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Andrea D’Atri: “Aprender a ver a vida através dos olhos das mulheres”

09 Dec 2014 | Versão completa da intervenção de Andrea D’Atri, uma das fundadoras do Pão e Rosas e dirigente do PTS no ato de 6 de dezembro, no estádio Malvinas Argentinas (Argentinos Juniors).   |   comentários

Aqui me acompanham dirigentes operárias de nosso partido, junto às indomáveis mulheres de LEAR, a comissão de Mulheres da Donnelley, trabalhadoras da alimentação, da indústria textil, aeronautas, telefonistas, funcionárias públicas, do transporte, professoras, da saúde, estudantes secundaristas e universitárias, companheiras da cidade de Buenos Aires, e também da grande B.A., Salta, Jujuy, Tucumán, Mendoza além de companheiras e companheiros do (...)

Aqui me acompanham dirigentes operárias de nosso partido, junto às indomáveis mulheres de LEAR, a comissão de Mulheres da Donnelley, trabalhadoras da alimentação, da indústria textil, aeronautas, telefonistas, funcionárias públicas, do transporte, professoras, da saúde, estudantes secundaristas e universitárias, companheiras da cidade de Buenos Aires, e também da grande B.A., Salta, Jujuy, Tucumán, Mendoza além de companheiras e companheiros do movimento de lésbicas, gays e transexuais.

Com elas e eles, mas também com muitas e muitos de vocês compartilhamos importantes batalhas na luta por nossos direitos este ano.

Nos mobilizamos e travamos uma grande luta política no Encontro Nacional de Mulheres contra o pacto do governo com o Vaticano que terminou com uma reforma reacionária do Código Civil, que outorgou à igreja um status jurídico privilegiado e impôs um novo obstáculo à nossa luta pelo direito ao aborto. Dissemos “Basta que o governo e a Igreja decidam por nós! Separação da Igreja do Estado!”

Também acompanhamos nosso deputado Nicolás del Caño quando interpelou o chefe do Gabinete no Congresso, denunciando o pacto do kirchnerismo com o PRO, em não tratar do projeto de lei da Campanha Nacional pelo Direito ao Aborto que com dez anos ainda não apresenta resultados.

Frente ao horror dos brutais feminicídios, que tiram a vida de uma mulher a cada 30 horas, assassinadas pela violência machista, gritamos bem forte: “Se tocam uma nos organizamos em milhares!” Mas também denunciamos que o maior feminicídio quem comete é o Estado, ao condenar as mais pobres às conseqüências letais do aborto clandestino. 300 mulheres jovens morrem a cada ano por esta causa!

O kirchnerismo votou há dois anos, às pressas, uma lei contra o tráfico de pessoas quando éramos milhares nos manifestando, em muitas cidades do país, contra a injustiça que deixou livre os sequestradores de Marita Verón. Mas não esquecemos que, também rapidamente, aprovou aumentos descomunais à polícia corrupta que está envolvida em todos os grandes delitos e fazem parte, dão cobertura, são proxenetas ou clientes destas redes de tráfico.

O kirchnerismo festeja cinicamente sua “década ganhadora” em cima do desemprego, ao passo que mandou todos estes meses a polícia federal para reprimir as famílias que enfrentaram as demissões. E também mantém as condições de flexibilização trabalhista imposta pelo menemismo, aonde metade das mulheres que trabalham estão precarizadas.

Nesta nova aliança com o Vaticano, o kirchnerismo parece que esqueceu da cruzada do então cardial Bergoglio contra o casamento igualitário, da mesma maneira que “esqueceu”, há mais de dois anos, de regulamentar o pleno acesso à saúde pública que se corresponde por lei às pessoas trans. Muito menos é capaz de resolver a inclusão destas pessoas no mercado de trabalho, como se propõe o projeto de lei da Frente de Esquerda. Por isso marchamos no Dia do Orgulho e lutamos pela liberdade sexual e contra a discriminação de lésbicas, gays e transexuais.

E a oposição que também comunga com o Papa, que também é antioperária, que é homofóbica e reacionária, agora que o kirchnerismo terminou de roubar sua agenda direitista (e, digamos, frente à passividade obediente de sua ala progressista), não tem com o que diferenciar-se… Desta casta política clerical, que administra o negócio dos capitalistas, as mulheres e a comunidade gay, lésbica e trans não devem esperar nada!

