Domingo 19 de Maio de 2024

Juventude

JORNAL A PLENOS PULMÕES #06

Manifesto frente à crise da PUC-SP e a invasão da Tropa de Choque a mando da Reitoria e da Igreja

15 Nov 2007 | Esse jornal foi escrito por Movimento A Plenos Pulmões, LER-QI, integrantes do CACS – Gestão Primavera de Praga e estudantes independentes   |   comentários

Editorial

A 30 anos da invasão da PUC-SP pelas tropas comandadas por Erasmo Dias em plena ditadura militar, a atual reitoria desta universidade rende uma inadmissível homenagem aos repressores de outrora: envia a tropa de choque ao campus para reprimir os estudantes. Na madrugada do dia 10 de novembro um numeroso e ostensivo aparato policial, com todos os seus grupos especiais (Choque, Grupo de Operações Especiais, Grupo de Ações Táticas Especiais e Força Tática), se dirigiu à reitoria ocupada desta universidade, rompendo com o que de mais progressivo existia na história da PUC que era justamente a negação da entrada da polícia no campus. A truculência e o tratamento ao movimento estudantil como caso de polícia vêm se transformando numa rotina. Visivelmente, as reitorias, os governos e os capitalistas estão dispostos a tudo, inclusive relembrar a ditadura, para implementar seus planos para a educação.

Agora, a reitora Maura Véras já acenou com o adiamento da votação do famigerado “Redesenho Institucional” que estava agendada para o dia 12/12 no Conselho Universitário. É provável que com essa combinação, de CHOQUE + adiamento, a reitora Erasmo Dias, quer dizer Maura Véras, tente desarmar a nossa mobilização. Seu objetivo é garantir a volta da gélida “normalidade” puquiana, para que não reduza ainda mais o número de inscritos no vestibular, e tentar isolar os estudantes que tomaram para si a tarefa de lutar contra os ataques ocupando a reitoria como os anti-democráticos que usaram a “violência” desnecessariamente. Nada mais repugnante! Depois da provocação da “reunião informal” , chamada pela reitoria, com a infeliz ajuda da APROPUC (Associação dos Professores da PUC), como uma manobra para implodir a nossa assembléia mais importante, onde disse que a crise da PUC-SP era culpa dos bolsistas e inadimplentes, agora, chegam ao cúmulo do descaramento e reacionarismo de quererem “inverter os papéis” , comparando-nos com Erasmo Dias. Fomos obrigados a ler na nota dos que merecem cair e sumir dessa universidade que “Os protagonistas da invasão buscam legitimidade em outro exemplo histórico, operando uma curiosa inversão de papéis. Trata-se da violenta invasão da PUC-SP em 1977 pela repressão da ditadura militar. A polícia bateu, jogou bombas, arrebentou portas e prendeu estudantes. Agora são os militantes desse movimento que derrubam paredes, arrombam portas e invadem a Reitoria e sustentam esse “direito” apoiando-se na inviolabilidade da Universidade à ação de forças externas” .

Com esse pacotaço de manobras, provocações, cinismo e mentiras, a reitoria tenta transformar nosso movimento em “violento” e “anti-democrático” . Logo nós, que fizemos o debate tomar conta dos quatro cantos da PUC-SP e decidimos tudo em fóruns democráticos, o que essa oligarquia truculenta foi incapaz de fazer. Violência é invadir a universidade com a Tropa de Choque, o Grupo de Operações Especiais, o Grupo de Ações Táticas Especiais e a Força Tática. Violentos são os cortes de bolsas, os vestibulares para impedir o livre aceso a educação do povo. Violenta é a forma como são tratados os inadimplentes. Violento é impedir a livre manifestação política, cultural e social na PUC, coagindo a comunidade universitária com câmeras e uma segurança privada truculenta, a Graber. Violência é demitir em massa professores e funcionários para garantir os interesses dos bancos violentamente lucrativos. Frente a tudo isso, uma porta não é nada! Derrubar a porta da reitoria foi a via que o movimento teve para abrir caminho para a democracia dos que podem resolver a crise da PUC-SP com uma saída progressiva, contra o aprofundamento da sua ligação com os interesses da burocracia acadêmica e do capital, colocando-a a serviço dos interesses da comunidade universitária e da sociedade.

