Domingo 5 de Maio de 2024

Direitos Humanos

Importante ato no julgamento do torturador Coronel Brilhante Ustra

28 Jul 2011   |   comentários

Leia as notas do Bloco Anel as Ruas e da revista Caros Amigos sobre o ato ocorrido nessa quarta em SP durante o processo movido por familiares de Luiz Eduardo Merlino(militante assassinado aos 23 anos no DOI-CODI) contra o Coronel Ustra, militar que comandava o órgão e foi responsável pelo assassinato e tortura de diversos militantes. Em breve cobertura completa.


Manifestações na porta do fórum marcam audiência contra Ustra

Por Gabriela Moncau - retirado do Portal Caros Amigos

As manifestações em protesto contra a falta de punição para os torturadores da Ditadura Militar brasileira tomaram a porta do Fórum João Mendes, centro da capital paulista, a poucos instantes de começar a audiência da ação movida pela família do jornalista Luiz Eduardo Merlino contra o coronel reformado do Exército Brasileiro, Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Cerca de 250 pessoas tomaram a porta do Fórum, entre elas representantes de entidades como a central sindical CSP-Conlutas, organização de esquerda LER-QI, Grupo Tortura Nunca Mais, Fórum Permanente de Ex-presos Políticos de São Paulo, Comitê Brasileiro Pela Justiça, coletivo político QUEM, Sindicato de Trabalhadores da USP (Sintusp), PCR (Partido Comunista Revolucionário), Tribunal Popular, União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel), Federação do Movimento Estudantil de História (FEMEH), Comissão Brasileira Justiça e Paz e grupos feministas.

Os manifestantes entoam palavras de ordem como “Não esquecemos da ditadura, assassinatos e tortura” e “cadeia para o Ustra, justiça pra Merlino”. Um carro de som em frente ao Fórum alterna também as falas de protesto dos presentes com músicas brasileiras de críticas à Ditadura que marcaram o período, como “Apesar de você”, de Chico Buarque, e “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré.

No carro de som, Marcelo Pablito, diretor do Sintusp lembrou que "a ditadura veio porque a classe trabalhadora e os movimentos sociais estavam se organizando, por isso os poderosos tiveram que afogar em sangue a luta de Merlino e tantos outros", complementando: "Não basta uma Comissão da Verdade que mantenha impune figuras como Ustra ou Sarney". A fala do dirigente sindical foi recebida por gritos de ordem de protesto que diziam: "E a Dilma, ex-torturada mantém Sarney na base aliada".

Amelinha Teles, ex-presa política e torturada, considerou que a audiência marcou um momento histórico, "porque estamos colocando o general Ustra, coronel dos tempos da Ditadura, no banco dos réus. Esse homem é um dos responsáveis pela vergonha da história do Brasil. Esse homem deve ter matado cerca de 70 militantes e certamente sabe o que foi feito com os desaparecidos políticos. O Ustra não aparece aqui porque é um covarde que não tem coragem de olhar na nossa cara", protestou, lembrando que ela mesma foi torturada no DOI-CODI pelo comando do então major Ustra.

Amelinha disse ainda que o momento é importante não só para os familiares de mortos e torturados, mas para todos que buscam justiça e igualdade. "É para isso que lutaram os de ontem e para isso que lutam os de hoje". Ela encerrou sua fala prestando uma homenagem à outra lutadora contra a Ditadura: "me desculpem os homens, mas as mulheres foram as primeiras a lutar contra a ditadura. Por isso faço essa homenagem a uma das mulheres que mais agitou as bandeiras contra a Ditadura em Minas Gerais, Helena Grecco, que morreu hoje aos 95 anos. “Helena Grecco! Presente! Agora! E sempre!” foram as palavras de ordem entoadas principalmente pela juventude presente na manifestação.

