Sexta 17 de Maio de 2024

Movimento Operário

FECHAMENTO DA HB, SAMELLO E SÂNDALO

Mais de 5 mil demissões

13 Mar 2008   |   comentários

QUAL CRISE?

Tirando uma pequena queda do superávit comercial registrado no ano de 2007, a indústria calçadista vem mantendo uma boa taxa de crescimento, com uma expectativa de 10% para este ano. Mas não mais para o mesmo mercado nem o mesmo produto. Com a entrada da China nos mercados norte americano e europeu com calçados mais baratos, principalmente pelo baixo valor de impostos e de mão-de-obra (o trabalhador chinês enfrenta situações de semi-escravidão), as empresas francanas tiveram que buscar novos mercados, além do interno, o italiano, o alemão, o inglês e os países árabes, que encomendam menos, mas buscam um produto melhor e mais caro.

Nas palavras dos próprios empresários: “Temos que buscar um caminho para melhorar o valor agregado do calçado, elevando conseqüentemente o preço do produto e o lucro dos empresários” . [1]

QUEM PAGA PELA CRISE?

Para manterem suas taxas de altos lucros, patrões e empresários buscam duas alternativas:

Aumentam a tecnologia; Para produzir um calçado de melhor qualidade que consiga competir no mercado as empresas vem investindo pesado em tecnologia.

”˜Só na montagem da estrutura para a feira, foram investidos R$ 600 mil. Parte desse dinheiro veio da Prefeitura de Franca, hoje o maior pólo de calçados masculinos do país."Investimos R$ 150 mil nesse projeto", diz o prefeito da cidade, Sidnei Rocha. "O calçado é a base da economia de Franca, temos grande interesse em mostrar a qualidade do produto da cidade” . [2] O dinheiro publico que deveria ser destinado para o beneficio dos que mais precisam ( como moradia, hospitais públicos e para a educação), acaba indo para garantir os milhões dos empresários e patrões.

Diminuir os gastos; as demissões e fechamentos de fabricas que estão se tornando cada vez mais freqüentes não são apenas administrações ruins, são expressão de uma tentativa de diminuição dos gastos com impostos e salários para que a crise não se expresse nos bolsos cheios dos patrões. As grandes empresas estam se direcionando para outros lugares onde a mão-de-obra é mais barata e onde ha mais incentivo fiscal. E não é só, atacam também os direitos históricos conquistados pelos trabalhadores, principalmente visando uma flexibilização das leis trabalhistas que não significam outra coisa do que explorar mais os já muito explorados sapateiros. Nas palavras de Milton Cardoso, comandante da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), temos essa confirmação:

“Simples. O custo de uma hora de trabalho no Brasil equivale ao custo de 3,5 horas na China. Há cinco anos esta relação era de 2 para 1, precisamos tentar chegar perto disso, porque para os setores de manufaturados leves com muita densidade de mão-de-obra, em especial o de calçados, isso é um componente importante.” [3]

O ataque as condições de vida dos sapateiros é intensificado com a política da patronal de aumentar as horas de trabalho (são cada vez mais freqüentes os bolsões de horas), sem que se expresse um aumento dos salários, pelo contrario, os salários extremamente baixos dos sapateiros que esta muito distante dos 1.800 estabelecidos pelo DIEESE como o mínimo ideal, tende ainda a ser corroído cada vez mais pela inflação e pelos ataques da patronal.

“A China é uma indústria de encomenda, não tem inteligência de criação nem de comercialização. Cativou grandes marcas internacionais e oportunistas de países periféricos, como o Brasil. E ganha força pelo baixo custo de sua mão-de-obra. O chinês não tem férias, trabalha 12 meses para folgar 11 dias no ano, enquanto no Brasil se paga 14,3 salários por ano para se trabalhar 11 meses, com 18 feriados, e o funcionário ainda leva mais 1/3. Na China não tem aposentadoria, quando não há trabalho são dispensados. Aqui, tudo é complexo.” [4]

Para garantirem seus altos lucros os patrões e empresários descarregam a crise do calçado nas costas dos trabalhadores, seja demitindo, flexibilizando os direitos, precarizando o trabalho ou atacando os salários. Essa crise não é dos sapateiros e não são eles que devem pagar por nenhum centavo dessa crise. Contra os ataques da patronal aos trabalhadores devemos nos colocar uma saída de classe, que ataque os lucros da patronal para garantir os empregos, a melhoria dos direitos, dos salários e das condições de vida dos trabalhadores.