Nós, que assinamos esse manifesto, nos dirigimos àqueles estudantes que querem não somente barrar o Redesenho Institucional, os cortes de bolsa, os ataques aos inadimplentes e a repressão, que é o que milhares de estudantes já compreenderam que é necessário. Nos dirigimos àqueles que querem dar um passo à frente e lutar por uma saída de fundo para a crise da PUC-SP, e lutar para que o movimento estudantil nacional se unifique para dar uma saída para a crise do sistema universitário nacionalmente, por uma universidade ao serviço dos trabalhadores e o povo.

Com esse manifesto, queremos contribuir para a superação de uma das principais debilidades do tão clamado novo movimento estudantil: que a radicalização nos métodos e a disposição de luta ainda não se transformaram em radicalização política, radicalização programática, que só pode se efetivar se está ligada a um movimento estudantil concretamente massivo, que represente e organize amplamente as distintas alas dos estudantes nas universidades púbicas e particulares que queiram lutar contra a universidade neoliberal, elitista e racista, que para nós não é somente a que querem para o futuro, mas a do presente. Queremos contribuir para que os estudantes da PUC-SP apontem um novo caminho, um novo programa, dando um exemplo para os estudantes de todo o país de que é possível responder aos ataques dos governos federal e estaduais, os empresários e as burocracias acadêmicas (esse punhado de parasitas que gerem as universidades de acordo com seus interesses e do capital privado) e passar à ofensiva.
Chamamos todos os que tiverem acordo com as posições que apresentamos aqui, a atuarmos juntos nessa luta, a nos organizarmos para atuar com um só punho por esse programa nos centros acadêmicos e fora deles.

Polícia ocupa universidades por todo o país!
Fora a PM e a segurança privada das universidades!
Por uma campanha nacional contra a repressão!
Fora a Graber da PUC!
Pelo livre direito de manifestação política, cultural e social nas universidades!

A Polícia Militar é um órgão criado durante a ditadura com a finalidade de reprimir e disciplinar a organização da classe trabalhadora, do povo e da juventude. Um olhar rápido no site da corporação pode explicitar muito sobre seu caráter. É explicado, por exemplo, o que significam as dezoito estrelas presentes do brasão da PM. A maioria delas representa o orgulho da PM pela repressão a movimentos de contestação à ordem vigente. São tratados como feitos heróicos a repressão à greve geral de 1917 e à revolta da chibata, o massacre de Canudos e, evidentemente, a construção do golpe militar de 1964. Essa representação simbólica nos permite entender claramente, então, que a polícia é um instrumento coercitivo usado pelas elites para reagir violentamente a qualquer tentativa de transformação social.

Afinada com a ideologia da PM, a reitoria se esforça em destruir o movimento dos estudantes e qualquer possibilidade de organização dos setores que dela divergem. A invasão da PUC pela PM é o ponto mais visível disso. Perfilados à porta da reitoria, com escudos e armamento pesado, os policiais que invadiram a PUC simbolizam o projeto de “democracia e diálogo” que a reitoria tem para a universidade.
A entrada da Policia Militar no campus também demonstra como a Reitoria, junto a Fundação São Paulo, está disposta a utilização de quaisquer métodos para implementar seu projeto de universidade, como declarou em carta oficial em que legitima a policia dispor de toda violência que julgar necessária para a retirada dos estudantes do campus. É parte da mesma política repressiva, a presença da cada vez mais ostensiva e policialesca Graber, segurança privada da PUC. Não podemos mais tolerar que qualquer manifestação política, cultural ou social da comunidade universitária seja coibida pelas forças de repressão, sejam elas públicas (como a polícia) ou privadas (como a Graber).

