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Porque entramos para a LER-QI

11 Feb 2009   |   comentários

Esta carta tem o intuito de anunciar a nossa entrada na Liga Estratégia Revolucionária ’ Quarta Internacional (LER-QI).

Somos dois militantes cuja formação política se deu, fundamentalmente, durante a greve das estaduais paulistas em 2007. Foi precisamente neste momento em que nós passamos a ter contato com o movimento estudantil e com as correntes que nele atuam. A dinâmica acelerada daquela conjuntura nos proporcionou experiências políticas importantes, tais como as assembléias diárias realizadas no IFCH, a utilização de métodos radicalizados e ações diretas, o enfrentamento com setores conservadores da universidade e, por fim, a repressão aos estudantes. Esta ocasião foi muito frutífera para o nosso desenvolvimento político e, para nós, uma das principais lições daquela mobilização foi a importância de organizar o movimento estudantil em torno de um programa capaz de se ligar com os trabalhadores. Foi nesse sentido que atuamos na gestão Levante e na formação da chapa Oboré, que hoje coordena o CACH, levantando, juntamente com os demais coordenadores, uma plataforma política militante e pró-operária.

Reconhecemos o papel da academia em nossa formação intelectual. Ainda que tenhamos clareza de que a universidade é construída historicamente para servir às classes dominantes e que é uma instituição que reproduz as desigualdades de classe, nós a caracterizamos como um campo em disputa. Assim, militamos aqui no sentido de construir uma hegemonia operária, combatendo, na teoria e na prática, a hegemonia capitalista, que se materializa nas teorias do fim da história e da morte da classe trabalhadora, na burocracia acadêmica e estudantil, nas fundações, na terceirização, na precarização do trabalho, no racismo e no elitismo. Para que avancemos nesta guerra de posições é preciso que o movimento estudantil seja a voz das classes subalternas no interior da universidade, levantando suas bandeiras e fazendo ecoar suas reivindicações nos meios acadêmicos. Assim, para sermos conseqüentes neste combate, é inevitável superarmos os muros da Unicamp. E é justamente aqui que reside uma grande debilidade do movimento estudantil ’ a sua dificuldade em formular estrategicamente a vinculação orgânica com os problemas externos a universidade.

Diante desta contradição tivemos que rever nossas posturas com relação às teorias com as quais nos identificamos, entrando, invariavelmente, no problema do marxismo acadêmico. Este é incapaz de responder às questões de ordem estratégica, uma vez que, por principio, confere primazia às discussões exclusivamente teóricas em detrimento da práxis. O marxismo trancafiado nas bibliotecas, salas de aula e grupos de estudo está fadado a se tornar uma teoria morta. Para nós, ao contrário, é uma teoria viva, que se alimenta da práxis - a força do marxismo reside no fato de que ele é também uma resposta programática.

A atualidade do marxismo enquanto programa político fica ainda mais evidente em conjunturas em que o embate entre as classes tende a se acirrar, tais como a crise estrutural do capitalismo que vivemos hoje. Em menos de seis meses já observamos um aumento significativo das lutas em todo o globo. O movimento estudantil da Espanha, Grécia e Itália, ao sair às ruas apregoando que não pagará pela crise burguesa, e os operários em greve na Alemanha, França e Argentina nos mostram que as massas que há muito não se colocavam em grandes lutas agora saem as ruas. Sabemos que a tendência é que estes conflitos se aprofundem, uma vez que a crise se concretiza diariamente em milhares de demissões, como está acontecendo no Brasil e no mundo. Embora essas lutas espontâneas sejam decisivas para que avancemos rumo à bancarrota burguesa, entendemos o quanto é fundamental que elas estejam articuladas em torno de uma estratégia capaz de responder a atual fase de organização do capital, monopolista e imperialista. Para nós, a sua superação só será possível com o protagonismo da classe trabalhadora, que lançando mão de seus instrumentos próprios de luta e de uma política classista e independente poderá extinguir definitivamente a exploração do homem pelo homem. É precisamente por essa razão que se faz imperativa a construção de um partido, centralizado democraticamente, que capture o bom senso da classe trabalhadora e o transforme em reivindicações transitórias que apontem para a necessidade do assalto ao poder.

