Quarta 1 de Maio de 2024

Movimento Operário

LUTA CONTRA A REPRESSÃO NA USP

“É hora de colocar de pé uma ampla campanha contra a perseguição aos lutadores e lutadoras”

14 Aug 2010   |   comentários

Entrevistamos Patrícia Alves, trabalhadora da FFLCH que está sofrendo perseguição política da Reitoria com a pena de 30 dias de suspensão e Diana Assunção, representante dos trabalhadores da Faculdade de Educação no Comando de Mobilização e dirigente da LER-QI.

JPO: Há anos têm se acumulado dezenas de processos contra estudantes e trabalhadores que lutaram nas greves. O ponto máximo foi a demissão de Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP. Agora, logo após a greve de 2010, o Reitor puniu a companheira Patrícia com 30 dias de suspensão. Vocês podem explicar o que é esta punição?

Patrícia: Desde 2006 eu trabalhava na Reitoria e nunca tive nenhum tipo de ocorrências ou problemas no meu local de trabalho. Acontece que o ano de 2007 foi cruzado por uma importante ocupação estudantil na Reitoria, que em seguida contou com a adesão dos funcionários. Eu participei desta luta, junto a centenas de estudantes e trabalhadores, contra os decretos do governador José Serra, que buscavam avançar na privatização da universidade, como parte de um projeto para todo o ensino público do estado de São Paulo. Alguns dias após o fim da ocupação iniciaram-se as perseguições e os registros de todas as “ocorrências” forjadas artificialmente contra a minha pessoa dentro da Reitoria, ou seja, trata-se de uma clara retaliação política contra uma funcionária que participou do movimento grevista em 2007.

Diana: Já está evidente que se trata de uma perseguição política. Inclusive, analisando o processo aberto contra a companheira Patrícia pode-se verificar uma série de datas “desencontradas” que expressam um processo “montado” posteriormente, e de forma policial, para incriminar a companheira, alegando todo o tipo de absurdidades sobre seu trabalho. Também se “denuncia” que Patrícia teria defendido um trabalhador terceirizado que estava sendo acusado de displicência, além de ter, durante o período de eleições do Sindicato, distribuído panfletos para a chapa 1.

Patrícia: Sim, construíram um dossiê em forma policialesca para criminalizar uma das pouquíssimas funcionárias da Reitoria que ousou participar do movimento que lutava contra os decretos do Serra e a privatização da universidade. A pena de 30 dias é por conta disso, e vem neste momento porque apesar do processo administrativo que abriram contra mim no final de 2007, permaneci na luta junto a todos os companheiros, participando ativamente da greve de 2009 e agora da greve de 2010, atuando diretamente no comando de greve.

JPO: Vocês acham que essa punição expressa uma nova ofensiva da Reitoria e do governo?

Diana: Sem dúvidas. Para nós, se trata da “ponta de lança” de uma série de ataques que ainda virão. Soma-se a esse caso extremo a perseguição a diversos diretores do SINTUSP, como Neli, Brandão, Magno e Solange que também após a greve de 2010 receberam intimação de 11 inquéritos, além de outros diretores como Zelito e Aníbal que também estão com processos administrativos. A Reitoria, não satisfeita, também tem processado cerca de 15 estudantes, e desferido uma série de multas contra o Sindicato.

Patrícia: O próprio Rodas dizia que era preciso acabar com essa forma de “sindicalismo”, que não acontecia em nenhum outro Sindicato do país. Com todos esses ataques, que se somam à medida inconstitucional de demissão do Brandão, busca intimidar o movimento e demonstrar à base da categoria que aqueles que se colocam à frente das lutas serão punidos, numa tentativa clara de impedir a organização dos trabalhadores, por isso, no Comando de Mobilização caracterizamos estes fatos não apenas como perseguição política, mas também como um ataque a organização dos trabalhadores da USP.

JPO: Há alguma relação entre todos estes ataques contra os ativistas do Sindicato e a luta contra a privatização da universidade?

