Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

Boletim Classista da USP

13 Jun 2013   |   comentários



Arrancar de Rodas e do CRUESP os 11%! Viva a mobilização das estaduais junto a estudantes e professores! Abaixo a repressão e o PIMESP! Negociação da pauta unificada Já!

por Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP demitido político

Este ano, depois de anos de reajustes acima da inflação, fruto do histórico de lutas dos trabalhadores da USP e das estaduais paulistas, o CRUESP (Conselho dos Reitores das Universidades Estaduais Paulistas) apresentou um reajuste igual à menor medição da inflação, 5,39%, e encerrou unilateralmente as negociações sobre esse ponto e sobre toda a pauta unificada entre trabalhadores, estudantes e professores das estaduais paulistas. E isso meses depois de a própria Folha de S. Paulo divulgar que as universidades têm R$ 7 bilhões de sobra de caixa – mais do que o orçamento anual de muitos municípios inteiros! – dos quais a USP admite ter em caixa R$ 1,5 bilhão!

Diferente de anos anteriores, em que nós da USP fomos a linha de frente da mobilização, seguidos pelos companheiros da UNESP e UNICAMP, esse ano os trabalhadores da UNICAMP já fizeram paralisações e são os companheiros da UNESP que dão o exemplo: entre os trabalhadores, 13 campi estão parados e vários outros fazem paralisações parciais, com eixo na luta pela equiparação de pisos e benefícios com a USP e pelos 11%. Entre os estudantes, já são nove campi em greve, com eixo na luta por permanência estudantil, contra o PIMESP – Programa de “Inclusão com Mérito” que mantém e aprofunda o racismo e o elitismo da universidade – e por cotas proporcionais como parte da luta pelo fim do vestibular, por uma assembleia estatuinte e contra a repressão. Entre os docentes, o movimento é crescente, com adesão à greve em curso nos campi de Marília, Assis e IA/São Paulo, e paralisações aprovadas para 11/6 em São José do Rio Preto e Rio Claro.

Essa diferença dos anos anteriores se deve à política de Rodas, que foi nomeado por Serra prometendo “pacificar” a USP (acabar com as greves), e depois de fracassar com uma linha de enfrentamento em 2010, quando tentou cortar os pontos na greve e foi derrotado pela ocupação da reitoria, passou a buscar o mesmo objetivo através de concessões, principalmente o plano de carreira que elevou os pisos salariais – por outro lado mantendo a repressão aos que lutam, com processos contra estudantes e toda a diretoria do sindicato, expulsões, e mantendo a demissão de Brandão, e ataques como a demissão de 270 aposentados em 2011. E muitos companheiros estão, de fato mais preocupados com a próxima etapa da progressão na carreira – que não à toa Rodas colocou para logo depois do período de campanha salarial, gerando medo de que a mobilização leve a não receber esse aumento individual, menos custoso para a reitoria do que o aumento coletivo conquistado com luta -, ou com a possibilidade de reembolso de gastos com plano de saúde – enquanto a reitoria segue aprofundando o sucateamento do HU, que deve servir à comunidade USP e a toda a população, e tem o atendimento cada vez pior por falta de estrutura, equipamentos e pessoal.

O objetivo de Rodas é avançar nisso, para poder implementar seu projeto de redução do quadro, principalmente de básicos, substituídos com o trabalho terceirizado, semiescravo, como mostra mais uma vez a luta exemplar das trabalhadoras e trabalhadores da HIGILIMP, em greve desde o dia 10/06 pelo pagamento de salários e benefícios atrasados (ver “Todo apoio à greve dos trabalhadores terceirizados da Higilimp!”). Prova disso são os ataques concentrados aos trabalhadores da Prefeitura do Campus e da COESF, enquanto aumenta a terceirização na manutenção do campus e no transporte com o BUSP, com fechamento de serviços como borracharia e posto, e outros, como a pintura, que só não foram fechados pela força de resistência dos trabalhadores dessas unidades, que seguem na linha de frente das mobilizações, incluindo a paralisação desse dia 11/06, dando exemplo não só dos ataques que virão, mas de que só com lutas nós todos podemos defender nossos empregos, que estarão cada vez mais ameaçados. Um exemplo em outro sentido é o que acontece com os trabalhadores contratados pela FUNCRAF no hospital em Bauru: frente ao questionamento de que não se pode manter terceirização de atividades fim, a reitoria responde com demissões, e ameaça de demissão de mais centenas de trabalhadores.

