Quinta 2 de Maio de 2024

Gênero e Sexualidade

INGRESSADAS 2015

A recepção aos calouros na USP e o combate ao trote

13 Feb 2015   |   comentários

Essa quarta feira, 11/02 foi o primeiro dia de matrícula presencial na USP. Um dia de muitas expectativas para milhares de calouros que conseguiram furar o filtro social do vestibular e entraram na reconhecida por todos, como a melhor universidade do país. Uma mistura de alegria pela entrada na universidade e pelo acesso ao ensino superior gratuito, algo tão restrito em nosso país, mas também de preocupação com a violência dos trotes, (...)

Essa quarta feira, 11/02 foi o primeiro dia de matrícula presencial na USP. Um dia de muitas expectativas para milhares de calouros que conseguiram furar o filtro social do vestibular e entraram na reconhecida por todos, como a melhor universidade do país. Uma mistura de alegria pela entrada na universidade e pelo acesso ao ensino superior gratuito, algo tão restrito em nosso país, mas também de preocupação com a violência dos trotes, principalmente entre as mulheres.

Após as graves denúncias de violência física e sexual nos trotes, a imagem de algumas faculdades da USP ficaram abaladas. Por isso hoje, não houve trote na Faculdade de Medicina, nem em Ribeirão Preto, faculdades que tiveram grande número de denúncias na CPI das Universidades Paulistas e estavam no foco da mídia. Nesses lugares até mesmo a venda de bebida alcoólica estava proibida. Ao invés das cenas chocantes de violência nos trotes, ocorreu uma recepção moderada aos calouros, na FMUSP pela primeira vez o coletivo feminista do curso teve um espaço físico para se apresentar na recepção as calouras e aos calouros.

Contudo, bastava um simples passeio pelo campus para perceber que a prática do trote ainda estava presente na maioria das faculdades. O trote representa um processo de dominação e hierarquia, onde o veterano, respaldado pela instituição, tem plenos poderes sobre o calouro. É na verdade uma expressão clara do elitismo da universidade, que fecha suas portas para milhões de brasileiros, principalmente para os filhos dos trabalhadores e para as classes mais pobres e oprimidas do país, enquanto tenta passar uma aparência de integração dos poucos que passam pelo filtro social do vestibular.

Dentro desse meio de “integração”, onde tudo é permitido em nome da brincadeira, reproduz-se atitudes machistas, LGBTfóbicas e racistas. A opressão principalmente as mulheres é muito forte e na maioria dos casos é muito difícil que uma caloura se posicione contra, afinal ela está entrando agora e não conhece o “funcionamento das coisas”. A proibição da venda de bebidas alcoólicas imposta pela reitoria não é a solução, pois com isso a reitoria pretende na prática cercear cada vez mais os espaços de convivência e integração social dos alunos e ainda por cima culpabilizar o álcool pela violência e não assumir sua responsabilidade diante das denúncias.

Com aquela velha história de que tudo aconteceu porque ela estava bêbada, então se não tiver álcool não tem violência, a reitoria da USP procura se eximir do fato de que durante anos a prática do trote foi aceita dentro da universidade, se tornando infelizmente uma prática institucionalizada. Não reconhece o fundamental, que o trote é a expressão do elitismo e da exclusão social dentro da universidade, provocados principalmente porque a educação não é um direito de todos, mas um privilégio. O autoritarismo e a submissão presentes no trote são respaldados pela meritocracia e pela atual estrutura de poder presente na universidade.

O combate ao trote deve ser entendido não apenas como o combate à violência presente nas diversas atividades que ocorrem durante a matrícula e nas primeiras semanas de aula. Mas principalmente a lógica do atual projeto de universidade, que é seguir sendo fechada para a população, cada vez mais elitizada e voltada para o mercado, e a estrutura de poder presente nela, que serve para garantir esses interesses em detrimento dos interesses da maioria da população.

Lutamos pelo fim dos trotes e da violência as mulheres e LGBTs dentro da universidade!

Lutamos também pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades privadas sob controle dos trabalhadores e estudantes, para que a educação seja realmente um direito de todos!

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