Sexta 26 de Abril de 2024

Movimento Operário

PRIMEIROS APONTAMENTOS PARA UM BALANÇO DA CAMPANHA SALARIAL DO METRÔ

Papel vergonhoso do PSTU e do PSOL suspendendo a greve do Metrô

03 Jun 2011   |   comentários

No dia 31 de maio de 2011, em todos os cantos da cidade e na imprensa, todos falavam da greve dos metroviários marcada para dia 1 de junho. Mesmo com a propaganda falaciosa do governo tentando jogar a população contra os metroviários, boa parte dos passageiros demonstrava seu apoio e solidariedade aos trabalhadores do Metrô. A categoria protagonizou, após quase 4 anos sem sequer falar seriamente em greve, uma mobilização que não se via há quase 20 anos, e compareceu com cerca de 1500 pessoas na assembléia para deflagrar a greve. Porque essa oportunidade foi desperdiçada? Esse artigo é uma tentativa de mostrar qual a estratégia de sindicalismo que levou ao desmonte da greve dos metroviários.

O sindicato dos metroviários passou décadas sendo hegemonizado pela política do PCdoB e do PT [1]. Nas eleições sindicais do ano passado venceu a “Chapa 2”, de oposição, dirigida pelo PSTU e PSOL (CSOL e CST) e composta também por trabalhadores independentes, contando com uma votação principalmente dos setores mais jovens da categoria, que esperavam mudanças e mais democracia no sindicato. O lema que predominou durante a campanha eleitoral da “Chapa 2” foi o “negociar de verdade”, para fazer frente aos ataques da “Chapa 1”, que os chamavam de “radicais”. Desde essa campanha, nós já expressávamos nosso desacordo com esse método de renegar a organização da categoria para a luta de classes em prol da negociação.
Era possível ver, desde o começo, com alianças oportunistas [2] e adaptação do discurso, que o objetivo era “ganhar a qualquer custo” o aparato, sem uma discussão e uma política que expressasse realmente uma mudança de ânimos na categoria e uma luta encarniçada para expulsar a burocracia do sindicato.

Essa nova diretoria não passou à primeira prova que se apresentou. Depois de anos de desmobilização da categoria por responsabilidade da antiga diretoria do sindicato [3] , os metroviários ousaram levantar a cabeça, mas tiveram suas expectativas frustradas pela direção. Desde o começo da campanha salarial, o sindicato demonstrava sua estratégia de pressão para negociar acima da organização pela base para uma luta real, colocando que “ninguém quer fazer greve e “vamos negociar até o final”. Por isso mesmo, apesar de ameaçar greve, não preparou a categoria seriamente em nenhum momento para isso.

Ficou claro que a ameaça de greve era um “blefe” na assembléia marcada para dia 31 de maio, para deflagrar a greve no dia 1 de junho. A assembléia foi um verdadeiro “teatro” para o desmonte da greve. A diretoria se reuniu antes da assembléia e votou por ampla maioria contra a greve [4] . Porém, ao se defrontar com uma assembléia massiva, com cerca de 1500 pessoas, na qual a maioria segurava cartazes dizendo “GREVE JÁ!” ou gritava pela greve, o sindicato se viu pressionado a rever sua linha, não porque queria de fato fazer greve, mas porque não poderia se enfrentar diretamente com o sentimento de combatividade que se expressava nos setores de vanguarda. Com direito à paralisação de mais de 30 minutos da assembléia para esperar uma nova proposta da empresa, que não avançou em praticamente nada [5] , a política adotada pelo PSTU e PSOL foi de “divisão do trabalho”. O PSTU passou a defender a greve, com o intuito de não “queimar” o presidente do sindicato, Altino, com essa base, e o PSOL defendeu que não houvesse greve. Obviamente, vendo sua própria direção dividida e sem uma política clara para orientar a categoria, muitos setores da assembléia ficaram inseguros e votaram contra a greve. Ainda assim a maioria, decidida a lutar por suas reivindicações e vendo a greve como o melhor método para isso, votou pela greve. Após a votação, na qual, apesar de muitos votos contrários, a greve ganhou visivelmente, o mesmo Altino que defendeu a greve retirou a proposta, argumentando que não dá para fazer greve com a categoria dividida.

Ao contrário do informe de que a CPTM e a Sabesp entrariam em greve, que foi ovacionado pela assembléia, essa manobra de retirar a proposta foi vaiada pelo plenário e muitos nesse momento se retiraram da assembléia, sentindo-se traídos pela diretoria do sindicato. Culpam a categoria pela divisão impressa pela própria direção, aproveitando-se do senso comum imposto pela burguesia de que “greve somente pode ocorrer com unanimidade”, o que sabemos que é uma grande mentira ainda mais num momento onde a direção não dá respaldo a essa decisão de maneira firme e decidida, de forma a passar segurança para a categoria. Do mesmo modo, foi decisão do próprio sindicato se apoiar nos setores mais conservadores ao invés de acatar a posição da maioria da assembléia que votou pela greve, desrespeitando o organismo democrático de decisão dos trabalhadores. A decisão foi adiada para uma assembléia dois dias depois, em que a empresa avançou pouquíssimo na proposta e na qual se levantou a campanha salarial e se aceitou a proposta da empresa.