A truculência policial ocorrida na universidade não está descolada de todas as invasões policiais nas universidades de todo o país, que começou na UNESP de Araraquara, em diversas federais e duas vezes na Fundação Santo André. Isso sem falar da repressão ao movimento de trabalhadores como as demissões no metró e a medida do governo federal em acabar com o direito de greve. Um ano de repressão ofensiva num contexto em que a repressão cresce mais a cada dia que a onda de lutas estudantis se reafirma. Só coordenando todos os setores que saíram em luta e hoje são reprimidos, para uma campanha nacional contra a repressão conseguiremos alavancar uma alternativa.
Três estudantes já estão nomeadamente citados em Boletim de Ocorrência que a Reitoria acionou. Mais uma resposta do falso diálogo e democracia que a Reitoria afirma querer tanto construir com a comunidade universitária. Com a invasão da polícia todos os estudantes presentes foram fichados, tiveram seus nomes e RG anotados. A rainha da democracia e do diálogo nas eleições, atual reitora Maura Véras, responde ao movimento estudantil com repressão direta a algumas figuras públicas da mobilização. Além de serem ameaçados com a possibilidade de expulsão da universidade, a Reitoria, alicerçada na Fundação São Paulo, entrega a repressão também nas mãos da polícia. Não só no momento da invasão da CHOQUE no campus e agressão moral aos estudantes presentes, mas também com o fichamento policial dos mesmos.

Universidade e Polícia não combinam. É impossível esses dois elementos antagónicos coexistirem no mesmo espaço. Se defendemos o mínimo de liberdade para produção do conhecimento é inaceitável conviver com a possibilidade da entrada do aparato repressor do Estado na universidade. É necessário que façamos uma campanha ampla contra toda punição a qualquer estudante que participam da luta contra esse modelo de universidade, decidido pelos altos e que entrega na bandeja a universidade às empresas privadas atacando a todos os trabalhadores e estudantes da PUC. Esta campanha tem que ser impulsionada por todas as organizações de esquerda, do movimento operário, movimento estudantil e de juventude, bem como todos os que são contra este tipo inadmissível de ofensiva repressiva impulsionem atos, debates e atividades que mostrem que não toleraremos ameaças e não nos deixamos intimidar.

Por uma saída independente para a crise da PUC-SP

A PUC-SP foi fundada num período no qual seu modelo era sustentável. Porém, no início da década de 90, com o boom das universidades chamadas “mercantis” (UNIP, UNIBERO, UNINOVE etc.), a PUC começa entrar numa crise cada vez mais profunda. As universidades privadas chegam, no estado de São Paulo, a compor 80% das instituições de ensino superior. A maioria dessas universidades são meras empresas capitalistas que visam o lucro, competindo de maneira encarniçada, transformando-se em verdadeiras fábricas de diplomas para um setor da juventude que será formada como mão-de-obra semi-qualificada para o mercado de trabalho.

A PUC-SP era um híbrido, pois ao mesmo tempo em que tinha um caráter de uma instituição privada, foi uma das principais instituições de ensino do estado de São Paulo, possuindo um programa de bolsas de ensino da própria instituição, garantindo uma série de concessões aos estudantes e professores. A própria universidade se reivindicava como “privada de caráter publico” . Mas o modelo de universidade que existia na PUC começa a ruir, e um dos seus primeiros sintomas é quando as mensalidades sobem em quase 50%, e no decorrer dos últimos anos os ataques vêm crescendo.

A intervenção da Igreja e dos Bancos Real e Bradesco vieram com o apoio da Reitoria e do CONSUN, acabando com a autonomia. Isso sem contar a repressão. Até 2004 via-se debates culturais, rodas de música, sarais, e hoje qualquer violão é pretexto para sermos revistados. A polícia privada, Graber, foi contratada e câmeras foram instaladas para a vigilância. Foram cortadas mais de 1.565 bolsas, e foram mais de mil demitidos entre professores e funcionários.

A reitoria da PUC-SP mandou polícia para acabar com a ocupação, método histórico e legítimo de luta do movimento estudantil. Porque agora? Porque é justamente agora que a reitoria, a Igreja, a Fundação São Paulo e a burocracia acadêmica se unem para aplicar o “Redesenho Institucional” , que é na prática a continuidade do ataque a professores, funcionários e estudantes para transformar a PUC em uma universidade ainda mais elitista.

