Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

PRIVATIZAÇÃO E ATAQUE AO DIREITO DE GREVE

As manobras de João Grandino Rodas contra a democracia na universidade

11 Apr 2011   |   comentários

Quem poderia esquecer daquela terça-feira 9 de junho, quando uma das greves mais combativas do país seria reprimida pela polícia, numa atitude que não se via desde a ditadura militar? Sim, a polícia entrou na USP a mando do então governador José Serra, mas teve como implementador direto João Grandino Rodas, na época diretor da Faculdade de Direito. Neste momento talvez não tivéssemos dimensão do que este burocrata do tucanato paulista poderia significar para a Universidade de São Paulo... viriam tempos de destruição na USP.

Depois disso, de forma vergonhosa Rodas foi “implantado” como Reitor da USP mesmo tendo sido o 2º aprovado numa já anti-democrática eleição. José Serra, o “exterminador do futuro” das universidades estaduais paulistas, o escolheu a dedo. Sua primeira atitude “relevante” foi cortar o salário dos funcionários em greve, deixando milhares de famílias passando fome. Jogou a “batata quente” do corte de ponto para os Diretores de Unidade, para que estes tivessem a responsabilidade, se isentando assim de qualquer ônus em relação a isso. Era uma medida para dividir a categoria, já que alguns Diretores queriam cortar e outros não.

Depois de implementar uma série de ataques a estudantes, professores e funcionários veio no dia 5 de janeiro de 2011 desferir um dos mais brutais desrespeitos ao conjunto da comunidade universitária, com a demissão de 270 trabalhadores. Foi só um “balão de ensaio” para pensar como implementar o resto das demissões que permitirão uma universidade privatizada, terceirizada. Para isso quer implementar uma carreira que é uma armadilha contra os trabalhadores. É uma carreira para demitir e reduzir custos.

Demissões para os trabalhadores, milhões para os “melhores projetos”

Rodas é um Reitor que atua por cima do próprio Conselho Universitário, por sua vez uma camarilha de professores que compõe a burocracia acadêmica e que atua para defender a universidade de elite. Para parecer democrático instituiu um boletim quinzenal chamado “USP Destaques” onde semanalmente trata de assuntos polêmicos da universidade, expressando diretamente as suas opiniões e tentando confundir os trabalhadores e estudantes.

Na mesma semana em que os jornais publicaram uma vergonhosa foto com 260 estudantes numa mesma sala de aula – consequência do fim do gatilho automático que garantia a contratação de professores para substituir os que saem ou se aposentam – a Reitoria teve a cara de pau de publicar um “USP Destaques” com o “incentivo à Graduação”, pintando uma universidade que não é a que vemos cotidianamente. E agora quer se alçar como uma universidade “internacionalizada” nos moldes do que os rankings exigem.

Com os trabalhadores, sempre a mão de ferro. Demissões e mudanças repentinas de local de trabalho a seu bel prazer, apontando a necessidade de cortes de gastos, na onda do governo estadual. Mas quando diz respeito aos seus projetos, aos seus cafés da manhã, museus e regalias, são milhões. E perguntamos: onde estão os livros de contabilidade da USP pra mostrar para onde vai esse dinheiro?

A disseminação do medo e um novo ataque ao direito de greve

Agora a política é disseminar o medo, principalmente entre os trabalhadores que necessitam de seus empregos e salários. Na greve do ano passado, um dia antes de iniciá-la, o Reitor soltou um comunicado dizendo que iria cortar os salários dos grevistas. Não conseguiu porque os trabalhadores e o Sintusp resistiram. Agora, numa evidente manobra, a Reitoria solta um comunicado se colocando como vítima de uma “inédita interpelação do Ministério Público” questionando o pagamento dos dias de greve em 2010. Como os trabalhadores não nasceram ontem, já sabemos que o próprio Grandino Rodas estava com esta “carta na manga” e organiza esta “interpelação” para mais uma vez no começo das mobilizações tentar amedrontar os trabalhadores e blocar os diretores de unidade para que cortem o ponto numa eventual greve sob a falsa ameaça do “Ministério Público”. Afinal, o que explica esta “interpelação” do Ministério Público, quando um número considerável de professores alinhados com o projeto da Reitoria ganha milhões de reais por ano através das fundações privadas com o dinheiro público?

O medo e a divisão são hoje as principais armas da Reitoria contra os trabalhadores, mas principalmente contra a democracia na universidade. Destruir o Sintusp, impedir suas greves, esconder sua ampla aliança com estudantes, professores e setores da população, é uma política necessária para a implementação do projeto privatista. Mas o Sintusp e sua categoria têm história, e não é o primeiro Reitor nem o primeiro governo que enfrentam. A diferença é que hoje trata-se dos primeiros passos de um ataque histórico. Cada passo de nossa mobilização unificada tem que ter este norte estratégico para enfrentar estes inimigos.

Nesta “guerra” contra a Reitoria é necessário pensar cada luta parcial como parte das grandes batalhas por democracia na universidade

Não é uma luta menor a que estamos inseridos hoje. A USP encontra-se no centro da política nacional porque toda a reforma universitária no país depende do grau de privatização que se avançar na USP. É uma política necessária para as burguesias. Mas para infelicidade destes empresários, do governo Alckmin e da Reitoria, inicia-se uma mobilização. Intelectuais organizando intensos debates contra a privatização na universidade, estudantes participando ativamente de lutas democráticas contra o aumento da passagem e os trabalhadores dando passos em suas organizações de base para preparar uma importante paralisação no dia 24. Nós, da LER-QI, que somos minoria no Sintusp, buscamos localizar cada passo que damos, como parte da necessária luta pela democratização radical da universidade.

Por isso, a confluência dos revolucionários da LER-QI com um importante setor de militantes históricos da categoria agrupados no Coletivo Piqueteiros e Lutadores, e outros ativistas, tem sido importante para combinar a combatividade da categoria com um programa correto que combata o corporativismo do sindicalismo brasileiro, lutando, por exemplo, pela unidade das fileiras operárias e dando passos decididos para avançar no classismo de nosso Sindicato. É para esta tarefa também que desde nossa posição no Sindicato aportamos para discutir a construção de uma grande juventude revolucionária dentro e fora da universidade, que tem sido levada adiante pelos militantes da juventude da LER-QI.

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