Sábado 27 de Abril de 2024

Internacional

A CATÁSTROFE NO JAPÃO COMOVE O MUNDO

Crise Capitalista, Tsunami e Crise Nuclear

20 Mar 2011   |   comentários

Uma compilação dos artigos de
Eduardo Molina do PTS – Argentina

A crise ainda está em desenvolvimento, porém é evidente que a catástrofe no Japão –junto à crise nos EUA e Alemanha, duas das grandes potências imperialistas- está indicando gerar importantes repercussões na economia e geopolítica mundiais.

Desde sexta dia 11, o povo japonês vive dias terríveis. O terremoto –de 8,9 pontos na escala Richter- e o tsunami que provocou ondas de mais de 10 metros, castigaram o nordeste do país.

As devastadoras conseqüências humanitárias e materiais ainda não foram bem calculadas, porém, já se contabilizam mais de 5 mil mortos e milhares de desaparecidos. Há 600 mil pessoas evacuadas e milhões carecem de água, eletricidade, alimentos, abrigo e aquecimento em meio ao rigoroso inverno.

Crise nuclear

O pior é que os impactos sísmicos e o tsunami causaram danos em várias centrais atômicas produtoras de eletricidade, desatando um desastre nuclear que ao fechamento deste artigo ainda não foi saneado.

Segundo a imprensa, dezenas de trabalhadores e técnicos foram afetados pela radiação. As autoridades devem evacuar mais 185 mil pessoas da zona de Fukushida e distribuir 230 mil doses de iodo como antídoto contra os efeitos radioativos, além de outras medidas.

A crise nuclear é um elemento de primeira ordem no que o primeiro ministro Kaoto Kan reconheceu que “é a pior crise nos 65 anos da pós-guerra”, agravando brutalmente uma situação nacional já complicada pela debilidade econômica e a longa crise política.

Devastação econômica

“Esta é a pior coisa que pôde acontecer no Japão no seu pior momento econômico” afirmou o analista Nouriel Roubini. A economia japonesa vêm de uma longa etapa de estancamento. A pesar dos indícios de recuperação nos últimos tempos, enfrenta dificuldades estruturais como o enorme endividamento (equivalente a 228% do PIB), um déficit fiscal que ronda os 10% do orçamento e tendências deflacionárias que contribuem ao estancamento de sua economia.

Centenas de indústrias e automotrizes como Toyota, Nissan, Honda, Panasonic, Cannon, Sony tem paralisado suas já reduzidas atividades. O racionamento de energia e combustível pode ser prolongado por semanas, os alimentos ficaram escassos e a destruição de casas, campos de cultivo, refinarias, fábricas, infra-estrutura viárias e ferroviárias, portos e aeroportos são imensos.

Segundo primeiras estimativas, as perdas materiais já superam os 100 bilhões de dólares. A derrubada da bolsa de Tóquio e a situação de corporações, bancos e asseguradoras com investimentos comprometidas na área de desastre, tem obrigado ao governo em dispor um fundo de 185 bilhões de dólares para socorrer o sistema financeiro. É possível que a economia sofra uma contração de 2 a 3% do PIB para este ano até que se comecem a falar de planos de reconstrução.

Novo cenário político sob a sombra do desastre

O desastre e principalmente suas seqüelas nucleares, podem significar um duro golpe para o governo e o regime de conjunto. Já antes do terremoto o premiê Kan, do PD (Partido Democrático, centro-esquerdista) contava apenas com 20% de popularidade e apenas nove meses de ter assumido o cargo, enfrentava escândalos por denúncias de doações ilegais que haviam derrubado seu ministro de relações exteriores e o golpeava pessoalmente, enquanto a oposição exigia a dissolução do Parlamento e eleições antecipadas.

Desde sexta dia 11, o premiê Kan convoca a “unidade nacional” e a manutenção da calma aos japoneses enquanto a oposição exige “orçamento extraordinário para a reconstrução”, buscando desde distintas perspectivas uma situação de crise que extrapolam o controle do governo conforme os efeitos de Fukushima se extendam.