A política de excluir os inadimplentes da universidade, de corte de bolsas, aumento das mensalidades, aumento da repressão, sucateamento dos cursos menos lucrativos já vem sendo implementadas há tempos, e hoje seriam regulamentadas pelo Redesenho. Basta ver como usam a desculpa da “multidisciplinaridade” para acabar com as atuais faculdades e instaurar “institutos” por “área de conhecimento” que deverão captar recursos para sobreviver. Cursos deficitários deixarão de existir ou serão completamente sucateados, como já esta sendo o caso dos cursos de Serviço Social e História, sendo que neste último se reduziu um ano do curso para introduzir a licenciatura que os estudantes faziam depois de concluir a graduação. Trata-se portanto de um projeto estratégico de transformação da universidade de “filantrópica” de outros tempos, em totalmente mercadológica através do Redesenho.

Fora Maura Erasmo Dias Véras e o CONSUN repressores! Fora a Igreja!
Estatuinte já imposta pela força da mobilização, sem burocratas acadêmicos!

Até quando serão os interesses privados e vis os que seguirão determinando os rumos do ensino superior em nosso país? Porque temos que nos disciplinar e aceitar os planos neoliberais que querem nos impor? Ou porque pagar mensalidades altíssimas? Até quando teremos que tolerar a presença e a repressão da polícia nas universidades, que como organismo máximo de repressão estatal se contrapõe pelo vértice à liberdade de crítica, pensamento e organização, tão importantes para a produção do conhecimento? Até quando agüentaremos as mentiras dos que enchem a boca para falar de “democracia” , mas não hesitam em enviar a tropa de choque sobre os que se mobilizam por seus direitos?

É uma necessidade vital partir de uma luta determinada para que todos os estudantes possam garantir seu direito de estudar. Por isso, é preciso que haja a anistia de todos os inadimplentes, bem como a concessão de bolsas-doação, e que não haja nenhuma demissão de professores. E, sobretudo agora, precisamos combater a ofensiva repressiva da reitoria sobre os estudantes que se mobilizaram, e garantir que não haja nenhuma punição. Mas esta luta tem que se ligar a um projeto estratégico de transformar radicalmente a PUC-SP.
A reitoria mostrou que é impossível ter algum projeto de universidade com ela e a burocracia acadêmica que chama e apóia a polícia no campus, que quer colocar os nossos currículos a serviço das grandes empresas. Nós, estudantes temos que nos dar a tarefa de derrubar a reitora Maura Erasmo Dias Véras, o CONSUL, e expulsar a Igreja da PUC, derrotando a intervenção da Igreja que o Redesenho quer oficializar. A Igreja que tenta aparecer como “defensora dos pobres” , enquanto seus padres e bispos estão cobertos de ouro, foi uma das primeiras a estimular os professores a se demitirem e os funcionários a não fazer greve quando a crise financeira da PUC-SP veio à tona em 2005. Com um discurso de “união para sair da crise” levam à frente sua campanha de favorecimento da política da reitoria de ao banco tudo, aos estudantes, professores e funcionários...sacrifícios! Isso sem contar na própria ingerência sobre o conhecimento produzido na universidade, que contraria um dos princípios mais básicos da ciência: o caráter laico.
Porém, a derrubada da reitora e seus aliados não podem estar a serviço de colocar simplesmente uma nova administração que não se anteponha à estrutura de poder existente. Do que nos adiantaria entrar outros reitores que terão assim como a Maura seus interesses materiais, e rezarão o terço conforme manda a bíblia, ou melhor, a Fundação São Paulo? Em absolutamente de nada.

Para que isso não aconteça é imperativo que os estudantes lutem pela instauração de uma comissão provisória composta por funcionários, professores e estudantes, que funcione através da democracia direta e sejam eleitos em assembléia com mandatos revogáveis para cumprir com a função de convocar um Congresso Estatuinte destes três setores que fazem a universidade funcionar, para que decidam os rumos da universidade. Este Congresso Estatuinte, que só pode se dar imposta pela mobilização em enfrentamento direto com a burocracia acadêmica teria a tarefa de discutir todas as questões candentes da universidade, a serviço de quê está o conhecimento produzido, e de transformar o regime universitário.

