Segunda 6 de Maio de 2024

Juventude

SÃO PAULO

O aumento da tarifa e a precarização da vida

13 Jan 2011   |   comentários

Neste início de ano, como já está se tornando um hábito por parte dos governos de todo o país nesta época, várias capitais e cidades de regiões metropolitanas aumentaram suas já altas tarifas de ônibus. Os aumentos, em sua imensa maioria, são maiores do que o índice de inflação, o mesmo que serve de base para ajustar os salários da parcela de trabalhadores que possui carteira assinada. Querem nos convencer de que se trata de um mal necessário para ampliar os investimentos e melhorar a qualidade dos serviços, mas é impossível engolir este tipo de demagogia quando sofremos diariamente esperando por um longo tempo nos pontos para pegar ônibus lotados e sucateados. Já não é mais segredo para ninguém que estes aumentos abusivos não possuem qualquer tipo de justifica a não ser a prestação de contas dos governos e agências de regulação com as empresas privadas de transporte que em todas as últimas eleições financiaram a campanha eleitoral dos prefeitos e vereadores eleitos.

O resultado imediato de mais esse ataque às condições de vida da juventude, da população pobre e dos trabalhadores é o aumento da exclusão social. Se com os preços anteriores uma grande parcela de pessoas que moram nas periferias já era impedida de pegar o transporte para se locomover até as regiões centrais onde ficam concentradas a maioria das poucas opções de lazer, das escolas e universidades e das oportunidades de trabalho, com um aumento de “meros” 30 centavos (como no caso da tarifa em São Paulo que subiu de R$2,70 para R$3,00) esse número cresce ainda mais. Antes mesmo dos novos aumentos, um estudo do próprio IPEA (órgão de pesquisa ligado ao governo federal) revelava que cerca de 37 milhões de pessoas nas principais cidades brasileiras não tinham acesso ao transporte urbano por “incapacidade financeira”. Realidade que evidencia uma das facetas mais cruéis e desumanizadoras do permanentemente contraditório sistema capitalista: ao mesmo tempo em que temos tecnologia suficiente para construir trens e outros meios de transporte que quase nada gastam para transportar milhares de pessoas em longas distâncias em um curtíssimo período de tempo, milhões são impedidos de usufruir das conquistas sociais mais básicas que eles mesmos constroem diariamente. A lógica imperiosa do capitalismo neoliberal se escancara de maneira deslavada: As condições de vida da classe trabalhadora e do povo pobre- maioria da população- são absolutamente precarizadas em benefício da manutenção dos lucros cada vez mais altos de uma minoria de grandes empresários e banqueiros. Obviamente, tais lucros são obtidos pela via do aprofundamento do processo de mercantilização daqueles que deveriam ser os direitos mais básicos, ou seja, da Saúde, Educação, Moradia e, como não poderia deixar de ser, do Transporte...

Dentre os muitos que são prejudicados pela péssima qualidade e os altos preços do transporte, os que mais sofrem são aqueles que moram nas periferias. São os trabalhadores terceirizados (que em muitos casos não recebem nem mesmo vale transporte), são os trabalhadores sem carteira assinada, são aqueles que vivem das migalhas dos programas sociais que caem das mesas dos governos, são os milhões de jovens desempregados. Os mesmos que hoje vivem a angustia de perderem suas casas, seus pertences e até seus parentes por conta das enchentes causadas pelo descaso e pela ganância das grandes empreiteiras e da especulação imobiliária.

Intensificar a jornada de lutas contra o aumento

Um dos aspectos positivos que acompanhou até agora a decisão dos governos em aumentar as tarifas neste ano foi a resistência que tem demonstrado parte da juventude em várias capitais. Vários atos que estão reunindo milhares de estudantes universitários e secundaristas em Aracaju, Brasília, São Paulo, Belo Horizonte (onde os estudantes acabam de conquistar o direito básico à meia tarifa) e outras cidades começam a romper com a passividade e o conformismo com que eram aceitos os aumentos no outros anos, vão para as ruas e deixam bem claro que não tem ilusões de que os mesmos parlamentares que aprovam um aumento de mais de 60% em seus salários resolverão os problemas da maioria da população. Em São Paulo, mesmo depois da brutal repressão por parte da PM de Kassab e Alckimin (flagrada e denunciada muito bem por um vídeo feito pelo cartunista Latuff) que terminou com um saldo de 10 estudantes feridos e 31 presos no ato do dia 13/01 no centro, um segundo ato reuniu mais de 4 mil pessoas na Avenida Paulista e se mantém uma forte perspectiva de crescimento da mobilização. Porém ainda é muito pouco para fazermos frente à ganância insaciável por lucros da máfia do transporte.

