Segunda 6 de Maio de 2024

Internacional

DECLARAÇÃO POLÍTICA DA LIGA DE LOS TRABAJADORES POR EL SOCIALISMO

A crise política na Venezuela

27 Feb 2014   |   comentários

Como já dissemos em outras declarações, a política do governo se mostrou incapaz de dar uma solução econômica, preso em suas próprias contradições, enquanto a crise se aprofunda junto ao descontentamento social. Nesse marco, um setor da direita mais “radicalizada” se colocou à frente acentuando ao mesmo tempo uma divisão na Mesa de Unidad Democrática (MUD).

O setor que vinha sendo a liderança majoritária da oposição, representada por Capriles Radonski, se viu afetado após a derrota nas eleições municipais de dezembro, e ao ter buscado convertê-las em um plebiscito contra Maduro como revanche à eleição presidencial que – segundo disseram – lhes “roubaram” em abril.
A “ala dura” encabeçada por Leopoldo López e María Corina Machado, como rostos mais visíveis, afirma que a derrota eleitoral de dezembro seria uma clara demonstração do fracasso da “linha branda” na oposição, sustentando que havia que seguir nas ruas após as eleições presidenciais de 14 de abril e, como elemento mais conclusivo, mostram a resposta positiva de Capriles e da direção da MUD ao “diálogo nacional”. “Capriles e a MUD são colaboracionistas com o governo e não respondem à altura do que a crise e o descontentamento social exigem”, assim poderia resumir-se a reivindicação, e se postulam como alternativa nacional.

O conteúdo reacionário das mobilizações

Como já explicamos, o setor mais “radical” daqueles que se opõem ao governo pela direita, traçou uma agenda para modificar a correlação de forças no interior da frente opositora, marcando uma dinâmica mais à direita da situação nacional e debilitar o governo de Maduro buscando passar à ofensivas maiores. A repressão à qual vem sendo submetidas e que os leva a reclamar o legítimo direito democrático de se manifestarem, não anula, no entanto, o caráter reacionário desse movimento. No marco da crise econômica nacional – que não termina de se resolver as tensões entre o governo de Maduro e o setor empresarial, com sua carga de descontentamento social acumulado - Leopoldo López (Voluntad Popular), María Corina Machado, Antonio Ledezma e Cia, buscam uma “solução” subordinada totalmente aos interesses empresariais e ao imperialismo, muito mais do que o governo já permite e oferece. São os que propõem uma “solução” nada “popular” nem “democrática”, pois ademais se colocam a sedimentar o caminho para impor uma mudança de governo “sem esperar o calendário eleitoral”: falam de “encher as ruas antes que se vá”, forçando “a saída” (de Maduro). São mobilizações para destituição, que se ao se desenvolvem em uma dinâmica direta de golpe de Estado, não necessariamente é por falta de vontade daqueles que as impulsionam – participantes das movimentações golpistas entre 2002 e 2003 – senão por falta de condições e correlação de forças para fazê-lo.

Como “agravante” está o apoio que essa oposição recebe por parte do governo norte-americano, campeão em intervenções imperialistas. Para além de se são reais ou não as recentes denúncias de Maduro sobre as pressões diretas do governo ianque – mas que não é de estranhar que sejam assim, e o chanceler Elias Jaua o ratificou – são evidentes os laços de Leopoldo López, María Corina e o conjunto da oposição com o imperialismo norte-americano. Há que dizer com toda clareza que se estamos nessa situação, em que a direita tomou mais corpo, é por responsabilidade do próprio governo, porque nem ainda nos momentos de maior confronto, o governo tomou medidas conclusivas para despojá-los de seu poder econômico, para reordenar a economia sobre novas bases. Como dissemos: “ainda que a burguesia nacional tenha motivos de sobra para ser despojada de seu poder econômico, sendo antinacional e hostil às maiorias trabalhadoras – foi golpista aliada do imperialismo em 2002-2003, retira capitais, especula com os dólares dados pelo Estado – o governo jamais deu nenhum passo nesse sentido”.

O governo é incapaz de desenvolver uma verdadeira luta contra os capitalistas. Como já dissemos antes, o governo que fala de uma “guerra” em lugar de debilitar resolutamente o exército inimigo, toma medidas que o fortalece. No fim das contas, o governo também considera que a chave para que não haja inflação nem escassez é dar as condições para que os empresários “produzam”. Por isso está preso de sua “contradição”: entre por limites aos aspectos mais grosseiros da chantagem empresarial e lhes dar as condições que exigem, e nos últimos meses anda em um giro “produtivo” estabelecendo e buscando pactos com os empresários, fazendo jogos de equilibrista para ir relaxando alguns controles e mantendo outros. Por isso não virá das mãos do governo nenhuma saída à crise favorável aos interesses das maiorias de trabalhadores e pobres do país, já que uma saída assim requer afetar os interesses da burguesia nacional e dos capitais imperialistas.