Estatização sob controle de um governo tripartite com maioria estudantil!

Se podemos derrubar a reitoria e todos os seus burocratas, por que não dar um passo além e laicizar a PUC e estatizá-la sob o controle da comunidade, e dizer que nenhum outro burocrata subirá à reitoria para nos dizer o que fazer, o que estudar e se podemos ou não nos manifestar?

Alguns dirão que falar em estatizar a universidade é uma utopia. A estes respondemos que os últimos acontecimentos demonstram que utopia é acreditar ser possível manter na PUC todos os que querem estudar, e não podem pagar as indecentes mensalidades cobradas, sem dar uma saída de fundo.

A luta pela estatização deve se ligar a toda uma luta para arrancar a universidade das mãos do capital, para que a universidade que responda aos interesses da grande maioria da população, os trabalhadores e o povo pobre. Precisamos estatizar a universidade para garantir o acesso a todos os que hoje são deixados fora dela pelo filtro de classe que é o vestibular e pelas altíssimas mensalidades.
A PUC-SP encontra-se hoje numa encruzilhada: ou é estatizada ou se transformará numa universidade muito mais elitista. Prova disso é a falência total do seu anterior caráter “filantrópico” . Nós elegemos decididamente a estatização como saída de fundo, a ruptura com os bancos e a aliança com os trabalhadores e o povo pobre como via de conseguir uma vitória nesta luta. Que todo o conhecimento produzido nesta universidade esteja a serviço dos reais interesses dos trabalhadores e do povo.

Junto a isso, precisamos lutar para instituir um governo tripartite formado por estudantes, professores e funcionários, com maioria estudantil, eleitos e controlados pela base, com mandatos revogáveis. Só assim, o regime universitário será realmente democrático expressando os setores que realmente a fazem existir.

Assembléia histórica aponta o caminho: construir um conselho de delegados de sala!

Quando fechávamos esse jornal, cerca de 900 estudantes acabaram de fazer uma assembléia histórica, que mostra como a reitoria não conseguiu calar a nossa voz com seu “CHOQUE de democracia” . Depois de votarmos uma paralisação de 48 horas para barrar o redesenho, pelo Fora Maura, a Igreja e os Bancos e por nenhuma punição aos lutadores, por ampla maioria os estudantes votaram a favor de organizar as discussões em sala de aula e elegerem delegados para conformar uma direção democrática e representativa do movimento.

Para nós, concretizar essa votação é decisivo para os rumos da luta pois, dessa maneira, será possível massificar verdadeiramente a luta a partir das salas de aula, única maneira de barrar os ataques e passar à ofensiva. Não é casual que justamente quando novos setores de estudantes se incorporam à mobilização depois da revolta que gerou a repressão, votam massivamente nessa proposta. Os estudantes demonstram que querem tomar para si as decisões sobre os rumos do movimento. É para fortalecer essa perspectiva que colocaremos todas as nossas forças. Viva a democracia direta dos estudantes! Concretizemos o Conselho de Delegados de Sala para que o conjunto dos estudantes em luta definam os rumos da mobilização! Assim, estaremos concretamente construindo um novo movimento estudantil antiburocrático.

Crise do sistema universitário nacional e o ressurgimento do movimento estudantil....

Qual é a política dos governos e das burocracias acadêmicas?

O ensino superior do Brasil, público ou privado, é extremamente elitista, abrangendo apenas 3,22% da população total brasileira [1]. Não é casual que todos os governos tenham que levantar alguma política, seja fazendo concessões reais ou mera demagogia, de “democratização da universidade” . Até mesmo quando se trata de passar ataques, os governos fazem esse discurso para isolar os movimentos de resistência frente à sociedade.