Para que consigamos ampliar esta luta e de fato possamos sair vitoriosos e barrar não apenas o aumento, mas também avançar em outras conquistas importantes como o passe livre para toda a população, é fundamental que as organizações políticas e entidades envolvidas nesse processo encarem essa batalha não como algo isolado. Precisamos ligar a luta contra o aumento à denúncia dos ataques às condições de vida em geral, como o problema das enchentes, da falta de políticas públicas para garantir moradias adequadas para todos, do descaso com a saúde, da exclusão social nas universidades públicas e falta de investimento com a educação como um todo. A partir desta perspectiva, precisamos pensar ações concretas para que se juntem aos atos estudantis um número cada vez maior de sindicatos de trabalhadores, associações de moradores dos bairros periféricos, movimento sociais, etc.

Ainda em São Paulo, um passo importante foi dado nessa direção apesar de certa resistência por parte do próprio Movimento Passe Livre (MPL), que até então vinha dirigindo de forma burocrática a mobilização. Em reunião na última segunda-feira se formou um Comitê de Luta Contra o Aumento da Passagem, frente única que pretende organizar as próximas ações e aglutinar novas entidades, sindicatos e organizações na direção política desta importante jornada (a próxima reunião desse comitê será no domingo, 30/01, às 16h na sede do DCE da UNIFESP). No entanto, mesmo esse passo importante já apresenta limites e pode vir a fracassar se não se modifica o método de deliberação por consenso imposto pelo MPL como condição para a formação do próprio comitê. Mesmo participando do comitê, deixamos bem claro que travaremos até o final a luta política a partir das entidades onde estamos e junto com os companheiros do Bloco ANEL às Ruas contra esse método antidemocrático de decisão em que as divergências não deixam de existir mas são apenas abafadas em benefício de sínteses que tendem a expressar a posição das entidades e organizações que burocraticamente tem mais peso na direção do movimento. São inúmeros os casos de instrumentos de frente única que se neutralizaram e fracassaram pelo método do consenso, como é o caso da famigerada Frente de Luta Contra a Reforma Universitária em 2003.

Quanto ao programa, é preciso deixar bem claro que só colocaremos um fim nos constantes aumentos, conquistaremos um transporte de qualidade e o passe livre não apenas para estudantes, mas para toda a população, não pela via de uma maior regulação ou de uma licitação com maior concorrência. Essas conquistas só virão a partir do momento em que não aceitarmos a lógica em que transporte se torna mais uma mercadoria, e questionarmos radicalmente o processo de privatização dos serviços públicos. Dessa forma, é urgente levantar a consigna de estatização imediata de todas as empresas de transporte sob controle dos usuários e trabalhadores, no sentido de garantir que as necessidades destes mesmos trabalhadores e usuários sejam garantidas.
Por fim, não podemos perder de vista também que a intensificação dos ataques aqui é consequência direta do aprofundamento da crise econômica que sacode neste momento a Europa e o norte da África, e que, assim como lá, os governos começam a se preparar para descarregar com toda a força os prejuízos nas costas dos trabalhadores e da população pobre (exemplos disso são os já anunciados cortes de orçamento, reforma previdenciária, ou então, as 261 demissões de trabalhadores aposentados na USP).

A agudização da crise econômica Mundial, acompanhada da resistência de setores importantes da juventude e da Classe trabalhadora e a indicação de sua chegada ao Brasil colocam mais do que nunca a necessidade de encararmos esta jornada como uma oportunidade de, inspirando-nos muito na resistência de nossos irmãos europeus e tunisianos, darmos exemplos capazes de colocar de pé uma tradição de luta que, rompendo com a passividade colocada conjunturalmente, demonstre ao conjunto do povo pobre, dos trabalhadores e da juventude que confiando em suas próprias forças e tomando as ruas em todo o país, nenhum ataque às nossas condições de vida, seja qual for sua proporção, passará. Somente assim avançaremos na recomposição de uma moral de classe capaz de avançar ao questionamento das bases do sistema capitalista e capaz de enfrentar os exploradores e seus agentes no Estado Burguês. Por isso devemos encarar este processo como mais uma luta, como faz boa parte da esquerda adaptada a uma lógica de militância ainda impregnada de sindicalismo e rotineirismo, mas sim como uma preparação em que vai se colocar a prova a capacidade da juventude e dos trabalhadores em se aliar e forjar elementos iniciais de uma forte aliança operário-estudantil que possa fazer frente aos ataques que estão por vir.

É central que nós trabalhadores e jovens, adotando esta perspectiva e assumindo este compromisso com nossa classe, construamos esta jornada de luta e, colocando-nos como sujeitos políticos, conformemos a direção deste comitê e das próximas medidas de luta!

VENHA PARTICIPAR JUNTO CONOSCO DO BLOCO DO GRUPO ANEL ÀS RUAS NO ATO CONTRA O AUMENTO DA PASSAGEM DESTA QUINTA, 27/1, ÀS 17 HORAS, EM FRENTE AO TEATRO MUNICIPAL!

PASSE LIVRE IMEDIATO AOS ESTUDANTES E DESEMPREGADOS!

ESTATIZAÇÃO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES E USUÁRIOS!

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