O problema da estratégia de pressão “para negociar melhor” é que vai na contramão de preparar a categoria para grandes lutas, pois torna secundário os métodos de luta da classe trabalhadora (como greves, piquetes, manifestações de rua), retrocede em métodos elementares de democracia operária onde sequer as decisões dos trabalhadores são respeitados e desta forma contribui para que os trabalhadores sejam menos “sujeitos” de suas lutas e passem a acreditar cada vez menos em suas forças. Esta estratégia só pode estar a serviço de construir um sindicalismo domesticado, que dificilmente elevará suas lutas do patamar econômico ao político. Vale lembrar que esta campanha salarial se deu num momento em que o partido que dirige o governo do Estado, o PSDB, está envolto em crises e divisões internas, e no governo federal a crise ao redor de Palocci aponta para cenários de maior instabilidade depois da “lua-de-mel” de Dilma Roussef quando ainda “surfava” na popularidade de Lula. Não poderiam os trabalhadores “emergir” no cenário nacional reivindicando seus direitos e denunciando esta podre democracia dos ricos?

É também neste momento que, apesar da passividade e conformismo que vem marcando a situação nacional, assistimos o levante de milhares de trabalhadores terceirizados no país inteiro, e vemos agora inúmeras greves salariais, com a categoria de professores a frente. Nessa situação, uma forte greve no Metrô, bem organizada, junto aos trabalhadores da CPTM, da Sabesp, da EMTU do Grande ABC, poderia despontar como exemplo para outros trabalhadores, transformando o Sindicato dos Metroviários em “pólo organizador” de todas estas lutas no estado de São Paulo, se tornando exemplo de luta.

Na nossa opinião, este deveria ser o papel de um partido trotskista num Sindicato, como nós da LER-QI que fazemos parte do Sintusp buscamos fazer na luta das terceirizadas da UNIÃO, transformando-a em uma importante batalha de classe e colocando o tema da terceirização no centro da universidade. Os metroviários são uma categoria estratégica, que pode paralisar toda a principal cidade do país e que, por isso mesmo, devem estar preparados para uma greve dura, que se transforme numa verdadeira “guerra” contra nossos inimigos de classe. Nós, metroviários da LER-QI, que impulsionamos a Corrente Luta de Classes no Metrô com trabalhadores independentes, defendemos desde o início dessa campanha salarial uma estratégia que levasse à vitória. Nossas propostas de auto-organização dos trabalhadores, a partir de assembléias setoriais que discutissem os rumos da luta e elegessem delegados para formar um forte comando de greve, foram rechaçadas pela diretoria do sindicato. Somente a auto-organização poderia preparar os trabalhadores para uma greve dura, que se enfrentasse com as exigências do TRT que atentam contra o direito de greve (funcionamento de 70% no horário de menor movimento e de 90% no horário de pico), que disputasse politicamente contra o governo, tendo uma política ofensiva de aliança com a população e a juventude e que buscasse a unidade dos trabalhadores efetivos e terceirizados para lutar contra a terceirização e a privatização do Metrô.

Como centenas de metroviários e metroviárias, levantamos o cartaz pela “GREVE JÁ” demonstrando a disposição que tínhamos de enfrentar o governo e lutar pelas reivindicações da categoria, que passaria não somente pela campanha salarial, mas pela necessidade de lutar pela unidade de nossa classe, efetivando sem necessidade de concurso os terceirizados, temporários, “jovens cidadãos” e os companheiros da Linha 4 Amarela (privatizada). Diferente da estratégia de pressão que expressam o PSTU e o PSOL na diretoria do sindicato dos metroviários, assim como nos outros sindicatos que dirigem, nós defendemos outro tipo de sindicalismo: um sindicalismo combativo e classista, e sobretudo revolucionário, com uma estratégia para vencer. Chamamos todos os metroviários, construírem com a LER-QI e trabalhadores independentes a Corrente Luta de Classes no Metrô e lutar por esta perspectiva.

DEPOIMENTOS DE TRABALHADORES METROVIÁRIOS

[1O PSTU fez parte da diretoria do sindicato dos metroviários como setor minoritário durante muitos anos em que ela era composta de forma proporcional (todas as correntes que estão hoje no PSOL faziam parte do PSTU na época, com exceção da CST, que fazia parte da corrente “O Trabalho” e também compunha a diretoria) e foram incapazes de forjar uma tradição distinta do PCdoB e PT na categoria, em geral atuando conforme sua política de “convivência pacífica” com a diretoria majoritária.

[2Denunciamos, na época, a aliança do PSTU e do PSOL nessa chapa com um membro do PPS, Sr. Messias Justino, agente de segurança que foi colocado na chapa para ganhar os votos desse setor.

[3No ano de 2007, foram feitas 3 greves pela antiga diretoria do sindicato (na época, PCdoB e PT). Nenhuma delas foi organizada pelo sindicato, foram feitas de forma irresponsável, sem mobilização da categoria, contando com a conivência da oposição (na época, PSTU e PSOL), que até hoje não fez um balanço disso. O resultado foi nenhuma conquista significativa e mais de 60 demitidos, o que deixou a categoria desmoralizada ao longo dos 4 anos seguintes.

[4Dos 27 diretores presentes, 23 votaram contra a greve (incluindo os membros do PSTU e maioria do PSOL), 3 a favor (independentes) e 1 se absteve (membro da CST/PSOL).

[5A proposta do Metrô inclui um reajuste salarial de 8%, abaixo da inflação do IGPM (10,79%) reivindicada pela categoria, um aumento do VR ainda menor, de 6,39%, aumento do VA de 100 para 150 reais (que continuaria sendo um dos menores do Estado), licença maternidade de 180 dias (um trunfo que a empresa utiliza somente agora, mas não faz mais que a obrigação, pois o Metrô é uma das categorias mais atrasadas na licença maternidade). Uma das principais reivindicações da categoria, que era de equiparação salarial (existem funcionários que chegam a ganhar metade do salário de outro que cumpre a mesma função), não foi contemplada pela proposta a não ser pra um setor muito minoritário.

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