Mas para além disso, nessa suposta “cruzada pela produção”, o governo se enfrenta com setores da classe trabalhadora que, localizados no centro da produção, dão lutas pelos seus direitos, alertam ou denunciam os problemas nas empresas. São numerosos os casos nesses meses nos quais houve paralisações ou protestos operários reprimidos nas empresas relacionadas com a produção, ou nos que foram despedidos ou amedrontados dezenas de trabalhadores ou dirigentes que alertaram sobre problemas com a produção, ou denunciaram os gerentes das empresas, sobretudo das estatais.

A “mão dura” contra a direita é mais dura contra os trabalhadores que lutam

Por tudo isso é totalmente equivocado pretender – como faz certa esquerda – que a maneira de fazer frente à oposição de direita é se subordinar ao governo e apostar no fortalecimento sua capacidade repressiva, apoiando que este cerceie as liberdades democráticas. Como fica claro, a luta para que a crise não seja descarregada sobre o povo trabalhador não só é contra a oposição direitista, ou contra “a burguesia” em geral, como também contra o governo que é quem administra e gerencia a crise, pois é sua a política que permite toda a chantagem empresarial, são suas as medidas que confabulam para desvalorizar o salário e acabar com a resistência daqueles trabalhadores que lutam seriamente.

Apoiar a repressão do Estado é fortalecer o mesmo aparato repressivo que cai com maior força ainda sobre as lutas dos explorados e oprimidos. Legitimar que se violente o direito de manifestação, prisão dos manifestantes, ou que a polícia política e a inteligência militar intervenham nas mobilizações de rua, é uma miopia política enorme, para dizer o mínimo, pois são medidas que apesar de circunstancialmente caírem sobre setores que levantam um programa reacionário, fortalecem as mesmas instituições que hoje têm centenas de operários processados por lutar, que tem operários presos por querer formar um sindicato ou fazer uma greve, que se metem nas fábricas e empresas onde há lutas e amedrontam os operários, que reprimem as assembleias ou manifestações frente às empresas, que aprisionam os trabalhadores que distribuem panfletos. Isto já estamos cansados de ver, como recentemente numa luta operária em que trabalhadores da Civetchi foram condenados à prisão simplesmente por querer montar um sindicato, ou na prisão dos dirigentes petroleiros José Bodas e outras nas refinarias de Anzoátegui pelo simples fato de ter realizado um piquete entre os trabalhadores.

A melhor maneira de se preparar para fazer frente a um possível golpe é que os trabalhadores avancem em desenvolver sua força de luta, seus métodos, que fortaleçam seus músculos e sua confiança na paralisação operária, assembleias, greves, ocupações de fábricas, barricadas, etc. Isso é totalmente incompatível com o apoio ao aparato de coação estatal! Inclusive há que defender o direito a constituir organismos de autodefesa operária frente aos ataques patronais, frente a ofensiva de bandos armados ou desalojamento de seus locais de luta.

Só com a força operária e popular se pode enfrentar a direita

Até o momento a direita não se posicionou em defesa aberta de um golpe de Estado, não porque não queira, mas porque até agora não há correlação de forças. Mas obviamente não se pode descartar que se esses setores ganham mais peso, e o governo de Maduro se debilita ainda mais, não possam ensaiar ações em chave golpista ou lançar-se abertamente a um golpe de Estado. Nesse caso, os revolucionários saberemos atuar tal como o fizemos para enfrentá-los em suas tentativas golpistas de 2002 e 2003, e centralmente durante o 11 de abril.

Ali apostamos na mobilização operária e independente, a expropriação de todos os empresários golpistas e inclusive exigimos armas para o povo para derrotar os golpistas. O governo de Chávez naquela ocasião, depois do povo trabalhador o restituir, preferiu a conciliação com os golpistas e os deixou de mãos livres e em condições de se recuperarem. Por isso somos categóricos uma vez mais, em defender que só a mobilização operária independente, com seus próprios métodos de luta é a que poderá colocar um freio na ofensiva direitista, e não sob a política de Maduro, que cada vez mais cede, e sustenta abertamente que a entrega de Leopoldo López tenha sido negociada, mas sem sequer dizer o que foi negociado.

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