Somente as testemunhas e as partes envolvidas no processo e alguns parentes puderam entrar no plenário para acompanhar a audiência, que se encerrou por volta das 16h20. Ângela Mendes, ex-companheira de Luiz Merlino, fez um rápido relato ao sair do Fórum: “Estou muito comovida de ver a juventude aqui lutando pela justiça de algo que muitos nem presenciaram. Isso é fundamental, a luta tem que continuar”. “Lá dentro a juíza ouviu as testemunhas que entraram uma a uma, relatando quando tiveram contato com o Merlino no período em que estiveram presas, se viram ele machucado ou morto, as vezes que viram o Ustra. Creio que está mais do que provado o que aconteceu. Agora caberá à juíza”, narra Mendes.

Em seguida, o microfone foi passado a Rafael Martinelli, 85 anos, ex-guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN), que chegou a participar das articulações sindicais no período de João Goulart. “Sou ferroviário e advogado formado na cadeia, como pode ser considerado democrático que haja nessa audiência uma portada que impede a gente de entrar e tirar fotografias?”, indigna-se. Fez uma crítica também à ausência da esquerda brasileira, principalmente a parlamentar, na luta pela justiça dos crimes políticos dos anos de chumbo. “Essa anistia do STF é um absurdo, não é aquela pela qual lutamos. Como pode uma ex-guerrilheira no poder fazer alianças com Sarney, não se pronunciar frente a tanta impunidade?”, questiona. “Esse governo não é nosso, não é dos trabalhadores, não é o que sonhamos. A justiça institucional não parece estar do nosso lado, espero que isso mude. Sigamos lutando, sempre”, terminou, enérgico.

Publicado no dia 27/07 em www.carosamigos.com.br


Punição ao Coronel Brilhante Ustra e a todos os torturadores! Fim da lei da anistia e abertura dos arquivos da ditadura

Por Bloco Anel às Ruas

Ontem o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-CODI durante vários anos e foi o responsável pela tortura e assassinato de diversos militantes de esquerda e opositoresao regime, foi convocado para uma audiência no processo movido por familiares do jornalista Luiz Eduardo Merlino, um dos muitos assassinados sob o mando de Ustra.

“Não esquecemos a ditadura: assassinatos e tortura!“

O Bloco Anel às Ruas esteve presente, mostrando que não aceitaremos a impunidade dos crimes da ditadura militar. Hoje, vemos à cabeça do governo federal Dilma Rouseff, ex-presa política e torturada, que mantém não apenas o sigilo dos arquivos da ditadura e a impunidade dos torturadores e seus financiadores, mas também os responsáveis por isso dentro de seu próprio governo. O próprio José Sarney, figura importante da base aliada do governo, foi convocado à audiência como testemunha de defesa de Ustra. Por isso cantamos: “Torturador a gente não atura: José Sarney apoiou a ditadura!”

" E a Dilma, ex-torturada, mantém Sarney na base aliada!”

A vergonhosa situação de hoje, em que uma ex-guerrilheira divide o governo com ex-torturadores e que todos os empresários que financiaram a OBAN (Operação Bandeirantes) e apoiaram o regime, como as megaempreiteiras Camargo Correa e Odebrecht, são tratados como heróis e faturam milhões em obras do governo, é o resultado direto da transição pactuada do regime militar à democracia burguesa que se deu no Brasil. Enquanto na Argentina e outros países latinoamericanos os militares e torturadores estão indo a julgamento, aqui no Brasil foi aprovada uma absurda lei da anistia que iguala torturadores e torturados e mantém impunes os militares.

É papel fundamental da juventude e de suas entidades, como a ANEL, levantar alto a bandeira da luta contra os resquícios do regime militar, a luta pela derrubada da Lei da Anistia e a punição de todos os torturadores e empresários que apoiaram a financiaram o regime. O Bloco Anel às Ruas coloca-se na linha de frente desta luta e chama todos a se somar nesta batalha.

Publicado no dia 28/07 em www.anelasruas.wordpress.com

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