Acreditamos que a Fração Trotskista - Quarta Internacional (FT-QI), que no nosso país é representada pela LER-QI, se constitui como a melhor resposta a estes anseios. A luta, até as ultimas instâncias, pela independência de classe diferencia a nossa organização de partidos como o PSOL. Este, trilhando os mesmos caminhos do PT, transformou a tática de participação nas eleições e nas lutas em estratégia, se adaptando à democracia burguesa. Isso ficou mais claro e escandaloso quando, nas eleições municipais do ano passado, uma das principais figuras públicas deste partido, Luciana Genro, aceitou 100 mil reais da Gerdau para o financiamento de sua campanha. Essa é uma posição inaceitável para nós, marxistas revolucionários, e devemos dar o firme combate a este desvio burguês. Para nós, o PSTU-LIT erra ao compor a Frente de Esquerda com o PSOL, à medida que se compromete com um programa reformista e que não se coloca como uma alternativa classista e independente para as massas. Ainda que o PSTU-LIT também faça parte da tradição trotskista e internacionalista, entendemos que o morenismo, corrente teórico-política que é reivindicada por esta organização, revisa pilares importantes da estratégia da revolução permanente fundamentada por Trotsky. Não entraremos aqui nos meandros desta divergência [1], mas avaliamos que sua atualização revisionista do Programa de Transição da IV Internacional e da Revolução Permanente inviabiliza uma análise efetivamente dialética dos rumos do conflito de classe e das lutas em geral, respaldando uma práxis vacilante, da qual nós, da LER-QI, não compartilhamos.

A LER-QI impulsiona, onde está, a independência e a unidade da classe trabalhadora, estimulando e construindo a auto-organização dos operários, procurando superar politicamente as barreiras colocadas pela precarização e terceirização do trabalho. Isso fica evidente, a título de exemplo, no plano nacional, em nossa atuação enquanto minoria na direção do SINTUSP, em que destacamos a atuação de nosso camarada Brandão, que recentemente foi demitido pela reitoria da USP, em um claro ataque à liberdade de organização dos trabalhadores. Isso nos coloca enquanto tarefa a construção, junto aos lutadores, de uma campanha massiva e conseqüente por sua readmissão imediata. No plano internacional, enquanto FT, em Zanon (Argentina), Sidor e Sanitários Maracay (Venezuela). Somos hoje uma importante corrente revolucionária na América Latina, que está na Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Costa Rica, México e Venezuela, e dá, hoje, os primeiros passos na Europa, se construindo no Estado Espanhol e na França.

A LER-QI entende também a importância de realizarmos uma ofensiva ideológica junto ao movimento estudantil e secundarista. Com esse propósito construímos, ao lado de ativistas independentes, o Movimento A Plenos Pulmões, tentando aportar no resgate de uma luta estudantil marxista e pró-operária. É nesse sentido que lançamos, no final do ano passado, a revista Iskra, de teoria e política marxista, encabeçada pela juventude universitária de nossa organização. Além disso, impulsionamos, junto a independentes, a luta classista da mulher contra a opressão machista, que se materializa na agrupação Pão e Rosas, construída, hoje, na PUC ’ SP e na USP, que mantém relações estreitas com o maior movimento de mulheres da América Latina, Pan y Rosas, construído por nossa organização irmã na Argentina, o Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS).

Acreditamos que somente o combate classista e independente dos trabalhadores poderá nos nortear pelos difíceis caminhos da revolução socialista e sabemos que é premente aumentar as fileiras de lutadores pela reconstrução da IV Internacional. Precisamos avançar nessa luta tão necessária e apaixonante, construindo uma organização de centenas de dirigentes operários marxistas e intelectuais orgânicos da classe operária, que transformem cada luta cotidiana em escola de guerra, que torne cada enfrentamento em lições para a independência de classe, e que toda essa contribuição com programa e estratégia sirva para lutar pela construção de um forte e massivo partido operário revolucionário e internacionalista, num processo de rupturas e fusões que se dão nos momentos de ascenso da luta de classes como os que estão por vir. É preciso, desde já, tomar partido. Por isso, chamamos todos aqueles interessados a discutir a nossa opção política e o programa levantado pela LER-QI para juntos avançarmos rumo à construção de uma sociedade para além do capital.

Iuri e Paula
militantes da LER-QI e coordenadores do CACH

[1Para melhor nossas diferenças e polêmicas com o PSTU-LIT, consulte nossos materiais: http://www.ler-qi.org/spip.php?article559

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