Sexta 3 de Maio de 2024

Movimento Operário

Reproduzimos aqui entrevista com P, funcionário da USP e militante da LER-QI publicada no jornal do MTC

Necessitamos de um partido próprio

08 Aug 2007   |   comentários

MTC: Por que você defende que os trabalhadores devem se organizar de maneira independente de seus patrões, do governo e das direções sindicais traidoras?

P: Nós produzimos tudo nesta sociedade mas para nós e nossas famílias só fica o desemprego que a cada dia põe mais uma família operária na miséria, o salário miserável, o aluguel que corrói nosso pouco dinheiro! Lucram com nosso suor, roubam nosso tempo, nossa energia e ao final nossa vida se resume a trabalhar para eles!

Primeiro há uma questão de princípios que é elementar: os trabalhadores, como classe explorada da sociedade, não podem confiar nos políticos patronais nem em suas instituições, muito menos sentir-se representados por qualquer um dos partidos dos exploradores. Ao contrário, lamentavelmente, além dos já conhecidos partidos patronais ’ PMDB, PSDB, PTB, PDT, PPS, DEM ’ o próprio PT, que surgiu um setor combativo de nossa classe, hoje é um partido a mais que representa os interesses dos capitalistas. Por isso digo que os capitalistas exploradores e corruptos têm seus partidos, nós necessitamos um nosso.

MTC: O que deveriam fazer desta vez, os trabalhadores, para que seu partido não acabe traindo?

P: Eu creio que a primeira coisa que a classe operária tem para fazer é tirar as lições de sua experiência anterior. E uma lição muito importante é que nosso partido tem que estar baseado em nossas organizações sindicais e de luta, para não deixar nas mãos dos dirigentes, soltos e sem controle da base, nosso destino. A separação dos dois processos que deram origem, por um lado ao PT e por outro à CUT, não tem que ser repetida, porque é um modelo no qual os dirigentes se separam cada vez mais da classe operária e têm as mãos livres para negociar e fazer política nas nossas costas. E este não é qualquer problema, já que nós operários somos “educados” nesta sociedade capitalista para que nos dirijam e não para tomarmos as rédeas de nosso destino confiando apenas em nossas forças de classe e em nossa organização. Outro ponto é manter a independência política diante da burguesia. O caráter classista do partido não apenas em relação aos patrões nas fábricas, mas diante de suas instituições políticas, é determinante. Somos classes antagónicas: eles nos exploram, seu interesse é apenas aumentar seus lucros; por isso necessitamos impor nossas reivindicações contra seus interesses e não há maneira de nos conciliarmos, já que quando um ganha o outro perde.

MTC: Não é uma tarefa fácil, inclusive porque ainda muitos operários votam no PT e apóiam Lula.

P: Sim, é assim mesmo. Lula ainda tem apoio e não apenas entre os trabalhadores, mas também entre os camponeses e o povo pobre, nossos aliados essenciais. Porém, também devemos destacar que já neste segundo mandato de Lula começou um processo de desilusão com o governo, o PT e as organizações que o apóiam, como a CUT. O surgimento do PSOL e também da Intersindical e da Conlutas são expressão deste processo de ruptura com o PT e a CUT, devido a seu apoio ao governo.

MTC: Por que vocês não apóiam a construção do PSOL?

P: Bom, como dizia antes, para nós os trabalhadores necessitam um partido próprio com duas condições elementares: que seja orgânico, e que se mantenha em política, programa e estratégia independente de todas as variantes burguesas, e por isso não podemos apoiar o PSOL. Em primeiro lugar, é um partido no qual a direção fica nas mãos dos parlamentares, que não têm qualquer controle das organizações operárias que o apóiam. E não luta pela independência de classe; no programa do PSOL sustentam a redução de juros, uma política económica contra o “capital financeiro” que significa a busca de diálogo com o setor “produtivo” da burguesia. Entretanto, as demandas da classe trabalhadora são abandonadas na prática. É o que se demonstrou na votação do Super Simples, no fim de 2006, quando o PSOL votou a favor de um ataque contra os trabalhadores. Para a questão da terra, propunha uma reforma agrária de acordo com a Constituição atual, essa mesma Constituição que foi negociada com os militares no fim da ditadura e que defende a propriedade privada.

MTC: Então os trabalhadores têm que começar do zero?

P: Não, de maneira nenhuma. Depois de décadas de traições e derrotas, os trabalhadores de várias partes do mundo começam a recompor suas forças e sair para a luta contra os patrões, o governo e as direções traidoras.

Como dizia, no Brasil já começa a haver rupturas com o governo Lula, o PT e também o processo de formação de um pólo de agrupamento contra a direção da CUT, como a Conlutas e a Intersindical. Estas organizações que reúnem vários sindicatos, oposições sindicais e ativistas que romperam com o governo, poderiam cumprir um papel fundamental. Defendemos que se deve abrir o debate nessas organizações sobre a necessidade de um instrumento político da classe operária, que deve sair do mero terreno sindical. Um instrumento político que, como disse, não faça seguidismo a nenhum setor burguês e, que para a LER-QI, tem que se propor a tomada do poder.

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