaristas em relação à homossexualidade por ser “contraditórias com a consciência e a legalidade revolucionária”.

Enraizado na única classe progressiva da sociedade capitalista, o socialismo revolucionário sempre esteve à vanguarda contra os preconceitos moralistas e reacionários, abandonados pela igreja no terreno fértil do atraso do campesinato. A reação posterior contra a revolução, empreendida pela casta burocrática stalinista, contudo, criminalizou a homossexualidade, assim como sob o czarismo. As revoluções chinesa e cubana também perseguiram os homossexuais.

Partindo destes pressupostos, não se trata de “um gravíssimo erro de quase todas as guerrilhas” como afirma Gabriel Rot em seu debate com Marcelo Birmajer. Lamentavelmente, os movimentos guerrilheiros reproduziram, acriticamente, essa moral pequeno burguesa baseada no atraso das massas camponesas, sustentada pelo stalinismo— totalmente alheia a tradição do marxismo revolucionário que, muito antes dos anos 70, havia eliminado a homossexualidade da lista de perversões, doenças ou crimes.

De acordo com Birmajer “Sarkozy é muito mais progressista e de esquerda”. Não poderia se esperar outra coisa de um liberal que defende os crimes do estado de Israel contra o oprimido povo palestino, entre outros. No entanto, Rot replica apenas que é comum deslegitimar “qualquer projeto revolucionário pelas graves irregularidades experimentadas durante o próprio processo.” Nós não consideramos que, em uma revolução que se considera socialista, seja apenas uma “irregularidade” a perpetuação das opressões herdadas. Esses crimes, cometidos em nome do socialismo, são os que permitem que liberais como Birmajer embelece as democracias imperialistas que cooptaram os movimentos de luta contra a opressão sexual, que viram-se, por sua vez, cada vez mais distanciados de uma aliança com o movimento operário na luta por uma mudança radical da sociedade.

Trotsky, dirigente ao lado de Lênin da Revolução Russa, assinalava que um dos aspectos essenciais que caracteriza uma revolução socialista é a metamorfose que, após a tomada do poder e mediante luta interna constante, engloba o conjunto das relações sociais: “as revoluções da economia, da técnica, da ciência, da família, dos costumes, dissolvem-se em uma complexa ação recíproca que não permite que a sociedade alcance o equilíbrio.”

As classes dominantes preferem a estabilidade e o equilíbrio. Desta mesma forma, as burocracias que, em nome da revolução, roubam das massas seu protagonismo. A revolução, entretanto- e o marxismo revolucionário—não admite equilíbrios convulsiona tudo. É por isso, que é inimiga dos preconceitos sustentados pelas classes dominantes e as camarilhas parasitárias da revolução.

1 - Ver “La revolución y la homosexualidad”, Gabriel Rot, Página/12 del 30/07/10 em resposta a “Aquí está prohibido hablar bien de la clase media”, entrevista a Marcelo Birmajer, Página/12 del 26/07/10.

Traduzido por Camila Radwanski

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