Qual deve ser a alternativa dos trabalhadores diante das demissões?

Os trabalhadores não podem esperar as demissões os atingirem para pensar uma solução. É preciso desde já organizar toda a nossa classe para que não sejamos surpreendidos e estejamos preparados para garantirmos nossos empregos.

Nós, da LER-QI, de maneira fraterna e humilde, gostaríamos de apresentar um exemplo de como os trabalhadores podem sim garantir seus empregos, mesmo quando o patrão fecha a fábrica.

Esse exemplo é o da fabrica de cerâmica ZANON. A Cerâmica ZANON é uma fábrica que se encontra na província de Neuquén, no sul da Argentina. Existe há mais de 20 anos e tem uma capacidade de produção de 1 milhão de metros quadrados mensais. O conflito entre trabalhadores e patrões começou em 2000, após vários ataques da patronal, o que aumentou a necessidade de organização dos trabalhadores.

Em 2001, durante uma forte crise económica que atingia a Argentina, os donos de ZANON decidiram fechar suas portas e demitir os trabalhadores sem pagar seus direitos. Em outubro de 2001, 266 dos 331 trabalhadores decidiram ocupar e seguir trabalhando na fábrica para conservar seus postos de trabalho. Desde março de 2002 a fábrica está ocupada e produzindo sob controle operário, sem chefes, e sem diretores. O controle operário da ZANON conseguiu, entre muitas proezas, dobrar o número de empregos na fábrica, aumentar o salário e diminuir a jornada de trabalho diária. Além disso, como tudo que é produzido na fabrica não vai mais para um patrão, os operários de ZANON conseguem ajudar a comunidade com cerâmicas de graça para hospitais e escolas.

Em ZANON, tudo se decide em assembléias, não existe hierarquia entre os que estão na produção ou na administração. Essa é indubitavelmente uma expressão fortíssima contra o capitalismo, uma experiência que mostra que quando os trabalhadores tomam em suas mãos o controle da produção, podem dar uma saída diferente do desemprego, fome e miséria a que são submetidos pelos patrões no sistema capitalista.

A LER-QI se coloca incondicionalmente ao lado dos sapateiros de Franca. Acreditamos que só os sapateiros são quem realmente podem lutar contra as demissões. Não será a Justiça, que está sempre ao lado dos empresários, que vai nos ajudar. É preciso mais do que nunca união e combatividade dos sapateiros. É preciso que nos organizemos em comissões de fabricas locais, e que essas comissões discutam e encontrem soluções aos nossos problemas.

Abaixo as demissões dos sapateiros!

Todo apoio à campanha salarial dos sapateiros!

Pela redução da jornada de trabalho sem diminuição do salário!

Pela organização de combativas comissões locais de fabrica!

NENHUMA CONFIANÇA NA JUSTIÇA

Sabemos que a justiça nunca está ao lado dos trabalhadores até o final, sabemos que as leis só beneficiam os patrões. Por exemplo, a nova lei de falências dá a possibilidade de os patrões ficarem muito tempo sem pagar nossos direitos. A lei conhecida como SUPER SIMPLES permite que as pequenas empresas deixem de pagar vários benefícios e direitos trabalhistas.

Apesar disso tudo, os trabalhadores na sua luta precisam também de auxilio jurídico, precisam de advogados e estudantes de direito que estejam do seu lado. Na Fábrica ZANON a luta foi feita pelos trabalhadores, mas também contou com a ajuda de advogados e estudantes que não aceitam trabalhar para empresários e que escolheram estar ao lado do povo. Esses profissionais foram fundamentais para que os trabalhadores pudessem ganhar tempo de se organizar e resistir aos ataques dos patrões. Esses profissionais, apesar de saberem bem os limites da justiça, se esforçaram ao máximo para garantir os empregos dos trabalhadores através de ações e processos.

Os advogados e estudantes de direito da LER-QI estão dispostos a colocar todo o seu conhecimento a favor da luta dos trabalhadores de Franca, mas tem a plena consciência que a solução definitiva da crise está somente nas mãos dos trabalhadores.

[1Comercio da Franca (13.04.2007)

[2Portal de Notícias G1 (01.02.2008)

[3Exclusivo On Line (19.03.2007)

[4IDEM

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