Depois do PROUNI, que foi uma concessão muito pequena em quantidade e qualidade de vagas oferecidas, o governo agora lança o REUNI que, apesar da resistência de um setor dos estudantes que sai à luta em defesa do “ensino público, gratuito e de qualidade” , consegue um apoio muito maior na sociedade porque tem uma expansão de vagas significativa nas universidades federais e, ainda mais, é apresentado como um “projeto pedagógico” que proporcionaria a formação do estudante mais plenamente, devido à chamada multidisciplinaridade (que também é levantada na PUC-SP). É possível se ler também no projeto que apenas os melhores e mais conceituados estudantes poderão seguir para o ciclo de graduação, ou seja, o vestibular das públicas, funil eficaz da elitização, será agora realizado em 2 ou 3 anos. E no final das contas, este funil acaba se apertando ainda mais, pois as vagas das especializações diminuem. Alarga-se a base da pirâmide, para espremer ainda mais o seu topo.

A operação do governo é complexa. Por um lado, o governo vem aplicando a reforma universitária de maneira fatiada a nível nacional ou com as mãos das burocracias acadêmicas em cada universidade para evitar o desgaste de um ataque nacionalmente, que poderia desatar uma mobilização unificada. Por outro, faz uma campanha ideológica, junto às burocracias acadêmicas, para isolar o movimento estudantil combativo que vem se colocando em luta, tratando-nos cinicamente como "elitistas" que não querem a democratização da universidade. Com essas manobras, o governo consegue dividir nossas lutas e isolar os movimentos que surgem diante da sociedade, como fez para aprovar a primeira reforma da previdência que, segundo o governo, era contra os “privilegiados” .

Infelizmente, essas questões chave não vêm sendo respondidas por nenhum setor do movimento e, como resultado, apesar das mobilizações que ocorrem, várias universidades já aprovaram o REUNI.
E qual é a tendência das particulares? Se a euforia do ensino privado parecia ter diminuído com as recentes crises, principalmente na questão da inadimplência, o Prouni de Lula e as recentes fusões e a financeirização das privadas dá um novo gás em sua sede pelo lucro. É o que podemos ver agora na Universidade Estácio de Sá, que abriu seu capital na bolsa de valores e já conseguiu 447 milhões de reais, assim como a Anhanguera que em 6 meses na bolsa captou 512 milhões. Mas para se manterem valorizadas precisam de alunos pagantes, salas lotadas, professores mais baratos e todas as facilidades para que esses estudantes se formem o mais rápido possível, para se tornarem atrativas e mais competitivas, não importando a qualidade do ensino. Assim, há uma divisão de trabalho entre as universidades públicas e privadas: as primeiras, até hoje se concentraram na produção de conhecimento para o capital e mão de obra qualificada; as privadas, maior formadora de mão de obra semiqualificadas.

É necessário levantar um programa que ganhe o apoio dos trabalhadores e do povo pobre para transformar radicalmente a universidade

Precisamos transformar a radicalização nos métodos em radicalização política, radicalização programática, que só pode se efetivar se está ligada a um movimento estudantil concretamente massivo, que represente e organize amplamente as distintas alas dos estudantes nas universidades púbicas e particulares que queiram lutar contra a universidade neoliberal, elitista e racista. Precisamos partir da defesa da universidade dos ataques, mas arrancar das mãos do governo a bandeira da "democratização da universidade", levantando um programa pela positiva que conquiste o apoio dos trabalhadores e do povo pobre.

Em primeiro lugar, devemos deixar claro à toda a população que somos os maiores defensores da expansão de vagas, mas não como propõe o governo Lula que é ligada à precarização do ensino elitizando e privatizando ainda mais a pesquisa, para atender a dois interesses, do grande capital e dos setores da população que, ainda passivamente, clamam pela democratização da universidade. Devemos dizer: sim à expansão de vagas, porém com mais verbas para a universidade.
Porém, nosso programa não pode se imitar à isso, é necessário uma resposta profunda. Devemos levantar para toda a sociedade um programa que represente uma democratização real, que só pode se dar com o fim do vestibular e a estatização das universidades particulares, sob controle das comunidades universitárias, em base ao não pagamento das dívidas externas e do imposto progressivo às grandes fortunas.

