Terça 7 de Maio de 2024

Juventude

O papel dos CA’s frente aos ataques e à repressão dos governos, das reitorias e diretorias

Preparar as lutas e forjar uma nova tradição no movimento estudantil

09 Feb 2007 | Publicamos uma entrevista com Flávia, integrante da gestão Calabar do Ceupes, Centro Acadêmico de Ciências Sociais da USP, militante da Liga Estratégia Revolucionária e do Movimento A Plenos Pulmões.   |   comentários

JPO: Serra cortou verbas da universidade, da saúde e ainda soltou um decreto que parece mais o início de uma reforma universitária paulista. Como pensam em atuar em relação a isso?

Flávia: Desde o CEUPES quando se começou a discutir esses ataques de Serra nós convocamos os CAs da FFLCH para fazer um CCA e tirar lutas concretas. Vamos incorporar no jornal da calourada do CCA esta discussão, e desde o CCA colocamos que devemos cobrar o DCE que se colocou contra organizar imediatamente uma greve contra o veto, o decreto e os outros ataques do governador. Temos que cobrar que o DCE chame um CCA da USP para discutir a questão e que cumpra com o compromisso que fez no Fórum das Seis de incorporar esta discussão na calourada unificada, começando a coordenar os CAs para organizar uma greve unificada. E estamos buscando unificar todos os estudantes das estaduais. No dia 04/02 estudantes de 10 campi e 6 CA´s da Unesp fizeram uma reunião na Casa Socialista do Brás onde discutiram o significado da intervenção e qual nossa atuação para a construção de uma grande greve. Na Unicamp, pela via do CACH, estamos discutindo isso e tentando aproveitar as brechas que existem entre a burocracia desta universidade e o governo, já que os professores da Unicamp foram os que mais se manifestaram publicamente contra ao decreto. Desde o CEUPES, o CACH e o CACS da Unesp estamos lutando para articular os setoes mais combativos do movimento estudantil para travar essa luta, mesmo que para tal tenhamos que nos enfrentar com o DCE governista e petista da USP.

JPO: Esta medida do Serra pode acirrar ainda mais a repressão na universidade. Como atuar contra isso?

Flávia: A repressão existe em cima dos estudantes, funcionários e professores que se organizam contra os ataques das reitorias e do governo, seja Serra ou Lula. Estes precisam reprimir para aplicar seu modelo de universidade, cada vez mais ligado às fundações, terceirizações e para o conhecimento voltado ao mercado. Em várias universidades os estudantes são proibidos de fazer festas, são sindicados. Trabalhadores e professores sofrem processos por parte das reitorias. Nas particulares pode-se ver a repressão com medidas mais duras aos inadimplentes, como é o caso da PUC. Sem falar na polícia ou seguranças privados nas faculdades, onde vários estudantes e moradores pobres da região sofrem enquadros ou são presos por questões fúteis. É uma repressão que atinge o conjunto da comunidade universitária. As diretorias de faculdades também não se abstêm: na FFLCH, Gabriel Cohn colocou uma grade de ferro no espaço estudantil. Tenta tomar nosso espaço como um ataque claro à nossa organização política e social. É esta a democracia na universidade. Durante as férias chamamos reuniões desde o CA para impedirmos este ataque. Discutimos que a luta contra a repressão será o eixo de atuação e discussão na calourada da PUC e da USP, como parte de travar uma campanha conseqüente contra a repressão aos estudantes, funcionários e professores. A luta contra a repressão deve ser levada de forma inseparável da luta contra os ataques que o governo Serra está descarregando contra a universidade.

JPO: O que significa participar da direção dos principais CA´s de Ciências Sociais do estado de São Paulo?

Flávia: A ciências sociais hoje é um dos principais cursos das humanidades que a burguesia se preocupa em formar ideólogos e teóricos. Não por menos na Sociais da USP se formaram grandes intelectuais do PSDB, como FHC, e outros que compõe o governo, como é o caso de Fernando Haddad, ministro da educação do governo Lula que hoje aplica a Reforma Universitária. Frente a isso temos abrir os olhos a esta questão, pois num curso como este temos que nos formar como intelectuais ou cientistas sociais não da burguesia e do mercado, mas da classe trabalhadora. Questionamos o papel do cientista social: para quê e para quem? Nossa discussão e luta pela sociologia e filosofia no ensino médio e de nossas grades curriculares tem que tomar esta dimensão. Queremos discutir como o movimento estudantil deve se ligar aos trabalhadores em suas lutas concretas e aportar para transformar o conhecimento que produzimos hoje na universidade, colocando ele a serviço dos trabalhadores e suas lutas.

A organização regional dos estudantes de Sociais é imprescindível para isso. Podemos reorganizar um movimento estudantil, que milite e reflita sobre as contradições da sociedade e sobre a luta de classes para nos armarmos em nossa organização política. Estamos organizando o ERECS (Encontro Regional dos Estudantes de Ciências Sociais), que é um primeiro passo neste sentido e onde podemos discutir esta e todas as questões já colocadas.

JPO: O que tem que ser um CA?

Flávia: Qualquer entidade estudantil tem que se dar a perspectiva de atuar de forma independente das reitorias, das empresas e do governo e ter isto como base para uma atuação onde nos colocamos os grandes problemas da sociedade, expressando a voz e a luta dos trabalhadores e da população pobre. Restringir uma entidade apenas a questões pontuais, específicas de cada curso, específicas dos estudantes, significa se manter no histórico corporativismo que sempre esteve presente nas entidades dirigidas pelo PT. Podemos e devemos questionar a universidade e a sociedade e mostrar como os estudantes podem se aliar aos trabalhadores e contribuir para a luta pela transformação da sociedade. Nós, que estudamos nesta universidade elitista e racista, devemos ser os primeiros a questioná-la e lutar por sua transformação, para que os trabalhadores e o povo, que são os que de fato bancam essa universidade, possam ter acesso e possam controlar e decidir o que se produz aqui.

Como parte da nossa luta por fazer expressar dentro da universidade a voz dos trabalhadores e do povo oprimido, logo no começo do ano abrimos a discussão que os estudantes e CA´s tinham que se posicionar e atuarem em relação ao acidente do metró na linha 4-amarela e sobre as demissões na Brastemp. Pois no metró foi a sede de lucro e de poder político por parte das empreiteiras e do Serra que causou o acidente. Na Brastemp mais demissões para aumentar a produtividade dos capitalistas. Não podemos ficar quietos frente a isto! Temos que agir e mostrar que não somos estudantes para fazer pesquisas bitoladas ou para engolirmos estes absurdos “pois assim é!” . Por menor que seja a atuação de poucos CA´s em torno disto podemos criar uma nova militância no movimento estudantil. Aquela que se coloca os grandes problemas da sociedade. E isso certamente passa pela questão de classe: não existe entidade neutra. Nós estamos ao lado dos trabalhadores.

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