Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

BALANÇO DAS ELEIÇÕES DO SINDICATO DE METROVIÁRIOS DE SP

A derrota do governismo e os novos desafios dos metroviários

26 Sep 2013   |   comentários

Na madrugada de sábado, dia 14 de setembro, acompanhamos o resultado da apuração das eleições do sindicato do Metroviários de São Paulo

Na madrugada de sábado, dia 14 de setembro, acompanhamos o resultado da apuração das eleições do sindicato do Metroviários de São Paulo. Em primeiro lugar, queremos deixar claro que a votação de 32,7% a favor da Chapa 1 (dirigida por PT/CUT e PCdoB/CTB) e 67,3% na Chapa 2 (dirigida majoritariamente por PSTU, PSOL e também composta pelo PAN – uma agrupação de independentes) é expressão de um repúdio à burocracia sindical. Felizmente, a categoria mostrou que não se esqueceu dos anos de gestão do PcdoB e do PT na diretoria do Sindicato, que sempre mantiveram seus acordos com os governos e com a empresa pelas costas dos trabalhadores. A categoria mostrou que se lembra perfeitamente das gestões anteriores, responsáveis por duras derrotas e uma grande passividade, que burocratizaram cada vez mais nosso sindicato e o utilizaram em benefício de construir uma central sindical atrelada ao governo (CTB), para favorecer a eleição de seus candidatos governistas e aliados das patronais.

É um grande avanço que a experiência política da categoria com os setores burocráticos e governistas tenha levado à conclusão de que esses setores não servem para dirigir nossas lutas contra o governo tucano em SP, a direção da empresa e muito menos contra a política de privatização e precarização dos serviços públicos levada a frente pelo Governo Federal. Isso se expressou no último período quando, nas jornadas de junho protagonizadas pela juventude, o PCdoB e o PT defenderam que os metroviários não deveriam ter qualquer participação: tudo para proteger os governos de Haddad e Dilma. Apesar de muitos setores da categoria infelizmente ainda terem uma visão crítica em relação aos setores mais radicalizados dos manifestantes (pela própria política do governo de colocar os trabalhadores metroviários contra a população e também porque a atual gestão do sindicato, embora tenha participado das mobilizações, não fez um trabalho de politizar e convencer a categoria da importância de nos unificarmos com a população em luta pelas suas demandas) os trabalhadores do Metrô estão percebendo cada vez mais a justeza das reivindicações da juventude e da população e vendo que esses governos não defendem nossos interesses. Por isso saudamos a categoria por esse resultado, por ter consolidado que os setores governistas e burocraticos não voltarão ao nosso sindicato! Não vamos retroceder!

Por outro lado, frente a expressiva votação que teve a Chapa 2 nessas eleições, muito maior do que a votação anterior, é necessário ver os enormes limites da atual diretoria. É conhecido que muitos dos votos que tiveram nessas eleições foram votos de rechaço ao governismo e ao burocratismo da gestão anterior, porém não são votos de confiança plena na atual gestão.

Nós da LER-QI defendemos dentro da Chapa 3 (vetada) e do Metroviários pela Base que votássemos criticamente na Chapa 2, ao mesmo tempo abrindo espaço para expressar as posições de voto nulo que tinham outros companheiros independentes da Chapa e da agrupação. Essa posição se justifica pela ausência da gestão passada em dar uma batalha em construir um sindicato não corporativo, combativo e baseado na democracia operária a partir do aprofundamento do trabalho de base. Isso se demonstrou, principalmente na ala majoritária do PSTU/PSOL, na não construção da participação dos metroviários na paralisação nacional dos dias 11/07 e 30/08, no recuo da greve em meio à campanha salarial que enfraqueceu de conjunto a mobilização na categoria e na falta de uma política de unificação entre efetivos e terceirizados, colocando como nossas as demandas de “igual trabalho, igual salário” e pela efetivação dos trabalhadores terceirizados sem necessidade de concurso público, em meio à importante luta dos trabalhadores da Façon no final de 2012. Nesses 3 momentos a adaptação ao corporativismo, o não combate à burocracia sindical e o eleitoralismo, foram determinantes para que as mobilizações não tivessem outro rumo.