Assim, podemos nos ligar aos trabalhadores e à população com um programa alternativo ao do governo, forjando a aliança capaz de transformar radicalmente a atual universidade elitista e racista, colocando as universidades, e o conhecimento nela produzido, a serviço dos interesses da maioria da população, os trabalhadores e o povo pobre, e não de um punhado de parasitas capitalistas.

Por um Encontro Nacional de Delegados de Base

Desde a ocupação da USP, não faltaram lutas do movimento estudantil. Estamos vivendo a maior onda de lutas estudantis dos últimos anos. Depois da luta das universidades estaduais paulistas, veio a Fundação Santo André e as Federais. Agora, em uma universidade privada como a PUC-SP, o movimento estudantil segue mostrando sua disposição de luta contra os ataques dos governos e das burocracias acadêmicas que dirigem as universidades.

Nosso movimento estudantil ressurge em todo o país por fora das direções tradicionais e se utilizando de métodos radicalizados de luta. Porém, infelizmente, esse novo movimento estudantil, ainda não tem sido marcado pelas vitórias. Então, quais são as principais debilidades que devemos superar?

Queremos avançar nessa discussão, pois não somos apologistas do movimento pelo movimento, das ocupações pelas ocupações que, não importando os resultados são sempre uma “vitória” , como defendem o PSOL e o PSTU. Mesmo no caso do resultado ser uma derrota profunda como vem sendo na luta contra o REUNI, que vem sendo aprovado de maneira tratorada pelos regimes universitários reacionários e repressivos. Isso é o que chamamos do modo petista de militar, que buscamos combater, que significa não somente um programa, mas métodos e costumes que não fazem o movimento avançar. Infelizmente, essas correntes arrastam essa tradição até os dias de hoje. Atuamos no movimento buscando verdadeiras vitórias, pois não queremos que os estudantes que recentemente levantam a cabeça, voltem para casa desmoralizados com as derrotas como aconteceu com vários setores na USP.

Um dos principais problemas que esse novo movimento estudantil tem tido é que há um plano coordenado de resposta à crise do sistema universitário por parte da burguesia, dos seus governos e das burocracias acadêmicas. Porém, do nosso lado, não há nenhum tipo de unificação e todas as lutas se dão isoladamente.

Nós, estudantes da PUC-SP, que temos dados passos no sentido de nos organizarmos de baixo para cima, a partir das salas de aula, buscando a massificação do movimento e a construção de uma direção democrática com delegados eleitos, devemos fazer um chamado a todo o movimento estudantil nacional para construir no início do ano que vem, um grande Encontro Nacional de Delegados de Base, onde possamos reunir centenas de delegados eleitos nas assembléias de base em todo o país, para que possamos fazer um balanço dos processos de lutas que protagonizamos, para avançar num programa capaz de ganhar o apoio dos estudantes das universidades privadas, que são cerca de 70% dos universitários de todo o país, e da maioria da população, os trabalhadores e o povo pobre. Com um programa superior votado num encontro como esse, podemos preparar uma grande greve geral nacional das universidades, dos três setores, para barrar os ataques e passar à ofensiva.

Chamamos as organizações estudantis nacionais hoje existentes, a Coordenação Nacional de Lutas dos Estudantes e a Frente de Luta contra a Reforma Universitária, a tomarem para si a tarefa de organizar desde já esse encontro. Basta de encontros nacionais que mais parecem parlamentos burgueses onde só se fazem belos discursos e se votam mil coisas que depois não são concretizadas. Precisamos de um encontro que expresse o movimento estudantil real, suas fortalezas e debilidades, construído a partir das bases e em base à democracia direta, com delegados eleitos e revogáveis. Assim, podemos dar passos concretos no sentido de avançar para uma verdadeira coordenação das lutas estudantis.

O Movimento A Plenos Pulmões é composto por militantes da LER-QI e independentes

[1São 2.141 instituições de ensino superior privado, reunindo 4,4 milhões de estudantes; e 257 públicas com 1,4 milhões, menos de 1% da população.

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