Quinta 2 de Maio de 2024

Movimento Operário

CARTA ABERTA AO DCE DA USP

Construir uma forte paralisação de estudantes e de funcionários no dia 1º de abril!

21 Mar 2009   |   comentários

Na assembléia do dia 04/03, os trabalhadores da USP disseram com todas as letras: “chamamos os estudantes a redobrar nossas forças para a paralisação do dia 1º de abril!” [1]. Este chamado se deu pela importante participação de estudantes na 1ª paralisação do ano, durante a calourada (18/02), contra a repressão e a perseguição política da reitoria ao Sintusp (Sindicato de Trabalhadores da USP) e a ativistas do movimento estudantil e pela readmissão de Brandão. Os trabalhadores da USP preparam-se para uma forte greve a partir de 1º de abril em defesa de suas reivindicações económicas, contra os ataques de Serra à educação e contra a repressão na universidade. E nos fazem o chamado claro: coloquemos novamente de pé a aliança entre estudantes e trabalhadores que protagonizou a greve/ocupação da reitoria em 2007 e que deu seus primeiros passos novamente na paralisação de 18/02 durante a calourada. Por que responder a esse chamado?

Os ataques que o governo Serra e a Reitoria pretendiam implementar pela via dos “Decretos” em 2007 - mas a que foram obrigados a recuar pela força da greve/ ocupação da Reitoria - a partir de 2008 foram mascarados em novas “Leis” , que agora tentam ser implementadas por outras vias. Agora, com nome de “Lei de Inovação Tecnológica” , Serra quer dar outra cara para o mesmo projeto de 2007. Da mesma forma, também agora sob o véu da “Lei do Ensino à Distância” (ou Univesp) este mesmo governo tenta, por um lado, abrir mais espaço para a precarização e o financiamento privado no ensino universitário, e, por outro, fazer um discurso demagógico de democratização da universidade.

Mas, obviamente, para fazer passar essas novas “Leis” , mesmo que mascaradas com o discurso de “democratização da universidade” , Serra e a Reitoria precisam eliminar os setores mais combativos do movimento de funcionários, estudantes e professores que estão dispostos a lutar em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade. Nesse sentido, a demissão, por parte da Reitoria, do diretor do Sintusp, Claudionor Brandão, em 09/12/2008, foi o ponto mais alto de uma ofensiva de repressão e perseguição política que esta mesma Reitoria vem impondo ao movimento de funcionários e estudantes da USP desde 2007. Com a demissão de Brandão a Reitoria busca abrir caminho para demitir ou punir muitos outros dirigentes e ativistas do movimento de funcionários, estudantes e professores na USP.

Entretanto, o objetivo do governo Serra e da Reitoria com a repressão e a perseguição política aos funcionários e estudantes é também uma preparação, pois ambos sabem que a crise económica mundial, que já atinge fortemente o país, fará com que os governos capitalistas reduzam ainda mais os orçamentos em saúde e educação para garantir os destino de milhões e milhões em verbas e subsídios para seus planos de “salvamento” das patronais que demitem massa, como ocorre agora nas multinacionais automobilísticas. Especialmente no Estado de São Paulo, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) que é a fonte de arrecadação das universidades estaduais paulistas, vai ser fortemente reduzido, e com isso as verbas para o ensino superior. Certamente o governo Serra e a Reitoria não querem uma greve por mais verbas para a universidade nestes anos que entram, como foi a greve de 30 dias que o Sintusp encabeçou em 2005 com este eixo de reivindicação.

Os projetos de privatização e precarização de Serra são aplicados nas universidades por via de um restrito número de professores (parasitas “acadêmicos” ) que ocupam altos cargos administrativos e por esta via mandam na USP. São os agentes do governo e da burguesia dentro da universidade. Juntos, tentam passar seus projetos na universidade. E para isso há toda uma estrutura antidemocrática de poder na universidade que permite fazer, às costas de estudantes, professores e funcionários, uma reforma estatutária que concentra ainda mais poder universitário nas poucas “cabeças iluminadas” de restritos professores titulares. E é a partir desta mesma estrutura de poder que a Reitoria votou a implementação do ensino à distância nas estaduais paulistas no começo deste ano. Lógico que... sem nem querer saber o que pensa a comunidade universitária sobre a questão.

Aos estudantes está colocado mais um momento de mobilização e para isso temos que ter nossa própria reivindicação. Desde já podemos preparar uma grande paralisação no dia 1º de abril, redobrando nossas forças: todo apoio aos trabalhadores por suas reivindicações e passaremos a nos organizar a partir de cada curso pela retirada de todos os processos a estudantes e trabalhadores na USP, pela readmissão de Brandão e o fim das perseguições políticas na universidade! Defendendo o movimento podemos garantir nossa mobilização para impedir medidas que deixam a universidade mais elitista, racista e atrelada ao mercado: abaixo a lei do ensino à distância e a lei de inovação tecnológica!

Para isso os estudantes têm que se organizar! Precisamos levar à frente as resoluções votadas na reunião da atual gestão do DCE, “Nada Será Como Antes” , dirigida pelos companheiros do PSTU, e preparar grandes assembléias nos cursos na semana do dia 23/03, com debates organizados anteriormente e discussões em salas de aula, se possível junto aos professores. Assim, implementemos também, conforme aprovado nesta mesma reunião: a construção do acampamento em frente à Reitoria a partir do dia 18/03 e o Festival de Hip Hop contra as demissões, contra a repressão e pela readmissão de Brandão no dia 27/03. Façamos também destas atividades eixos de organização do movimento e mobilização dos estudantes junto aos trabalhadores tendo nas assembléias o eixo de nossa organização, preparadas anteriormente e que permita aos estudantes de cada curso começar a discutir suas reivindicações. As assembléias de cursos também podem começar a apontar no sentido de uma organização realmente democrática entre os estudantes discutindo a necessidade, no marco de uma mobilização, de comitês por faculdades ou campus com representantes eleitos nas assembléias de base, com base em votações políticas discutidas em assembléias..