Mas para seu objetivo Rodas precisa de uma coisa que ainda não conseguiu: arrancar de nós a memória das lutas dos últimos 10 anos, dos “388 dias de greves” duras (como denunciaram os jornais), ocupações e atos, que arrancaram as conquistas que temos hoje! Nada do que temos veio de presente, nem antes, nem de Rodas! E muitos ataques aos nossos direitos ou à qualidade da universidade só não foram implementados graças à luta! É preciso recolocar em prática essa tradição de luta – e a paralisação desse 11/06 e nosso ato em frente a reitoria, com 500 pessoas, confluindo com as trabalhadoras da Higilimp, e coordenado com os atos na Unicamp e UNESP, foi um passo nesse sentido -, e transmiti-la aos companheiros mais novos, e mostrar que não entregaremos salários, direitos nem empregos, e seguiremos lutando junto aos estudantes em defesa da universidade e por uma educação pública e de qualidade para todos!


Todo apoio à greve dos trabalhadores terceirizados da Higilimp! Pelo pagamento imediato dos salários! Avançar na luta pela efetivação sem concurso!

Por Diana Assunção, trabalhadora da FE-USP e diretora do SINTUSP

Nesta segunda (10/06), vimos explodir mais um conflito de trabalhadoras e trabalhadores terceirizadas na USP que começaram o dia em greve contra o não pagamento de metade dos salários e vale-refeição do mês de maio. As trabalhadoras da Higilimp – uma grande maioria de mulheres, e negras - marcharam até a reitoria, onde exigiram o pagamento dos honorários atrasados, e depois por toda a USP chamando as outras trabalhadoras a aderirem à paralisação. Cantando “chega de dinheiro para os empresários, eu quero meu salário!”, as trabalhadoras terceirizadas da USP escrevem mais um capítulo – nos anteriores estão as greves da Dima em 2005, da União e BKM em 2011, com suas lições – de uma longa história de lutas contra a precarização do trabalho a que estão cotidianamente submetidas.

Estas trabalhadoras se colocam hoje, e mais uma vez, na linha de frente de um importante combate dentro e fora da universidade, a luta contra a terceirização. Esta política nefasta tem como objetivo dividir os trabalhadores entre efetivos e precários, contratados por empresas diferentes, com sindicatos diferentes, enfraquecendo efetivos e, principalmente, terceirizados. Por isso, esses “calotes” não são exceção, mas parte do cotidiano dos terceirizados. Para piorar sua condição, seus sindicatos ao invés de defender seus interesses, defendem seus patrões. Ou seja, logo a universidade, um lugar de produção de conhecimento que deveria ser para a melhora da vida e libertação do povo da miséria, possui dentro dela trabalho semiescravo, com salários miseráveis, sem direitos, com altíssima rotatividade e sem qualquer direito de organização.

É fundamental que os trabalhadores efetivos e terceirizados se juntem para combater mais este absurdo que acontece, exigindo da reitoria, que é responsável em primeiro lugar pela contratação destas empresas fraudulentas, o pagamento dos salários e benefícios atrasados, mas não só isso! É absurdo que todos os terceirizados não possam, como mínimo, usufruir das creches, restaurantes, CEPEUSP, BUSP, etc! É necessário lutar para que estes trabalhadores tenham o direito de se organizar também ao lado dos trabalhadores da USP, e recebam salários iguais para funções iguais, e não três ou quatro vezes menos que os efetivos, como hoje! Por isso defendemos a contratação dos terceirizados aos quadros da universidade sem concurso público, afinal se a prova de concurso tem como objetivo justamente determinar a competência dos concorrentes para determinadas funções, estes trabalhadores já provam no seu dia a dia a sua capacidade de executar os seus trabalhos, além de que se fossem submetidos a concurso público para trabalharem na universidade – posição que a ADUSP infelizmente vem defendendo no Fórum das 6 – provavelmente estes trabalhadores não passariam, pois ocupam estes trabalhos mais precários justamente pelas dificuldades que acumulam ao longo da vida. Ou seja, lado a lado, efetivos e terceirizados, defendemos a efetivação sem concurso público, a unidade das fileiras operárias, pois a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores!


Contra o aumento dos transportes de Alckmin e Haddad! Fortalecer os atos, pela estatização do transporte público! Liberdade imediata dos presos nas manifestações!

