Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

UMA DISCUSSÃO COM AS CORRENTES DO SINDICATO DOS METROVIÁRIOS

A política dos revolucionários para a liberdade de imprensa

20 Oct 2011   |   comentários

A política que o Sindicato dos Metroviários e sua Secretaria de Mulheres defende para combater o reacionarismo de programas “humorísticos” como esse é exigir da TV Globo que retire o programa do ar. Ao ser uma medida por fora de uma campanha de agitação desde a base, resumindo-se a uma carta à TV Globo, o governo demagogicamente toma para si esta reivindicação e exige que o programa saia do ar – o que se configura como censura estatal. O Sindicato dos Metroviários reivindicou a atitude do governo ao invés de se delimitar como uma organização operária deveria fazer. Vindo essa atitude de correntes como o PSTU e o CSOL/PSOL que estão à frente do Sindicato dos Metroviários, consideramos necessário um debate mais profundo sobre o tema.

Alguns poderão achar que é favorável à classe operária e ao combate às opressões censurar programas reacionários como esse , mas a tradição revolucionária demonstra que o que aparentemente pode parecer “correto” mostra-se, na essência, como uma política que rapidamente se volta contra a classe operária. Seguindo os ensinamentos de León Trotsky quando discute a liberdade de imprensa no México , concordamos que “Tanto a experiência histórica como teórica provam que qualquer restrição à democracia na sociedade burguesa é, em última instância, invariavelmente dirigida contra o proletariado”. E continua dizendo que "Somente os cegos ou os débeis mentais poderiam pensar que como resultado da proibição da imprensa reacionária os operários e camponeses se livrarão da influência de idéias reacionárias. Na verdade, apenas a maior liberdade de expressão, de imprensa e de reunião podem criar as condições favoráveis para o avanço do movimento revolucionário da classe operária".

Este é um debate estratégico, pois diz respeito a quais táticas devem ou não ser utilizadas pelos revolucionários. Não podemos exigir do governo que censure os meios de comunicação, ainda que sejam burgueses, pois essas medidas sempre implicarão restrições à democracia burguesa, que irão se voltar contra os trabalhadores e suas organizações. No caso específico que discutimos neste artigo o Sindicato dos Metroviários exigiu da TV Globo, e não do governo, a restrição ao programa. Porém, como apontamos a cima, ao não se delimitar do governo e reivindicar sua atitude, acabam negando esta premissa anterior apontada por Trotsky na relação do movimento operário com a liberdade de imprensa. Neste caso acabam caindo na “manobra” do governo que se apropria de demandas dos trabalhadores para “lavar suas mãos”. Como dizia Trotsky: “qualquer ‘dirigente’ da classe operária que arma o governo burguês com meios especiais para controlar a opinião pública em geral e a imprensa em particular é, simplesmente, um traidor. Em última instância, o acirramento da luta de classes obrigará as burguesias de qualquer tipo a chegar a um acordo entre elas mesmas; aprovarão leis especiais, todo tipo de medidas restritivas e toda classe de censuras ‘democráticas’ contra a classe operária”.

Isso mostra que uma política que se inicia equivocada, de exigência à “respeitável” TV Globo por fora dos métodos da classe operária, pode ser rapidamente apropriada pelo governo, permitindo que o mesmo se fortaleça através de medidas impositivas, que novamente podem e irão se voltar contra os trabalhadores. No caso do PSTU e do PSOL no Sindicato dos Metroviários, apoiar e reivindicar a atitude do governo e seu “apoio” à iniciativa do Sindicato, acaba gerando ilusões de que esse é um governo “de esquerda”. Os setores governistas e reformistas (que no caso do Metrô, se expressam pela política do PT e do PCdoB) poderão dizer então que o governo apóia os trabalhadores e a luta contra a opressão às mulheres e combate os meios de comunicação reacionários.

Ao contrário, devemos primar pelos métodos da classe operária, e como coloca Trotsky no mesmo texto: "É essencial empreender uma luta incansável contra a imprensa reacionária. Mas os operários não podem permitir que o punho repressivo do Estado Burguês substitua a luta que eles travam por meio de suas próprias organizações e de sua própria imprensa”. E mais adiante completa: “O modo mais efetivo de combater a imprensa burguesa é ampliar a imprensa da classe operária”.

Nesse sentido, é necessária uma ampla campanha contra o reacionarismo dos meios de comunicação e, no nosso caso, em especial do quadro da TV Globo “Metrô Zorra Total”, mas essa campanha deve se dar ampliando a imprensa dos trabalhadores e do sindicato, organizando a categoria de metroviários para isso, buscando envolver os artistas, a juventude e o movimento estudantil, propondo uma ação coordenada contra o descalabro que têm significado esses programas televisivos. Ao contrário da exigência de retirada do programa do ar, o Sindicato dos Metroviários deveriam exigir espaço para denunciar o machismo e reacionarismo destes programas. Devemos exigir dos sindicatos de artistas e personalidades dos meios de comunicação no sentido de criar um movimento amplo e democrático com o objetivo de gerar uma ala esquerda entre os meios artísticos e envolver setores da população numa campanha permanente dos trabalhadores contra a mídia burguesa, machista e reacionária, expressando arte, humor e idéias que se contraponham frontalmente a ela.

[4] Essa não é uma discussão nova. Em 2007, quando o governo de Hugo Chávez na Venezuela fechou a TV direitista e golpista RCTV, muitos setores da esquerda reivindicaram essa atitude, dizendo que era revolucionária, pois combatia os meios de comunicação reacionários. Naquele momento e agora, tentamos mostrar como essas atitudes bonapartistas sempre vão se voltar contra a classe operária.

[5] Texto “A classe operária e a liberdade de imprensa”: https://www.archivoleontrotsky.org/phl/www/arquivo/MV15pt/mv15p-16t.pdf. Esse texto foi publicado por León Trotsky no México em 1938 e discute contra a campanha do então presidente Lázaro Cárdenas contra os meios de comunicação reacionários.

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