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O PSOL e a defesa das UPPs: uma posição escandalosa!

16 Sep 2011   |   comentários

Há alguns dias, a foto de Marcelo Freixo, deputado pelo PSOL/RJ, aparecia nos jornais; um sorriso e um cartaz “Queremos Paz! UPP urgente!”. Há algo de errado no movimento estudantil quando acata com naturalidade e rotineirismo um convite à repressão como esse... Não é de hoje que o P-SOL é um partido que luta para ser mais parte da ordem. Nas primeiras oportunidades, o projeto de resgatar o PT das origens se mostrou uma receita exata para ser um partido que, sonhando com tempos de grandeza, quer uma fatia maior do bolo; mais presença em todas as instâncias do governo brasileiro.

O pedágio é barato, mas é de mão única. Para lembrar somente dois episódios; votou a favor do super-simples em 2006 (com somente Luciana Genro e Ivan Valente se limitando a “abstenção” - de fato, um abstenção de denunciar a lei) , um ataque direto aos trabalhadores mascarado de incentivo ao “pequeno empresário”; em 2010 aceitou, com entusiasmo, dinheiro da Gerdau para financiar a campanha de Luciana Genro a deputada no Rio Grande do Sul. Uma posição como essa, defendida por um deputado de um partido que tem peso no movimento estudantil e diz defender os trabalhadores e os movimentos sociais, não pode passar em branco. Não somente pelo significado do PSOL em si, mas porque ainda é considerado por parte dos estudantes como um partido que tem, de fato, algo novo a oferecer. Na verdade, nada mais velho do que a defesa da repressão...

Brasil: um país construído sob o chicote e a bala

A escravidão foi o pilar fundamental do desenvolvimento nacional a serviço dos interesses comerciais da Coroa e dos grandes proprietários de terra. Vendido como mercadoria de uma vez e para sempre, o escravo sofreu por séculos a violência dos senhores, sua ferramenta por excelência; sob o rapto, o chicote e a tortura, o trabalho escravo foi fonte de riqueza e acumulação para os proprietários de terra no Brasil, e os comerciantes estrangeiros. Mas onde há escravidão, há resistência: assim foi durante toda a história. A repressão a toda e qualquer forma de resistência escrava foi um pilar da política da Colônia e do Império. No campo, nas nascentes cidades, nos quilombos, onde havia escravo resistindo, havia um capitão do mato, um batalhão local ou uma tropa de mercenários liderados por bandeirantes (os organismos de repressão próprios do Estado brasileiro surgiram relativamente “tarde”, até lá os bandeirantes serviram à eliminação de heróicos quilombos, como o de Palmares), tendo como objetivo nada menos do que o extermínio dos rebeldes.

A abolição foi realizada de acordo com os interesses das elites. Expulso do campo, sem terras para cultivar, ao povo negro restou o sub-emprego, os trabalhos que ninguém mais queria; a falta de alternativa, junto com a repressão nas cidades, o forçou a ocupar os morros.

As favelas são necessidade e resultado do capitalismo brasileiro; possibilitaram (e ainda possibilitam) níveis de acumulação impressionantes à burguesia brasileira. Ressaltamos somente um aspecto mais gritante: rebaixam o custo da força de trabalho ao retirar a moradia como parte dos custos de sua reprodução. Hoje, “o desemprego estrutural e as favelas estão organicamente ligados à ampliação do trabalho precário como parte estrutural do capitalismo brasileiro”(“Qual ‘projeto de país’?”, na revista Estratégia Internacional Brasil 5 – lançamento na USP em breve - http://ler-qi.org/spip.php?article3038).

O Estado burguês, esse que o PSOL insiste tanto em tornar sua casa, é, como dizia Lênin, um produto do antagonismo inconciliável das classes. A polícia – civil, militar ou federal - é cão-de-guarda da burguesia e seus interesses são claros: a manutenção da ordem e da propriedade privada.

Antes o escravo recebia o chicote; hoje, o trabalhador precário, que mora nas favelas, que em sua grande maioria é composta de negros e negras, recebe a bala. A repressão do mais alto grau está no DNA das elites brasileiras. Alguém se atreve a negar?

Mais policia? Jamais!!! Estamos do lado dos escravos insurrectos, da juventude negra, dos trabalhadores e trabalhadoras precárias, dos moradores das favelas! Pela dissolução da polícia!

O PSOL se adapta a um setor da opinião pública (inflado pelas estatísticas da mídia, como mostram as legítimas revoltas violentas de moradores contra os militares em algumas ocupações) que aprova as UPPs acreditando que é uma polícia mais “humana”, que a violência policial é culpa de “maus policiais” individualmente, ou que é um mal necessário para combater o crime. Na verdade o genocídio ao povo pobre é marca da polícia como instituição, essencial ao capitalismo brasileiro, e a polícia somente “rearranja” o crime organizado territorialmente no Rio, preparando a cidade para a Copa e as Olimpíadas, e não combate em nada o crime organizado que oprime brutalmente os moradores da favela, ao contrário: de onde vêm as armas militares do tráfico? Quem lucra com ele? Crime organizado, polícia e burguesia são três partes da mesma trincheira da luta de classes, engrenagens de manutenção do capitalismo. A libertação do povo pobre de tanta repressão depende de que a classe trabalhadora supere a ilusão no contrário e se auto-organize; a política do PSOL só alimenta essa ilusão.

O PSOL deixa absolutamente claro de que lado está quando milita pela implementação de UPPs no Rio. Está do lado de uma fantasia reacionária que acredita que a saída é ocupar os espaços institucionais do Estado burguês e, progressivamente, alterar sua política em busca de algo mais “humano” e “justo”. A história da luta de classes nos ensina que isso é impossível.
Quando na USP Rodas avança contra a universidade militarizando o campus – diga-se de passagem, com boa base de apoio conquistada com a manipulação da morte de Felipe, estudante da FEA – o PSOL só falta defender uma UPP na São Remo! Um partido que faz coro com as exigências mais abjetas da burguesia em sua sede de repressão não tem absolutamente nada a oferecer a não ser conciliação de classes e resignação cotidiana aos estudantes. A mesma ideologia psolista que acredita que a polícia deve ser mais bem paga e preparada é a que norteia a construção da passividade em todos os lugares onde militam. Afinal, o que resta a combater àqueles que militam por mais UPPS, mais violência policial, mais repressão? A UPP que Freixo e o PSOL reivindicam significa 1 policial para cada 81,8 habitantes... só se compara à repressão de Israel ao povo palestino.

Nós, da LER-QI, combatemos a ilusão de que é possível “ocupar democraticamente” espaços do Estado burguês com o objetivo de defender os interesses da população. Não! Defendemos categoricamente a dissolução da polícia e o armamento da população como parte de uma estratégia operária para a tomada do poder pela classe trabalhadora e a população pobre do campo e da cidade. Todas as nossas ações, dentro e fora do movimento estudantil, estão pautadas por essa firme convicção, baseada na luta de classes e revigorada a cada embate entre trabalhadores e burguesia, cada vez mais recorrente nestes novos ares internacionais...
O movimento estudantil não pode permanecer no silêncio! É fundamental que discuta vivamente e se posicione frente a questões como esta. São as discussões mais estratégicas as que podem nos ajudar a encontrar as vias de transformar o movimento estudantil em um real aliado da classe trabalhadora e do povo pobre! Afinal, não é isso que queremos?

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