Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

Entrevista

Um primeiro balanço da campanha salarial e os próximos passos

15 Jun 2005   |   comentários

Palavra Operária: Foram realizadas diversas paralisações na USP, Unesp e Unicamp e outra está marcada para quinta-feira, dia 30. Quais as reivindicações?

Mazé: As paralisações aconteceram inicialmente como parte da luta pela reposição salarial, contra as perdas provocadas pela inflação. Inicialmente, reivindicávamos 13% de reposição, que correspondia à recuperação do salário real de 2001, além de outras reivindicações. Mas devido à política do Fórum das Seis ’ que reúne os sindicatos de trabalhadores e docentes ’, fomos obrigados a aceitar apenas 5% de reajuste salarial, e 2,8% em outubro. A paralisação no próximo dia 30 é por mais verbas públicas para a universidade.

PO: Qual a política do Fórum das Seis?

Mazé: O que prevalece no Fórum, em geral, é a política das associações de docentes, especialmente a Adusp e a Adunicamp, de adequação da reivindicação salarial às condições orçamentárias impostas pelos reitores, sem vinculação com a luta por mais verbas, que possibilitaria atender às demais reivindicações, como a contratação de professores e funcionários. Com isso, o Fórum separa a luta salarial dos trabalhadores e professores da luta política por mais verbas junto ao Estado, deixando esta última para quando a categoria já está desmobilizada. Desta forma, não se apresenta uma estratégia conseqüente para lutar pelo aumento salarial nem tampouco se apóia na motivação salarial para lutar por mais verbas. Com essa política, os funcionários que recebem muito menos que os docentes e que necessitam de reajustes maiores são os maiores prejudicados. E isso é um absurdo porque os funcionários têm sido historicamente os setores mais combativos, e até mesmo o que os professores conseguem em suas reivindicações muitas vezes é devido ao medo da reitoria em relação à radicalização dos funcionários, especialmente os da USP, como se deu nos piquetes na greve do ano passado. Outra conseqüência é que os estudantes se afastam e perdem o interesse pela luta unificada, pois, nas últimas campanhas, assim que é negociado o índice de reajuste salarial o Fórum tem desmobilizado os trabalhadores e os professores deixando os estudantes sozinhos para negociar com a reitoria. E as direções estudantis, os DCEs, compactuam com a política do Fórum, piorando-a na medida em que quase não convocaram discussões entre os estudantes para preparar uma luta unificada, o que tem aberto espaço para que setores de direita entre os estudantes se organizem contra as paralisações e a greve. A única exceção tem sido a fração minoritária do DCE da Unesp que tem mobilizado os estudantes e desmascarado o Fórum.

PO: E o Sintusp?

Mazé: A força do Sintusp está nos trabalhadores da USP, que têm sido o setor mais radicalizado das três universidades, e, junto com outros sindicatos que se colocam contra os ataques do governo Lula, têm cumprido um papel importante como vanguarda da classe trabalhadora brasileira através de sua atuação na Conlutas. Os trabalhadores da USP têm defendido posições combativas e democráticas. Na assembléia de 30 de maio foi aprovado por unanimidade que o Sintusp deveria publicar uma carta aos estudantes defendendo as reivindicações deles e denunciando essa política do Fórum das Seis que isola os estudantes e não unifica a luta dos três setores. Também se aprovou que, para superar os obstáculos colocados pelo Fórum, deveríamos lutar para que ele funcionasse através de plenárias deliberativas de estudantes, funcionários e professores, com representantes eleitos nas assembléias de base de cada campi das três universidades e do CEETEPS. Outra deliberação foi defender como eixo central de nossa luta o reajuste salarial de 11% (o que implicava em não aceitar o encerramento da negociação imposto pelo Cruesp), além dos demais pontos importantes da pauta, como mais verbas para as universidades e barrar a terceirização. Infelizmente, essas importantes deliberações de assembléia não foram implementadas pelos diretores liberados, responsáveis pela redação dos boletins do sindicato e agitação com carro de som na categoria, pois na prática aplicaram a política determinada pelo Fórum das Seis, que afirmava não ser mais possível lutar pelo índice salarial responsabilizando as categorias que “não se dispuseram a lutar, apesar do esforço das lideranças sindicais” ’ como se pode ler num boletim do Fórum ’, quando na realidade aceitava o encerramento da negociação económica. Responsabilizo os diretores liberados porque não podemos generalizar para toda a diretoria de conjunto, inclusive porque a maioria da diretoria tem demonstrado uma verdadeira vontade de aproximar o sindicato dos trabalhadores e defender as deliberações das bases.