Diana: Como dizíamos o governo do Estado que colocou na USP um interventor chamado João Grandino Rodas, tem um projeto de privatização da universidade. Há anos este projeto vem tentando ser implementado, e o principal obstáculo que vem encontrando são os movimentos de resistência dentro da universidade. O Sintusp, com os ativistas que compõe o Comando de Greve e a base da categoria, tem sido o principal foco de resistência a estes projetos, utilizando-se dos mais combativos métodos da classe trabalhadora para enfrentar seus inimigos, aliando-se a setores de estudantes, professores e intelectuais que se colocam no campo contrário à privatização. Ao mesmo tempo, essa força se expressou nas outras universidades estaduais paulistas, com estudantes combativos na Unesp que se colocaram em defesa dos trabalhadores e o surgimento de uma Oposição à burocracia sindical do PCdoB na Unicamp, que foram fundamentais para a manutenção desta greve.

Patrícia: É neste sentido que podemos dizer que os ataques que hoje desferem contra mim e todos os outros que estão sendo processados é um ataque contra os que resistem ao projeto de privatização, e, portanto é fundamental que o conjunto da comunidade universitária enxergue na defesa destes companheiros a continuidade desta luta pra derrubar os muros da universidade impondo o fim do vestibular, a incorporação imediata aos quadros da USP de todos os terceirizados sem necessidade de concurso público e para arrebentar a estrutura de poder antidemocrática desta universidade.

JPO: Vocês estão propondo construir uma ampla campanha contra as perseguições. Como seria esta campanha nas outras categorias e na Central Sindical e Popular – Conlutas?

Patrícia: Discutimos no Comando de Mobilização que devemos organizar um Manifesto contra a perseguição aos lutadores e lutadoras, expressando também a nossa defesa do direito de greve, que foi brutalmente atacado no conjunto do estado de São Paulo com o corte de salário em várias categorias em greve, e que aqui na USP conseguimos dar um exemplo impedindo este ataque. Queremos que esse manifesto possa ser assinado pelos setores combativos das outras universidades estaduais paulistas, e também de outras categorias dos serviços públicos, como Metrô, Sabesp, Judiciários e Professores da Rede Estadual, que também travaram importantes lutas nos últimos anos e tiveram trabalhadores demitidos, ativistas perseguidos e assim como nós, sofrem com o avanço da privatização, sem falar dos trabalhadores judiciários que continuam numa duríssima greve muito atacada pelo governo do Estado.

Diana: Consideramos também fundamental que a direção majoritária da Central Sindical e Popular – Conlutas, fundada no Congresso da Classe Trabalhadora, que permaneceu de costas para as lutas que estavam em curso, reveja sua prática política e se coloque à cabeça desta campanha. Exigimos a imediata revogação da suspensão de 30 dias da companheira Patrícia, retirada de todos os processos e inquéritos contra os diretores do Sindicato, estudantes e ativistas. Retirada de todas as multas do Sindicato e imediata reincorporação do Brandão. Nós, que estamos construindo uma tendência político sindical nas universidades estaduais paulistas, queremos colocar todas as nossas forças neste sentido e é por isso também que consideramos que a conformação de chapa para as eleições do SINTUSP neste ano deve manter a unidade entre os setores combativos da categoria e lutando pela unidade de toda a classe trabalhadora.

"Para combater tudo isso só com muita mobilização"

A suspensão da companheira Patrícia é apenas a ponta do ice Berg, se fomos olhar a realidade do mundo, onde alguns lutadores foram assassinados em governo dito popular (Hugo Chavéz), por estarem lutando por seus direitos, melhores salários, educação, saúde, alimentação e etc. Temos que denunciar estes ataques e juntos combater qualquer tipo de retaliação aos movimentos grevistas. Um futuro de recessão, desemprego, miséria e muita fome é o que nos aguardam. Para combater tudo isso só com muita mobilização, trabalhador sempre será o coração da produção, sem trabalho não tem produção, não tem crescimento e muito menos enriquecimento da burguesia. A greve é o único caminho para as condições de vida dos trabalhadores.

Será que teremos que começar a arregaçar as mangas e se preparar para uma crise mundial de grandes proporções onde o FMI e seus pacotes de austeridade que visam o corte do funcionalismo público onde o mesmo pode chegar a casa de 40% a 60%, como está sendo feito em alguns países da Europa (Grécia, Espanha)?

Giba, trabalhador da FFLCH

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