Quinta 2 de Maio de 2024

Movimento Operário

USP

A luta na universidade frente ao falso dialogo de Rodas

25 Feb 2010 | Apresentamos entrevista com Pablito, representante dos trabalhadores no Conselho Universitário e com Luciana, estudante de Letras e integrante do coletivo de mulheres Pão e Rosas.   |   comentários

JPO- Em que perspectiva você acha que os trabalhadores e estudantes da USP devem começar o ano de 2010?

Pablito – Rodas, o novo reitor, mal assumiu e já vimos uma primeira demonstração de qual será o tom do diálogo que ele irá implementar. No dia 25/01, enquanto um elegante cerimonial na Sala São Paulo dava posse ao novo REItor, mais de 100 manifestantes foram violentamente reprimidos pela polícia, com três presos e alguns feridos. Rodas tem dito que a única coisa intolerável é não permitir o mínimo de condições para que se estabeleça o diálogo. Que não aceitará “a intransigência antes de um consenso mínimo”. Mas, e as condições de trabalho insalubres dos terceirizados? Milhares de trabalhadores precários da USP exercem suas funções sem as mínimas condições, com salários e direitos atrasados. Já se passaram quase dois meses sem que a reitoria tenha resolvido definitivamente o problema dos trabalhadores da Personal. Para Rodas não há mínimo quando se trata dos trabalhadores da USP. Não podemos acreditar nas promessas de Rodas, de que tudo vai se resolver no “dialogo”, pois até agora não apareceu nenhuma solução para esses e outros problemas reais.

Sabemos que para pacificar a USP a serviço da candidatura de Serra, Rodas provavelmente fará algumas concessões e tentará cooptar parte dos trabalhadores a fim de evitar qualquer mobilização radical. Por isso procurou o Sintusp mesmo antes de assumir. Já foram quatro reuniões até agora e nada além de promessas. Já no final do ano passado denunciávamos quem é Rodas, seu envolvimento com a Ditadura Militar, homem de confiança de Serra e da grande burguesia na presidência do CADE, órgão responsável pela fusão de grandes monopólios como a AmBev, as operadoras de TV Sky e Directv, maior da América Latina; entre outras. Rodas é também o responsável pelo dispositivo que permitiu a Suely Vilela e ao CO, a brutal repressão de 9/6/09. Por isso tudo, nossa resposta tem que ser a unificação dos trabalhadores, efetivos e terceirizados, com o setor dos estudantes e dos professores dispostos a não cair nos cantos de sereia de Rodas e iniciar desde já um processo de mobilização nas unidades.

Luciana – O primeiro passo é organizar a luta contra Rodas em aliança com os trabalhadores. Rodas é o interventor de Serra para aprofundar o projeto elitista e racista de universidade e um de seus primeiros atos será levar a frente a Univesp, que adiamos no ano passado. Assim como Lula que precariza as universidades públicas e favorece os tubarões do ensino com o ProUni, Reuni e Universidade Aberta enquanto diz estar promovendo acesso, Serra e Rodas estão preparando um grande ataque com discurso de democratização. O contingenciamento de vagas presenciais aumenta ainda mais o elitismo das universidades públicas, precariza ainda mais as condições de trabalho e ensino e tem por objetivo formar mão de obra semi-qualificada a serviço das grandes empresas.

No entanto, como disse Pablito, Rodas tenta utilizar uma política de “dialogo” para recompor a autoridade da reitoria e levar a frente seus planos. Ele já tem apontado uma postura favorável a algumas bandeiras do movimento estudantil, como expansão da moradia, para manter os estudantes passivos frente ao principal ataque: a privatização do ensino público e sua maior elitização.

JPO: Como a política de Rodas tem impactado os trabalhadores e estudantes?

Pablito - A sucessão do REItor gera sempre uma expectativa de melhora entre muitos companheiros e companheiras. Então, entendemos que é necessário desmascarar Rodas desde o início e não alimentar nenhuma ilusão de que ele pode ser melhor que Suely Vilela, nem cair em nenhuma de suas manobras. E aí, entra uma questão polêmica.

No final do mês passado a reitoria concedeu ao Sintusp uma delegação de 40 trabalhadores para participar do Fórum Social Mundial. Fomos contrários a isso por distintas razões. Em primeiro lugar, não havíamos discutido em nenhuma instância da categoria a ida ao Fórum, nem ao menos qual mandato político essa delegação defenderia em Salvador. Nós da LER-QI não achamos que um evento repleto de governantes, empresários e ONG’s possa ser um fórum que impulsione a luta dos trabalhadores do país de forma independente da burguesia. Portanto, éramos favoráveis a uma delegação que participasse apenas das atividades da Conlutas, paralela ao FSM. Em segundo lugar, a reitoria nos impôs todas as condições para a viagem, com diferenciação de diária entre trabalhadores de nível básico, técnico e superior, quais trabalhadores poderiam ir (somente os da “ativa”) e, para comprometer ainda mais, institucionalizou a atividade com um projeto acadêmico. Oque foi aprovado em reunião do CDB foi o contrário e achamos que a ida ao FSM, dois dias depois de Rodas ter reprimido funcionários e estudantes em sua posse, não contribuiu para quebrar as ilusões que muitos ainda mantém em Rodas e dificulta na mobilização que teremos que impulsionar desde já para exigir o cumprimento de toda a nossa pauta de reivindicações ainda pendente da greve passada.

