Quarta 1 de Maio de 2024

Movimento Operário

ELEIÇÕES BANCÁRIOS SP

Alternativa construída na luta disputa eleições sindicais em Bancários de SP

22 May 2014   |   comentários

Temos acompanhado uma série de greves pelo país onde os trabalhadores se enfrentam com as amarras da burocracia sindical como temos noticiado em nosso jornal. Apesar da grande insatisfação com a burocracia sindical, e certo grau de enfrentamento, sobretudo na CAIXA, até o momento não vemos esse fenômeno atingir a mesma magnitude na categoria bancária.

Os sindicatos da categoria bancária, e em especial o de São Paulo, estão entre os principais pontos de apoio da burocracia da CUT e o PT, onde estabelecem um poderoso controle, por conta dos grandes interesses econômicos e políticos ligados à essa categoria. Atravessamos nos últimos meses importantes processos eleitorais, onde levamos à categoria, através de nossas ainda pequenas forças, um programa classista, com forte luta política contra a burocracia e muita força na necessidade de se reerguer através de cada local de trabalho uma luta verdadeira em defesa dos trabalhadores como fizeram os Garis do Rio de Janeiro, para romper com esse domínio, e tomarmos as rédeas de nossas lutas das mãos dos burocratas governistas traidores.

Desde que iniciamos nosso trabalho na categoria buscamos reviver seu histórico de luta e combatividade através do resgate dos métodos clássicos de luta da classe operária, em pequenas contribuições, com piquetes combativos e paralisações reais dos locais de trabalho, auto-organizados pelos trabalhadores de base. Muito diferente do que faz a burocracia, que não move um dedo sequer para mobilizar os trabalhadores, e prefere contratar pessoas para fazer piquetes combinado com o patrão, onde os serviços "essenciais", bem como os serviços para as grandes empresas, seguem ocorrendo normalmente, e quem mais é afetado pela greve são os trabalhadores e a população pobre.

Infelizmente a própria oposição “tradicional”, representada principalmente na figura do PSTU, que atua a décadas na categoria, acaba por se adaptar a esse “roteiro" da burocracia, e pouco fez ao longo dos anos para buscar romper o seu controle.

No entanto, com a atuação na greve de 2011 começamos a plantar uma semente de alternativa ao sindicalismo rotineiro e domesticado que existe em bancários de SP, principalmente em agências do centro da cidade, onde fizemos paralisações com a participação real dos funcionários em solidariedade ativa com outras categorias, como Correios. A partir dessas experiências, conformamos a agrupação "Uma Classe" que seguiu atuando com esses métodos em dois processos seguintes.

O primeiro foi a defesa do companheiro Messias, funcionário da CAIXA com longos anos de história de luta em favor dos interesses reais dos trabalhadores, que foi demitido pela empresa, uma campanha de perseguição estritamente política, para buscar tirar mais uma pedra no sapato da direção do Banco. Frente ao "corpo mole" do sindicato CUTista, que pouco se importa com os trabalhadores, atuamos em conjunto com toda a oposição que foi capaz de reverter essa demissão. Desse processo saiu a frente única “Avante Bancários”, conformada por toda a oposição com exceção do MNOB-PSTU.

O segundo momento importante foi a campanha salarial de 2013. Fizemos uma greve que infelizmente não ficou marcada por grandes conquistas e vitórias, mas é possível dizer que existiu um avanço na luta contra a burocracia, e as direções dos bancos. Desde o primeiro dia fugimos completamente à rotineira atuação da oposição, e mesmo com pequenas forças dia-a-dia íamos ganhando algumas posições, principalmente no centro de São Paulo. Nesse movimento passamos a atuar com todos os grupos de oposição de forma mais coordenada, e com a oposição unificada na ação, inclusive com os companheiros do MNOB-PSTU. conseguimos paralisar integralmente importantes concentrações bancárias onde se rodam a maioria das operações essenciais, e também grandes agências do centro financeiro do país.

"QUE PALHAÇADA! MEU CHEFE ME OBRIGOU A VOTAR!"

Com esse inicial, porém novo cenário, chegamos às eleições do sindicato de São Paulo, Osasco e região. Após o processo de convenção que reuniu toda a oposição conformamos uma chapa unificada com um programa classista, onde colocamos como secretário geral da chapa o companheiro Edison (delegado sindical da agência 7 de abril), bem como outros do “Avante" na diretoria, para fazer frente à burocracia e fizemos uma campanha muito forte, levando esse programa para grande parte dos bancários. O resultado como era de se esperar foi de uma larga vitória da burocracia com cerca de 80% dos votos para a Chapa 1. Esse resultado esconde pontos importantes. Em São Paulo, a grande maioria da categoria é composta por trabalhadores dos bancos privados, cerca de 85%. Nesses bancos, uma série de acordos entre a burocracia e a patronal impôs uma perseguição tamanha aos militantes da oposição, que esses foram completamente expulsos através de demissão com o consentimento do sindicato, gerando um cenário onde a burocracia atua livremente, muitas vezes em aliança com a patronal para receber grandes votações, e se manter no aparato sindical. Pudemos ver em cédulas de votação frases como “Que palhaçada! Meu chefe me obrigou a votar!”, claros exemplos do controle que a burocracia exerce nesses locais para defender os interesses do patrão e não dos trabalhadores. Por outro lado, nos bancos públicos, na CAIXA e no BANCO DO BRASIL, onde a oposição consegue se manter mesmo com os ataques da direção dos bancos, a Chapa 2 teve nas principais concentrações entre 70% e 80% dos votos. Uma clara indicação que a categoria não esta parada, e que a partir daí podemos fortalecer uma atuação classista para defender os interesses de todos os bancários, sejam eles de bancos públicos, privados, ou terceirizados.