Nesse sentido, acreditamos que, apesar dos avanços que teve a atual diretoria, os quais são frutos também de toda uma luta política nossa no último congresso da categoria, em que defendemos juntos com a Diretoria contra a CTB e a CUT a rotatividade dos diretores liberados, que foi implementada parcialmente, já que fomos derrotados na proposta de rodízio também dos cargos executivos. Além disso, ainda que tenha aumentando a frequência das assembleias em comparação à antiga Diretoria da CTB/CUT, não foi combinado com uma real democratização do sindicato, que se expressou no veto a Chapa 3, na falta da proporcionalidade em nosso sindicato e principalmente no fortalecimento de um trabalho de base efetivo, fazendo setoriais e reuniões por local de trabalho em todas as áreas, bases e setores, que sirva para forjar uma nova tradição na categoria.

Mas o mais importante são os desafios que estão colocados nessa nova situação nacional. A primeira tarefa que está colocada para o sindicato na categoria é a necessidade de constituir uma vanguarda de metroviários que seja capaz de lutar verdadeiramente para que nosso sindicato supere a tradição corporativa deixada pelas últimas gestões e se coloque como um fator ativo da nova situação nacional aberta pelas jornadas de junho, não utilizando o poder de mobilização dos metroviários para interesses eleitoreiros das correntes que o dirigem e sim utilizando esse poder para, numa aliança com a juventude que saiu às ruas, lutar com os métodos da ação direta das massas em greves e ações de rua para ir muito além dos 20 centavos. Hoje é mais do que necessário nos colocarmos na mais ampla solidariedade ativa na greve em curso dos bancários em SP, que possui abrangência nacional, assim como dos metalúrgicos e dos trabalhadores dos Correios. O sindicato tem que propor ações para nos ligarmos a esses processos e apoiar os trabalhadores não somente contra os patrões e o governo, mas também contra uma burocracia que na prática também é um grande obstáculo nessas categorias para os trabalhadores poderem triunfar.

Por todos esses motivos é mais do que necessário continuar levando a frente a construção de uma alternativa revolucionária que faça uma real diferença nos novos processos que devem se abrir no próximo período no movimento sindical, na juventude e na população.

Queremos construir uma corrente de metroviários que assuma o desafio de lutar para que essa categoria seja vanguarda e cumpra um papel decisivo na nova etapa nacional aberta pelas jornadas de junho. Por isso, hoje estamos refundando o Metroviários Pela Base, agrupando setores novos e fazendo um chamado a todos os trabalhadores a ampliar essas ideias em todos os setores da categoria, em luta política com as posições da atual Diretoria que em cada processo não vem buscando esse objetivo.

O sindicato deve dar continuidade e fortalecer a campanha contra os escândalos de corrupção em defesa do transporte público, construindo ações que diferente dos atos anteriores impulsionados tenha uma real participação dos metroviários. Levantando um programa de independência de classe que exija a formação de uma comissão de investigação independente formada pelo sindicato dos metroviários e representantes da população e o confisco e prisão de todos os envolvidos, utilizando esse dinheiro para o investimento em mais transporte público, na perspectiva estratégica de lutar pela estatização sem indenização dos transportes sobre controle de comitês de trabalhadores e usuários.

Nós da LER-QI não consideramos que todos esses desafios colocados para os metroviários estejam desvinculados da necessidade de construir uma alternativa nacional de luta dos trabalhadores de distintas categorias, em base a um programa que responda a nova situação nacional. Em novembro vamos impulsionar um Encontro Nacional de Trabalhadores e Estudantes, um de cujos objetivos é justamente debater junto com trabalhadores da USP, professores, bancários, da indústria e de diversas categorias, a construção de uma corrente política nacional que seja uma ferramenta de luta capaz de responder os novos processos de mobilização, assim como possa cumprir um papel de ajudar na reorganização da vanguarda dos trabalhadores nacionalmente agrupando setores classistas, anti-burocraticos e anti-governistas. Por isso, fazemos um chamado a todos os trabalhadores do metrô que hoje veem a necessidade de lutar numa perspectiva não corporativista como debatemos na Plenária da Chapa 3 no mês passado, a construir conosco esse Encontro amplamente na categoria.

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