Mais uma vez os governos aumentam as tarifas em São Paulo para garantir os enormes lucros das empresas do transporte público, cada vez mais privatizado e com pior qualidade. A imprensa chama de vandalismo e “violência” as manifestações legítimas, mas “violência” são as milhares de mortes causadas pela burguesia com miséria, assassinatos de indígenas, repressão, acidentes de trabalho e um longo “etc”. “Violência” é a repressão brutal ocorrida nesses atos, e a absurda prisão de manifestantes!

É preciso lutar para barrar o aumento, mas não como fizeram algumas prefeituras, e começa a propor Haddad, compensando com aumentos milionários de isenções e subsídios para as empresas, que da mesma forma pagamos com impostos, e sim questionando seus lucros, lutando pela estatização do transporte público, para garantir o passe livre já!


Uma visão marxista sobre o que é a inflação

Por Domenico Colacicco, trabalhador da ECA e diretor do SINTUSP

As campanhas salariais levantam o tema da inflação, que desde o começo do ano vem sendo amplamente discutida pela mídia. Hoje ela está em 6,59% de acordo com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mas para os alimentos (maior parte do consumo para os trabalhadores) o aumento da cesta básica foi de 22,7% em São Paulo, nos últimos 12 meses, segundo o DIEESE. Este é um dos impactos no Brasil, que tende a se aprofundar, da crise econômica internacional, que por enquanto continua mais concentrada na Europa e Estados Unidos, mas cada vez mais se estendendo para a China e América Latina.

Mas então cabe perguntar, do ponto de vista dos marxistas, o que é a inflação? Marx, em um livro chamado “Salário, Preço e Lucro”, discute que a tendência do capitalismo é que a burguesia pague aos trabalhadores somente o mínimo necessário para sua sobrevivência, ao passo que fica com o restante da produção desses trabalhadores (a essa “sobra” roubada pelos patrões se dá o nome de “mais-valia”). Entretanto, na medida em que os trabalhadores se organizam e passam a lutar por melhores salários e condições de trabalho, os seus salários ganham um componente subjetivo, ou seja, uma parcela para além do seu custo mínimo de sobrevivência, referente a sua capacidade de organização e luta para arrancar uma parte dos lucros dos patrões para os seus próprios salários. A inflação é o aumento geral dos preços das mercadorias, ou a diminuição do poder de compra do dinheiro, como mecanismo utilizado pela burguesia para repassar os custos da produção de volta aos trabalhadores. Ou seja, a luta salarial é para nós, trabalhadores, não deixarmos que a burguesia aumente seus lucros à custa dos nossos salários. Contra a inflação e o arrocho salarial, devemos defender o reajuste automático dos salários de acordo com a inflação – o que no “Programa de Transição” escrito pelo revolucionário russo Leon Trosky se chama “Escalas móveis de salários” -, mas enquanto não conquistamos isso, devemos lutar para não deixar que a burguesia repasse para nós os custos da crise que ela mesma produziu.


Os trabalhadores bolivianos mostram o caminho

Por Marcello Pablito, trabalhador da SAS e diretor do SINTUSP

Neste mês de maio, vimos os trabalhadores bolivianos, com os mineiros à cabeça, protagonizarem grandes mobilizações contra a atual lei de aposentadoria deste país, que não é sustentada pelo governo, nem pelos patrões, mas sim com contribuições dos próprios trabalhadores, estes por sua vez, dificilmente conseguem se aposentar com salários dignos. Daí a demanda defendida pelos trabalhadores bolivianos de aposentadorias de 100% do valor dos salários sustentada pelo estado.

As manifestações massivas se enfrentaram com uma forte repressão do governo Evo Morales que prendeu centenas de ativistas, fez alarde de um suposto golpe organizado pela COB (Central Operária da Bolívia) e inclusive convocou os povos indígenas a defenderem “seu” governo – que na verdade os ataca - contra os trabalhadores. A classe operária é a mesma, e enfrenta os mesmos inimigos aqui, na Bolívia, ou em qualquer lugar do mundo, por isso estamos ao lado dos mineiros, professores, trabalhadores da saúde, e todos os bolivianos que se mobilizam pelo direito a uma aposentadoria digna neste momento. Também estaremos lado a lado dos trabalhadores bolivianos que hoje protagonizam a criação do IPT, “Instrumento Político dos Trabalhadores”, um partido dos trabalhadores, mas defendendo um partido baseado na independência dos trabalhadores da burguesia e no controle democrático pelos trabalhadores.


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