Luciana – Entre estudantes, ainda que a política do dialogo ainda não chegou à maioria por conta das férias, a gestão do DCE, Transformar o Tédio em Melodia (PSOL), no seu manual para os calouros e nas atividades e debates da calourada não faz nenhuma menção sobre Rodas, sobre seu histórico e sobre a política de Serra de colocar um interventor para garantir o projeto tucano para a USP, que desde 2007 tem encontrado resistência por parte do movimento estudantil e de trabalhadores. Nem uma linha sobre as condições de trabalho dos terceirizados que mais uma vez se organizam nas unidades e aos quais somente os estudantes da LER-QI prestaram solidariedade ativa. Todos os materiais de divulgação da calourada do DCE contam com o apoio da pró-reitoria de cultura e extensão, e eles fazem questão de mostrar o apoio oficial; e por isso não há uma palavra sobre Rodas. Sabemos que o DCE está se reunindo com a Reitoria e não há nenhum informe disso aos estudantes. Além disso, o programa sobre acesso que colocam no material é feito sob medida para entrar no “diálogo”, colocando como ponto central o debate sobre cotas, aberto pelo próprio reitor.

O PSOL com sua política de participar do dialogo de Rodas rompe com o principio básico da independência das organizações estudantis em relação às reitorias e governos. Semear ilusão entre os estudantes no diálogo com Rodas é o mesmo que faz a UNE, num grau maior, ao apoiar o governo Lula: amortece o movimento estudantil em ilusões no governo e na burocracia acadêmica. Por isso vamos exigir a convocação imediata de assembléias estudantis na USP para reverter essa política que o PSOL está levando adiante no DCE.

JPO: Quais são as principais reivindicações para esse ano e quais tarefas estão colocadas para o Sintusp no próximo período?

Pablito – Os trabalhadores e trabalhadoras da USP estão na linha de frente contra os ataques à universidade pública há muitos anos e a sua combatividade é uma grande afronta aos interesses de Serra e da burguesia paulistana. Por isso nosso sindicato tem sido brutalmente atacado. São dezenas de processos contra o sindicato e contra os ativistas, sindicâncias, a demissão inconstitucional de Brandão, a perseguição a Neli, Magno, Aníbal, Zelito e muitos outros funcionários perseguidos nas unidades, estudantes incriminados, etc. Portanto nossa primeira reivindicação é o fim imediato das punições e perseguições e a imediata reintegração de Brandão. Também não podemos mais aceitar as péssimas condições de trabalho a que estão submetidos os terceirizados. Se para Rodas é inadmissível a paralisação, para nós é inadmissível que milhares de companheiros e companheiras continuem trabalhando nas condições em que estão, como denunciou a Revista ADUSP de Janeiro deste ano. Reivindicamos o fim da terceirização e a imediata incorporação desses trabalhadores(as) sem concurso.

Além disso, nosso sindicato deve aderir com tudo à campanha da Conlutas, em solidariedade operária e popular ao povo do Haiti, organizando atos, debates, exposição de fotos e cartazes, e pela imediata retirada das tropas de Lula que já ocupam o país desde 2004.

As tarefas que estão colocadas nos obrigam a dar um passo adiante e fazer o Sintusp avançar para um sindicato classista e internacionalista, propor ativamente para o conjunto do funcionalismo estadual uma campanha salarial unificada para romper o limite da data-base, pelo salário mínimo do DIEESE para todos os trabalhadores e pelo fim da terceirização. Muitos trabalhadores(as) da USP vivem em regiões que foram completamente inundadas pelas chuvas e a mesma resposta que Rodas tem para dentro, Kassab tem para fora: Bombas e cassetetes. Vivemos sob a mesma repressão nos bairros e nos locais de trabalho e portanto devemos unificar nossas lutas com ações e mobilizações conjuntas. Com essas propostas queremos contribuir para que toda a combatividade de nosso sindicato e da categoria esteja a serviço da luta de classes.

JPO – E para os estudantes?

Luciana - Colocamos como um dos eixos de nossa atuação na calourada a discussão de quem está ou não está no diálogo com Rodas. Vamos propor romper o diálogo com Rodas e passar a dialogar com os estudantes e trabalhadores de dentro e de fora da universidade, sobre as medidas necessárias para resolver o problema do acesso a universidade publica, que para nós passa pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades públicas. Junto com isso, queremos levantar também os problemas internos da USP, como a precarização de cursos que não interessam ao capital e a necessidade de democratizar a estrutura interna da universidade, acabando com o cargo de reitor e lutando por um conselho universitário realmente representativo, escolhido pelo voto universal, portanto pela maioria de estudantes da universidade, e não por um punhado de professores titulares.

A excelência técnico-científica-acadêmica uspiana, infelizmente não procura responder aos problemas elementares da população: doenças tropicais sem cura; enchentes, caros e escassos transportes públicos e falta de planejamento urbano; déficit de milhões de moradias; péssima educação pública; violência policial contra a juventude negra; violência “doméstica” contra as mulheres e trabalho escravo persistindo sob as botas do latifúndio. Por isso necessitamos democratizar a universidade e colocá-la a serviço dos interesses da maioria da população.

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