APESAR DO CONTROLE DA BUROCRACIA, CHAPA 3 CONSEGUE 1000 VOTOS COM UM PROGRAMA CLASSISTA

Algumas semanas depois realizou-se as eleições da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal (APCEF/SP), que por especificidades da categoria historicamente cumpriu funções sindicais nesse Banco, e segue cumprindo.

Infelizmente não pudemos seguir com a unidade de toda oposição para as eleições da APCEF/SP. Como parte de resgatar os métodos principistas e combativos da classe trabalhadora, é para nós essencial uma atuação política que defenda com afinco e paixão cada um dos lutadores. Não se trata de manobras táticas, mas de um princípio elementar. Na convenção da oposição indicamos o companheiro Messias, um militante independente com grande tradição na categoria, para cabeça de chapa, pois acreditamos que a melhor resposta para a direção do banco, que tentou demitir um de nossos lutadores, era mostrando que não apenas impedimos sua demissão através da luta, mas que não podem nos abater com suas ameaças, não podem impedir nossa luta com seus ataques, e que esse mesmo trabalhador perseguido se mantinha na luta ajudando a oposição a combater a direção do banco e a burocracia. Por uma concepção mesquinha o PSTU se recusou a aceitar a proposta, propondo um militante deles para a cabeça de chapa.

Isso mostra a triste realidade do movimento sindical brasileiro, onde mesmo as organizações de esquerda são contaminadas com essa busca incessante da aparição superestrutural e do aparato como um fim em si, e não como um dos meios e ferramentas da luta, característica tão marcante do PTismo, com sua maior expressão na CUT. Por essa razão a oposição saiu dividida o que facilitou muito a vitória da burocracia com 61% dos votos.

No entanto, nossa chapa conformada pelos setores que compõe o “Avante Bancários”, bem como ativistas independentes da região de Osasco, conseguiu atingir 17% dos votos, totalizando 1000 votos, atrás em apenas 300 votos dos 22% da chapa 2 do PSTU-MNOB. O que fica claro é que se conformou uma nova oposição bancária, que atuando com um programa e uma prática classista e combativa, chegou pela primeira vez a uma base de 18 mil trabalhadores, recebendo o voto de 1000bancários, certamente um novo fator na categoria.

Mesmo com a divisão da oposição ficou claro que existe um setor importante dos bancários da CAIXA que já esta farto das traições descaradas do PT, e estão dispostos a retomar suas ferramentas para organizá-las para a luta. Nesse cenários, rompendo com todo o rotineirismo instalado na própria oposição, pudemos aparecer como uma inicial alternativa ao controle do PT, no sentido de fazer triunfar a luta dos trabalhadores contra os patrões.

É PELA BASE QUE QUEBRAREMOS O CONTROLE DA BUROCRACIA NA PRÓXIMA GREVE

No próximo momento serão realizadas eleições de CIPA e delegados sindicais CAIXA. Essas podem ser “posições chave” na organização de base dos trabalhadores. Por isso estamos fazendo uma campanha chamando os bancários a ocupar esses espaços e colocá-los a serviço da luta. É preciso por um fim aos delegados “biônicos” ligados à burocracia sindical.

Se formos capazes de criar uma rede de delegados sindicais e cipeiros independentes, nossa capacidade de responder aos desafios do dia a dia irá se multiplicar. Desde já precisamos nos organizar pra combater as péssimas condições de trabalho, a falta de funcionários, acabar com a extrapolação da jornada de trabalho, combatendo cotidianamente o assédio moral.

Se nos organizamos desde já, chegaremos em nossa campanha salarial muito mais fortalecidos para impor nossas demandas reais, e não permitir que mais uma vez a burocracia sindical enterre nossa luta, nos traindo descaradamente.

Graças à votação que obtivemos com a Chapa 3, pudemos eleger uma representante para o Conselho Deliberativo da APCEF, a companheira Carol!Queremos que esse cargo esteja a serviço das necessidades reais da categoria, sendo um ponto de apoio na construção dessa rede de delegados sindicais e cipeiros combativos que irá nos permitir retomar o controle de nossa mobilização.

O próximo período de crises e reorganização dos trabalhadores, que pode consolidar essa nova etapa na luta de classes que hoje se abre nesse país, poderá levar os trabalhadores bancários também a passar por cima de todo e qualquer setor que busque a conciliação com o patrão para manter seus lucros, como já vem se desenhando em diversas greves pelo país.

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