Domingo 5 de Maio de 2024

Juventude

Barrar a repressão e passar à ofensiva

10 Oct 2006   |   comentários

Hoje passamos nas universidades e escolas do estado de São Paulo por um processo de repressão das reitorias e diretorias. Está proibido colar cartazes, fazer festas e distribuir panfletos, sem contar a Polícia Militar, que anda livremente dentro das universidades e escolas, chegando a revistar, ameaçar e até levar estudantes para a delegacia. Na UNESP de Franca foram 7 expulsos por protestar contra o sucateamento da universidade, na PUC estudantes e trabalhadores sendo sindicados por se mobilizar, na Arquitetura da USP 80 sindicados por fazer festas, na Unesp de Araraquara a direção ameaça fechar a moradia estudantil, na FFLCH (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas) e outras unidades da USP, a diretoria está querendo retirar os espaços dos estudantes.

Em alguns lugares a repressão se mostra como uma resposta aos setores que vêm resistindo ao projeto de educação da burguesia. Em outros, fica claro que esta é uma ofensiva repressiva que está incluída no próprio projeto, ou seja, que a retirada de espaços, proibição de festas, entre outros, são parte de um projeto onde quem tem espaço e pode fazer a festa são os bancos, as fundações e os empresários e não os estudantes e trabalhadores.

Hoje no estado de São Paulo, se expressa uma incipiente mobilização do ME contra a repressão. Queremos aqui discutir quais as estratégias que estão colocadas para esta mobilização e qual o projeto de universidade que devemos contrapor ao que a burguesia quer nos impor hoje.

Ampliar a mobilização e coordenar estadualmente as lutas

É necessário um claro programa de ação que nos permita ver o que está por trás do ataque que estamos sofrendo e combate-lo de conjunto. Em primeiro lugar, é necessário redobrar as iniciativas para convocar mais estudantes. A partir dai, devemos fazer todos os esforços para conseguir o apoio ativo do maior numero de professores, organizando debates, moções, etc. Para fortalecer essa luta em cada universidade, precisamos nos unificar estadualmente e reorganizar os comitês por local de estudo com base nas assembléias em cada universidade e escola, e colocar de pé um verdadeiro comitê estadual.

Temos que impulsionar comitês, assembléias e atos unificados com os trabalhadores da educação, para mostrar que estamos dispostos a nos unificar no combate a um inimigo comum: as reitorias e o governo estadual. A Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas) e a Conlute (Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes) devem se unificar nesta campanha para se colocar como alternativa de direção disposta a levar nossas lutas até o final.

Duas estratégias falidas para o movimento estudantil

Infelizmente, o que vemos, principalmente na USP não é uma política ofensiva que aponte nesse sentido. Ainda sofremos muito com o que sobrou da velha atuação petista no ME, que não foi superada. A expressão mais concreta que temos desta continuidade da estratégia petista no ME hoje é o PSOL, que não conseguiu se desvencilhar até o final da lógica de burocratização do movimento, que tenta convencer os estudantes de que é possível obter vitórias através de mesas de negociação, de pressão sobre os parlamentares, se adaptando ao calendário que a burguesia nos coloca. Isso nos faz ter um movimento defensivo e que luta apenas por demandas imediatistas.

Por outro lado temos um setor, que se expressa na Negação da Negação (NN) que se coloca contra a burocracia e defende em abstrato um “novo ME” , não dizem que o “novo” que eles expressam é um ME de caráter vanguardista, que acha que “ir às ruas” com quem for vai resolver todos os problemas. Um “novo” que aparenta radicalizar na forma, mas que no conteúdo ou não reivindica nada, ou reivindica uma universidade como “Território Livre” como uma zona autónoma que paira sobre a sociedade de classes, resvalando na “bandeira histórica” do petismo de uma “universidade autónoma” . Um “novo” que polariza no método com velho petismo, como se a grande diferença que temos com o PSOL fosse ir às ruas ou não, e impede que as polêmicas sejam travadas sobre as estratégias colocadas. Isso fica muito claro no comitê estadual contra a repressão que construímos em SP, onde a NN atuou para se autoproclamar a direção de um movimento que mal existe, passando por cima de todos os outros lutadores do comitê e aprovando sua política de maneira totalmente burocrática. Não precisamos de qualquer “novo” , o PT era ainda mais “novo” e “autêntico” do que a NN quando surgiu. É demasiado infantil e arrogante achar que a NN sozinha vai levar o ME à vitória. Ou abrem os olhos, ou vão acabar sozinhos de verdade.

Nem a “velha” e nem a “nova” face de uma estratégia falida para o ME vão conseguir ajudar este movimento a se desenvolver e passar da defensiva à ofensiva, porque nenhuma levanta uma política para que de fato o movimento contra a repressão triunfe, e muito menos que só podemos nos contrapor claramente ao projeto das reitorias e do governo estadual a serviço da burguesia se estivermos ao lado da classe que tem interesses diretamente opostos aos dela: a classe trabalhadora.

Levantar junto com os trabalhadores nosso próprio projeto de universidade

Os trabalhadores são o setor que é impedido de entrar na universidade e, assim como os estudantes, não tem nenhum poder de decisão, controlado por uma casta de professores titulares. Os mesmos que reprimem são os que fazem de tudo para manter e aprofundar o caráter elitista e racista da universidade. Enquanto forem eles que controlarem a universidade, haverá repressão ao movimento estudantil e aos trabalhadores.

Por isso temos que ter consciência que a luta contra este projeto de universidade deve passar pelo questionamento de a quem serve a universidade e o ensino em geral. Os trabalhadores, que produzem tudo que existe, são a única classe que pode se contrapor frontalmente aos interesses dos capitalistas. A aliança com os trabalhadores se torna fundamental não só para as lutas contra este projeto de educação, mas na disputa contra a ideologia burguesa produzida e reproduzida na universidade, em defesa de uma educação a serviço dos trabalhadores e do povo, que possa aportar para a transformação da sociedade.

Uma discussão com o “apartidarismo”

No movimento estudantil hoje, sempre que há mobilização se expressa uma grande tendência de diversos estudantes independentes se colocarem como “apartidários” . Este é um sentimento em certa medida legítimo que se assenta em parte nos mais de 20 anos de traições do petismo que se expressa de diversas formas e em distintos níveis nos partidos que vieram de dentro do PT e atuam no ME.

O “apartidarismo” , ao rejeitar não somente as praticas burocráticas, mas também em muitos momentos as consignas políticas levantadas pela esquerda, acaba reproduzindo um dos grandes problemas do petismo: a separação da luta económica e luta política, colocando nossas reivindicações de maneira corporativa e pretensamente “apolítica” . Esta é a separação que permitiu que o PT levasse a frente a política de Lula e dos parlamentares profissionais, enquanto os trabalhadores só lutavam por questões económicas imediatas.

É necessário sim que os trabalhadores e que a juventude se organizem e tomem em suas mãos não só as decisões sobre as lutas imediatas, mas a luta conjunta contra a burguesia e seus agentes dentro do próprio movimento. O movimento estudantil deve escolher o lado dos trabalhadores na luta de classes contra a burguesia. Para nós, da LER-QI, a única maneira de passar por cima dos burocratas e oportunistas, os grandes responsáveis pelo sentimento “apartidario” na juventude, é se engajando na luta por construir junto aos trabalhadores um partido revolucionário, que seja capaz de levar até o final as tarefas dos trabalhadores e da juventude.

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