O fundo da prolongada crise que vive o Japão, com o desgaste do sistema de partidos hegemonizado durante mais de meio século pelo PLD (Partido Liberal Democrata, destronado em agosto de 2009 pelo PD), determina as discussões da classe dominante sobre como enfrentar o estancamento econômico e a repercussão geopolítica do imperialismo japonês, estreito aliado dos EUA, porém que enfrenta um cenário regional muito complicado pelo fortalecimento da China, havendo setores que sem serem anti-norte-americanos, buscam um maior espaço próprio, e inclusive há os que apóiam a retirada da estratégica base militar norte-americana em Okinawa.

Estas contradições não estão saldadas e ainda precisaremos ver como se reconfigurará o processo político diante da enorme comoção atual.

Primeiros efeitos em um mundo capitalista em crise

A queda da bolsa de Tóquio impactou as bolsas de todo o mundo provocando oscilações e especialmente baixas nas bolsas européias como na terça dia 15. Apesar dos esforços do governo japonês em conter a queda dos preços e dos valores, é difícil que se recuperem facilmente; as ações de Tepco, por exemplo, caíram 24%. Se as corporações e fundos japoneses decidiram vender bônus norte-americanos (Japão é o segundo detentor mundial destes bônus, depois da China) para obter fundos frescos, os efeitos nos mercados financeiros poderiam ser imprevisíveis.

O importante papel das corporações japonesas em uma série de ramos de ponta (automotriz, eletrônica, computação, semicondutores, etc.) com operações produtivas “trasnacionalizadas” e articuladas através de dezenas de fábricas e rotas com a China, EUA e Europa, está ameaçando com uma paralisação de fábricas chaves na ilha de Honsu. Se suas reativação for demorada, as perdas produtivas poderiam ser custosas e afetar aos gigantes da indústria nipônica e suas filiais ultramarinas. Qual seria o impacto em um contexto de instabilidade da economia e o comércio mundial, com fortes tendências recessivas?

Prevendo menor demanda de petróleo ao Japão, que é o terceiro consumidor mundial e grande importador de hidrocarbonetos, o preço do barril despencou a menos de 100 dólares, quando até agora vinha primando a tendência de alta como conseqüência dos enfrentamentos na Líbia. Entretanto, os preços da soja, milho e trigo também caíram por volta de 5%, assim como o do cobre e outros materiais cujos preços sofreram oscilações de baixa. Será que isso é um alerta às “bolhas” financeiras formadas ao redor da especulação com as matérias primas nos mercados que estão começando a se esgotar?

Estes elementos incrementam instabilidade a uma conjuntura da economia e das finanças mundiais onde as ferramentas de intervenção estatal, “resgate” de bancos e empresas e meios de “ajuste” utilizados para conter a crise –como na União Européia- começavam a mostrar sinais de esgotamento, com a debilidade de recuperação norte-americana, um quadro complicado na Europa e tendências inflacionárias na China. Às dificuldades econômicas vêm se agregando maiores tenções interestatais e nos regimes políticos de vários países importantes e notavelmente um avanço no desenvolvimento da luta de classes que se expressa na “primavera árabe” e nas manifestações e greves na Europa.

Até onde se inclinará a sorte do debilitado imperialismo japonês? Estamos a ver se os esforços de Tóquio e o eventual apoio aos EUA e outros governos são suficientes para evitar uma contração maior à curto prazo. Alguns analistas sustentam que poderia predominar o estancamento e prejudicar a recuperação “global”. Outros, estimam que uma política de reconstrução japonesa, injetando massivamente recursos poderia ter efeitos positivos e “acelerar a saída”.

Teremos que aguardar a evolução da situação nas próximas semanas para detectar quais tendências ou combinação de tendências predominará. Por hora, o “grande terremoto do leste” e o desastre de Fukushima atuam agregando um elemento imprevisto nas complexas condições da crise capitalista mundial.

O “dia seguinte” do desastre está dominado pelas urgências de resgate e recuperação imediata. Porém é possível que quando os governantes peçam maiores sacrifícios aos trabalhadores para descarregar sobre os mesmos os principais custos de uma reconstrução em benefício das grandes corporações que são os responsáveis diretos do desastre nuclear, se comece a exigir a responsabilidade a uma classe dominante que não têm hesitado em pôr em risco a vida e a saúde da população para garantir os bons negócios. Os socialistas revolucionários da nossa corrente internacional FT-QI, nos solidarizamos com os trabalhadores e o povo do Japão nestes amargos momentos, e esperamos que assim seja.

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