Nada de discussões burocráticas de organização do movimento por via dos CCAs (Conselhos de Centros Acadêmicos, conselho que reúne e tem direito a voto as diretorias dos CAs) onde as direções das entidades discutem “deus e o diabo na terra do sol” sem ter qualquer aval e qualquer fórum democrático dos estudantes. Assim, vota-se a política que mais lhes convém... em nome da (adivinhem!!!!!)... democracia estudantil! Abaixo a política de setores burocráticos do movimento estudantil como PSOL e PCB, que tentam dividir o movimento estudantil e que na calourada unificada do DCE não construíram ativamente as atividades e a paralisação contra a repressão na universidade no dia 18/02, sendo que em alguns cursos que dirigem chegaram a chamar o boicote! Infelizmente estes setores da esquerda fazem coro com CAs como do Direito e da FEA que se retiraram da organização da calourada unificada por acharem muito politizado e desnecessário discutir a crise, os ataques de Serra à universidade e impulsionar um ato contra a repressão na universidade. Mais triste ainda é ver os companheiros do MNN com a mesma política que o PSOL e PCB: assim como estes, boicotaram a calourada unificada e a paralisação no dia 18/02 para fazerem com os calouros da FAU um “tour” pela USP... que nem passou na paralisação!! Chamamos o PSOL, PCB e MNN a reverem sua política e, independente de nossos desacordos, insistimos que é necessário impulsionar conjuntamente uma luta na universidade contra a repressão e contra as leis de Serra.

Podemos nos inspirar nas mobilizações dos estudantes italianos e franceses que frente à crise capitalista, às demissões e à privatização do ensino disseram com as vozes de milhões nas ruas de Roma e Paris: “que a crise seja paga pelos capitalistas!” . Como os estudantes gregos que também se rebelaram contra a repressão policial e tomaram as ruas de Atenas. Desde a mobilização nos cursos faz-se mais que necessário rasgar o véu da burocracia acadêmica e do governo e mostrar seus dentes. Os estudantes podem responder ao chamado dos trabalhadores da USP para uma luta que defina os rumos da universidade e aponte para derrubar a universidade a serviço do capital e colocá-la a serviço dos trabalhadores e do povo!

Colocar de pé um comitê contra as demissões na USP!

A paralisação do dia 1º não é apenas pela campanha salarial das estaduais paulistas e contra a repressão.. Como deixou bem claro o Sintusp em sua assembléia, é também um ato de protesto (convocado em conjunto com vários sindicatos da Conlutas por todo o país) contra as milhares de demissões por todo o país e em especial em solidariedade à luta dos 4.200 operários demitidos da Embraer em São José dos Campos. Os capitalistas têm imposto rebaixamentos salariais, retirada de direitos e demissões para tentar descarregar sua crise sobre as costas dos trabalhadores. Os estudantes têm que se organizar junto aos trabalhadores e dizer: não pagaremos pela sua crise!

Na reunião da atual gestão do DCE que aqui citamos, também foi colocada a importância de colocar de pé na USP um comitê que tenha este caráter e que tenha como tarefas prioritárias organizar a solidariedade à luta dos trabalhadores da Embraer e a luta contra a demissão de Brandão. MÃOS À OBRA! Chamamos a atual gestão do DCE e os estudantes combativos da USP a, a partir das assembléias de curso, impulsionarmos uma primeira reunião de um comitê de mobilização contra as demissões e contra a repressão no dia 1º de abril, junto a todos os estudantes presentes no ato.

No movimento estudantil nacional, devemos nos preparar para travar essa luta contra a burocracia da UNE, dirigida pela corrente estudantil do governista PCdoB, que em troca de milhões e milhões de reais do governo defende os planos de salvamento dos capitalistas em troca de migalhas, contendo e desmobilizando os estudantes para as batalhas que precisamos travar.

Por uma universidade a serviço dos trabalhadores e do povo

Não podemos combater o discurso de “democratização da universidade” do governo Serra meramente com a defesa da universidade tal com ela é hoje diante dos ataques de ainda mais privatização e precarização que estão em curso. Com as demissões, a retirada de direitos e o rebaixamento salarial nacionalmente, o Fórum das Seis (entidade que organiza os sindicatos de trabalhadores e professores das 3 estaduais paulistas) não pode levar adiante uma campanha salarial rotineira e corporativa. Contra a universidade elitista e racista a campanha salarial deve ser ligada à luta por mais verbas para a educação, não só para garantir a ampliação das vagas das estaduais paulistas de forma gratuita e com qualidade de ensino; mas também para garantir a estatização das universidades privadas que hoje são verdadeiras fábricas de fazer dinheiro que estão obrigando milhares de trabalhadores a largar os estudos por não conseguirem mais pagar as mensalidades em função da crise. Essa é a aliança fundamental pela qual devemos lutar: nós que estudamos nas estaduais paulistas com os estudantes das universidades privadas; e ambos com os milhões de trabalhadores que estão fora da universidade e nela querem entrar.

Movimento a Plenos Pulmões – USP

Ler-qi e independentes

[1O dia de mobilização nacional foi adiantado para o dia 30 de março, mas na USP a data se manteve

Artigos relacionados: Movimento Operário , Juventude , São Paulo Capital









  • Não há comentários para este artigo