PO: Na campanha desse ano ocorreu o fato novo e importante da mobilização exemplar dos trabalhadores terceirizados.

Mazé: Sim, neste ano a campanha salarial esteve marcada por um combativo processo de luta dos terceirizados que trabalham no serviço de limpeza. Esses trabalhadores são superexplorados. Enquanto o piso salarial na USP é de R$ 750,00, eles recebem R$ 340,00. As empresas sugam o sangue desses trabalhadores, atrasam pagamento, não concedem vale transporte integral nem cesta básica a todos, entre outras coisas. Mas a reitoria paga às empresas R$ 1.200,00 por cada trabalhador, compactuando com essa exploração absurda. Os trabalhadores terceirizados se sentiam desamparados, pois o sindicato que devia representá-los nada faz. Por isso, procuram o Sintusp, reconhecendo nosso sindicato como seu, mostrando que para o trabalhador não existe divisão entre categorias e sindicatos, pois somos todos irmãos de classe, explorados pelos patrões, pela reitoria e pelos governos. A referência no Sintusp tem a ver com a experiência que os terceirizados vivem na universidade, vendo os funcionários da USP lutando com firmeza pelos seus direitos. Atuamos junto com o Sintusp para defender as reivindicações dos terceirizados porque entendemos que se estamos todos juntos no mesmo local de trabalho, na universidade, trabalhando para fazê-la funcionar não podemos aceitar que os terceirizados tenham salários e direitos diferentes dos nossos, e nossa obrigação, acima de tudo, é lutar pela unidade da nossa classe. Em nossa opinião, os trabalhadores da USP precisam estar na linha de frente da luta pelas reivindicações dos terceirizados e para que eles recebam os mesmos salários e os mesmos direitos que nós, compreendendo que a terceirização é parte da política de corte das verbas públicas para o ensino público para pagar dívidas aos banqueiros e para favorecer os empresários, além de dividir os trabalhadores. Nesse sentido, precisamos nos organizar para lutar juntos e nos preparar para uma dura greve que seja pelas reivindicações de todos os trabalhadores da USP, Unesp e Unicamp, efetivados e terceirizados, para a partir da luta por salários e direitos iguais avançarmos para a contratação imediata e definitiva de todos terceirizados ao quadro da universidade sem necessidade de concurso público, pois na prática, na vida real, já são trabalhadores da USP, como nós.

PO: Como dar continuidade à luta pelas reivindicações dos trabalhadores, professores e estudantes nesta situação?

Mazé: Agora todas as energias estão voltadas para a luta na Assembléia Legislativa por mais verbas para a universidade. O Fórum das Seis dissemina a ilusão de que na luta por mais verbas os reitores são nossos aliados. Isso é totalmente falso. Nenhum reitor pode ser nosso aliado, porque na verdade é um executor da política governamental de privatização das universidades, o que na USP ocorre pela via das fundações que recebem verbas públicas, usam os equipamentos, funcionários, professores, e lucram com o nome USP. Para lutar em defesa da universidade e por mais verbas não podemos confiar nos reitores, mas apenas nas forças e na unidade dos estudantes, funcionários e professores, com uma política independente e combativa, porque com “audiências públicas” e “conversas” com os deputados não vamos ter mais verbas. Devemos nos unir na preparação da paralisação no dia 30, em defesa de mais verbas, e precisamos permanecer mobilizados para lutar também pela pauta específica dos funcionários da USP. Com os escândalos de corrupção que tomam conta do país, as crises no governo e no PT, devemos retomar nossa ofensiva como Conlutas. Precisamos impulsionar, com sindicatos como o Sintusp, um Encontro de trabalhadores, seus sindicatos e a esquerda antigovernista e antiburocrática para impulsionar campanhas e ações concretas em torno de políticas independentes da burguesia que permitam aos trabalhadores aproveitar a crise no governo, nos partidos e no Congresso para retomar a unidade e os métodos combativos de luta.

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