Pão e Rosas e o Partido dos Trabalhadores Socialistas, enquanto uma força política conseqüente na luta pelos direitos democráticos, que trava estas batalhas nos locais de trabalho, contra as patronais, nos sindicatos contra a burocracia sindical; nas ruas, contra o governo e suas forças repressivas; no Congresso e nas Legislaturas, com nossos deputados e deputadas; estamos convencidos e convencidas de que, dificilmente poderemos quebrar a férrea unidade direitista do governo, a oposição e o Vaticano, se não redobrarmos os esforços para por de pé um movimento de milhares de mulheres e milhares de lésbicas, gays e transexuais, com independência do governo e da oposição patronal, confiando somente em nossas próprias forças e nossa mobilização para arrancar desta degradada democracia dos ricos, todos os direitos que nos permitam atenuar nosso sofrimento e limitar suas injúrias.

Estamos na primeira fila da luta pelos direitos democráticos, mesmo sabendo que sob este regime social de exploração e miséria, nem sequer os mais mínimos direitos que arrancarmos com nossa luta, estarão garantidos de uma vez e para sempre. Frente a cada solavanco das crises econômicas, políticas ou sociais, vemos como recortam nossos direitos.

E somos conscientes de que enquanto não rompermos definitivamente as correntes da exploração que escraviza milhões de seres humanos e sobre as quais se mantém e sustenta este regime social de miséria, desigualdade e humilhação, nem as mulheres nem nenhum outro grupo social oprimido alcançarão sua emancipação definitiva.

Por isto, é necessário construir uma esquerda da classe trabalhadora, a única classe que pode fazer voar pelos ares a ordem de miséria e morte dos capitalistas, seu Estado e suas instituições a serviço de garantir a exploração e a opressão; a única classe social que, fazendo-se eco de todos os abusos e violências que impõem o capitalismo, pode encabeçar uma aliança com os setores mais atingidos, para derrotar este regime de desigualdade.

É necessário construir um partido que levante nossas demandas na única perspectiva realista para a emancipação da humanidade: a perspectiva de atacar o poder dos capitalistas com uma luta revolucionária, por um governo da classe trabalhadora e pelo socialismo internacional.

Como disse a grande revolucionária Rosa Luxemburgo, “queremos uma nova sociedade e NÃO estabelecer algumas modificações inessenciais na antiga sociedade que nos escravizou”. Sim. Uma nova sociedade, onde se tenha liquidado a exploração do trabalho assalariado e o fardo do trabalho doméstico, esta jornada extra de trabalho gratuito que hoje recai majoritariamente sobre as mulheres. Uma nova sociedade na qual conquistemos o tempo livre para a expansão da nossa criatividade, e em que homens e mulheres, heterossexuais, lésbicas, gays e transexuais, velhos e jovens vivam as suas diferenças em igualdade, livres de toda opressão.

Por isto, da nossa perspectiva, a luta pela emancipação das mulheres não é um combate no qual participam apenas as mulheres; nem a luta pela libertação sexual é uma luta apenas das lésbicas, dos gays e das pessoas trans. É parte da luta da classe trabalhadora, contra o machismo, o sexismo e a homofobia, como também contra o nacionalismo, a xenofobia e outros preconceitos impostos pela burocracia sindical, para dividir-nos e manter o domínio dos capitalistas e de seu Estado.
Estamos orgulhosas da esquerda que estamos construindo, aonde nossos companheiros operários não lutam somente pelo seu aumento salarial, contra as demissões, por arrancar os sindicatos da burocracia, mas também por desalojar estes preconceitos reacionários das próprias fileiras de nossa classe.

Como dizia Leon Trotsky, “Se na realidade queremos transformar a vida, temos que aprender à vê-la através dos olhos das mulheres” e eu complemento... e de todos os mais oprimidos entre os explorados. Convidamos a todas e todos vocês a fazer suas esta perspectiva, a ver a vida com estes olhos. É a única perspectiva que faz com que esta vida miserável à qual fomos condenadas e condenados pelo capital, valha a pena ser vivida.

Viva a luta das mulheres pela sua emancipação!
Viva a luta internacional da classe operária!
Viva o partido mundial da revolução socialista!

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