Segunda 20 de Maio de 2024

Internacional

Bergoglio foi parte do silêncio cúmplice da Igreja com a ditadura genocida

28 Mar 2013 | Reproduzimos abaixo declaração de Myriam Bregman, militante do PTS, organização irmã da LER-QI na Argentina. Bregman é uma importante referente em direitos humanos como uma das advogadas de acusação em diversos julgamentos do genocídio cometido pela ditadura naquele país.   |   comentários

Myriam Bregman, advogada do CeProDH (Centro de Profissionais pelos Direitos Humanos), do PTS e da querela judicial da ESMA (Escola de Mecânica da Armada), referiu-se a Jorge Mario Bergoglio, recentemente eleito pelo Vaticano como Papa Francisco I.

Durante um dos julgamentos aos militares genocidas da ESMA (desenvolvido entre os anos de 2010 e 2011), Bregman representou Patricia Walsh, filha do jornalista e escritor desaparecido Rodolfo Walsh, e teve oportunidade de interrogar o então arcebispo primado de Buenos Aires, Jorge Bergoglio. Foi uma das advogadas que exigiu ao Tribunal que o citasse a declarar na qualidade de testemunho a partir da denúncia feita pela catequista Maria Elena Funes, que o acusou de facilitar o seqüestro dos padres jesuítas Francisco Jalics e Orlando Yorio, que integravam a mesma ordem de Bergoglio. Sobre aquele sucesso, a advogada relatou:

Contrariamente à imagem que hoje se dá dele como uma pessoa humilde, Bergoglio não teve dúvidas em utilizar todos os privilégios que lhe dava sua investidura, negando-se a ir declarar como qualquer pessoa aos Tribunais, pelo que se fez transferir todo o julgamento à sede da Cúria em Buenos Aires e tivemos que fazer o interrogatório ali mesmo. Durante sua declaração, o atual Papa respondeu com evasivas e contradisse o que havia dito no testemunho anterior. Tratou de fazer uma defesa formal de seu acionar durante o período que durou o sequestro dos padres jesuítas por parte dos militares, afirmando que ao inteirar-se de que haviam sido sequestrados, informou-o a seus superiores. Fez também algumas afirmações muito graves, como que dois ou três dias depois de haver-se perpetrado este sequestro ele já sabia que estavam na ESMA. Algo que até o dia de hoje nem muitas Mães da Praça de Maio sabem a respeito de seus filhos, apesar de sua intensa busca. Como se inteirou? Relatou que se entrevistou com Videla e Massera, mas bastante tempo depois. Também reconheceu que quando Jalics e Yorio foram libertados lhe contavam que restava gente sequestrada na ESMA, e ainda assim não fez nada”.

Mas o que recorda com maior detalhe a advogada Myriam Bregman daquele interrogatório é quando lhe perguntou sobre a apropriação de bebês durante a ditadura: “Jamais esquecerei a cara de Bergoglio quando lhe perguntamos pelos filhos apropriados [...]. Respondeu que se havia inteirado havia pouco tempo, há uns dez anos, ou seja, em 2000, quando toda a sociedade sabia da busca das Avós da Praça de Maio ao menos desde 1983, e alguns familiares de La Plata afirmam que conhece o caso de Ana Libertad Baratti de La Cuadra desde 1977”.

Por último, Bregman assinalou: “A atualidade reticente de Bergoglio a responder, e a comparação de suas respostas naquele então, teve coerência com a linha de silêncio e ocultamento adotada pela hierarquia eclesiástica durante todos os anos posteriores à ditadura, negando-se sistematicamente a aportar arquivos e documentos com os quais contam. É parte da política da cúpula da Igreja Católica, que bendisse e colaborou diretamente com a ditadura iniciada na Argentina em 1976. Não me estranha que sacerdotes como Christian Von Wernich, que estão condenados por ser autores do genocídio, do plano de tortura e extermínio da ditadura, não se os tenha excomungado e possam seguir dando missa como qualquer outro padre. O mesmo aconteceu com o padre Grassi, condenado por abusar de crianças, e por cuja expulsão a Igreja que Bergoglio comandava até ontem não moveu um dedo. Ninguém pode negar que hoje o Papa Francisco I encobriu genocidas e pedófilos nas fileiras da Igreja”.

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